Quinta Emenda
Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!
- Eduardo Louro
- 27.04.18
Comemoraram-se anteontem os 44 anos do 25 de Abril. Fez-se festa por todo o país, e discursos no Parlamento, centro das comemorações oficiais.
Discursos cheios de retórica, uns mais cinzentos que outros, com mais ou menos referências à “manhã que Sofia esperava” daquele “dia inicial inteiro e limpo”, mas que geralmente dizem pouco. E a que pouca gente liga alguma coisa, à excepção daqueles que da sua decifragem fazem modo de vida.
Desta vez houve surpresas. Eu, pelo menos, fui surpreendido com a introdução do tema central da nossa democracia no discurso oficial das comemorações do 25 de Abril. Comemorar a revolução dos cravos é, tem de ser antes de tudo, avaliar os riscos da nossa democracia, que é exactamente o que de mais importante acabou por ficar.
A qualidade da nossa democracia tem-se vindo a degradar a um ritmo alucinante. A corrupção foi-se instalando, corroendo-a até à exaustão, minando o sistema político e afastando irreversivelmente eleitos e eleitores, destruindo os mecanismos de representação que constituem os alicerces, os pilares e as vigas do edifício democrático. Depois de 10 anos de escândalos de corrupção na banca e em agentes políticos de segunda linha, atravessamos agora o período mais negro da História de Portugal, com sucessivas revelações de corrupção ao mais alto nível das instituições, do Estado e da governação.
Estranhamente – ou talvez não – a sociedade civil não reage, e parece aceitar como normalidade o que a democracia não pode tolerar. A classe política parecia viver bem com isto, com esta paz podre de que somos nós os primeiros responsáveis. Até que, no dia de comemorar a democracia, alguns se lembrassem de nos lembrar que está em perigo. E que já não é possível salvá-la mantendo intocável o actual o sistema político.
Começou por dizê-lo uma jovem deputada – Margarida Balseiro Lopes, acabada de chegar à liderança da JSD – num discurso notável. Com todas as letras. Tocou-lhe ao de leve o presidente da Assembleia da República, e disse-o com decisiva veemência o Presidente da República, entre meias palavras e palavras inteiras.
Agora ninguém pode dizer que não sabia. Agora já só podem dizer que não querem saber. Como nós não temos querido saber!
* Da minha crónica de hoje na Cister FM
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