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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Não, filho, não terás o computador

por vitorcunha

Querido filho,

Venho, desta forma, responder à questão que levantaste durante o agradável jantar em família de ontem. Apreciei devidamente a proposta e, de acordo com que determinei com a mãe, pretendo comunicar-te de forma clara os motivos da nossa decisão. Como poderás antecipar, esta conclusão nada tem a ver com falta de reconhecimento do mérito da tua pretensão, a de ganhares dinheiro para comprares o computador desejado, porém, é minha obrigação paternal comunicar-te, nos termos legais apropriados à tua idade, que a requisição foi indeferida: não poderás ter o computador. Eis os motivos pelos quais não podes montar a barraquinha de limonada e bolo caseiro:

Ocupação da via pública - Uma barraquinha de limonada e bolo caseiro necessita de licença camarária para ocupação da via pública, mesmo que essa ocupação ocorra sem qualquer disrupção do seu habitual usufruto.

Falta de licença de venda de produtos alimentares - Bolo caseiro e limonada, independentemente das condições de máxima higiene com que são confeccionados, são produtos alimentares que necessitam da aprovação da entidade reguladora. A consequência pela falta de tal licença implicaria pesada multa pela ASAE e encerramento da barraquinha.

Impossibilidade de trabalho aos 11 anos - Apesar do teu avô ter trabalhado numa pedreira quando acabou a 4ª classe, isso aconteceu no tempo em que o Estado exigia às pessoas que trabalhassem para terem algum dinheiro. Hoje em dia, tal não é necessário, daí que seja proibido. És obrigado a frequentar o ensino obrigatório até teres 18 anos ou até matares alguém, evento esse que permite acederes ao rendimento mínimo e deixares a escola (não me perguntes porquê, são as regras). Eu sei que era só nas férias de Verão, mas essas terão que ser ocupadas a ver a RTP ou as Tardes da Rita.

Falta de aval arquitectónico e falta de licença de obras - Montar uma barraquinha exige perícia que só um funcionário autárquico está em condições de verificar. E se fica uma lasca na madeira?

Falta de seguro contra acidentes - Se fica uma lasca na madeira e alguém se pica, serás obrigado a indemnizar toda a gente (primeiro o Estado, depois a autarquia, por fim a vítima).

Trabalho sem descontos para a segurança social - A sociedade também quer um computador. Reformados também precisam do Mozilla Firefox para o YouPorn. Executares uma tarefa e não gastares mais de 1/5 do total na protecção para a reforma, aquela que nunca receberás, é altamente injusto para o contrato geracional (ou gestacional, não sei bem).

Impossibilidade de cobrar IVA - Vais vender limonada e bolo caseiro sem factura, perpetuando esses mamões que andam aí a não entregar o devido ao Estado? Que tipo de cidadão és tu? Que andas a aprender em Formação Cívica?

Não declarar rendimentos - Vais ganhar dinheirinho à grande e à francesa para entregar todo à Worten, uma subsidiária de grupos com holdings na Holanda? É para entregar todo o dinheirinho ao estrangeiro? E achas que tudo o que recebes é teu, mesmo que te facultemos os ingredientes para o bolo e os limões para a limonada, que não deves IRS? É com pessoas como tu, grandes devedores ao fisco, que este país não saí do sítio.

Insegurança social - Vais fazer os teus pais parecerem maus pais, como se te levassem à Supernanny ou assim? Que tipo de pais deixam os filhos à exposição pública que é vender limonada? Queres que a protecção de menores te leve? Que leve a tua irmã? (Não respondas a está última).

Assim, é com mais do que razão que lamentamos informar que não terás um computador.

Cordialmente,

Papá

Com amigos assim, bem o merecemos

por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Expresso Diário, 20/02/2018)

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O ministro espanhol da Economia, Luis de Guindos, é o novo vice-Presidente do Banco Central Europeu. Uma escolha que tem três coerências que merecem desvelo.

Luis de Guindos foi apresentado esta segunda-feira como o sucessor de Vítor Costâncio na vice-presidência do Banco Central Europeu (BCE). Decisão unânime do eurogrupo, dizem os despachos, mas também não havia mais nenhum, esclarece carinhosamente Mário Centeno. O Parlamento Europeu não gostou da sua prestação, o Partido Popular Europeu teme o deslize, os colegas não se entusiasmam, os que fazem contas percebem que um vice do Sul aumenta a possibilidade de um presidente alemão, mas isto de ser o candidato único tem mesmo muita força. Assim, será Guindos a partir de 1 de junho.

Pois, sem me arriscar a concordar com os comentadores, que são sabedores, oraculares e portanto europeístas do coração, atrevo que me parece uma escolha coerente. Não direi adequada, nisso não me apanham, caros leitores, mas coerente, assim mesmo. Guindos tem três coerências que merecem desvelo.

Em primeiro lugar, o homem era o chefe do Lehman Brothers para Portugal e Espanha em 2008. O banco faliu em setembro desse ano, e foi esse o momento de viragem a partir do colapso do subprime: o mercado desbancou, o efeito dominó varreu o mundo e mergulhámos na recessão.

Seria demasiada empáfia presumir que Guindos foi personagem assinalável nesse evento, era simplesmente um piloto dos mares financeiros a fazer-se à vida. Merece então ser alcandorado ao BCE não pelo que não descobriu nem pelo que cobriu no Lehman, mas certamente por que sabe fazer-se notar e fazer-se esquecer.

Em segundo lugar, já ministro de Rajoy, foi um dos operadores dos resgates bancários que custaram 122 mil milhões de euros em Espanha, 60 dos quais injetados no capital de diversos bancos, com sucesso variado: o CAM foi engolido pelo Sabadell, o Banco de Valencia pelo CaixaBank, o Catalunya Banc pelo BBVA, e o Bankia foi consolidado, como se dizia antigamente. Quando Draghi olhar para o seu vice, lembrar-se-á de ter dito que o Bankia foi resolvido da “pior forma possível”. E depois veio o Banco Popular, vendido do dia para a noite ao Santander pela quantia mágica de um euro, na base de uma avaliação da Deloitte que ainda hoje é secreta. A vida sorri quando se joga com milhares de milhões de euros de dinheiro público e quando se consegue uma concentração bancária que nem a ditadura nem a democracia tinham alcançado. Guindos merece o BCE por saber conduzir as coisas.

Merece ainda a vicegovernatura por uma outra razão. Guindos é um operacional, e se alguma alma caridosa que lê esta coluna de encómio ao ministro ainda não está convencida, pois então fará o favor de notar que ele entoa todos os poderes. Amigo e temente do Opus Dei, sabe que obedece quem deve e manda quem pode. Ei-lo, cinco dias depois do referendo da Catalunha, a decretar como as empresas podem mudar a sede social e a anunciar uma fuga de capitais, para defender mais o rei e a grei do que a economia. Guindos merece o BCE porque é disto que Frankfurt precisa, um expedito decisor, um excelso banqueiro e um político arrematado. Com amigos assim, que ninguém nos pergunte se a Europa tem futuro, ou sequer algum tino.

MARLENE, uma Passionária RIOISTA!

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 20/02/2018)

ELINA_RIO

Habituamo-nos ao longo destes largos quarenta e quatro anos de Democracia a reconhecer que não há “Circo” como o do PPD/PSD, não só em apresentações (já vai na trigésima sétima) como na qualidade circense dos seus artistas. Em Portugal, para além do “Soleil”, nenhum se lhe equipara.

E nenhum conseguiu durante todo esse tempo reunir tantos e tão díspares artistas. Desde os começos: Os Sá Carneiristas, os Balsemistas, os Marcelistas e também os Santanistas, que de tão longe já vêm. Ainda os Motistas, mais alguns que não se chegaram a estrear até se chegar à época dos Cavaquistas. Vieram depois os Nogueiristas, os Manuela Ferreiristas, os Marques Mendistas, os Barrosistas, os Jardinistas, os Menesistas, os Marcantonistas, os Relvistas, os Rangelistas e, finalmente, os Passistas. Passistas que englobam os Montenegristas, os Sarmentistas que já foram Barrosistas e que agora são Rioistas, aliados aos sempre eternos Santanistas….

O que têm todos eles em comum? O “istas” de trapezistas, de equilibristas, de contorcionistas, de malabaristas e de fazedores de listas, que passaram também a pertencerem ao ramo dos domadores, dos amestradores, dos comentadores e dos manobradores. E então sempre que eles ocorriam no Coliseu…o elenco vinha sempre completo e faziam toda a diferença.

Senão vejamos: os do PCP são o que sempre são, com números muito conservadores e contidos e sem parelhas de palhaços dignas de qualquer menção.

Dos do CDS, exceptuando aqueles célebres números do Monteiro versus Portas e aquele inesquecível do “tu sabes que eu sei que tu sabes que eu sei…” entre a Zezinha Nogueira Pinto e o Lobo Xavier, não forem os polémicos cartazes daquele puto, o coiso, o Adolfo, não vejo que Circo seja o deles!

Já os do BE são diferentes: são mais teatrais e eruditos, pelo que não são para qualquer um…Uma sensaboria, portanto.

Melhorzinhos são os do PS, mas muitos furos abaixo. Falta-lhes os “istas” pois, para além de não apresentarem nem trapezistas, nem contorcionistas, apenas conseguem apresentar alguns equilibristas e malabaristas, mas os mesmos de sempre mas incapazes de se alcandorarem a “istas” e refiro-me a uns quantos Seguristas já afastados e a uns outros quantos Assisistas em vias de afastamento. E “palhaço” só tiveram, e há muito tempo, um: o Tino de Rans!

Mas desta vez não foi no Coliseu, para um Circo que se preze a sala das salas, foi num palácio de Congressos para parecer um Congresso, e deu no que deu: um elenco curtíssimo, com baixas vultuosas, palhaços de piadas a merecerem pateada, mas uma grande novidade, uma Marlene que não Dietrich, que também usa o nome de Elina e também o de Fraga, a tentar inaugurar um Fraguismo. Só que, tentando um frentismo, terá balbuciado um “ainda acabo contigo”.

Só que, não tendo tentado saber da duplicidade do verbo “acabar”, meteu-se por ínvios e sarilhosos caminhos. Pois enquanto o “ainda acabo contigo” era para si um fim, um desiderato casamenteiro, foi entendido como uma ameaça e foi o bonito: pateada à antiga, à Menesista mesmo com aquela tirada dos sulistas, elitistas e coisas mais…

Do mulherame não se viu reação de maior, talvez ainda confusas com a ascensão e poder de síntese desta “feminista”, mas por parte de alguns “istas” foi do bom e do bonito.

Os Jardinistas, com o próprio Jardim no micro, ter-lhe-á dito de modo grosso e já grosso: “Vamos acabar com esta porcaria toda”! Já os Sarmentistas, pela voz do Sarmento hinself”, tentando perceber o que se passava pela cabeça do Rio ao convidar personagem com tanta misoginia com o sexo oposto, afirmou: “Rui Rio é a alternativa a este PREC”. Não tem sentido nenhum mas deve ter sido daquela “ai que biolência” por ela ensaiada…!

Já os “Passistas” , pela mão do Passos em pessoa, rosnaram e ensaiaram uma piada: “O PC e o BE rosnam mas não mordem…”! Mas a despedida Passista foi em glória e com frases de uma beleza estética e dialética jamais vista. Por exemplo: “Este Governo é uma Coreia do Norte com foguetes de São João”! Soam-me ao ouvido que não terá sido ele, mas outro Passista qualquer, mas vai dar ao mesmo. Mas disse: “Não é fácil bater-lhe (no Governo, claro) mas é preciso bater-lhe…”. E dizem também que, antes de sair, lançou avisos….! A quem? À Fraga?

Mas ainda a respeito da performance “Passista”, também ouvi que a ala Montenegrista, pela mão do próprio Montenegro, terá “levado faca bem afiada, e que a terá bem espetada e torcida”…..Na Fraga? E esta não chamou a Polícia? Diz que ficou amedrontada com tanta “biolência”…

E o Rio que, pelos vistos, ainda não conseguiu formar a corrente “Rioista”, que disse ele ao Circo? Que “o Governo governa mal mesmo quando parece que governa bem…”.

E o Santana? O Santana foi ver…

NOTA 1: Isto são notas de quem não tomou notas e só notou o Congresso por uns breves dez segundos, enquanto no “zapping” dele fugia e só não foi mais curto porque num deles apareceu-me de chofre a Clara Ferreira Alves e apanhei um susto que me ia imobilizando e aí também me apeteceu rosnar…

NOTA 2: Para onde vão os fugitivos do Circo? Vão todos para a TVI, menos o Passos que vai para as Universidades. Como o Montenegro, que lá vai fundar um “laboratório de ideias” para fazer render a ida!

Ide em pazzzz, diz o Rio!

Por fim e como prémio de leitura vai englobado neste um outro grátis: O CIRCO DO COLISEU