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segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Famosa lenda em versão vegan pós-moderna

Novo artigo em Aventar


por José Gabriel

Pelos campos do Sítio da Nazaré ia D. Fuas Roupinho em esforçada perseguição a um veado que, lesto, lhe escapava como se se divertisse com o esforço do cavaleiro. Este porfiava e atiçava o cavalo que, espumando e resfolgando, corria a toda a brida, cortando os ventos fortes do lugar. No seu entusiasmo, não reparou o fidalgo que presa e caçador se aproximavam perigosamente da falésia do Sítio. E foi quando, subitamente, o abismo se lhes deparou como uma fatal sentença. Foi nesse momento que se abriu um clarão nos céus.

Assustado, o corço estacou de pronto, cortando o solo com os cascos até parar mesmo à beira da falésia, à qual prestes virou as costas. O mesmo fez o cavalo, fazendo brilhar faíscas ao fincar as ferraduras no solo rochoso. Também o rocinante se salvou. Só D. Fuas, coitado, não teve sorte. A brutal paragem da sua montada fê-lo sair em voo sobre as orelhas do cavalo e despenhar-se na falésia. Durante a sua breve queda ainda gritou "valha-me a Senhooooora...". Mas a Senhora não valeu e o infeliz alcaide de Porto de Mós foi estatelar-se nas rochas da praia. Ler mais deste artigo

Entre as brumas da memória


Manuel António Pina, ainda

Posted: 18 Nov 2018 01:14 PM PST

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18.11.1943 - Manuel António Pina, 75

Posted: 18 Nov 2018 09:21 AM PST

Sim, faria, faz hoje 75 anos porque continua bem vivo connosco. Mas todos gostaríamos de continuar a saber o que pensaria da espuma dos dias que correm, a ler novos poemas, a saber como se comportavam os seus gatos.
A reler: uma entrevista que Anabela Mota Ribeiro fez quando MAP tinha 65 anos.
A rever: o trailer de um excelente filme de Ricardo Espírito Santo.

A recordar: a última crónica que publicou no JN:


Coisas sólidas e verdadeiras (01.08.2012)

«O leitor que, à semelhança do de O'Neill, me pede a crónica que já traz engatilhada perdoar-me-á que, por uma vez, me deite no divã: estou farto de política! Eu sei que tudo é política, que, como diz Szymborska, "mesmo caminhando contra o vento/ dás passos políticos/ sobre solo político". Mas estou farto de Passos Coelho, de Seguro, de Portas, de todos eles, da 'troika', do défice, da crise, de editoriais, de analistas!

Por isso, decidi hoje falar de algo realmente importante: nasceram três melros na trepadeira do muro do meu quintal. Já suspeitávamos que alguma coisa estivesse para acontecer pois os gatos ficavam horas na marquise olhando lá para fora, atentos à inusitada actividade junto do muro e fugindo em correria para o interior da casa sempre que o melro macho, sentindo as crias ameaçadas, descia sobre eles em voo picado.

Agora os nossos novos vizinhos já voam. Fico a vê-los ir e vir, procurando laboriosamente comida, os olhos negros e brilhantes pesquisando o vasto mundo do quintal ou, se calha de sentirem que os observamos, fitando-nos com curiosidade, a cabeça ligeiramente de lado, como se se perguntassem: "E estes, quem serão?" Em breve nos abandonarão e procurarão outro território para a sua jovem e vibrante existência. E eu tenho uma certeza: não, nem tudo é política; a política é só uma ínfima parte, a menos sólida e menos veemente, daquilo a que chamamos impropriamente vida.»

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Vamos a caminho

Posted: 18 Nov 2018 07:00 AM PST

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A caravana

Posted: 18 Nov 2018 02:56 AM PST

«Uma enorme massa humana começa a chegar à fronteira entre o México e os EUA. Vão juntos para se protegerem de traficantes e gangues. Deviam acordar consciências, mas Trump prefere o medo à inteligência coletiva. Entre os louros da situação económica e o perigo da invasão dos esfaimados, preferiu escolher o ódio para caçar votos. E resultou. Mas vale a pena ir ao começo desta caravana. Eram apenas mil em fuga do desemprego e do crime. Partiram de San Pedro Sula, uma das cidades mais perigosas do país, com mais homicídios por cem mil habitantes no mundo. A notícia espalhou-se e muito mais hondurenhos (85% dos cinco mil) e migrantes de outros países juntaram-se à caravana rumo aos EUA. Que culpa têm os norte-americanos da desgraça alheia? Não vou falar de décadas de colonialismo económico, promoção de golpes militares e apoio a ditaduras. Teria de recuar a 1957, quando Jacobo Arbenz foi destituído por ter posto em causa o monopólio da United Fruit Company na Guatemala. Este espaço não chegaria para a lista de crimes cometidos pelo “farol da democracia” na América Central. Tiremos-lhe dos ombros o pesado fardo da culpa. É passado. Será?

Em 2009, as Honduras tinham como presidente Manuel Zelaya. Vindo da direita, estava bem longe de ser um revolucionário quando chegou à presidência. Era um patriota que queria os mínimos de decência e igualdade na sua miserável pátria. No curto período em que teve o direito de governar, fez grandes investimentos na saúde e na educação e aumentou o salário mínimo. Até que a tentativa de referendar uma alteração da Constituição deu a desculpa para os que compram presidentes e mantêm os hondurenhos na miséria o fazerem cair. Os militares capturaram Zelaya, enfiaram-no num avião e largaram-no, de pijama, num aeroporto da Costa Rica. Ao parlamento, entregaram uma carta de renúncia falsa. Tínhamos voltado aos velhos golpes militares da América Latina. O mundo condenou. Até Obama. Só que os EUA souberam e apoiaram o golpe. E garantiram que Zelaya não voltava. Em “Decisões Difíceis”, Hillary Clinton esclarece como impediu o regresso do presidente eleito, contrariando a Organização de Estados Americanos (OEA) e a ONU: “Nos dias que se seguiram ao golpe, falei com os meus homólogos de todo o hemisfério, inclusive a secretária Patrícia Espinosa, do México, com o objetivo de ‘rapidamente’ organizar eleições que resultariam na irrelevância da questão Zelaya.” Depois disso, a taxa de homicídios aumentou 50%, a repressão política e social é brutal, as instituições colapsaram e a situação do país é calamitosa.

Daniel Oliveira
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Novos direitos

Posted: 17 Nov 2018 02:40 PM PST

Distracções

18/11/2018 by João Mendes

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Noam Chomsky considera Donald Trump uma distracção. E talvez o seja. Enquanto milhões se agarram aos televisores e ao Twitter, para visualizar ou ler a mais recente palermice ou machadada na credibilidade dos EUA, vendem-se armas a facínoras, cozinha-se a próxima crise financeira mundial e o 1% aproveita as borlas fiscais para fazer o seu capital great again, antecipando a época de saldos que chegará quando o próximo Lehman Brothers cair.

O novo fascismo gosta disto porque longe vão os tempos da ditadura convencional. Os tempos são outros e são de redes sociais. O universo das fake news não escolhe ideologias, é certo, mas algumas ideologias têm mais dinheiro do que outras, e quem tem mais dinheiro constrói redes mais eficientes. Sociais, mas sobretudo políticas. Trumps e Bolsonaros, aparentemente implacáveis, mas que não ousam confrontar os donos disto tudo, são o novo circo. E enquanto não houver falta de pão, a coisa anda mais ou menos controlada.

As ligações entre certos meios de comunicação, sejam eles convencionais ou fachadas de projectos dissimulados, e alguns sectores e personagens da vida política portuguesa, algumas delas sem existência pública relevante, mas extraordinariamente influentes no digital, são por demais óbvias para quem conhece o esgoto. Aqui e ali, o jornalismo de investigação começa a dar o ar da sua graça, e essas ligações tornam-se evidentes. Resta saber quando e como se desmoronará o castelo de cartas. Ou se sobrevive, apesar das evidências, através do milagre da multiplicação das partilhas.

Numa das muitas distracções que nos proporcionou nos últimos dias, Donald Trump, que substituiu o pequeno Jeff Sessions por um critico feroz à investigação sobre interferência russa nas eleições americanas de 2016, lançou a teoria da conspiração: os eleitores democratas votam, regressam aos seus carros, mudam de roupa e votam outra vez. Reparem que este insulto ao sistema eleitoral americano não só não afecta os eleitores republicanos, como é aparentemente mais credível do que as inúmeras evidencias que deixam a nu as ligações entre a máquina eleitoral de Donald Trump e o Kremlin do todo-poderoso Putin, que assistiu, de sorriso nos lábios, à autoflagelação em Helsínquia. Outra boa distracção.

Banqueiros: muitas suspeitas, poucas condenações, nenhuma prisão

  por estatuadesal

(In Diário de Notícias, 14/11/2018)

ocosta

(A direita e os seus clarins na comunicação social andaram durante meses a querer convencer o País de que, com a Joana Marques Vidal, a nossa Justiça tinha dado passos de gigante na luta contra a corrupção. Nada mais falso. Os banqueiros que roubaram milhões e milhões continuam todos à solta e, mesmo os que já foram julgados, saíram ilesos.

No dia em que a Justiça prender o Ricardo Salgado - sendo o acto transmitido ou não em directo nas televisões, como ocorreu com Sócrates e Bruno de Carvalho -, aí sim, acreditarei que "terminou a impunidade". Aqui fica o desafio para os senhores magistrados.

Comentário da Estátua, 18/11/2018)


Bons advogados, com tudo o que o dinheiro pode pagar - e uma justiça lenta. Esta parece ser a chave que tem salvo da prisão todos os banqueiros portugueses suspeitos de crimes. Sentenças condenatórias já houve algumas. Mas nenhuma transitada em julgado. Os encargos dos contribuintes com o salvamento e a ajuda aos bancos ascendiam, no final de 2017, a 14,6 mil milhões de euros, cobrindo o período 2008-2016. O equivalente a 146 transferências de Ronaldo do Real Madrid para a Juventus.

Ricardo Salgado

O homem que em tempos foi cognominado de DDT (Dono Disto Tudo) está na mira de quatro processos-crime e cinco contraordenacionais por reguladores dos setores bancário e bolsista (Banco de Portugal e CMVM). Nos processos-crime, um único tem acusação, o da Operação Marquês. O antigo todo-poderoso patrão do Banco Espírito Santo está acusado de um crime de corrupção ativa de titular de cargo político, dois de corrupção ativa, nove de branqueamento de capitais, três de abuso de confiança, três de falsificação de documentos e outros três de fraude fiscal qualificada. É suspeito de ser o maior corruptor ativo do processo, com subornos de 17,4 milhões de euros, nomeadamente para manter o controlo da PT através do BES. Está a iniciar-se a fase de instrução. José Sócrates é o principal arguido.

De resto, Ricardo Salgado - que continua a viver com a família na sua casa em Cascais apesar de esta estar arrestada - está a ser investigado na Operação Monte Branco, caso EDP (por alegadamente ter subornado com 1,2 milhões de euros o ex-ministro Manuel Pinho) e Universo BES (a investigação das causas de gestão que estiveram na origem no colapso do banco e do respetivo grupo). Quanto aos processos contraordenacionais, são cinco - quatro do Banco de Portugal e um da CMVM. Todos têm acusação e nenhum decisão final. Em junho de 2016, Ricardo Salgado foi inibido pelo Banco de Portugal de exercer atividades no setor financeiro, condenação a que se somou uma multa de 3,7 milhões de euros. Tem sido defendido pelo advogado Francisco Proença de Carvalho, sócio da Uría Menendez-Proença de Carvalho, sociedade de advogados que tem o seu pai, Daniel Proença de Carvalho, como sócio-presidente. Daniel Proença de Carvalho é o chairman do grupo Global Media, ao qual pertence o DN.

Oliveira Costa

Em risco de colapsar, o Banco Português de Negócios (BPN) foi nacionalizado em novembro de 2008 (governo de Sócrates, sendo Teixeira dos Santos ministro das Finanças). E começaram então as investigações criminais - já lá vão, portanto, dez anos. O fundador e patrão do banco, José Oliveira Costa, antigo administrador do Banco de Portugal (com o pelouro da supervisão...) e antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (num governo de Cavaco Silva, que foi aliás um dos clientes VIP do BPN), é mais um exemplo dos banqueiros que passam pelo crivo da justiça mas nunca foram vistos na cadeia. No dossiê BPN constam vários processos e Oliveira Costa já fora sentenciado com uma pena de prisão de 14 anos (em recurso, claro). Na segunda-feira, no Juízo Central Criminal de Lisboa, Oliveira Costa foi condenado a 12 anos de prisão por dois crimes de burla. Está um recurso prometido, evidentemente. Há muito que o fundador do BPN está proibido de ter atividade no setor financeiro. O ex-banqueiro tem sido defendido pelo advogado Leonel Gaspar. Em junho de 2017, contas feitas pela Lusa diziam que a nacionalização do BPN já havia custado cerca de 366 euros a cada português. Em valores absolutos, cerca de 3,66 mil milhões de euros.

Jardim Gonçalves

Em 1985, Jardim Gonçalves fundou o BCP (Banco Comercial Português). Não foram precisos muitos anos para se tornar o maior banco privado português, maior mesmo do que o histórico BES. Católico empenhado e membro do Opus Dei, Jardim Gonçalves transferiu a liderança do banco em 2005 para outro "militante" desta congregação, Paulo Teixeira Pinto, um antigo secretário de Estado adjunto de Cavaco Silva. Teixeira Pinto ascendeu a gestor de topo no BCP, pela mão de Jardim Gonçalves, sem antes ter qualquer experiência no setor (depois de deixar o banco tornou-se editor livreiro). Guerras dentro do corpo acionista do banco levaram o fundador do BCP a abandonar completamente o banco em 2008. Em 2010, o Banco de Portugal condenou-o a uma multa de um milhão de euros por irregularidades cometidas na administração do banco, inibindo-o também de deter cargos no setor financeiro. Em 2014 foi condenado a dois anos de prisão por crimes de manipulação de mercados - mas com pena suspensa. Ainda hoje o ex-banqueiro recebe do próprio banco uma pensão mensal de cerca de 167 mil euros/mês. As tentativas da atual administração para que esta pensão lhe seja cortada e/ou diminuída têm esbarrado em sentenças dos tribunais em sentido contrário.

João Rendeiro

No passado dia 15 de outubro, João Rendeiro, fundador do BPP (Banco Privado Português), foi condenado, em conjunto com outros ex-quadros da instituição, pelos crimes de falsidade informática e falsificação de documento, a cinco anos de prisão. Com pena suspensa. Funcionário público com uma licença sem vencimento de tempo ilimitado, Rendeiro, gestor que sempre alimentou um elevado perfil mediático, terá de pagar 40 mil euros de multa a uma IPSS. No essencial, foi acusado de falsear as contas do banco para que o mercado não se apercebesse de como as coisas não estavam a correr bem. Em 2008, o Banco de Portugal iniciou o processo de liquidação do BPP, cujas dificuldades nasceram da crise geral do sistema bancário iniciada nesse ano com a queda do Lehman Brothers, nos EUA. O Estado interveio com uma garantia de 450 milhões de euros, que depois conseguiu reaver.

Tomás Correia

Apesar de arguido num processo que resultou da Operação Marquês, Tomás Correia é atualmente recandidato, liderando a lista A, a presidente da Associação Mutualista Montepio Geral. O estatuto de arguido não lhe implica nenhuma inibição de atividade no setor financeiro - só se for formalmente acusado, cabendo a decisão ao Banco de Portugal (que por sistema tem atuado dentro do princípio "casa arrombada, trancas na porta", ou seja, demasiado tarde). Sobre Tomás Correia recaem suspeitas, segundo o jornal Público , de crimes como insolvência dolosa, cheques sem cobertura e burla qualificada, entre outros. O banqueiro é suspeito, segundo o mesmo jornal, de ter recebido 1,5 milhões de euros do construtor civil José Guilherme, que deu 14 milhões a Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, a título de "liberalidade".

O “novo” Bloco de Esquerda

  por estatuadesal

(Pacheco Pereira, in Sábado, 18/11/2018)

JPP

Pacheco Pereira

A arrogância política do Bloco de Esquerda é um dos limites naturais ao seu crescimento, porque inquina as suas posições e as torna sempre demasiado ofegantes e self-righteous, logo excessivas. A esta arrogância política acresce a arrogância moral que encalhou com sérios estragos no caso Robles. Mas o Bloco tem um papel na vida política portuguesa que é ser o PS de esquerda, o equivalente ao antigo PSU em França e ao PSIUP em Itália, o que torna essa fronteira entre o Bloco e o PS uma linha da frente de todas as batalhas.

Como se vê o Bloco é muito mais agressivo verbalmente com o PS do que o PCP, embora a fractura entre o PCP e o PS seja muito maior. PS e PCP vêem-se, como sempre se viram, como entidades distintas, que se aproximam e se afastam em função dos interesses de um e de outro sem se misturarem. Com o Bloco não é assim, estão demasiado perto, comem à mesma mesa, dormem na mesma cama.

A comunicação social, toda colada uma à outra partilhando a mesma "narrativa" sem diferenciação, diz -nos que o Bloco mudou, está preparado para ir para o governo, "amadureceu", aburguesou-se", des-radicalizou-se. Na verdade, esta mudança já se deu há muitos anos, e o que se passa agora é o desenvolvimento natural de algo que está na génese do Bloco e na hegemonia dos trotskistas no seu seio. Se há coisa parecida com o que é o Bloco é com o PSR.

Para isso ter acontecido deu-se uma perda de influência significativa da UDP entre os grupos fundadores, mais numeroso que os militantes que vieram do PSR, mas que, do ponto de vista táctico e estratégico, nunca "mandaram" no Bloco. Enquanto os herdeiros da UDP tinham ligações com o mundo sindical e operário, os do PSR tinham com os intelectuais e a juventude "radical chic".

Enquanto os primeiros voltavam a sua atenção para a competição com o PCP e com a CGTP, os segundos interessavam-se, na velha tradição do trotskismo francês, pelo PS. Os primeiros tinham passado de moda, os segundos estavam na moda e conseguiram todas as cumplicidades necessárias, em particular na comunicação social.
É por isso que não há mudança, mas sim evolução na continuidade.


O CV de Portas
Esta é uma versão divulgada por uma empresa que vende os seus serviços (dele) do currículo de Paulo Portas:

Paulo Portas é Vice-Presidente da Confederação de Comércio e Indústria de Portugal, para além de Presidente do Conselho Estratégico da Mota Engil para a América Latina. Desempenha também cargos de administração no board internacional de Petroleos de Mexico (Pemex) e faz ainda consultoria estratégica internacional de negócios, sendo para efeito founding partner da Vinciamo Consulting. Dá aulas de mestrado Geo Economics and International Relations na Universidade Nova e na Emirates Diplomatic Academy; dirige seminários sobre internacionalização e risco político para quadros de companhias multinacionais e é ainda presença frequente na televisão em comentários de política internacional e speaker da Thinking Heads em conferências. Foi ministro da Defesa, ministro dos Negócios Estrangeiros e Vice-Primeiro Ministro de Portugal.

Na verdade, o currículo devia começar no fim: foi pelos cargos políticos que teve em Portugal que Portas tem os vários empregos de lobista que elenca por todo o lado, do México a Angola, passando por Portugal. Se tivesse de fazer uma declaração de interesses, mesmo para presidente de uma Junta de Freguesia, e este fosse um País a sério nestas matérias, ele não podia ter nenhum cargo político em qualquer lugar da hierarquia de um Estado. Se fosse um estado a sério seria assim, mas suspeito que a carreira política de Portas esteja acabada. Ele entrará, voltará e sairá, o que é fundamental para um lobista, para refrescar os seus contactos e as suas informações.

Portas, como acontece com outros lobistas, não tem especial preparação para estas funções, se elas fossem definidas pelos seus títulos pomposos. Mas tem os contactos, e tem a informação que anos de governação em áreas sensíveis lhe deram. Aliás, como se viu no Ministério da Defesa, não a terá só na cabeça, mas no papel, visto que está por esclarecer o que aconteceu aos milhares de fotocópias que teria levado para a casa, em violação da lei. Mas nestas matérias, o País também não se toma a sério. Hoje bastava uma pen, é mais discreto.

Um homem que hoje se sente bem fazendo isto agora, já o fez antes, ou pelo menos posicionou-se para as poder fazer, depois de "sair da política". Não é caso único. Mas é um caso dos mais sérios de promiscuidade entre a política e os negócios e os bolsos dele.