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quarta-feira, 5 de abril de 2017

Parlamento Europeu em peso exige cabeça de Dijsselbloem

 

Parlamento Europeu em peso exige cabeça de Dijsselbloem

Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo
Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo
 
As polémicas declarações de Jeroen Dijsselbloem, o presidente do Eurogrupo, sobre “copos e mulheres” e os países do Sul da Europa, continuam a causar mossa e conseguiram unir todos os partidos políticos do Parlamento Europeu que exigem a sua demissão.
Na segunda-feira, os líderes de todos os grupos políticos do Parlamento Europeu exigiram a demissão de Jeroen Dijsselbloem e não é só pelos seus comentários sobre “copos e mulheres” que foram considerados como ofensivos para países como Portugal e Espanha, que tiveram que pedir ajuda financeira.
As ausências do político holandês de vários debates estão também, a causar incómodo entre os parlamentares europeus.
A “gota de água” foi a nega de Dijsselbloem em comparecer perante o Parlamento Europeu para dar explicações sobre o ponto de situação das negociações com a Grécia. Ele alegou dificuldades de agenda, o que caiu muito mal entre os eurodeputados de todos os grupos políticos.
O presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, foi particularmente duro, notando que “se espera que alguém que pede aos cidadãos europeus que façam grandes sacrifícios que também, sinta o dever de responder aos seus representantes”, conforme cita o jornal espanhol El Confidencial.
Já o presidente do Partido Popular Europeu, o alemão Manfred Weber, que até concorda com as posições do holandês quanto à importância de cumprir as normas europeias, classificou a ausência de Dijsselbloem como “um escândalo”.
E houve até quem sugerisse declará-lo persona non grata, não o deixando entrar em mais nenhuma reunião do Parlamento Europeu.

Dijsselbloem promete ser “mais cuidadoso”

Entretanto, no site do Conselho Europeu divulga-se a carta que Dijsselbloem enviou aos eurodeputados, numa resposta à missiva que recebeu destes criticando as famigeradas palavras sobre “copos e mulheres”.
O político holandês assegura que foi mal interpretado e que “não quis dizer” aquilo que lhe atribuem.
“Lamentavelmente, algumas pessoas ficaram ofendidas pela forma como me expressei”, escreve Dijsselbloem, sublinhando que “nunca” foi sua “intenção insultar pessoas”.
Serei ainda mais cuidadoso no futuro“, promete também o presidente do Eurogrupo, garantindo que está “totalmente comprometido” com o trabalho das instâncias europeias.

Costa confirma sondagem a Centeno

O primeiro-ministro português confirmou entretanto, que Mário Centeno foi mesmo sondado para suceder a Dijsselbloem como presidente do Eurogrupo.
Em entrevista à Renascença, António Costa sublinha contudo, que essa “não é a prioridade” e que é útil que o ministro das Finanças mantenha margem de actuação política na Europa.
Mário Centeno seria “certamente um excelente presidente do Eurogrupo” e a sondagem que lhe foi feita “é prestigiante para ele próprio e para o país”, mas o Governo português “não tem como prioridade” essa candidatura, frisa Costa.
“Nesta fase, é útil que o ministro das Finanças de Portugal tenha uma margem de liberdade de movimentação maior no quadro do Eurogrupo. Quem tem a presidência possui uma limitação acrescida – ou deveria ter, embora esse não seja o caso actual [com Dijsselbloem], porque tem de ser um factor de unidade entre todos os ministros das Finanças”, alega o líder do executivo.
ZAP // Lusa
 
Ovar, 5 de abril de 2017
Álvaro Teixeira

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Em Roma já não sobra nada (estatuadesal)

 

(Francisco Louçã, in Público, 24/03/2017)
louca
   Francisco Louçã
Djisselbloem parece ser tudo o que a União Europeia tinha para dar. Tem sido ele quem faz, pois é uma marreta de Schauble, que cuida do controlo político sobre o euro através dessa instituição sem regras, o Eurogrupo. É ele, o dogma de uma política económica destruidora. É ele, a transumância política entre socialistas e a direita, nesse nevoeiro em que se tornou a “governança” europeia. Ou, como escrevia Viriato Soromenho Marques, europeísta lúcido, esta gente é a figuração de “um dos problemas europeus, sem remédio aparente, o défice de competência política e o excesso de cabotinismo que reina no fervilhar das chancelarias”.
A esse cabotinismo respondeu António Costa com um ultimato em tempo certo: demita-se, ou o euro não tem futuro. Só que pode parecer ou exagerado ou ambíguo. Se Djisselbloem sair, e vai sair dentro de alguns meses para salvar as aparências, outro virá para um caminho que poderá ser semelhante. O que é que então quer dizer que o euro não tem futuro – é por ter um cabotino à frente do Eurogrupo (a obedecer à Alemanha) ou é por seguir uma política cabotina (que a Alemanha impõe)? No dia da triste festa de Roma, não creio que haja outra pergunta.
Será então que o ministro holandês se limitou a exagerar os seus preconceitos, em contraste com a frieza equilibrante dos burocratas europeus, nada dados a exageros? A experiência diz que não. Afinal, tivemos a Grécia (vendam as ilhas, dizia um ministro alemão). Afinal, temos Guenther Oettinger, o comissário europeu promovido para dirigir o Orçamento e que exigia que os países endividados ficassem com a bandeira a meia haste (além de outras aleivosias racistas). Afinal, temos Juncker, que afirma que a França deve ser isenta das obrigações dos Tratados por ser a França. Se portanto nos perguntamos se Dijsselbloem é simplesmente uma anedota que se pode descartar com o abanar da mão, a prudência pede que se olhe para a floresta e não só para a árvore: o homem foi simplesmente a voz do governo europeu.
Terá sido por isso mesmo que Sampaio já se tinha erguido, aqui no PÚBLICO, contra o caminho do desastre: uma “corrida para o abismo”, com o “ponto de não retorno” do Brexit, tudo agravado pela inviabilidade de 10-15 anos de austeridade impostos pelo Tratado Orçamental aos países periféricos, a que ainda acresce a “gestão desastrosa” da questão dos refugiados e “uma clara acumulação de dificuldades, problemas mal resolvidos e alguns estrondosos insucessos” e, em consequência, “o esboroamento a olhos vistos da confiança na União Europeia, nas suas instituições e nos seus líderes”. O “esboroamento”, nada menos.
Mais, acrescentava o ex-Presidente, isto não vai ser corrigido: “o pior é que, de facto, ninguém parece acreditar que Bruxelas (ou Berlim) tenha qualquer iniciativa nos próximos meses para responder à crise da eurozona, para alterar a ortodoxia financeira dos credores ou para criar as condições institucionais e orçamentais que tornem possíveis programas de reforma nas economias mais frágeis”. O teste está a ser feito na Cimeira que decorre este fim de semana em Roma: haverá palavras de circunstância sobre o atentado de Londres e sobre os 60 anos da fundação, enquanto os cinco cenários de Juncker serão misericordiosamente enterrados e não haverá nada sobre como deve a União superar a desunião e o desprezo pela vida dos desempregados, ou dos trabalhadores, ou dos jovens. Afinal, o dijsselbloismo tem triunfado sem oposição nas cimeiras europeias.
Claro que em Portugal, apesar da indignação espraiada até entre os partidos de direita contra “as mulheres e os copos”, ainda sobrou a brigada conservadora que veio defender Dijsselbloem. Helena Garrido já tinha dito que o chefe dele, Schauble, tinha razão, aliás os chefes têm sempre razão e, se anuncia que vem um resgate, é porque sim e até é um favor que nos faz. Camilo Lourenço, um homem do CDS, alinhou imediatamente com Dijjselbloem, que andava tudo a exagerar e no fundo o homem tem razão.
José Manuel Fernandes reconhece, pesaroso, que a frase é “infeliz”, para logo também concluir que tem razão. Mais ainda, entusiasmado com a ideia, Fernandes ensaia no Observador a sua própria versão do dijsselbloemês, advertindo-nos paternalmente: “a próxima vez que um filho vosso (ou um irmão) que está em riscos de chumbar o ano vos vier pedir dinheiro para ir ‘com a malta’ para ‘a noite’ na véspera de um exame decisivo, passem-lhe logo o cartão do multibanco e o respectivo código, não vá ele acusar-vos de ‘moralismo’ e ‘preconceitos’, talvez mesmo de ‘xenofobia’, porventura de ‘racismo’ e ‘sexismo’. Como sabem, assim ele irá longe na vida”. Este catálogo de pecados é maravilhoso e serve para explicar porque é que Dijsselbloem, no fim das contas, é como o nosso pai quando cuida de nós e não cede à tentação de nos deixar ir para a “noite”. Os conservadores continuam a lastimar a falta do Diabo, que vinha e não veio, e ficam-se por agora pela certeza de que “copos e mulheres” ou os “copos” e a “noite” na “véspera de um exame decisivo” nos levam pelo caminho da condenação aos infernos.
Ainda não perceberam que de inferno sabemos todos muito, vivemos a caminho dele desde que Passos Coelho nos explicou que, com a troika, precisamos mesmo de empobrecer – sem “copos” e sem “mulheres”, diria o presidente do Eurogrupo.
 
Ovar, 3 de abril de 2017
Álvaro Teixeira