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No século XVI, a Espanha era uma das maiores potencias mundiais e detenho vários territórios na Europa e na América do Sul, fruto sobretudo de uma série de bons casamentos reais que acabaram por fazer com que Carlos V e o seu filho Filipe II fossem considerados herdeiros legítimos desses territórios. Um dos territórios herdados foi Portugal, que caiu nas mães de Filipe II, filho da princesa Isabel de Portugal, casada com Carlos V. Viviam-se tempos prósperos em Espanha e Filipe II queria fundar uma nova e sumptuosa capital do Reino. Várias hipóteses estavam em cima da mesa mas 4 delas reuniam um elevado favoritismo: Barcelona, Sevilha, Madrid... e Lisboa. Foi nesta época que aquela que era e ainda é a capital de Portugal esteve prestes a ser também a capital de Espanha.
Filipe II
Foi o Rei Filipe II que decidiu levar a capital para Madrid em 1561, há 457 anos atrás. E, embora por um curto período de tempo (1601-1606) se tenha mudado para Valladolid, Madrid continuou a crescer e a expandir-se até se tornar o que é hoje. O motivo para escolher Madrid foi baseado, por um lado, no seu passado comunal: a expropriação de terra de um nobre proeminente deu aos Reis a Casa de Campo, que mais tarde os transformou num extenso campo de caça ao lado do Alcázar. Além disso, Madrid não tinha bispo, o que significa que nunca tinha sido um centro religioso e dependia de Toledo.
Filipe II
Outro factor chave para o monarca foi a escassa presença de grandes linhagens nobres perto de Madrid. A família nobre mais próxima eram os Mendoza, que se instalaram em Guadalajara. Desta forma, Filipe II assegurou-se de que nenhum nobre pudesse fazer sombra ao seu poder como Rei. E aqueles nobres que entretanto foram para Madrid que vieram só ser cortesãos, directamente dependentes do Rei. Este argumento é o mesmo que seguiu, um século depois, Louis XIV da França, quando se mudou para Versalhes. Ou seja: Filipe II mudou a capital para Madrid para poder estar afastado das influências negativas do clero e da nobreza. Além disso, Madrid tinha uma posição central na Península Ibérica, entre Lisboa, Sevilha e Barcelona.
Lisboa
No entanto, Madrid tinha duas desvantagens: não tinha saída para o mar e estava longe dos principais fluxos económicos. É por isso que outras opções foram consideradas, como Lisboa, Sevilha e Barcelona. Mas esta última não parecia aconselhável já que Barcelona era dependente da Coroa de Aragão, local onde os nobres ainda detinham muito poder e influência e, depois do domínio dos poucos nobres existentes em Madrid, Filipe II tinha o caminho aberto para ter um poder absoluto nesta sua nova capital.
Lisboa
Em relação a Lisboa, Portugal era um território de incorporação bastante recente, o que terá contribuído para descartar esta hipótese. Filipe II tinha um especial carinho e apreço por Lisboa e pelos portugueses. A sua mãe, Isabel, era portuguesa, e educou o filho no meio de portugueses. Filipe II dominava a língua portuguesa e chegou mesmo a viver uns tempos em Lisboa. Diz-se ainda que um dos seus maiores amigos e confidentes era português, sendo este uma das poucas pessoas em quem o Rei confiava.
Lisboa
Sevilha cumpria, por sua vez, estes requisitos, já que era uma cidade próspera, tinha acesso ao mar através do Guadalquivir e estava muito ligada à expansão espanhola nas Américas. Além disso, a Andaluzia era um lugar próximo e ligado ao Conselho de Castela, Sevilha já tinha um "capital económico" com a Casa da Contratação das Índias, uma nobreza local e um bispado. Apesar de tudo, Felipe II fez boa parte de sua vida na região de Castela e parecia mais predisposto a colocar seu Tribunal em terras castelhanas. E Madrid já havia sido usada como sede das reuniões do Tribunal desde o final da Idade Média. O seu pai, Carlos I, havia concedido o brasão e foral à cidade anos anteriores.
Lisboa
A tudo isto somava-se a posição geoestratégica da cidade: estava no centro da península, cercada de florestas, animais de caça e bom tempo. O tema da caça, por trivial que pareça, determinou a instalação temporária de Reis como Henrique III de Castela. E Filipe II também adorou passar longos dias no monte do Pardo. A cidade também tinha um abastecimento de água através dos manzanares e poços, o que era mais complicado em Toledo, cuja orografia forçou a realização de dispositivos mecânicos para fornecer água para a cidade. Além disso, após a eleição de Madrid como sede do Tribunal, as obras no Mosteiro do El Escorial, sede do panteão familiar, começaram quase que imediatamente, e Filipe II poderia supervisioná-las caso estivesse por perto.
Filipe II: o Rei espanhol que amava Portugal
Filipe II foi coroado rei de Portugal em 16 de Abril de 1581 nas Cortes de Tomar. Antes de agregar a coroa portuguesa a castelhana teve que ganhar o apoio de nobres lusos depois de derrotar António, Prior de Crato na Batalha de Alcântara, instalou-se em Lisboa onde passou cerca de três anos. Durante esse tempo viveu como um português pela sua forma de se comportar, de vestir e de comer, tendo sempre em vista também em sua política os interesses de Portugal, terra natal da sua mãe, a imperatriz Isabel.
D. Isabel
O carinho e afecto que Filipe II sentia por Portugal era evidente por ter mão portuguesa e por ser neto do grande Dom Manuel I. “Filipe concretizou um projecto que vinha desde a Idade Média, o de fazer coincidir a união geográfica com a política”, recorda o historiador, “Dom Manuel tinha um sonho imperial e Filipe II tinha o mesmo sonho que o avô”. Ainda que muitas vezes isto tenha sido ignorado “Filipe II teve muitas atitudes e medidas que se inspiraram em seu avô materno e na grande imperatriz Isabel, sua mãe, tão querida pelos espanhóis”.
Filipe II
Isabel falava em português com seu filho, consumia comida portuguesa e ademais tinha uma dama de companhia de seu país natal, Leonor de Mascarenhas, que foi responsável pelos primeiros cuidados dados ao príncipe. Filipe II que perdeu a sua mãe com somente 13 anos em 31 de maio de 1539, vítima de parto mal-sucedido, sempre teve em conta a importância de tudo o que era português na sua vida e tentou transmitir a mesma coisa aos seus filhos, quando em cartas as infantas Isabel Eugénia e Catarina Micaela pedia que o seu filho pequeno Diego estudasse a língua de Camões.
Filipe II
O seu primeiro matrimónio foi com a infanta portuguesa Maria Manuela, com quem teve o malogrado príncipe Dom Carlos. Felipe II depois da morte de Dona Maria Manuela em 12 de Agosto de 1545, também quase contraiu matrimónio com a duquesa de Viseu, Dona Maria, filha de Dom Manuel I e da sua terceira esposa, Leonor da Áustria, tia materna de Filipe. O monarca também manteve uma relação amorosa ilícita com a portuguesa Isabel de Osório com quem teve dois filhos e a quem ofereceu o Palácio de Saldañuela em Burgos, na Espanha.
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