A consultora Eurasia prevê que a entrada no novo ano corresponda ao início de um período de "recessão geopolítica". O relatório anual da Eurasia prevê que a entrada no novo ano corresponda ao início de um período de “recessão geopolítica”, em que o risco de um conflito internacional ou do “colapso das grandes instituições governamentais” é descrito não como inevitável, mas como “concebível”.
Donald Trump
A vitória de Trump Há vários cenários associados à vitória de Trump que podem pôr em risco a estabilidade da economia global: o aprofundamento das relações com a Rússia, o ceticismo em relação à NATO e o alinhamento com partidos políticos de ideologia antissistema, como o francês Frente Nacional, de Marine Le Pen. A consultora ressalva, contudo, que embora esteja em causa a ordem global, não está fora de questão um reforço da posição dos Estados Unidos: “Podemos assistir em 2017 a um ambiente que, em termos geopolíticos, é de longe o pior das últimas décadas, mas em que o investimento nos mercados norte-americanos e a força do dólar aumentam”, explicou Ian Bremmer, o presidente da Eurasia. Liderança: China fortalecida, Alemanha enfraquecida A realização do 19.º Congresso do Partido Comunista Chinês, em 2017, pode também ser fonte de instabilidade global. Com todas as atenções sobre si, o chefe de Estado Xi Jinping pode reagir com maior agressividade a “desafios de política externa” que, consequentemente, podem criar ou agravar tensões entre a China e os Estados Unidos. Em território alemão, são vários os desafios para a chanceler Merkel: as eleições que se realizam no outono, as disputas decorrentes do Brexit, a crise da dívida grega e o crescente autoritarismo do regime turco, liderado pelo presidente Recep Erdogan, que ameaça o acordo entre a Turquia e a Europa para o acolhimento de refugiados. A Eurasia prevê a vitória de Merkel, mas garante que a necessidade de apaziguar as críticas internas vai afetar negativamente a sua liderança. Desafios internacionais, efeitos globais A Eurasia destaca ainda outros fatores que poderão conduzir ao incremento do risco político. Destacam-se a falta de reformas económicas em países como a Itália, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Turquia e o Reino Unido, e a culpabilização, por parte do poder político, dos bancos centrais pelo agravamento das condições económicas. A consultora refere ainda o caso turco, marcado pelo crescente controlo de Erdogan sobre o governo e os meios de comunicação e pela crescente pressão sobre o banco central turco para a manutenção de taxas baixas e para a aposta no estímulo fiscal para compensar o crescimento reduzido. Destacam-se também, como fatores de risco, o programa nuclear da Coreia do Norte, que contempla os meios técnicos necessários para ataques aos Estados Unidos, e o posicionamento de Marine Le Pen para a vitória nas presidenciais francesas, que, a concretizar-se, contribui para o agravamento do “processo de desintegração gradual e em câmara lenta” que afeta a Zona Euro.
Ovar, 6 de janeiro de 2017
Álvaro Teixeira