Translate

sábado, 22 de setembro de 2018

O Expresso faz mea culpa

  por estatuadesal

EXPRESSOD

(Tendo ontem publicado artigo em que verberava a actuação no Expresso no caso da nomeação do no Procurador-Geral da República, dando com certa em antecipação, e em com coloridos detalhes, a recondução de Joana Marques Vidal, o que não veio a ocorrer, a redacção do semanário vem hoje apresentar desculpas.

Como todos os acusados tem direito à defesa - facto que muitas vezes os jornalistas, e também os do Expresso, esquecem, publico abaixo o texto que a redacção do jornal subscreve sobre o assunto.

Estátua de Sal, 22/09/2018)

(In Expresso, 22/09/2018)

O Expresso e a PGR

Há uma semana, o Expresso publicou em manchete a notícia “Acordo à vista para manter a PGR”, onde se escrevia que “fontes próximas do processo, que foi estreitamente trabalhado pelo primeiro-ministro e pelo Presidente da República, garantiram ao Expresso que a recondução de Marques Vidal ‘está na calha’”. Esta quinta-feira à noite foi anunciada a nova procuradora-geral da República: Lucília Gago.

O Expresso errou. A redação acompanhou desde o início do ano este caso, sabendo como este tipo de processos é, pelos interesses e pressões que o rodeiam, atreito a contrainformação, manipulação e interesses diversos.

Estas são características a que os jornalistas estão habituados, pelo que a fidedignidade da informação e a existência de muitas fontes de partes opostas é essencial. Neste caso, em que foram ouvidas diversas fontes, os mecanismos de investigação jornalística falharam, e fomos induzidos em erro nas informações recolhidas, pelo que apresentamos as nossas desculpas aos leitores. Ao mesmo tempo, revalidamos o nosso compromisso com a procura da verdade e com a informação rigorosa em todas as notícias que publicamos. Neste caso, foi averiguado internamente o processo editorial que levou à publicação da notícia, de modo a detetar as falhas e a garantir a robustez dos mecanismos de controlo editorial. Para que o leitor possa também ele revalidar a sua confiança no Expresso.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

PGR nomeada, jornais enxovalhados

  por estatuadesal

(Ferreira Fernandes, in Diário de Notícias, 21/09/2018)

ferreira_fernandes

PGR nomeada, jornais enxovalhados

por estatuadesal

(Ferreira Fernandes, in Diário de Notícias, 21/09/2018)

ferreira_fernandes

Por vezes os políticos querem dizer o que pensam ou o que querem fazer, mas não querem assinar o que fica dito. Então, o político faz saber ao jornalista a mensagem e cuida para que ela vá anónima,mas com aquele perfume de sugestão de que a mensagem é mesmo verdadeira.

Isso não é necessariamente incorreto, logo que seja entendido como raro e não prática corrente. Da fonte (o político), exige-se que não minta; do mensageiro (o jornalista), que tente confrontar com outras fontes o que lhe foi dito. E sobretudo, de ambos, exige-se boa fé.

Há dias, e por causa do folhetim "a PGR fica ou não fica", escrevi sobre o pecado em que os jornais estavam a cair: o anómalo passara a ser comum. Cenários taxativos e cheios de pormenores enxameavam os quiosques e as conversas dos comentadores televisivos. Talvez porque um dos lados era mais forte - o dos adeptos da continuação de Joana Marques Vidal no cargo - as "notícias" sobre o "fica" ganharam a palma.

O DN, naturalmente, também escreveu sobre o assunto. Por exemplo, recapitulámos os cenários possíveis, uns que diziam isto e outros que diziam aquilo. Mas, apresentadas as hipóteses, nós rematámos: "Não sabemos." Não sabemos, ponto, dissemos logo no primeiro parágrafo. Não saber é, por vezes, um sinal de sabedoria. E para informar os leitores sobre o que havia para informar, nós contámos como se passara, de tentações a pressões, nas precedentes mudanças de PGR. Foi pouco? Sim, mas eram os factos disponíveis. Factos.

Entretanto, o país e os jornais eram invadidos com as opiniões de vária gente, e não só de políticos, sobre a virtude de uma ou de outra decisão. Alguns ousando adiantar que o desfecho seria este ou aquele. Tudo opiniões legítimas, mesmo as erradas e tolas. Legítimas, porque opiniões. Grave nesta história foram as invenções de factos que foram reproduzidas nos jornais. Jornalistas instrumentalizados por políticos? Jornalistas de má-fé? Jornalistas enganados por alguém que lhes garantira ter tido acesso ao sanctum sactorum onde tudo se decidia?... Volto à sabedoria: não sabemos.

Mas sei que acabamos de viver um dos momentos mais graves do jornalismo português: o falso alcandorado a título. Acordo à vista para manter a PGR!, disseram manchetes. E foram por ali fora... As sibilas, as pitonisas, as cassandras jubilosas (em Portugal, gostamos de puxar as brasa para o nosso desejo) adiantaram taxativamente, como um facto, o que não veio a acontecer. Dias depois, Joana Marques Vidal não foi reconduzida.

Terão falhado o deitar de cartas, a leitura das vísceras de pássaros, o posicionamento dos astros? Não, que os nossos jornais são modernos: foram "fontes autorizadas" a informá-los. E se uma "fonte autorizada" diz que "Joana Marques Vidal já disse a Marcelo que aceita ficar", e se a mesma fonte garante que a tal decisão da própria foi tomada depois do "apelo do chefe de Estado", como não publicar? Publicou-se. Azarinho: hoje, depois do que se decidiu ontem, Joana Marques Vidal, com a cara dela olhando a câmaras, disse: "Nunca a questão me foi colocada." Eu acredito nas pessoas quando elas o dizem publicamente e o que dizem é confirmado pelos factos.

Há dias, 2 de setembro, preocupado com a deriva trumpiana (à falta de factos comprovados, contentemo-nos com os factos alternativos) à solta nos jornais, escrevi: "O problema é quando essa anomalia legítima da informação - publicar, apesar de não haver testemunhas identificáveis - passa a ser o único costume." Indignei-me com os "porta-vozes sub-reptícios" que veiculavam estar tudo decidido, insinuando que o sabiam de "fonte autorizada". De tudo que escreviam, os jornalistas davam a entender que vinha de algum lado. Ora, o dali, neste caso, só podiam ser duas pessoas, as únicas que decidiriam, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa.

Dos dois, eu julgava saber que não era o que ambos pensavam. E ambos, do que diziam publicamente, sem nunca explicitar o que iam decidir, não coincidia com o que era veiculado em alguns jornais e televisões como já decidido. Do que eu julgava saber, nada escrevi. Exatamente porque eu "julgava saber", sim, mas não sabia. Exatamente porque aquilo que eu julgava saber poderia, até ao facto consumado, ser mudado por uma das muitas razões que movem as coisas políticas. Ficamos, eu e o DN, desobrigados de fazer o que outros precisam de fazer para se limpar: pedir contas ao embusteiro (ou mais do que um) que os tratou como porta-vozes sub-reptícios. E, sobretudo, perguntarem a si próprios se não os cansa serem moços de recado.

″Passos Coelho quer voltar a ser presidente do PSD e já começou a fazer contactos″

por estatuadesal

Para Pedro Marques Lopes, comentador da TSF, não há outra explicação para o artigo que o ex-primeiro-ministro escreve no Observador a propósito da não recondução de Joana Marques Vidal.

Fonte: ″Passos Coelho quer voltar a ser presidente do PSD e já começou a fazer contactos″

O ‘denim’ de António Costa

OPINIÃO

Shrikesh Laxmidas 21 Setembro 2018, 00:25

A visita a Luanda iniciou com a polémica sobre as calças denim o primeiro-ministro.

A visita a Luanda iniciou com a polémica sobre as calças denim o primeiro-ministro. No entanto, tal como o protagonista do anúncio televisivo do bálsamo popular nos anos 70 e 80, António Costa é um homem que sabe sempre o que quer e não deixou uma mera gaffe protocolar interferir nos objetivos.

Aterrar no aeroporto 4 de fevereiro era, já por si, um enorme sucesso. Significava que o ‘divórcio temporário’, como o outrora colérico mas agora apaziguador ‘Jornal de Angola’ o chamou, terminara. Com o chamado ‘irritante’ processo Fizz ultrapassado, era altura de acabar com os avanços e recuos no agendamento de visitas.

O primeiro-ministro português aproveitou a visita de dois dias para formalizar o convite de Marcelo Rebelo de Sousa para João Lourenço vir a Lisboa em novembro. Costa salientou que é essencial que as visitas entre os dois países não sejam tão espaçadas no tempo, porque há matérias que se acumulam por tratar.

Confesso que não partilhei do entusiasmo dos líderes portugueses e angolanos com o fim do ‘irritante’, do envio para Luanda do processo que acusava o ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente do crime de corrupção ativa em Portugal. A questão da soberania, que foi a base da decisão, tem o seu peso, mas é difícil aceitar que um processo tão importante saia das mãos da autoridades portugueses.

No entanto, fait accompli, é preciso aproveitar as consequências positivas, e António Costa quer e sabe como ninguém fazer isso.

O primeiro-ministro sabe que o contexto político em Angola também mudou com a saída de cena de José Eduardo dos Santos e que a nova liderança em Luanda também precisa de uma relação sólida e produtiva com Portugal, especialmente num momento em que a economia angolana continua a enfrentar enormes dificuldades.

Costa trouxe na mala de regresso um importante acordo  para acabar com a dupla tributação. Entre várias outras medidas anunciadas, destaca-se o aumento da linha de crédito às exportações para Angola e um acordo sobre o transporte aéreo, para aumentar a frequência de voos entre Lisboa e Luanda.

Costa tem razão, há vários assuntos que se têm arrastado devido às tensões entre os dois países. O dia-a-dia das pessoas e das empresas portuguesas em Angola não tem sido fácil nos últimos anos. Além da questão dos voos, o problema da dificuldade em obter vistos é um tema crucial.

António Costa e João Lourenço estiveram em sintonia, ambos querem intensificar as relações entre os dois países, com maior cooperação no investimento, no comércio, na defesa e em várias outras áreas.

Mas antes de acelerar essa cooperação é preciso resolver os problemas existentes. Os atrasos no pagamento das dívidas do estado angolano a empresa portuguesas é um dos mais importantes.

Esperemos que na mala de viagem para Lisboa em novembro, João Lourenço traga boas notícias sobre o tema.

Cuecas, ganga e mocassins

Cimento Líquido

Miguel Guedes

Hoje às 00:02

TÓPICOS

ÚLTIMAS DESTE AUTOR

A insubstituível riqueza das redes sociais e da informação ao minuto é um presente, até no tempo verbal. E sem qualquer "delay". Para poucos minutos depois, dista apenas uma questão de segundos. Acção, reacção. A velocidade a que o país dos costumes se vestiu de ultraje pelo uso das calças de ganga e mocassins por António Costa aquando da visita oficial a Angola, explica-se facilmente pelo vício do politicamente correcto e pela urgência da crítica com pressa, sem curar do novelo, atenta às pontas. E assim vamos nas franjas, com mais ou menos nervo, sem os nervos em franja porque desatamos a descarregar em escárnio, gozamos pelo girar do prato e logo partimos para outra. Hoje, tudo é viral para um grupo de pessoas que se lê e ouve entre si, uma espécie de clube público de amigos de corte e costura. Mas não passa disso, somos muitos de nós em circuito fechado. No fim da história, Costa apenas usou calças de ganga e mocassins porque foi apanhado desprevenido. Cerimónia para o que te quero quando os serviços de protocolo não fazem o seu trabalho, antecipando as solenes alas militares. A formalidade foi-se, e foi-se assim, mal informada.

Bondade. A informalidade já não tem segredos. Muitos dos que se atiraram a Costa pela forma indigna como deambulou na passadeira vermelha de Luanda na companhia do ministro-dos-negócios-estrangeiros-angolano-em-fato-completo, são os mesmos que vibram com o presidente Marcelo em modo selfie, enternecendo-se com a sua disponibilidade para ser um comum entre os mortais, como se o compasso nascesse com todos os sóis para ser beijado em procissões diárias. Das palavras aos actos. Muitos dos que toleram o desgaste de Marcelo são alguns dos que acham que a ganga de Costa está gasta. Longe vai o tempo em que, na sede do PSD e após um acidente que lhe encharcou as calças, Marcelo recebia o embaixador do Irão em cuecas, peúgas, camisa e casaco, sentado atrás de uma secretária após as alegações de portugalidade e seus costumes por José Luís Arnaut. Se fosse hoje. Os tempos que hoje correm obrigariam a outro par de calças já que, para a crítica jet-set, tanta informalidade não se aguenta. Mas consta que nunca caíram as vestes a Marcelo por uma simples "gaffe". E ainda bem.

O modelo de leitura dos dias bem que podia prescindir das classes e dos toques de campainha. Abdicar de tantos sinais de alerta. "A aprendizagem é antropofágica. Não se aprende o que o outro diz, apreendemos o outro", sustenta o educador José Pacheco. Seríamos bem mais serenos. Para não confundir o dito com as calças.

(Este "Cimento Líquido" mudou de dia. Passamos a encontrar-nos por aqui às sextas-feiras, por troca com Francisco Seixas da Costa, que lerão nas quartas-feiras. Assim, até à próxima sexta-feira)

O autor escreve segundo a antiga ortografia

* MÚSICO E JURISTA