O que é que aconteceu realmente em Kursk?
(Por Pepe Escobar, in Strategic Culture, 16/08/2024, Trad. Estátua de Sal) Um debate extremamente sério está já em curso entre círculos seleccionados de poder/inteligência em Moscovo. Bem, é complicado. A reação do Presidente Putin à invasão de Kursk foi visível na sua linguagem corporal. Ficou furioso: pelo flagrante fracasso militar/inteligência; pela evidente perda de prestígio; e pelo facto de este evento enterrar qualquer possibilidade de diálogo racional sobre o fim da guerra. No entanto, conseguiu reverter a situação rapidamente, ao designar Kursk como uma operação antiterrorista (CTO); supervisionada por Bortnikov do FSB; e com uma lógica inerente de “não fazer prisioneiros”. Cada ucraniano em Kursk que não esteja disposto a render-se é um alvo potencial – destinado à eliminação. Agora ou mais tarde, não importa quanto tempo demore. Bortnikov é o especialista prático. Depois há o supervisor de toda a resposta militar/civil: Alexey Dyumin, o novo secretário do Conselho de Estado, que entre outros cargos anteriores foi o vice-chefe da divisão de operações especiais do GRU (inteligência militar). Dyumin não responde diretamente ao Ministério da Defesa nem ao FSB: reporta diretamente ao Presidente. Tradução: Gerasimov parece agora ser, na melhor das hipóteses, uma figura de proa em todo o drama de Kursk. Os responsáveis são Bortnikov e Dyumin. A estratégia de relações públicas de Kursk está destinada a falhar por completo. Essencialmente, as forças ucranianas estão a afastar-se das suas linhas de comunicação e de abastecimento para o território russo. Pode-se fazer um paralelismo com o que aconteceu ao Marechal de Campo von Paulus em Estalinegrado, quando o exército alemão ficou sobrecarregado. Os russos já estão no processo de isolar os ucranianos em Kursk – cortando as suas linhas de abastecimento. O que restar dos soldados de elite lançados em Kursk terá de voltar atrás, enfrentando os russos tanto à frente como atrás. O desastre aproxima-se. O irreprimível comandante das forças especiais de Akhmat, major-general Apti Alaudinov, confirmou na TV Rossiya-1 que pelo menos 12 mil soldados das forças armadas ucranianas (UAF) entraram em Kursk, incluindo muitos estrangeiros (britânicos, franceses, polacos). Isto acabará por desembocar num “não fazer prisioneiros” em grande escala.
Tudo o que Kiev faça depende da ISR americana (inteligência, vigilância, reconhecimento) e dos sistemas de armas da NATO, claro, operados por pessoal da NATO. Mikhail Podolyak, conselheiro do suado ator da t-shirt verde em Kiev, admitiu que Kiev “discutiu” o ataque “com parceiros ocidentais”. Os “parceiros ocidentais” – Washington, Londres, Berlim – numa plena manifestação de cobardia, negam-no. Bortnikov não se deixará enganar. Declarou sucinta e oficialmente, que se tratou de um ataque terrorista em Kiev apoiado pelo Ocidente. Estamos agora a entrar na fase do combate de posicionamento intenso destinado a destruir aldeias e cidades. Será feio. Analistas militares russos observam que se uma zona tampão tivesse sido preservada já em Março de 2022, a atividade de artilharia de médio alcance teria ficado restrita ao território ucraniano. Mais uma decisão polémica do Estado-Maior russo. A Rússia acabará por resolver o drama de Kursk – eliminando pequenos grupos ucranianos de uma forma metodicamente letal. No entanto, questões muito delicadas sobre como isto aconteceu – e quem deixou que acontecesse – simplesmente não desaparecerão. Cabeças terão de – figurativamente – rolar. Porque isto é apenas o início. A próxima incursão será em Belgorod. Preparemo-nos para mais sangue a correr pelas ruas e estradas. |
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