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quarta-feira, 26 de abril de 2017

O que falta para cumprir Abril

Tiago Freire
Tiago Freire | tiagofreire@negocios.pt 26 de abril de 2017 às 00:01

 

O 25 de Abril e o 10 de Junho são ocasiões propícias para colocar o país no divã.
Se o dia de Portugal nos atira necessariamente para a memória histórica mais longínqua, com tempos de expansão, riqueza e influência mundial, o dia da revolução dos cravos acaba por ter uma carga mais emotiva, por um lado, e por restringir a análise no tempo, por outro, o que é útil para uma prestação de contas que deve ser feita.
Passados 43 anos, o que falta então para cumprir Abril? Falta muito, naturalmente. E sempre assim seria, diga-se, quando um país atrasado, com um império a desmoronar-se e uma economia protegida e rígida colocou bem alta a fasquia da utopia que tudo permite, tudo promete, e nada pode garantir a não ser o indispensável direito ao sonho.
Em praticamente todos os indicadores relevantes estamos, naturalmente, bem melhor. Mal seria se assim não fosse. O mundo mudou e Portugal mudou com ele, correndo a partir dos anos 80 para apanhar um comboio confortável e apetitoso, mas que já vinha muito embalado para a nossa entorpecida capacidade.
As promessas de liberdade - acima de tudo - de fim da guerra, de melhoria das condições de vida das populações e dos serviços públicos, tudo isso os portugueses conseguiram na sequência do 25 de Abril. Mesmo com os excessos revolucionários que, em muitos casos, paralisaram parte da economia que existia, valeu a pena. Terá sempre valido a pena.
Das promessas de Abril - mais do que das conquistas de Abril, que nunca poderão ser vistas como eternas num mundo que cada vez acelera mais a sua transformação- a democracia é a principal, porque é a base de tudo o resto. E esta, apesar dos elogios de Marcelo na Assembleia da República, anda doente, fruto sobretudo do fechamento dos partidos sobre si mesmos. Os mesmos partidos que reclamam para si a data que é do povo, esse povo esquecido entre debates parlamentares, tricas partidárias, golpes palacianos e retórica vazia. Os mesmos partidos que ficam surpreendidos por não serem recebidos pelo Papa na sua visita a Portugal, como se fossem donos do país ou tivessem alguma coisa a ver com isso.
É este distanciamento - emocional, altivo e bacoco -, juntamente com o aumento das desigualdades, aquilo que, em termos realistas, falta cumprir de Abril.
Por último, é preciso reconquistar outro tipo de liberdade, que não passa pelo derrube de um regime mas pela recuperação da nossa soberania financeira. Que não se faz com slogans ou propostas de soluções milagrosas, mas com disciplina, consenso e políticas credíveis de médio e longo prazo. Valeu a pena. Vale a pena.

Ovar, 26 de abril de 2017
Álvaro Teixeira