Novo artigo em BLASFÉMIAS
por Sérgio Barreto Costa
- Dá para entrar, São Pedro?
- Não te conheço, meu filho, não deves ser cliente habitual. Como te chamas?
- Sou o Manuel Reis, cheguei agora mesmo de Lisboa.
- É melhor tentares noutro dia, Manel, não estás na lista de convidados e a casa está cheia.
- Bolas, São Pedro, o 007 é que entrou num filme chamado “Morre noutro dia”! Isto aqui não é cinema, estou um bocado limitado nas opções!
- Ehehehe, já me tinham dito que eras um gajo bem-humorado. Ok, podes passar, são 240 euros.
- 240 euros?! Mas acabaste de pedir 12 euros à última pessoa que entrou! É que nem na Venezuela a inflação está tão descontrolada!
- Misteriosos são os caminhos do Senhor, Manel. E, por vezes, caros…
- Eu li algures que o Limbo tinha acabado, gostava de saber para onde vou com estes valores celestes de consumo mínimo.
- Oh meu filho, estou a brincar, claro que podes entrar sem problemas. É fácil de perceber que tu és um tipo impecável, estava só a pegar contigo por causa deste tipo de traquinices que tu fazias lá em baixo.
- É a “política da porta”, São Pedro, não é por mal. Isso faz-se em todo o mundo e é obrigatório para o sucesso do negócio. Pergunta ao teu patrão omnisciente, ele sabe disso.
- Sabemos todos, Manel. E compreendemos a situação. Aliás, aqui na Igreja também temos uma espécie de “política da porta” relacionada com o sacerdócio: achamos que a nossa actividade pode ser melhor desenvolvida se não permitirmos a ordenação feminina.
- Pronto, ainda bem que entendes a minha situação.
- Claro que sim. O que não entendo é a veneração que te dedicaram nos últimos dias, uma vez que foi feita, quase sempre, por pessoas que nos azucrinam a cabeça diariamente por causa da discriminação que levamos a cabo!
- Vocês andam a discriminar mal, isto tem de ser feito com arte. É uma encenação como outra qualquer.
- Achas que estamos a precisar de um sommelier da discriminação? Podias dar-nos umas dicas, Manel...
- O mais importante é nunca discriminares os profissionais da luta contra a discriminação. É pessoal muito chato, devem ser mimados com regularidade. O resto vem por acréscimo: discriminação no cu dos outros é refresco.
- Não me parece que isso chegue. Bolas, Manel, falemos a sério! Prestaram-te um culto, lá na tua terra, como eu já não via desde as aparições da Cova da Iria!
- Dá-lhes um desconto, São Pedro, lembra-te do Eclesiastes: “vaidade das vaidades, tudo é vaidade”. Na maior parte dos casos, quando estão a falar de mim não estão a falar de mim; estão a falar deles. Vamos lá mas é à festa. Quem é que está a pôr música hoje?
Sem comentários:
Enviar um comentário