(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 07/08/2017)
Está visto que os esquerdistas querem todos a mesma coisa: que a dívida do país seja perdoada. Agora, até arranjaram um reforço de peso, um tal Kenneth Rogoff, um economista norte-americano, que deve ter na mesinha de cabeceira a foto da Catarina Martins.
Pois não é que o tal Rogoff deu uma entrevista ao Expresso, publicado na edição de papel este sábado, dizendo que, na resposta à crise iniciada em 2008, “o erro maior foi a Europa e o FMI (…) terem recusado o perdão ou a mutualização das dívidas da Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha”? É preciso topete! Então aos credores, aos que nos ajudaram, aos que meteram cá dinheiro, não lhes devíamos ter pago?! Onde é que já se viu empréstimos a fundo perdido? Isso é o que a Catarina Martins quer e o Francisco Louçã e a Mariana Mortágua e mesmo aquele Pedro Nuno Santos, do PS. E agora temos este Rogoff a dar-lhes cobertura. É comuna, de certeza.
Aliás, não é só comuna: também alinha com o Sócrates, o que é ainda mais grave! Sim, noutra das respostas diz que o segundo grande erro no combate à crise foi “não se ter aumentado significativamente a despesa em infraestruturas”. Ora foi isso mesmo que o Sócrates fez! Ele foi o Parque Escolar, o luxo asiático nas escolas, as eólicas, aquelas rendas excessivas, os investimentos de proximidade, eu sei lá! Foi um fartar vilanagem! E depois demos com os burrinhos na água e tivemos de ir a correr pedir ajuda internacional. E depois de nos emprestarem o dinheiro, o americano queria que não o pagássemos?! Este Rogoff também deve ter ido visitar o Sócrates à cadeia, ai deve deve, só que como os jornalistas não o conheciam não lhe perguntaram o que tinha ido lá fazer.
E mais. Diz que “os constrangimentos aos défices orçamentais, impostos pelo Tratado de Maastricht, não fazem sentido em condições de recessão profunda”, pelo que “deve permitir-se aos países terem défices maiores em períodos de recessão a troco de se comprometerem com orçamentos equilibrados ou mesmo com excedentes quando as suas economias estiverem a crescer acima da tendência”. O homem é um subversivo! Um revolucionário! Quer colocar tudo em causa! Quer implodir a ordem estabelecida! É preciso regras, porque sem regras a União Europeia não funciona! Há que impor disciplina aos países gastadores do sul, se não usam o dinheiro todo em vinho e mulheres, como bem disse o Dijsselbloem! Desconfio que este Rogoff é que é o diabo cuja vinda era anunciada por Passos Coelho! Leu o pensamento da Mariana Mortágua e encarnou o espírito da Marisa Matias! Não sei mesmo se não consulta periodicamente o Jerónimo de Sousa, que é pessoa para lhe segredar exatamente o que ele disse!
Ainda por cima diz que o maior risco que existe atualmente para a economia mundial é “uma administração Trump errática”. Aí está! O homem é contra o Trump! Deve ter apoiado a Hillary… Qual Hillary! Deve é ter apoiado o Bernie Sanders e mais aquelas ideias malucas e revolucionárias que ele tinha. E só apoiou a Hillary, se apoiou, porque é contra o Trump. Um esquerdista, é o que é. Se não vivesse nos Estados Unidos era guerrilheiro, de certeza, com boina à Che Guevara, com estrelinha e tudo!
Ora deixa cá confirmar no Facebook quem é este Rogoff. Formou-se em Yale. Hum… O Mário Centeno não tirou lá a pós-graduação? Depois, o tal Kenneth Rogoff fez pós-graduação no MIT. Ai está! Ali é tudo muito liberal… Professor de Economia em Harvard? Isso é mais surpreendente. Harvard não costuma dar cobertura a revolucionários. O quê? Também foi economista-chefe do Fundo Monetário Internacional? Deve ter sido no tempo do Dominique Strauss-Kahn, em que o FMI era uma animação. Ah, foi antes? Está bem. Mas podia ter sido no tempo do Dominique. E também foi campeão de xadrez sub-21 nos Estados Unidos e grande mestre internacional? Lá está. Esses tipos do xadrez são todos de esquerda. O Capablanca, o Petrosian, o Spassky, o Karpov, o Kasparov… Mesmo o Fisher não sei se não era de esquerda. Em qualquer caso, era um génio mas não era bom da cabeça.
Estou esclarecido. Este Kenneth Rogoff não me engana. Se fosse português votava no Bloco de Esquerda, de certeza. Onde já se viu um economista sério e competente defender o perdão das dívidas soberanas?
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