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sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Estereotipar é humano

por vitorcunha

Ao longo da minha vida, como acontece com toda a gente, fui aprendendo a compartimentar pessoas em estereótipos, que, por muito superficiais e consequentemente caricaturais que sejam, me permitem determinar os limites e os tabus de uma conversa. Por exemplo, o estereótipos como o tipo activista dos costumes que sobe na horizontal (com o qual “bom dia” tanto pode ser uma violação como uma cortesia pela noite anterior), o tipo filho de pedófilo que compensa demasiado encontrando vítimas ficcionais entre estações, o tipo mulher-na-menopausa que pinta quadros fraquinhos numa vivenda algarvia e que lamenta os casos #MeToo mas por despeito de ter perdido a graça, enfim, categorias perfeitamente normais que toda a gente usa.

Ultimamente tenho pensado numa dessas categorias, a do deficiente mental a quem se pergunta opinião sobre sinistros rodoviários e que apresenta como solução a redução do limite de velocidade para 30 km/h. É verdade que é necessário “dar mais tempo a quem precisa”, mas também é verdade que é fundamental dar mais multas a quem as pode esbanjar a “acabar com a austeridade”.

Esta manhã, tentei durante uns minutos não exceder os 30 km/h. Foi difícil, em parte porque o carro - pequeno utilitário de baixa cilindrada, 9 anos de idade, barulhos de plásticos que adicionam poliritmos à simplicidade rítmica da pop comercial - desenvolve naturalmente de forma mais eficiente que a mula que transporta os cidadãos da tal categoria estereotipada; em parte porque a octogenária do carro de trás me gritou “destrava essa merda, ó capado”.

Como bom cidadão que sou, já mandei remover duas velas ao motor e estou ansioso por poder queimar gasolina prego a fundo para combater o arrefecimento global. Vós, os rebeldes, pagai lá a multa por uma questão de princípio tão estúpida como chegar ao trabalho ainda hoje.

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