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segunda-feira, 25 de março de 2019

E de nós, quem cuida?

Novo artigo em Aventar


por Autor Convidado

Carla Catarina Neves

Comecei a pensar neste texto, a 26 de Fevereiro. E comecei a traçar umas linhas “orientadoras”, precisamente nesse dia. Mas… tal como expliquei a quem me desafiou, o mais provável é que isto demorasse a sair. Nessa semana, estava ainda mais sobrecarregada. Aos meus dependentes habituais (tia e avó), juntava-se mãe (recentemente operada a uma catarata e a exigir acompanhamento) e pai (com conjuntivite infecciosa). Ou seja: o trabalho que era dividido habitualmente por 3, passou a ser desempenhado por um.

Diariamente, subo/desço 920 degraus. Nessa semana, contabilizei 16 kms diários (entre as 8h30 e as 2h da manhã). Banhos, refeições, tratamento de roupas, compras SOS, farmácia, consultas, etc. Conseguem ter uma ideia do que isto é? Se calhar, por muito boa vontade que tenham, não conseguem.

Quando foi a última vez que foram ao café, ao cinema, jantar fora ou dar um passeio sem terem de olhar para o relógio ou para o telemóvel (para saber se alguém tinha ligado a pedir ajuda)? O Cuidador já nem se lembra do que é ir comprar pão sem ser à pressa. Multipliquem isto 24h/dia, 365 dias/ano.

Mas o que é, afinal, um Cuidador Informal? Cuidadores informais são todos aqueles que prestam cuidados aos outros, de forma continuada e sem qualquer remuneração.
Normalmente, são familiares mas – e ao contrário do que saiu da proposta do Governo - , também são frequentemente assumidos por vizinhos e amigos. É também graças a eles, que não se ouvem mais notícias trágicas sobre pessoas encontradas mortas, nas suas casas, ao fim de dias. Ler mais deste artigo

domingo, 24 de março de 2019

Schäuble e a austeridade. “Hoje, penso como podíamos ter feito as coisas de forma diferente”

23/3/2019, 20:031.855

Ex-ministro das Finanças de Merkel, Wolfgang Schäuble, reconhece hoje viver com alguma "tristeza", por ter "tido papel em tudo isso", referindo-se à crise da dívida e à pressão sobre países do sul.

O ex-ministro alemão Schäuble e a austeridade. "Penso que podíamos ter feito as coisas de forma diferente"

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Bem… sinto-me triste, porque tive um papel em tudo isso. E penso como podíamos ter feito as coisas de forma diferente“. Em tom confessional, o ex-ministro das Finanças da Alemanha, outrora o “todo-poderoso” Wolfgang Schäuble, deu uma entrevista ao Financial Times onde mostra algum arrependimento pela forma como a crise da dívida europeia foi gerida e pela pressão que foi colocada sobre os países mais endividados, sobretudo a Grécia. Diferente como? Schäuble não terá dito muito mais, mas assegurou continua a defender que “maior despesa pública não equivale automaticamente a um maior contentamento” entre as pessoas.

Schäuble, ministro de Angela Merkel entre 2009 e 2017, reconhece esse sentimento de “tristeza” e essa dúvida sobre como os líderes europeus — entre os quais, o próprio — procuraram resolver a crise da dívida. Contudo, recusa que a austeridade esteja na raiz do populismo que hoje se verifica em vários governos europeus. O problema, para Schäuble, está na imigração em massa, que criou muitos receios entre a população.

Mesmo os países mais ricos também estão a sofrer com o populismo, o que, diz o deputado alemão, é prova de que a política de austeridade não está na origem da vaga populista: “qual é o país europeu que não tem este problema? Até a Suécia, que é o país quase sinónimo da abertura e da disponibilidade para ajudar“.

Na entrevista ao Financial Times, o responsável recordou a decisão polémica de Angela Merkel de abrir as fronteiras no auge da crise dos refugiados. O ex-ministro de Merkel diz que a decisão foi correta mas devia ter sido tratada como uma “exceção”, ou seja, as fronteiras não deviam ter ficado abertas nos meses seguintes, levando à entrada de centenas de milhares de pessoas.

Não conseguimos evitar, com essa primeira decisão, sermos mal-interpretados por todo o mundo como estando a criar uma grande oportunidade de negócio para quem se dedica ao tráfego humano. Esse foi o grande drama”.

Essa decisão, e a forma como foi gerida, foi decisiva para a subida de partidos populistas como o AfD (Alternativa para a Alemanha) — que já é o principal partido da oposição no parlamento alemão e nos vários parlamentos estaduais. “Eles atingiram um dado patamar, em que agora será mais difícil do que antes mantê-los afastados“, lamentou Wolfgang Schäuble.

De um ponto de vista mais geral, o ex-ministro diz que muitos dos problemas da zona euro advêm da forma como o projeto europeu foi construído. O “pecado original” foi tentar criar uma moeda comum “sem que exista uma política económica, social e laboral comum” para todos os estados-membros. Mas, defende o alemão, os “pais-fundadores” quiseram avançar com a união monetária porque se estivessem à espera de maior união política nunca mais avançariam com nada.

O problema, agora, é que “a construção da União Europeia provou ser algo questionável”, “devíamos ter tomados mais passos no sentido da integração, mais cedo, porque agora não conseguimos convencer os estados-membros a dar esses passos, é impossível”.

O caso mais paradigmático foi o da Grécia, um país que Schäuble continua a dizer que nunca deveria ter tido abertura para se juntar à zona euro. No auge da crise, e designadamente no tema quente que era a permanência da Grécia na zona euro, Schäuble revela que chegou a ter momentos em que esteve prestes a bater com a porta. Quando se decidiu que a Grécia iria ter novo pacote de resgate e ia continuar na zona euro, nessa manhã o ministro esteve “muito perto” de abandonar o cargo.

Esse momento fez Schäuble recordar a altura em que foi convidado por Merkel para ser ministro das Finanças, em 2009 — o agora ex-ministro terá, revelou nesta entrevista, avisado Merkel que trabalhar com ele não seria tão “confortável” quanto era trabalhar com o anterior ministro (Peer Steinbrück) e que Schäuble prometia ser sempre “leal”, mas nunca “submisso”. “Sou muito teimoso”, terá dito à chanceler alemã.

Presidente de Angola: “Não há ressentimento contra o colonialismo português”

João Lourenço garante que, em Angola, "não há ressentimento" contra o colonialismo português, regime que até os próprios “portugueses combateram”, e que hoje existe uma "irmandade" entre os dois países.

Presidente de Angola: “Não há ressentimento contra o colonialismo português”

João Lourenço, presidente de Angola.

Negócios com Lusa23 de março de 2019 às 17:09

O presidente de Angola afiançou, este sábado, 23 de março, em declarações à Lusa, que não existe em Angola ressentimento contra o colonialismo português.

As declarações de João Lourenço foram feitas momentos após ter condecorado cerca de meia centena de militares que participaram na batalha do Cuíto Cuanavale, na província do Cuando Cubango, a mais célebre e mortífera da história da guerra civil angolana, que ocorreu após a independência (1975/2002).

"Com certeza que não [há ressentimento]. O colonialismo português era um sistema que todos nós combatemos. Os portugueses também o combateram. Não pode haver ressentimento. O que existe é a irmandade e fraternidade entre dois povos, que lutaram contra um inimigo comum", afirmou o chefe de Estado angolano.

Sobre a cerimónia hoje realizada no Cuíto Cuanavale, integrada no âmbito das celebrações do "23 de março", o Dia da Libertação da África Austral, data em que, em 1988, terminou a batalha homónima, sendo "feriado regional" na África Austral, João Lourenço reiterou tratar-se de um sinal de reconhecimento a todos os que nela combateram.

"Este dia representa um sinal de reconhecimento a todos aqueles que, com suor e sangue, tornaram possível não só a libertação de Angola, mas a independência da Namíbia a libertação de Nelson Mandela e a instalação de um regime democrático na África do Sul", afirmou.

Entre a cerca de meia centena de antigos combatentes homenageados, nenhum deles esteve ligado às Forças Armadas da Libertação de Angola (FALA) - exército do então movimento guerrilheiro União nacional para a Independência Total de Angola -, mas sim às Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

"É este punhado de combatentes que acabamos de condecorar, em representação de todos, uma vez que não possível fazê-lo com todos, os que tornaram possível aquele que era um sonho, vencer o exército do regime do 'apartheid'. Eles tornaram isso possível", frisou.

Além de João Lourenço outros chefes de Estado da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) marcaram presença, com destaque para os presidentes da Namíbia, Hage Geingob, da República do Congo, Dennis Sassou Nguesso, República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, e do Zimbabué, Emerson Mnangagwa, com os restantes 11 Estados-membros a fazerem-se representar por ministros.

No "ato político", além de uma intervenção, João Lourenço condecorou Cuba e a Rússia - "em representação da antiga União Soviética" -, através dos respetivos embaixadores em Angola, pelo papel "inquestionável" que ambos desempenharam em todo o processo, não apenas na batalha do Cuíto Cuanavale, mas de uma forma geral.

"Em relação à Rússia, na então União Soviética, esteve em todo o processo de luta contra o colonialismo português, primeiro, e, depois, em toda a resistência do povo angolano ao regime do apartheid. Tal como Cuba, com os seus homens que aqui verteram o seu sangue, no Cuíto Cuanavale e noutras batalhas, que foram inúmeras", disse João Lourenço à Lusa.

A efeméride tem na base o fim daquela que é considerada a mais dura batalha da guerra civil angolana, ocorrida naquela região, e que, segundo a versão das autoridades de Luanda, levou à paz em Angola, abriu portas ao fim do regime de segregação racial ('apartheid') que então vigorava na África do Sul e à independência da Namíbia.

A batalha do Cuíto Cuanavale decorreu entre 15 de novembro de 1987 e 23 de março de 1988 e opôs as FAPLA, apoiadas por Cuba, e as FALA, com apoio da África do Sul.

Ainda segundo a argumentação das autoridades de Luanda, o fim da batalha marcou um ponto de viragem decisivo na guerra (que só terminaria em 2002), incentivando paralelamente um acordo entre sul-africanos e cubanos para a retirada de tropas e a assinatura dos Acordos de Nova Iorque, que deram origem à aplicação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, levando à independência da Namíbia e ao fim do regime de 'apartheid'.

Por seu lado, a UNITA, que esteve ausente da cerimónia, considera a celebração da efeméride uma "deturpação da história" por parte do executivo angolano, "apoiada por governos de proximidade ideológica", e que constitui "um elemento de referência propagandístico" que "não faz sentido celebrar" num contexto de reconciliação nacional.

"Não faz sentido em Angola comemorarem-se vitórias e derrotas num momento de reconciliação nacional. Acima de tudo é um elemento de referência propagandístico, indiscutivelmente. Não aconteceu nada daquilo que formal e oficialmente a propaganda traz", referiu sexta-feira à Lusa o líder parlamentar da UNITA, Adalberto da Costa Júnior.

"É uma deturpação clara histórica, de continuidade ideológica que, na região, acabou também por ser abraçado por governos de proximidade ideológica. Mas os historiadores vão acabar por escrever a história real. Não estou muito preocupado. Preocupa-me sim é, numa altura destas, em que temos desafios de consolidação nacional, comemorar datas de divisão nacional. Não faz sentido nenhum", acrescentou.

Antes de ser proposta e aceite pelos chefes de Estado e de Governo da SADC, que a aprovaram como feriado regional a 18 de agosto de 2018, a data foi nove dias antes institucionalizada como feriado nacional angolano, uma medida aprovada apenas pelos deputados do MPLA.

A SADC foi criada a 17 de outubro de 1992 e integra Angola, Moçambique, África do Sul, Botsuana, República Democrática do Congo, Essuatini (antiga Suazilândia), Lesoto, Madagáscar, Malaui, Maurícia, Namíbia, Seychelles, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué.

Mudanças de regime

Ladrões de Bicicletas


Posted: 23 Mar 2019 11:44 AM PDT

"Não há nenhuma dúvida que Saddam Hussein possui armas biológicas e a capacidade de produzir muitas mais em pouco tempo."
A garantia foi dada por Colin Powell, secretário de Estado dos EUA, a 5 de fevereiro de 2003. Não foi preciso esperar muito tempo até que a coligação liderada pelos norte-americanos e britânicos anunciasse o início da intervenção militar no Iraque, mesmo contra as indicações do Conselho de Segurança da ONU. A invasão que Noam Chomsky descreveu como "o crime mais grave deste século" já conta 16 anos e deixou centenas de milhares de mortos, feridos, deslocados e a desintegração de um país dividido pela guerra e pelo terrorismo. As armas, claro, nunca apareceram. Para que não esqueçamos o legado das intervenções militares norte-americanas.

Coisas de família

por estatuadesal

(Por José Gabriel, 23/03/2019)

Paulo Rangel, com aquela perspicácia que Deus lhe deu, detectou o grande problema que aflige a democracia portuguesa, que "constitui um atentado gravíssimo ao princípio republicano", qual seja o da presença de um excesso de relações familiares no governo, uma overdose delas, por assim dizer.

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Com a voz tremente de quem aborda um tema decisivo para a subsistência da própria Pátria, Rangel constrói um discurso que, no tom e no estilo, parece retirado de uma telenovela mexicana.

Apela ao Presidente da República - que, valha a verdade, foi quem deu posse aos sortidos familiares -, acusa-o de não dar a importância ao facto e exige que este seja o tema do discurso da sessão solene do 25 de Abril - ó João Miguel Tavares, isto parece uma ordem...- tal a gravidade da coisa.

(Ver aqui)

Vamos lá, tem de se admitir que esta reiterada prática por parte do Governo não é muito sensata. Não fere a lei, é verdade. Não fere a ética republicana - embora não deixe de lhe poder provocar um eritema breve, uma alergia comichosa. Mas fere o bom senso. E ainda mais a prudência política - e, se é verdade que a família é um conjunto que se defende em bloco -, não raro se ataca em particular.

Rangel não vê assim. Ele vê uma tragédia, vê uma ameaça fatal à Democracia e espanta-se: “Que as pessoas em Portugal não rasguem as vestes e não se escandalizem com isto é sinal de uma certa doença e de um adormecimento da democracia”.

E aí eu digo: alto e pára o baile! Sabe o deputado o preço da camisa que tenho agora vestida? Já imaginou o prejuízo que, por esse país fora, o seu apelo provocaria? - embora, admito que, ao ouvir tais palavras, receei que o deputado Rangel, logo ali, desse o exemplo. O espectáculo não seria bonito de se ver e podia haver crianças na sala.