“Não temos que nos fiar de outras
potências senão de nós próprios”.
D. João V
D. João V
Palavras sábias, as do nosso Rei Magnânimo, mas que pouco colhem no Portugal contemporâneo… É o que resulta da nossa sina de sermos relapsos a aprender com a História e a vida. E também com a geopolítica, ou seja com a influência que a geografia e o “carácter” dos povos têm na determinação das coisas, quer dizer na Política. A Grã-Bretanha, por vontade expressa nas urnas do seu universo de votantes – que não consta serem propriamente dos menos preparados civicamente – deu o primeiro passo (vinculativo) para a saída de um projeto “comum” europeu, que não se sabe muito bem o que representa, num processo sobre o qual ninguém pôs em causa a sua democraticidade.
Porém, logo uma multidão (de democratas) veio contestar os
resultados… De imediato, cenários catastróficos se desenharam para o Reino
Unido e para o resto do mundo. Como diria o Mark Twain “a minha morte tem sido
grandemente exagerada”… O Reino Unido, mesmo aparentemente desunido, pode bem
com isso. Alguém acredita que a maior praça financeira da Europa que rivaliza
com a “Wall Street” – e apesar de não estar no euro, o Banco de Inglaterra é
dono de cerca de 20% do capital do Banco Central Europeu -; a quarta ou quinta
potência económica mundial; a maior potência (apesar de muito enfraquecida)
militar da Europa; o braço direito dos EUA no planeta; o berço da língua mais
falada no mundo (o mandarim não entra nestas contas pois só é falado por
chineses e não são todos); a cabeça de uma estrutura tentacular que cobre ¾ do
planeta chamada Commonwealth, e terra de uma das culturas políticas,
científicas, académicas e artísticas do globo, vai soçobrar por decidir
abandonar uma babel política azeda e com mau cheiro, que a geopolítica está, de
novo, a fazer cativa da Alemanha? Alguém acredita, por outro lado, que os
restantes países europeus irão sacrificar as suas relações com a Grã-bretanha
para obedecer a eventuais sanções rugidas por Bruxelas? O próprio presidente
Obama foi, num gesto que há uns anos seria considerado grotesco e inadmissível
(por isso impensável), a Inglaterra fazer campanha pela permanência, não pelos
interesses britânicos mas porque – e creio não estar enganado – por necessitar
de apoio da UE nas sanções contra a Rússia (um conflito que foi criado e
exacerbado pela Casa Branca, não pelo Kremlin, é bom que se diga) e, sobretudo,
pelo receio sobre a assinatura do “Transantlantic Trade and Investment
Partnership” (TTIP), que anda a ser negociado por baixo da mesa e que irá
colocar os países da UE debaixo da pata das multinacionais e da finança
americana.