Fonte: Quinta Emenda
- Eduardo Louro
- 28.11.17
O segundo aniversário do governo ficará certamente como um marco n a legislatura, mas também, mais
que na geringonça, no futuro da solução governativa que representa. E não é pela controversa
comemoração, em Aveiro.
É provável que aprovação do terceiro orçamento deste governo, que poderia querer dizer que a geringonça
continua a funcionar e imune ao próprio desgaste de que o governo vem dando sinais, tenha trazido a resposta
quanto ao futuro do entendimento da esquerda. E a resposta é - tudo o indica - que a actual solução
dificilmente se repetirá.
A sustentar esta opinião está justamente o rompimento do PS com o compromisso assumido com o Bloco a
propósito das rendas na energia. Não tanto pela facada, pela falta à palavra, como salientou com todas as
letras a deputada Mariana Mortágua, porque não é raro que essas coisas se perdoem. Uma facadinha aqui, um
amuo ali, fazem parte das relações.
Não é bonito, mas não é o problema. O problema é que António Costa e o PS fizeram, nesta matéria, o mesmo
que Passos Coelho e o PSD e o CDS tinham feito à troika, quando fizeram ouvidos de mercador à
recomendação de rever as rendas excessivas da EDP.
Na altura, Passos Coelho preferiu cortar salários e pensões e optar pelo aumento colossal de impostos a afrontar a
EDP, em circunstâncias que levaram até à demissão do Secretário de Estado da tutela. Agora, António Costa
prefere pôr em causa as condições da governação do país a tocar nos previlégios da EDP.
Antes, Passos, como agora, Costa, do mesmo lado. Antes, como agora, primeiros ministros de governos legítimos
da República. Numa semana em que António Costa voltou a proclamar a sua total incompatibilidade
com Passos, manifestando a esperança que possa ter com a próxima liderança do PSD a possibilidade de
diálogo que nunca existiu com a actual, é legítimo perguntar: que interesses são os da EDP, que empresa é esta
que, ao que se vê, consegue unir o que não há interesse nacional que una?
O problema é que, num regime capturado pelos interesses, António Costa mostrou de que lado está. Do lado em
que invariavelmente têm todos estado. E isto tem que dar em rotura - não rompendo com o passado,
rompe-se inapelavelmente com o futuro!
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