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sábado, 21 de setembro de 2019

Costa e os espelhos

Posted: 20 Sep 2019 02:54 AM PDT

«Foi preciso um frente a frente reunindo Costa e Rio à volta de meia dúzia de assuntos, num debate caracterizado pela ausência de ideias sobre o SNS.

Quando o PS parecia caminhar sólido rumo à maioria absoluta, o que permitiu uma inversão de percepção tão súbita, agora que estamos a três dias do início da recta final dos 15 dias de campanha? A ideia de que estas eleições legislativas são mais antecipáveis de que fava em bolo-rei, sofreu um significativo revés. Agora, não se antecipa somente se o PS terá ou não maioria absoluta. Agora debate-se, novamente, se Rui Rio pode afinal ter futuro na liderança do PSD num cenário pós-eleições. Foi António Costa que permitiu que tal sucedesse, foi ele que reabriu um dossier que estava morto e enterrado, ressuscitando a dúvida.

Há uma razão evidente que levou António Costa a não vencer o debate com Rui Rio, como seria expectável: o primeiro-ministro teve medo da soberba. Quando as sondagens colocam o PS próximo da maioria absoluta, a intenção é não forçar a barra, não arriscar o passo em falso, não colocar o eleitorado entre a espada e a parede, não demonstrar arrogância. Um conjunto de nãos. Falsos. Como se o PS não quisesse verdadeiramente a maioria absoluta, como se lhe fosse quase indiferente, como se não fosse aquilo que o seu aparelho mais espera e anseia na expectativa da redistribuição. Fazer de morto, matando o instinto. Evitar a soberba. Sinalizar alguma afabilidade e a condescendência como trunfos. António Costa quis fazer pleno para bingo e nem saiu da linha. Foi certinho. Traiu-se. Assistimos, assim, a um político atípico, anulando o seu "killer instinct", a olhar-se ao espelho sem saber qual o melhor reflexo, sem querer arrasar um Rio a quem bastou ser Rio. Sabe-se agora, Rio é muito bom sem oposição. Ou como candidato presidenciável à imagem de Cavaco.

Outra das razões prende-se com a convicção de Costa de que, em oposição, Rui Rio será sempre um adversário mais simples ou um melhor aliado. Também aí, convém não mexer. Na ausência de maioria absoluta, Costa tem dois sonhos: que a dimensão do PAN lhe chegue para dar a mão ou que Rui Rio se mantenha como líder do PSD. Não será por acaso que o primeiro-ministro resolveu enjaular e dar férias ao seu animal político após disparar continuamente farpas sobre o BE. António Costa vê no BE o seu maior adversário e há muito que não o esconde. Mesmo durante a legislatura, foi o sentido de responsabilidade de BE e PCP que salvou a "geringonça", mantendo-a como solução governativa.

António Costa aborda a fasquia da maioria absoluta com a aproximação do saltador em altura que tem medo de tombar a barra com um salto exuberante. Enquanto Rui Rio dificilmente disfarça a perseguição a jornalistas e ao Ministério Público em nome do segredo de justiça e Gonçalo da Câmara Pereira, líder do PPM, considera que Portugal está a caminho da revolução bolchevique, o país só espera que António Costa também se revele na autenticidade. Nenhum eleitor quer ver António Costa a especular com os votos como especulou com os consensos da legislatura.»

Miguel Guedes

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

A Terra é redonda

por estatuadesal

(António Guerreiro, in Público, 20/09/2019)

Parece que a nossa época é aquela em que tomámos consciência de que estamos confrontados com o perigo absoluto do fim da humanidade: este catastrofismo é o tom dominante, diariamente, nos media ocidentais que nos servem de referência.

Uma vez instalado este imaginário catastrofista, foram evacuadas a grande velocidade as reminiscências dos tempos modernos, que nos falavam de emancipação, progresso, liberdade, esperança. Agora, mal falamos em “esperança” vem-nos logo à memória a proposta desse “grande animal hanseático”, como alguém chamou ao filósofo alemão Peter Sloterdijk, que propôs em tempos que deviam ser postos na prisão todos aqueles que falam em esperança porque contribuem para a catástrofe. Recordemos que Sloterdijk é o filósofo que, com a sua teoria das esferas e do “espaço interior do mundo” nos veio mostrar que a Terra é redonda.

Podemos objectar que já o sabíamos há séculos. Pois sabíamos, mas só começámos a ver e a sentir verdadeiramente essa rotundidade quando os efeitos de tudo o que fazemos, em termos ecológicos, em qualquer parte do mundo, chegam até nós como um boomerang. Antes de a Terra ser única e redonda, como é hoje, os países ricos podiam sentir-se seguros ao depositar o seu lixo industrial nos países longínquos. Hoje, até o fundo dos mares está em circulação na superfície da nossa Terra redonda.

Curioso, e até divertido, é ver como nos vão sendo ministrados todo os dias ecopaliativos:. Dizem-nos: viaja o menos possível de avião, vai para a escola ou para o emprego de bicicleta, bebe só água da torneira, reutiliza os sacos plásticos, não deixes a torneira aberta enquanto lavas os dentes, toma atenção a todos os teus gestos quotidianos, torna-te um herói da salvação do planeta (como se o planeta estivesse interessado nos nossos esforços e não continuasse a existir depois de nós, tal como já existia antes de nós). Tudo isto não passa de formas de exorcismo e de recalcamento do medo, ao mesmo tempo que cria a ilusão de que estamos a responder à urgência.

Se olharmos com atenção e utilizarmos o bom senso (nem é preciso muita ciência) facilmente concluímos que muito pouco se faz porque era preciso virar os nossos modos de vida de pernas para o ar para se fazer alguma coisa eficaz (se ainda há tempo para isso porque obviamente não se pára de um dia para o outro um processo que começou há séculos). Não é que devamos continuar a agir como sempre agimos, mas todas estas ideias de boa vontade que surgem todos os dias como injunções acabam por esconder a questão política essencial.

Na verdade, passámos em pouco tempo de uma política com pouquíssima ecologia a uma ecologia de boa vontade à qual falta política. E essa falta torna vãs todas as boas intenções. O que vemos é que continua a ser difícil declinar essas duas palavras — ecologia e política — sob a forma de uma ecopolítica digna desse nome. Uma ecopolítica à altura dos desafios com que estamos confrontados terá de ser capaz de mostrar que as situações ecológicas, políticas, sociais, económicas, institucionais, tecnológicas e psíquicas estão em total conexão umas com as outras. Sem agir sobre todas estas dimensões, o “impasse planetário” mantém-se. Por isso é que são tão ingénuos os regulamentos avulsos e o pretenso “regresso à natureza” de tonalidade romântica.

Se já estamos a viver em pleno “perigo absoluto”, como afiançam até os cientistas colapsólogos e os catastrofistas esclarecidos, então só podemos concluir que não saímos ainda da imobilidade nem se vislumbra que iremos sair. A culpa é também das nossas representações das catástrofes: pensamos num acontecimento colossal (a Terra submetida a uma terrível operação que tanto pode ser vista como a aniquilação total como a sublime “obra de arte total”), que interrompe abruptamente o curso do mundo e da História. Ora, tal como o Messias que, para alguns autores da mística judaica, chega de maneira imperceptível, já aí está mas ainda ninguém deu por ele, também a catástrofe pode chegar imperceptivelmente: quando apreendemos os seus sinais já ela chegou com carácter de irreversibilidade.


Livro de Recitações

“No debate dos grandes, afinal quem ganhou a quem?”
Título do Expresso online, 17/09/2019

Nestas olimpíadas dos debates, ganhar nunca é o resultado de uma verificação que pode ser descrita, mas de um acto que se consuma através de frases proferidas por outrem: ganha sempre aquele que alguém diz que ganha. Se há vozes que, pela posição que ocupam, lhes é outorgada uma certa autoridade, então são elas que decidem se ganhou X ou Y, isto é, o que disserem consuma a vitória de um e a derrota do outro. Não se trata de árbitros, mas de jogadores num metajogo que se sobrepõe ao jogo de primeiro nível. Neste título do Expresso, toda a minha atenção vai para o “afinal”: perante todas as indecisões quanto ao resultado de um jogo que é por definição indecidível, há alguém que nos vem garantir, sob a forma de uma interrogação cuja resposta será dada a quem abrir o link, que há uma verdade de última instância, há “afinal” um vencedor de verdade. Afinal, quem ganha são sempre os metajogadores. E a final acontece sempre no dia seguinte.​

Greve mundial pelo clima

De  euronews • Últimas notícias: 20/09/2019 - 16:24

Greve mundial pelo clima

Começou, esta sexta-feira, na Austrália uma semana de greve mundial pelo clima. Estão planeados mais de 1700 eventos em todo o globo, até ao dia 27 de setembro.

The New York Times

@nytimes

New York City will not penalize students who attend global youth climate strikes on Friday. “This completely changes things,” one student said. https://nyti.ms/2AlgcEN

Students in New York City protested against a lack of action on climate issues in Columbus Circle in May.

1.1 Million Students in N.Y.C. Can Skip School for Climate Protest

The city will not penalize those who attend global youth climate strikes on Friday. “This completely changes things,” one student said.

nytimes.com

7,301

1:30 AM - Sep 17, 2019

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Em algumas cidades estão previstas marchas em outras, os ativistas vão acampar nos principais locais das urbes, até à próxima sexta-feira.

Esta greve mundial foi precedida por várias ações contra as alterações climáticas, por toda a Europa.

Na quinta-feira, os jovens da organização Climate Strike Action entraram no Parlamento suíço e ostentaram uma faixa que dizia: "É a contagem decrescente final - faltam 16 meses".

Na capital do Reino Unido, milhares de ativistas promoveram um funeral em frente à Semana de Moda de Londres. A cidade será um dos epicentros desta greve mundial pelo clima.

"Vamos fazer uma marcha fúnebre, que começa em Trafalgar Square e termina no principal local da Semana da Moda de Londres, 180 The Strand. A razão é que estamos diante de uma emergência absoluta e todos nós precisamos de ter espaço para chorar coletivamente. Vamos chorar pelo planeta, pela natureza, pelos animais e pelas pessoas que sofreram, que continuarão a sofrer, e pelas vidas que serão perdidas devido a esta crise", afirma a ativista Sara Arnold.

Na Alemanha, onde Angela Merkel anunciou recentemente um novo plano para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e tornar a economia mais verde, os ativistas bloquearam, no último fim de semana, o Salão Automóvel de Frankfurt.

Um protesto muito significativo num país que se orgulha da sua indústria automobilística.

A ativista Hannah Fiederer defende que "temos de nos afastar dos transportes individuais para os transportes públicos. Temos de nos afastar rapidamente, para o bem público."

Greta Thunberg

@GretaThunberg

Incredible pictures as Australia’s gathering for the #climatestrike
This is the huge crowd building up in Sydney.
Australia is setting the standard!
Its bedtime in New York...so please share as many pictures as you can as the strikes move across Asia to Europe and Africa!

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3:28 AM - Sep 20, 2019

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"Vivemos nos arredores da cidade e funciona muito bem chegar à cidade sem carro, mesmo a 10 quilómetros de distância. A viagem de ida e volta funciona. É tudo uma questão de reajustamento, mas traz diversão, custa muito menos. E mantém-nos em forma", diz o ativista Stefan Henssler.

Esta greve mundial pelo clima foi inspirada pela jovem ativista sueca Greta Thunberg e ocorre a poucos dias da Cimeira de Ação Climática das Nações Unidas, marcada para a próxima segunda-feira em Nova Iorque.

Costa e os espelhos

Miguel Guedes

Hoje às 00:11

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  • Foi preciso um frente a frente reunindo Costa e Rio à volta de meia dúzia de assuntos, num debate caracterizado pela ausência de ideias sobre o SNS.

    Quando o PS parecia caminhar sólido rumo à maioria absoluta, o que permitiu uma inversão de percepção tão súbita, agora que estamos a três dias do início da recta final dos 15 dias de campanha? A ideia de que estas eleições legislativas são mais antecipáveis de que fava em bolo-rei, sofreu um significativo revés. Agora, não se antecipa somente se o PS terá ou não maioria absoluta. Agora debate-se, novamente, se Rui Rio pode afinal ter futuro na liderança do PSD num cenário pós-eleições. Foi António Costa que permitiu que tal sucedesse, foi ele que reabriu um dossier que estava morto e enterrado, ressuscitando a dúvida.

    Há uma razão evidente que levou António Costa a não vencer o debate com Rui Rio, como seria expectável: o primeiro-ministro teve medo da soberba. Quando as sondagens colocam o PS próximo da maioria absoluta, a intenção é não forçar a barra, não arriscar o passo em falso, não colocar o eleitorado entre a espada e a parede, não demonstrar arrogância. Um conjunto de nãos. Falsos. Como se o PS não quisesse verdadeiramente a maioria absoluta, como se lhe fosse quase indiferente, como se não fosse aquilo que o seu aparelho mais espera e anseia na expectativa da redistribuição. Fazer de morto, matando o instinto. Evitar a soberba. Sinalizar alguma afabilidade e a condescendência como trunfos. António Costa quis fazer pleno para bingo e nem saiu da linha. Foi certinho. Traiu-se. Assistimos, assim, a um político atípico, anulando o seu "killer instinct", a olhar-se ao espelho sem saber qual o melhor reflexo, sem querer arrasar um Rio a quem bastou ser Rio. Sabe-se agora, Rio é muito bom sem oposição. Ou como candidato presidenciável à imagem de Cavaco.

    Outra das razões prende-se com a convicção de Costa de que, em oposição, Rui Rio será sempre um adversário mais simples ou um melhor aliado. Também aí, convém não mexer. Na ausência de maioria absoluta, Costa tem dois sonhos: que a dimensão do PAN lhe chegue para dar a mão ou que Rui Rio se mantenha como líder do PSD. Não será por acaso que o primeiro-ministro resolveu enjaular e dar férias ao seu animal político após disparar continuamente farpas sobre o BE. António Costa vê no BE o seu maior adversário e há muito que não o esconde. Mesmo durante a legislatura, foi o sentido de responsabilidade de BE e PCP que salvou a "geringonça", mantendo-a como solução governativa.

    António Costa aborda a fasquia da maioria absoluta com a aproximação do saltador em altura que tem medo de tombar a barra com um salto exuberante. Enquanto Rui Rio dificilmente disfarça a perseguição a jornalistas e ao Ministério Público em nome do segredo de justiça e Gonçalo da Câmara Pereira, líder do PPM, considera que Portugal está a caminho da revolução bolchevique, o país só espera que António Costa também se revele na autenticidade. Nenhum eleitor quer ver António Costa a especular com os votos como especulou com os consensos da legislatura.

    *MÚSICO E JURISTA

    Eleições Legislativas

    Posted: 19 Sep 2019 03:05 AM PDT

    «Aproximam-se as eleições legislativas. No mês que vem os portugueses vão eleger os deputados da Assembleia da República e determinar o futuro do país, desenhando as coligações possíveis.

    Sendo a sociedade composta por diversos grupos, classes e minorias étnico-raciais todas com interesses diferentes e alguns até antagónicos, é importante que todos estejam representados e que uma larga maioria sociológica possa contribuir com as suas propostas para a governação do país. A exclusividade política de um só partido é sempre negativa na medida em que este representa apenas um grupo social restrito, ficando assim a maioria excluída da governação.

    O último governo, com as suas múltiplas limitações, foi o melhor das últimas décadas. Tal só foi possível através da confluência de programas distintos (o do PS maioritariamente, mas também aspetos advindos dos programas do BE, do PCP e Verdes e por vezes mesmo do PAN).

    O último governo do PS em maioria, o de José Sócrates, teve uma atuação bem diferente, conduzindo o país a uma crise sem precedentes e construindo, segundo o Ministério Público, uma rede de corrupção que se erguia até ao mais alto nível estatal.

    Assim, sendo que cada português só tem um voto, todos devemos pensar na configuração final que queremos para a Assembleia da República e orientar o nosso voto nessa direção. Mesmo que tal pressuponha votar num partido diferente daquele em que normalmente votaríamos. Mesmo que tal implique votar de forma nova e diferente.

    Por vezes muito que custe, devemos evitar a maioria absoluta do Partido que apoiamos e favorecer um maior equilíbrio político na Assembleia da República. Para que o partido nosso favorito governe melhor, com o contributo de outros que serão ignorados, esquecidos e ostracizados se em maioria absoluta.»

    Jorge Fonseca de Almeida