Translate

sexta-feira, 2 de março de 2018

Interpretações

Ladrões de Bicicletas


Posted: 02 Mar 2018 01:43 AM PST

O INE afirma o seguinte: “Em 2017, o Produto Interno Bruto (PIB) registou um aumento de 2,7% em volume, uma taxa superior em 1,1 pontos percentuais (p.p.) à verificada no ano anterior, tendo atingido, em termos nominais, 193 mil milhões de euros. O contributo da procura interna para a variação do PIB aumentou para 2,9 p.p. (1,6 p.p. em 2016), devido sobretudo à aceleração do Investimento. A procura externa líquida registou um contributo negativo de 0,2 p.p. (contributo nulo em 2016), observando-se uma aceleração das Exportações ligeiramente menos intensa que a das Importações de Bens e Serviços.”
Segundo Margarida Peixoto, num artigo de opinião no Negócios disfarçado de notícia, “o Governo de esquerda põe PIB a crescer ‘à la direita’”:  “o modelo de crescimento que se verificou foi o defendido pelos economistas mais ortodoxos, geralmente mais próximos dos partidos de direita: um crescimento em que a procura aparece como consequência e não como causa do crescimento da actividade económica”.
Segundo o INE, a causa do crescimento está mesmo na procura interna – metade do crescimento deve-se à evolução do consumo privado e a outra metade à evolução do investimento. O que deve ser sublinhado é que a aceleração do investimento está a ocorrer num quadro em que o único saldo com que nos devemos verdadeiramente preocupar - o externo - não entra em terreno negativo. E isto porque a procura externa praticamente compensou o efeito nas importações do crescimento da procura interna.
O crescimento do investimento deve-se certamente à melhoria das expectativas de vendas, dado que, segundo os inquéritos do INE aos empresários, foi o pessimismo fundado sobre estas que o travou durante tanto tempo. Para esta alteração não há-de ter sido indiferente a política de recuperação de rendimentos, como aliás Peixoto reconhece, acrescentando a chamada fada da confiança que estaria associada ao “controlo das contas públicas” (o défice é uma variável, na realidade, fundamentalmente endógena, ou seja, dependente do andamento da economia). Não percebo o que é que tudo isto tem a ver com os partidos da direita ou com os seus eventuais modelos.
De qualquer forma, e depois de tantos anos de quebra, algum dia o investimento privado tinha de recomeçar a recuperar, mesmo que sem grande ajuda do investimento público. A questão central é sempre a do tempo. Mas também é por isso que não devemos embandeirar em arco. Como lembra Sérgio Anibal no Público, numa notícia bem mais objectiva, a base de que parte a recuperação indispensável do investimento é “precupantemente baixa”, dado que “o nível de investimento, em termos reais está 30% abaixo do registado em 2001”. Isto para não falar da regressão estrutural que entretanto ocorreu, graças às políticas da troika no quadro do euro, e da dívida externa acumulada. Tudo isto continua a ser frágil, até porque os instrumentos nacionais de política económica são escassos e as novas formas dependência externa estão aí, a começar no maior controlo estrangeiro da banca.

Sem comentários:

Enviar um comentário