por estatuadesal
(Jorge Rocha, 30/01/2018)
Que o governo tem de pôr cobro à situação presente em que se vê continuamente objeto dos ataques de juízes e de magistrados, como se a alegada independência entre o executivo e o judicial apenas sirva para que este último ponha continuamente em xeque a ação do primeiro, é urgência que tarda em concretizar-se. Sob pena de nos vermos na situação brasileira em que um ex-presidente é condenado sem nenhuma prova do que é acusado de ter feito e uma maioria do eleitorado lhe exige o regresso ao Palácio do Planalto.
Em poucos dias vão-se sucedendo os episódios, que culminaram na ignomínia de se ter posto em causa a probidade de Mário Centeno, prejudicando a sua ação não só no país, mas também no contexto europeu em que acaba de tomar posse como presidente do Eurogrupo. O ministro que provou a falácia dos argumentos das direitas - acobertadas pelos juízes e magistrados e aliadas a direções de jornais e televisões -, é tão odiado por elas, que não há argumentos de defesa do interesse nacional, que lhes justifique a mínima contenção. Entrou-se no reino do vale tudo, mesmo que isso signifique o recurso à estratégia da terra queimada.
Outros casos, porém, continuam a dar sustentação a esta realidade inquietante: hoje ficou-se a saber que dois secretários de Estado de José Sócrates vão a julgamento acusados de peculato com base numa denúncia da Associação Sindical dos Juízes. O seu crime terá sido o de comprarem livros no valor de 14 mil euros num dos casos, e revistas no valor de 400 euros no do outro, com o cartão de crédito de governantes. Não interessando se eram ou não materiais necessários para a sua atividade de governantes. Será que para terem conhecimento do que lhes importaria saber para melhor desempenharem os seus cargos, deveriam tê-los adquirido com os seus próprios recursos? Já agora as canetas com que assinavam os despachos também deveriam ser previamente comprados na papelaria da esquina das respetivas ruas em vez de serem fornecidas pelo economato dos ministérios?
Cabe, porém questionar quanto, em comparação com esses supostos 14400 euros terão sido gastos na investigação, que dura desde 2012 para os levar agora a julgamento? É caso para pôr a questão que mais se justifica nestas circunstâncias: quem é que julga os juízes e os magistrados pelos crimes de lesa Pátria, de que dão contínuas provas?
Mas a urgência no virar de tudo isto também se deve levar a outras áreas. Por exemplo à televisão do Estado, a RTP, para a qual o Conselho «Independente», nomeado pelo anterior governo, decidiu agora renovar o mandato do Presidente, um assumido militante do PSD, e rescindir o de Nuno Artur Silva, administrador conhecido pela proximidade às esquerdas. Ainda que, nesta matéria se lamente a militância de conhecidos militantes bloquistas em colaborarem na campanha suja, que presidiu à decisão de tal órgão decisório (quando será que o Bloco nos inibe de lembrar um célebre tratado sobre a doença infantil do comunismo?).
Pode-se compreender o que essa renovação de mandato e esse afastamento compulsivo de Nuno Artur Silva pretende: que a televisão do Estado continue a ter o tipo de (des)informação em que tem primado com recurso abundante aos comentadores do «tea party» nacional oriundos do Observador e seus sucedâneos. Dias há em que os convidados de José Rodrigues dos Santos ou de Ana Lourenço mais se assemelham a uma sinistra galeria de horrores.
A exemplo do que se passa nos EUA onde Trump procura evitar a derrota do seu Partido nas eleições do último trimestre deste ano, despedindo altos funcionários do FBI e perseguindo jornalistas, do referido Brasil ou da Espanha aqui ao lado onde todos os atropelos são cometidos aos princípios democráticos para impedirem os catalães de usufruírem a vontade emancipadora reiteradamente manifestada em eleições, as direitas globais perderam qualquer ponta de vergonha e, conspirando ativamente com todos os meios ao seu alcance, procuram evitar as mudanças civilizacionais, que tanto temem.
Bem desejamos que António Costa encontre um antídoto eficiente para combater este veneno diariamente inoculado nas mentes dos portugueses por todos os meios de desinformação, que lhes agridem a inteligência. Metaforicamente o manto de espuma a cobrir o Tejo em Abrantes é uma boa imagem do tipo de poluição, que está em curso nessa aliança corrupta entre alguma (in)justiça e a generalidade da comunicação social. Os malefícios, que tanta indignação causam em quem os testemunha e não os vê merecidamente sancionados, são uma ameaça demasiado séria para ser objeto de qualquer procrastinação no combate sério que exigem.
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