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sábado, 1 de outubro de 2016

Esquema da Alemanha que controlou e humilhou os portugueses foi revelado

A Alemanha espiou durante mais de dois anos o seu “fiel amigo” Portugal, principalmente quando esse país atravessou uma de suas piores fases em termos económicos da sua história. Segundo informa o prestigiado jornal alemão “Der Spiegel”, Portugal foi um dos principais alvos de Angela Merkel e suas intenções, tendo sido espiado e completamente controlado por um esquema ilegal de espionagem feito pelo Governo Alemão. Numa altura que os portugueses estavam fartos do intenso domínio alemão sobre si, a Alemanha decidiu nesse momento controlar através de sua embaixada no país, todos e quaisquer movimentos suspeitos.
Está confirmado que a Alemanha, usando todo seu poder na Europa e também no mundo, decidiu controlar vários países à sua volta, principalmente Portugal, que ainda está a recuperar de uma intensa crise económica e social que afectou o país, que conta com milhares de imigrantes brasileiros. Porém, esse controlo foi tudo menos legal, pois foi todo ele baseado num esquema de espionagem através da embaixada alemã presente em Lisboa, capital portuguesa.
Contudo, segundo informa o jornal “Der Spiegel”, os serviços de informação exteriores da Alemanha não controlaram apenas Portugal e todos os portugueses, que sofreram muito nesses últimos anos. França, Reino Unido, Suécia, Vaticano, Espanha, Itália, Suíça, Grécia e os Estados Unidos também foram vítimas desses esquemas de espionagem, que pode muito bem fazer com que esses países cortem suas relações com o Governo alemão, depois de uma traição histórica e sem precedentes.
O jornal ainda afirma que esse comportamento ilegal por parte da Alemanha foi feito por iniciativa própria e tomado em completa consciência. Completamente humilhados com essa revelação surpreendente, os portugueses sentem-se, agora, traídos e enganados, querendo que Portugal tome algumas medidas em relação a essa nova informação. Porém, em Portugal isso não vai ser tão fácil, pois o país ainda está completamente dependente do poder alemão, sobretudo do seu dinheiro, um fator que tem sido usado pela Alemanha, recentemente, para continuar seu domínio na Europa, mesmo que seja de forma ilegal e espiando seus parceiros históricos.
Claro o Governo de Direita instalado em Portugal, ajudou e muito.
 
Fonte: Blastingnews
 
Ovar 1 de Outubro de 2016
Álvaro Teixeira








quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O português que abriu a porta de entrada a José Manuel Durão Barroso na Comissão Europeia é o mesmo português que pode fechar a porta das Nações Unidas a António Guterres

Mário David  o "TRAIDOR"


O português que abriu a porta de entrada a José Manuel Durão Barroso na Comissão Europeia é o mesmo português que pode fechar a porta das Nações Unidas a António Guterres. A coincidência? É um dos melhores amigos de Marcelo Rebelo de Sousa, que apoiou entusiasticamente a candidatura de Guterres à ONU. O seu nome: Mário David. Ex-eurodeputado, é um dos responsáveis de longa data pela campanha do PPE em defesa da candidatura de Kristalina Georgieva à ONU, a búlgara que tem o apoio da Alemanha e pode derrotar António Guterres.
Ainda Durão Barroso estava a servir o governo de Cavaco Silva como ministro dos Negócios Estrangeiros e Mário Henrique de Almeida Santos David - nascido em Angola no ano de 1953 - já passeava pelos corredores de Bruxelas.
David é médico de formação e militante do Partido Social Democrata desde o final da década de 70, sendo eleito eurodeputado em 1989. Cedo entendeu o potencial político da União Europeia e criou uma larga rede de conhecimentos que fez dele secretário-geral do Partido Popular Europeu (PPE), após a adesão do PSD à grande família europeia do centro-direita, em 1996. Mais tarde, foi vice-presidente do PPE, cargo hoje ocupado por Paulo Rangel, durante três mandatos. Também foi deputado na Assembleia da República, eleito em 2005, estando sempre ligado às temáticas europeias. Em 2009 regressou ao Parlamento Europeu, que finalmente deixou há cerca de dois anos.
A relação deste homem com José Manuel Durão Barroso inicia-se no PSD, apresentados por Marcelo Rebelo de Sousa. Foi durante a liderança de Marcelo no partido que Mário David foi secretário-geral do PPE e se conseguiu a entrada dos sociais--democratas para este partido europeu.
Quando Durão Barroso sobe a primeiro-ministro, em 2002, David vai para assessor político em São Bento. Era o único membro do gabinete que não tinha estado com Barroso nos Negócios Estrangeiros. Quando o primeiro-ministro é convidado para presidir à Comissão Europeia, foi Mário David quem ficou encarregado de liderar a equipa de transição de Durão Barroso. A imprensa internacional considerou-o peça-chave para a chegada de Barroso a Bruxelas. “Terá movido mundos e fundos”, recorda fonte próxima ao i. Com a chegada de Santana Lopes ao poder para substituir Barroso, David é nomeado secretário de Estado dos Assuntos Europeus.
O i sabe que a relação de Durão Barroso e Mário David começou por ser profissional. Todavia, aquela que começou por ser uma amizade política ter-se-á expandido para uma amizade pessoal após a longa cooperação dos dois homens nos corredores da União Europeia. “Não é um amigo de casa, mas a verdade é que desenvolveram uma relação muito funcional e os anos foram passando”, revela fonte que se reservou ao anonimato. “Em termos de PPE [Partido Popular Europeu], Barroso tornou-se talvez mais próximo de Rangel, mas Mário David estava sempre presente.”
Quando a vontade de alargar o projeto europeu à Europa de leste é assumida pela Comissão Europeia, Durão Barroso nomeia Mário David como conselheiro especial para o alargamento da União. David acompanhou os 12 países que se candidataram à integração e tornou-se responsável pelas relações da Comissão com os países balcânicos. Terá ficado amigo pessoal de Viktor Orbán, o polémico primeiro-ministro húngaro. Outra das amizades cimentadas pelo português terá sido com Kristalina Georgieva. Hoje, Mário David é um dos principais impulsionadores de uma candidatura da vice-presidente da Comissão Europeia à secretaria--geral das Nações Unidas. Especialistas académicos defendem ao i que Georgieva seria a única candidatura capaz de travar António Guterres, o homem que representa Portugal na corrida à ONU. Para Georgieva entrar na disputa, todavia, será necessário a Bulgária abdicar da sua nomeada atual, Irina Bokova.
O governo búlgaro já fez saber que, se Bokova não ficar nos dois primeiros lugares da próxima votação amigável - dia 26 deste mês -, irá retirar a diretora da UNESCO da corrida à secretaria--geral da Organização das Nações Unidas. As votações a valer - com os votos coloridos que assumem as posições dos membros do Conselho de Segurança, tendo poder de veto - iniciam-se logo na primeira semana de outubro. Uma entrada na disputa por parte de Kristalina Georgieva será sempre em corrida contra o tempo; afinal de contas, a búlgara ainda não realizou nenhum tipo de campanha oficial.
As possibilidades de sucesso de Irina Bokova, a atual candidata da Bulgária, são reduzidas devido a ter sido militante do partido comunista búlgaro. As suas origens ideológicas representam um entrave inevitável ao apoio da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos da América. Bokova, ciente das melhores possibilidades de uma eventual candidatura da sua compatriota Kristalina Georgieva, não vê com bons olhos uma saída da corrida.
A existência de uma rivalidade política de longa data entre as duas búlgaras dificulta a desistência de Bokova em favor de Georgieva. Politicamente, esta é uma moderada de centro-direita, contrastando com o esquerdismo de Irina Bokova.
O i sabe que Georgieva prepara há anos uma candidatura à ONU, tendo sido apenas preterida pelo governo búlgaro de modo a afastar Bokova de uma candidatura à presidência da Bulgária, eleição que se realiza no próximo mês de novembro. O primeiro-ministro búlgaro, Boyko Borisov, havia sondado Georgieva para tentar as Nações Unidas e foi obrigado a voltar com a sua palavra atrás para convidar Bokova e impedi-la de tentar a presidência.
Georgieva manteve, todavia, o apoio de outros países da Europa central e de leste, que viam com bons olhos uma candidatura da atual vice-presidente da Comissão Europeia às Nações Unidas. A búlgara optou por não avançar sem o apoio do seu país devido à China ter anunciado que, como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, vetará qualquer candidato que não represente o seu país de origem. Pequim receia que um dissidente seu seja um dia candidato por Taiwan.
Os Estados Unidos não veem Georgieva com maus olhos e têm sido a voz mais “feminista” no Conselho de Segurança, o órgão da ONU de que depende verdadeiramente a nomeação do novo secretário-geral devido ao poder de veto dos seus membros.
A Rússia de Vladimir Putin poderá não querer abdicar de uma forte candidatura regional, de leste. Do ponto de vista de Moscovo, o facto de Georgieva ser de leste e ter grande influência na estrutura da União Europeia, sendo a atual vice-presidente da Comissão, é algo atrativo, na medida em que poderá contribuir para um amenizar das tensões em torno da questão da Crimeia. A economia russa enfrenta um período de maior debilidade e a problemática das sanções europeias depois da intervenção de Putin na Ucrânia poderá pesar no apoio a Kristalina Georgieva. Até à data, o Kremlin não se comprometeu com nenhum candidato, mas é sabido que António Guterres não viajou para Moscovo desde que anunciou a sua candidatura e que Augusto Santos Silva, o ministro dos Negócios Estrangeiros do governo português, viu uma proposta de apoio a Guterres ser recusada aquando da sua visita à Federação Russa. O ponto de honra de Putin - e isso já fez saber - passa pelo próximo secretário-geral da ONU ser de leste e o facto é que, até agora, não há uma forte candidatura da região às Nações Unidas. Essa será a abertura de Kristalina Georgieva.
A eventual candidatura de Georgieva tem o apoio de alguns socialistas e liberais europeus, embora, naturalmente as maiores fontes de apoiam venham da sua família política, o PPE. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, já terá verbalizado o apoio à sua vice-presidente e o seu chefe de gabinete - que muitos dizem ser “o verdadeiro presidente da Comissão Europeia” - até já o anunciou publicamente. O eurodeputado Paulo Rangel afirmou esta semana que a Alemanha também apoia uma candidatura de Georgieva. O Partido Popular Europeu - força maioritária no Parlamento da UE e da qual Angela Merkel faz parte - estará descontente com o facto de todas as votações para a ONU terem, até agora, dado os três primeiros lugares a candidatos progressistas, distantes da linha de centro-direita do PPE.
Kristalina Georgieva, mulher, de leste, vice-presidente da Comissão Europeia e membro do PPE, seria uma candidatura ameaçadora à vitória de António Guterres. A búlgara tem uma relação de amizade com Durão Barroso, de quem foi comissária europeia durante cinco anos, embora este tenha assumido diversas vezes: “O meu candidato é o candidato do meu país.”
Caso a candidatura de Georgieva se concretize, é mais que provável que Mário David regresse a exercer funções de consultor junto desta. Afinal de contas, trabalharam meses para isso. Mário David é cavaleiro da Ordem de Madra da República da Bulgária, tendo sido condecorado pelo rei do país natal de Kristalina Georgieva. Hoje pertence ao comité executivo da Internacional Democrata Centrista, que engloba partidos como a CDU alemã de Merkel, o PP espanhol de Mariano Rajoy e o PSD português.


Fonte: Jornal SOL

Ovar, 29 de Setembro de 2016
Álvaro Teixeira















quarta-feira, 28 de setembro de 2016

DAVID CONTRA GUTERRES

Ontem, numa SMS trocada com um jornalista, escrevi: "há qualquer coisa fácil demais neste processo que me inquieta". Referia-me à acumulação de sinais positivos em torno da candidatura de António Guterres. Estava-me a parecer que quem se lhe opõe não iria ficar de braços cruzados perante a fantástica cavalgada vencedora que o candidato português estava a fazer, no quadro das votações indicativas no Conselho de Segurança. Quem me lê por aqui e por outros locais testemunhará que fui sempre muito prudente na consideração das hipóteses de Guterres, muito embora concordasse que a expressividade do seu destaque perante os seus adversários estava a tornar cada vez mais difícil que o jogo "fosse virado". Mas foi, como a emergência, agora anunciada, de Kristalina Georgieva, bem o prova.


Kristalina Georgieva                                                                     António Guterres                                               



O jogo volta à quadra inicial? Não volta. As votações em Guterres são um "património" muito importante e vai ser difícil revertê-lo. Mas a vice-presidente da Comissão Europeia, apoiada por setores importantes do Partido Popular Europeu, não sairia a terreiro se não tivesse as "costas quentes" e se não fossem minimamente fortes as perspetivas em que a sua ambição se apoia. Angela Merkel e Jean-Claude Junker, figuras cimeiras do PPE europeu - clube político onde também está o portuguesíssimo PSD - são os grande promotores da cartada Georgieva, que se diz que se terá voluntariado a este papel sob a promessa de, em caso de derrota, vir ser a candidata da Alemanha uma eventual sucessão de Junker na Comissão Europeia.
No dia 4 de outubro, quando o P5, os membros permanentes do Conselho de Segurança, tiverem de mostrar as cartas, isto é, revelarem quem vetam, tudo ficará mais claro. Veremos se terão a "lata" de afastar o candidato cuja qualidade relativa ficou bem patente neste processo, cuja transparência acabou por prejudicar os "trade-off" que tradicionalmente eram a regra do jogo.
Nesse dia, verificaremos se David ganhou a Guterres. Refiro-me a Mário David, o antigo secretário de Estado do PSD que se sabe ser um dos "operadores" da candidatura de Georgieva, sob o impulso do governo húngaro desse expoente da democracia que é Viktor Órban. Claro que ninguém é obrigado, por mero patriotismo, a apoiar António Guterres. Mas parece poder haver alguma esquizofrenia no seio do PSD quanto a este assunto, que ganharia em ser de imediato clarificada: a linha oficial do partido afirma defender a candidatura portuguesa e um dos seus homens de mão no seio do PPE trabalha por Georgieva. Onde ficamos?
 
Publicado por Francisco Seixas da Costa no Facebook
 
Ovar, 28 de Setembro 2016
Álvaro Teixeira







terça-feira, 27 de setembro de 2016

Os refugiados que chegam à Hungria estão a ser submetidos a abusos e a um "tratamento degradante" pelas autoridades

A Amnistia Internacional denunciou que os refugiados que chegam à Hungria estão a ser submetidos a abusos e a um "tratamento degradante" pelas autoridades.

"Milhares de candidatos a asilo, incluindo menores sozinhos, estão a sofrer abusos violentos", assinalou esta organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos, em relatório divulgado esta terça-feira, 27 de Setembro.

Esta denúncia soma-se às outras que esta ONG tem feito nos últimos meses sobre o tratamento desumano que é dado aos refugiados na Hungria e sobre as duras medidas anti-imigração tomadas pelo Governo conservador, dirigido por Viktor Orban.

Às redes de arame farpado nas suas fronteiras e às penas de prisão até cinco anos por entrada ilegal no país, a Hungria somou em Julho passado a expulsão para uma 'terra de ninguém', entre a Hungria e a Sérvia, todos os migrantes irregulares que sejam detidos nos primeiros oito quilómetros de solo húngaro.

Ali, sem ajudas nem serviços básicos, devem esperar durante semanas e meses pelo despacho do seu pedido de asilo.

"Centenas de candidatos a asilo esperam na fronteira durante meses, em condições degradantes", destaca o documento da Amnistia, no qual é denunciado que candidatos a asilo se queixaram de ter sido agredidos, pontapeados e até perseguidos por cães.

"Quando cheguei pensava que a Hungria é Europa. Talvez viesse a ficar bem. Mas dei-me conta de que aqui odeiam-me", afirmou no relatório um cidadão afegão, não identificado pela ONG.

A Amnistia recorda que no próximo domingo vai ser realizado na Hungria um referendo sobre se o país deve aceitar ou recusar o sistema para realojar os refugiados em todos os países da União Europeia, o que é rejeitado por Orbán.

É esperada a vitória do "não" por uma margem expressiva, nesta consulta organizada pelo Governo, que relacionou migrações com terrorismo, durante a campanha.

A Amnistia Internacional classifica o referendo como sendo "tóxico" e o seu diretor para a Europa, John Dalhuisen, acusou Orbán de ter "substituído o Estado de Direito pelo Estado de Medo". 

 

Fonte: Jornal de Negócios

 

Ovar, 27 de Setembro de 2016

Álvaro Teixeira

domingo, 25 de setembro de 2016

Entre o golpe e a palavra em suspenso


Entre o golpe e a palavra em suspenso


(Por Rosemberg Cariry, in Blog OutrasPalavras, 24/09/2016)

boi

Nota: Depois de ler o texto abaixo, e rememorando mentalmente a lista de atrocidades que ele elenca, a conclusão que me assomou ao espírito foi só esta: se o capitalismo for o melhor sistema económico que a Humanidade consegue por em marcha, não conseguindo implementar outro que seja mais eficiente, a Humanidade não tem futuro e o homem é uma espécie animal em vias de extinção a prazo não muito longo.

(Estátua de Sal).




Há momento em que o desânimo chega, e, diante de um mundo que se desfaz, a necrofilia triunfa como bandeira do grande mercado, e a ideologia da direita e do neoliberalismo triunfam ante a fraqueza e os erros dos homens de bem. De que valeram todas as lutas dos trabalhadores pelas significações do trabalho e da vida? De que valeram todas as lutas pela libertação da mulher? De que valeram todas as lutas contra as intolerâncias e os racismos? De que valeram os sangues derramados por todas as bandeiras da justiça, se o que hoje vemos é o triunfo do ódio, da ganância capitalista, da guerra, da violência e da morte? De que valeram os milhares de sacrificados se, por fim, triunfou a estupidez, a intolerância, o fundamentalismo, seja ele da Bolsa de Valores, do Grande Mercado, da Grande Imprensa, do Estado Islâmico ou das Igrejas Neopentecostais que pregam as novas cruzadas, as novas guerras religiosas, em nome de um Deus capitalista e insensível aos direitos humanos, à diversidade cultural e às liberdades básicas dos povos?

Em momentos assim, o desejo é calar, é reconhecer a derrota. Mas, se olhamos a história, não podemos calar. É preciso lembrar que o capitalismo nascente usava mulheres trabalhando nos teares 18 horas por dia, por um salário de fome. Crianças de apenas cinco anos eram usadas nas minas, para atingir os buracos mais estreitos, onde não chegavam nem mesmo os mineiros mais magros. O tempo médio de vida-uso dessas crianças? Dois a três anos. Contra o capitalismo, Jonathan Swift escreveu uma sátira devastadora na época, intitulada Uma modesta proposta para prevenir que, na Irlanda, as crianças dos pobres sejam um fardo para os pais ou para o país, e para as tornar benéficas para a República. A obra propõe aos grandes capitalistas europeus que mais produtivo e eficiente seria a engorda dessas crianças e a industrialização das suas carnes macias para fazer salsichas. Afinal, não só importava o lucro? Na computação dos lucros, que importava mesmo a morte desses pequenos escravos? Se morriam milhares, esgotados pela exploração patronal, outros milhares os substituíam. Tudo em nome do lucro e do progresso. As empresas de comunicação, caso dos jornais, no início do século XX, exploravam crianças miseráveis até os últimos centavos, nas vendas avulsas, pelas ruas. Houve registros até de uma greve de crianças contra o trabalho escravo imposto pelos jornais (que se consideravam as “trombetas” da liberdade – para os burgueses, mas se esqueciam de dizer que escravizavam crianças).

As primeiras greves foram recebidas com balas, a Comuna de Paris foi recebida com balas, a ideia da liberdade foi recebida com bala. Tudo em nome do lucro e da ordem. A fome e a miséria das massas eram “condições naturais”, e quem se erguesse contra esse estado de coisas era assassinado. Por isso, cada pequena conquista social, cada pequena conquista do espírito, cada pequeno avanço na humanização do homem, custou centenas de milhares de mortos, milhares de milhões. A razão burguesa, baseada na legenda positivista da ordem e do progresso, marcharia sobre os povos e estabeleceria os colonialismos com suas devastações étnicas, culturais e ecológicas ilimitadas. Diziam os capitalistas que a humanidade caminhava em linha reta, subindo as escadas da evolução. No topo da pirâmide (da evolução), estavam, claro, os homens brancos, burgueses, capitalistas. Enquanto isso, no mundo, estabelecia-se o horror, de forma tão assombrosa que, apenas no século XX, as guerras capitalistas geraram mais de trezentos milhões de mortos. Se na grande exposição de Paris (em 1900) comemorava-se o apogeu da razão e da técnica – com os trens cortando os continentes e os navios a vapor cortando os mares, o telégrafo ligando os povos, e a psicanálise desvendando a alma do homem – os demônios que dormiam nos porões do inconsciente preparavam-se para reinar na nova era das devastações.

Não tardaria a eclodir a I Grande Guerra Mundial – um exemplo tenebroso da capacidade destrutiva do ser humano. Nenhum profeta do velho testamento foi capaz de imaginar um inferno de tamanho horror. Nas trincheiras, milhões de homens apodreciam na lama fétida, entre ratos e podridões. Entre gases, balas e o vazio das filosofias, o mundo esfacelou-se, e a razão burguesa mostrou a sua face necrófila. A Segunda Grande Guerra não passaria de um ato contínuo daquela primeira guerra, após breve intervalo. Os horrores de hoje alimentam-se dos horrores desse passado, mesmo que sejam bem mais sofisticadas as tecnologias e mais numerosas as mortes. Sem a mediação da ética, dominada pelo mercado, cada vez mais, a ciência mostra-se ao lado do lucro e da morte. O genocídio concentracionário nazifascista não é uma exceção na construção da modernidade, antes é um experimento biopolítico (conceito de Foucault) posto em prática pela modernidade. Os experimentos realizados nos campos-da-morte continuam a ser usados pela ciência, pela comunicação, pela política, pela psicologia de massas, pela economia neoliberal e globalizada, sob outros rótulos e outros pretextos políticos, econômicos e científicos. Inclusive no discurso cego da eficiência, da hierarquia e da ordem. O “socialismo real”, que tentou seguir o modelo de um capitalismo de estado, fracassou diante dos mesmos horrores.

Hoje, vemos o mundo estilhaçado. Como diziam os velhos Marx e Engels: “Tudo que é sólido se desmancha no ar”. Essa percepção da tragédia que ameaça toda a humanidade em nada evita que o capitalismo em crise continue em busca de mercados para as suas armas, envenene os alimentos, a terra e as águas com seus agrotóxicos, empurrando milhões de seres humanos (mais de dois terços da humanidade) para a mais completa ruína e degradação. Todo esse desastre é bem louvado na grande imprensa (em nome do grande deus-mercado), recebe as benesses dos intelectuais a serviço da ideologia da dominação, é alimentado por políticos que beiram a insanidade. Os bancos e as bolsas de valores comemoram os lucros de uma economia que se desligou do homem e do destino da humanidade, a tudo aprisionando e degradando. Tudo o que disso discorda passa a ser visto como retrógrado, marginal, subversivo, perigoso. “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem” (Brecht).

Olhando esse quadro de ruínas, que mais se completa com a destruição dos estados e das nações (inclusive a brasileira, com o desastre do governo Temer), pode vir o desânimo. No entanto, é nesse momento que devemos encontrar em nós mesmos a melhor força, a chama acesa da esperança, a utopia da construção de um mundo de maior justiça e solidariedade, e, junto com os que não se renderam, continuar a luta necessária. Se ser homem é um projeto em construção, o verdadeiro humanismo só virá com a afirmação da liberdade, da solidariedade, da espiritualidade, do triunfo da poesia sobre a brutalidade do capitalismo e do processo de globalização dos mercados. Um humanismo que compreenda que o planeta Terra foi feito para a vida de todas as espécies e que só o equilíbrio da natureza pode garantir o futuro. Sim, é preciso afirmar a vida, apesar dos conglomerados-multinacionais-de-comunicação (indústrias perversas de manipulação de consciências), banqueiros, empresários, corporações e biopolíticas neofascistas, postos em movimento, com suas pulsões de destruição e de morte.

Vejamos o que acontece com a nossa infância… Dezenas de milhares de crianças e jovens pobres – a maioria de ascendência afro-brasileira – são assassinadas por policiais, pelo tráfico e pelas organizações criminosas, nas periferias das grandes cidades, sem que nada seja feito. O que nos revela um verdadeiro genocídio! Em vez de mais presídios e redução da maioridade penal, deveríamos ter mais escolas, cultura, esportes, artes e condições de vida dignas. As favelas precisam se libertar do fardo das misérias herdadas das senzalas, nesse país que mantém ainda uma elite de espírito escravagista, que perpetua a tirania e os desrespeito aos mais elementares direitos humanos. A situação em todo o mundo não é menos grave, temos mais de vinte milhões de crianças em situação de refugiados e muitos outros milhões padecem de fome, de doenças, de violências e de misérias crônicas.

A situação também é terrível para os nossos índios que são assassinados, brutalizados, alcoolizados, contaminados, prostituídos, expulsos de suas terras pelo agronegócio, pelas madeireiras, pelas mineradoras, pelos bancos, pelas multinacionais. Toda essa economia de commodities, voltada para a exportação, tem por meta transformar o Brasil numa neocolônia, produtora da monocultura da soja, assim como nos séculos XVIII e XIX, fomos a colônia exportadora do açúcar ou do café. Triste destino. Só quem viajou por 150 quilômetros de plantações de soja, situadas no coração do cerrado devastado, pode compreender a tragédia que se anuncia.

A violência contra a mulher atinge índices insuportáveis até mesmo para a mais perversa das sociedades. Uma onda misógina toma conta do país. No entanto, aí estão os novos donos dos poderes, com apoio do Congresso Nacional, incentivando o preconceito contra a mulher, dando golpes contra a democracia, cortando as verbas dos programas sociais, acabando com as escolas públicas e os programas de cultura e de pesquisas, subsidiando o agronegócio e as mineradoras, militarizando a vida, criminalizando a pobreza, cercando as favelas, incentivando o trabalho escravo, matando os índios e dizimando a infância pobre. Se nos calarmos, voltaremos a trabalhar 18 horas por dia, com salários de misérias? Seremos condenados a nos aposentar com 70 anos ou mais, recebendo metade um salário mínimo, se sobrevivermos à dura exploração, às doenças, às químicas alimentares e aos agrotóxicos? Diante de tão grandes ameaças, estaremos condenados a não mais pensar?

Calar ou não calar é uma questão de vida e morte. Se não falamos estamos condenados, se falamos estaremos, da mesma forma, condenados pelas represálias que virão. O que fazer então? Como resposta, lembro um trecho de um poema de Torquato Neto: “Leve um homem e um boi ao matadouro o que berrar primeiro é o homem, mesmo que seja o boi”. Assim, haverá sempre um homem berrando, um discurso feito para os peixes ou um profeta pregando no deserto.

Ovar, 25 de Setembro 2016
Álvaro Teixeira