por estatuadesal
(Por Valupi, in Blog Aspirina B, 04/04/2018)
Para além de se rirem à gargalhada do Código Deontológico dos Jornalistas e do Estatuto do Jornalista, para além de terem uma actividade criminosa regular ao serviço de uma agenda política, para além de se conceberem como uma organização paralela ao Estado de direito, a comercialização da pornografia e a redução das mulheres a objectos e animais sexuais é parte principal do sucesso do Correio da Manhã, tanto na versão em papel como no cabo. Eis um exemplo da passada quarta-feira:
Temos uma jovem fêmea em fato de banho a propósito de ser actriz algures. Temos uma senhora em roupa interior a propósito do Trump. Temos três rabos de três fêmeas adolescentes a propósito da Páscoa e do Algarve. Temos uma manchete sobre os “viagras” a propósito não se sabe do quê. E ainda temos, no canto superior direito, a promessa de se mostrar a namorada nua de um ou uma (não sei porque não consumi o artigo) jovem de Aveiro. Uma capa que é foda.
Este é o líder da imprensa escrita em Portugal, e da informação no cabo, uma fonte que irradia para o espaço público uma cultura machista e abusiva tão ao gosto “popular”. Os números validam os seus critérios, é o mercado a funcionar. A única moral que respeitam é a das audiências mais desqualificadas e pulsionais, como vimos no caso do vídeo publicado no ano passado sobre um episódio de bebedeira num autocarro com estudantes no Porto. Enfim, qual é o mal de deixar as senhoras exibirem as suas mamas e cus, se elas não se queixam e até agradecem a atenção? Qual é o mal de ilustrar a paisagem de uma praia com juvenis e graciosos traseiros de umas incautas raparigas? E qual é o mal, ó deuses, de chamar para a 1ª página o belo gesto do tal jovem de Aveiro que resolveu partilhar com o mundo a sua admiração pela anatomia da namorada? Estamos a falar de Aveiro, raios, não de uma terreola qualquer perdida no Baixo Alentejo.
Estranhamente, a Cofina, a entidade responsável por este tremendo sucesso comercial que fica como ex-líbris da sociedade que somos, não é alvo de qualquer agressividade pelas entidades e personalidades dedicadas e empenhadas na luta pela dignificação da condição feminina e pela igualdade de direitos entre os sexos. Os políticos, mesmo os valentões dos esquerdolas que não perdem uma oportunidade para sovarem os imperialistas e reaccionários que os cercam, calam-se quando se trata da Cofina. A criminosa e degradante Cofina.
E se esse silêncio se regista na esquerda pura e verdadeira, na direita e na indústria da calúnia há viscerais louvores ao que se passa no esgoto a céu aberto. Se o tema da conversa for poderes fácticos, a Cofina será um dos mais poderosos em Portugal tal a rede de influências e dependências que montou. Até o actual primeiro-ministro e o actual presidente da câmara de Lisboa, dois dos melhores políticos no activo, já por lá andaram a contribuir para aquela miséria.
O texto do Octávio Ribeiro onde trata o Gélson como um escravo fugido da plantação de açúcar é o espelho cristalino da axiologia que está em causa no que só aparentemente é díspar, a violação dos códigos deontológicos e a violação da condição humana. Que este esgoto a céu aberto tenha a protecção das forças onde depositamos a nossa confiança cívica e política, social e cultural, é uma prova do subdesenvolvimento estrutural que nos diminui a liberdade. Que fique calado quem quiser ser cúmplice destes pulhas.
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