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sábado, 11 de fevereiro de 2017

Serviços secretos confirmam algumas informações do relatório comprometedor sobre Trump

As autoridades americanas terão confirmado a veracidade das conversas descritas no relatório onde se alega que Moscovo está na posse de informações comprometedoras sobre o Presidente americano.

PÚBLICO

11 de Fevereiro de 2017, 2:02

 

 

Reuters/JOSHUA ROBERTS

As autoridades norte-americanas confirmaram, pela primeira vez, a veracidade de alguns aspectos do relatório elaborado por um antigo espião britânico em que se alega que a Rússia possui informações pessoais e financeiras comprometedoras em relação a Donald Trump, noticia a CNN, citando fontes oficiais de segurança e das agências secretas americanas.

A informação que terá sido confirmada pelas autoridades diz respeito a comunicações realizadas entre fontes russas que deram origem a algumas das informações presentes no relatório. As fontes que falaram à CNN não revelaram, no entanto, o conteúdo dessas conversas.

O documento que foi entregue a Barack Obama e a Trump, sobre a suposta informação comprometedora sobre o actual Presidente dos EUA, descreve dezenas de conversas. A investigação concluiu agora que as comunicações se deram entre as mesmas pessoas, nos mesmos dias e nos mesmos locais daqueles descritos no relatório. O canal norte-americano nota que não foi possível confirmar se essas conversas tiveram como tema o então candidato a Presidente dos EUA, Donald Trump.

Algumas das pessoas envolvidas nestas conversações interceptadas pelas agências americanas estavam sob a mira das autoridades por estarem “fortemente envolvidas” na ingerência de Moscovo nas eleições americanas através de ataques informáticos à campanha da candidata presidencial democrata Hillary Clinton.

Esta confirmação por parte das agências americanas traz maior confiança em relação à veracidade do conteúdo do relatório, que continuará a ser investigado.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

A cabeça à direita de Trump

A opinião de

Francisco Sena Santos

Francisco Sena Santos

Chama-se Stephen Bannon, é inteligente, astuto, obstinado, provocador, bizarro, polémico e descarado. Muito hábil a desenhar e construir estratégias e perito em manipulação. É um ultra, admirado pela direita mais estridente nos EUA. Há vários anos que não esconde a sua ambição: destroçar o atual establishment global, aquilo que ele chama de “o partido de Davos”. Assume que gosta de estar no lado obscuro da força. É tão poderoso que a revista Time acaba de lhe dedicar uma capa em que o apresenta como o “grande manipulador” e o The New York Times até já perguntou num editorial se não será ele, Bannon, o presidente.

É a personagem mais influente na presidência Trump. Stephen Bannon foi nomeado por Trump para o cargo de Chefe de Estratégia da Casa Branca e para um dos lugares no determinante Conselho Nacional de Segurança dos EUA. É o autor do decreto presidencial anti-imigração.

Bannon entrou na campanha de Trump quando liderava o discurso contra o sistema através do website Breitbart News. O Breitbart, que se prepara para entrar na Europa, rejeita ser um inventor de notícias falsas mas é inquestionável que o seu ativismo conduz à leitura orientada dos factos.

O Breitbart.com é uma plataforma digital que se declara pela “alt-right”. Essa preferência pela alternativa radical à direita aparece em tudo o que é publicado e que The New York Times analisou e definiu como um sítio de pessoas, designadamente  jovens, que acreditam na supremacia branca, que se opõem à imigração, ao feminismo e ao multiculturalismo, e que são ásperos com judeus, muçulmanos e outros grupos étnicos, que insultam nas redes sociais.

Nascido de uma família católica de origem irlandesa, Bannon  insiste nas suas origens modestas, foi oficial de marinha ao longo de quatro anos, mas antes de chegar à banca em Wall Street, frequentou escolas de prestígio como a Georgetown University e a Harvard Business School.

O jackpot na vida de Bannon surgiu nos anos 90, quando, ainda na Goldman Sachs, decidiu investir numa série de televisão que estava a ficar sem produtor: Seinfeld. Aposta em cheio. As sucessivas temporadas, com mais de 180 episódios, rendem milhares de milhões de dólares em direitos de transmissão por todo o mundo. Seinfeld e os amigos são ferozmente democratas, Bannon já então era contra o sistema, mas todos fazem fortuna com a série. A incursão de Bannon pelo audiovisual continuou com um filme promocional sobre Sarah Palin, no apogeu do movimento ultra que tomou a etiqueta de tea party.

Em 2009 surgiu o Breitbart, website fundado por Andrew Breitbart, um protegido de um blogueiro que se tinha tornado guru mediático das direitas nos EUA, Matt Drudge. Andrew morreu repentinamente em 2012 e Stephen Bannon tomou a liderança do Breitbart. O que se apresentava como uma plataforma jornalística depressa passou a ser um website combativo, militante, provocador, com ideologia radical à direita. No verão passado, Bannon, em entrevista à Mother Jones, descreveu o Breitbart.com como “a platform  for the alt-right” [uma plataforma para a alternativa de direita]. Já era, de facto, uma plataforma para a direita fora do sistema. Com grandes meios, muitas histórias, mas com os factos de forma convenientemente manipulada.

O Breitbart tem sido repetidamente acusado de propagar fake news, notícias falsas, como quando fez manchete a proclamar que “uma multidão com mais de 1000 pessoas que gritavam 'Allah Akbar' incendiou uma histórica igreja na Alemanha”. Destaques assim falsos, com evidente intenção orientada, tornaram-se frequentes. A propaganda racista e contra a imigração tornou-se tema dominante e transitou, ampliada, para furiosas publicações nas redes sociais. Numa outra manchete leu-se que “Os jovens muçulmanos no Ocidente são uma bomba-relógio contra nós todos”. O Breitbart passou a ser força dominante na conversa online, a inflamar o sentimento radical de direita. Contra toda a classe política.

Quando toda a imprensa dos Estados Unidos, designadamente a mais conservadora e republicana, se levantou em oposição ao que se sabia da campanha presidencial de Trump, o Breitbart.com de Bannon disparou com a cobertura pró-Donald e hostil a Hillary. Nos quadros da Score, o Breibart apareceu em outubro com mais de 19 milhões de utilizadores. Cresceu o número de apoiantes de Trump que percecionam o mundo pelo que veem e leem no Breitbart.com. Com os Clinton, os Obama e até os Bush como alvos privilegiados. O próprio Trump diz que encontra no Breitbart.com tudo o que precisa de saber sobre o mundo. Tanto o presidente como o Breitbart.com nunca estão interessados em ouvir pontos de vista diferentes dos seus.

“Estão a criar uma atmosfera tóxica”, indigna-se num mail Jane Eisner, editora do Forward.com, em Nova Iorque.

Há uma ideia dominante: eles, Trump e Bannon, a sua cabeça pensante à direita, nem querem saber o que pensa a gente que não pensa como eles.

Bannon já disse que lhe agrada ver-se como um Darth Vader, a desmontar a engrenagem dos adversários sem eles saberem como. Agora é o homem que o presidente dos EUA escuta sempre e em quem crê cegamente.

O Breitbart.com trata de entrar na Europa continental e propõe-se montar a sua plataforma em Paris. O lançamento da edição em francês está em fase de preparativos, mas ao contrário da intenção inicial de Bannon, já não deve ser antes da eleição presidencial francesa.

A sombra do falso jornalismo como modo de propaganda anda por aí, avança. Por agora, Bannon é o dono do castelo na corte de Donald Trump.

 

Sapo, 7 de fevereiro 2017

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Trump, o gestor bem-sucedido

 

(In Blog O Jumento, 04/02/2017)

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Compreendo que Trump seja um incómodo para muito boa gente e a melhor forma de evitar semelhanças é reduzindo-o a uma personagem ridícula. Mas a verdade é que ao ver Trump vem-me à memória algumas personagens da nossa sociedade e não apenas os populistas ou os que estão mais à direita. Há uma faceta interessante de Trump que é o seu lado de gestor; o próprio Trump fala de política da sua posição de multimilionário cheio de sucesso.

Para Trump as soluções são óbvias e fáceis, os problemas que os políticos não conseguem resolver, resolve ele de uma penada. Quando vejo Trump assinar ordens executivas umas atrás das outras, vejo um gestor convencido de que os políticos são parvos e não conseguem decidir com a facilidade dos gestores. Essa postura também está presente no seu discurso; para ele, gerir os EUA ou um investimento imobiliário é a mesma coisa.

Também por cá há essa mania da superioridade dos gestores, apresentando-os como modelos de competência e honestidade, por oposição aos políticos que são supostamente desonestos e incompetentes. Quando ouço Trump falar dos problemas e dos políticos vem-me à memória muitas declarações de Belmiro de Azevedo e de Soares dos Santos, donos, respectivamente, da Sonae e da Jerónimo Martins. No desprezo pelos políticos, na insinuação mais ou menos subtil da incompetência dos políticos e na sugestão de que se fossem eles a mandar sem ter que aturar democracias tudo se resolveria num instante, há muito do Trump.

Essa mania de desprezar a democracia e os seus intervenientes, reduzindo-os  a gente duvidosa, de maus hábitos e incompetente, está presente nesta geração de empresários políticos, tem muitos admiradores no meio jornalístico e tem ganho terreno nalguns partidos e mesmo nalguns governos.

Exibe-se o gestor que está no governo como garantia de competência desse governo, contrata-se um gestor bancário para gerir o fisco e tudo se resolve. Ainda ontem o Dr. Macedo foi visitar uma agência da CGD, disse umas baboseiras imperceptíveis e ouviu-se um bruá de admiração entre os jornalistas.

Um bom exemplo dos nossos Trumps foi o famoso Compromisso Portugal. Ainda hoje algumas personagens que ganharam notoriedade nessa iniciativa, comportam-se como se, sendo gestores, fossem uma classe política de primeira que só não toma conta do governo porque o Estado paga mal e a democracia é uma chatice. Se ganhassem as eleições sem esforço e tivessem dinheiro como o Trump, muitos deles seriam candidatos. Mas como, apesar do seu sucesso, não têm muitos milhões e o povo na sua ilimitada estupidez não consegue ver o seu brilhantismo, limitam-se a financiar o Observador.

 

4 de fevereiro de 2017

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Trump não é um nacionalista, é um imperialista !

 

De todos presidentes dos EUA qual foi o que não pôs o seu país em primeiro lugar?

De repente os media e uma caterva de comentadores de uma penada passaram a considerar Donald Trump um nacionalista. Assim. Rui Tavares vai direto ao homem que escreveu o discurso de Trump, Steve Banon, que classificou o discurso de tomada de posse do Presidente como uma declaração de princípios básicos do seu movimento populista e nacionalista.

Por todo o lado se classifica Trump como nacionalista e se movimentam ideias colando-o ao nacionalismo. É verdade que Trump afirmou que a América estaria primeiro e primeiro. OK.

Então convém responder a esta questão - de todos os presidentes dos E.U.A. ( e não da América) qual foi o que não pôs os E.U.A em primeiro lugar? Um só, por favor…Quantas guerras os E.U.A não desencadearam para defender os seus interesses em primeiro lugar? A questão da NATO -  não foi criada sobretudo para defender os interesses dos E.U.A.?

 

donald-trump

 

Donald Trump não disse que ia fortalecer as Forças Armadas e os arsenais nucleares? Então não há ameaças veladas e abertas à ordem internacional? Ou será que Trump é tão nacionalista que para defender os EUA vai colocar a embaixada do seu país, em Israel, em Jerusalém? Então o nacionalista Trump não está a ameaçar Cuba? Ou o Irão, apesar dos EUA terem assinado um acordo com vários parceiros internacionais? Então esta desordem internacional é uma filosofia nacionalista?

Trump não é um nacionalista. É um imperialista. É o Presidente do país mais poderoso do mundo e que assistindo ao seu declínio levanta mil e uma demagogias e biombos para esconder a face imperialista que lhe calha a matar… E deste lado de cá, a Alemanha, capitã da U.E,  na defesa dos seus interesses, em primeiro lugar, e antes dos outros é o quê? Internacionalista? Quando esmifra Portugal e a Grécia é o quê? Cosmopolita? Benemérita?

O que faz recrudescer certo tipo de nacionalismo é exatamente o facto de as grandes potências explorarem as outras nações, como é o caso dos países da U.E. que impõem a política austeritária aos do sul.

Então historicamente Nasser, Agostinho Neto, Amílcar Cabral, José Marti, Tira Dentes, Nkruma, Senghor, Gandi, Sun Yat Sen não foram os nacionalistas que quiseram libertar os seus povos? Como seria o mundo sem esses nacionalismos libertadores? Continuaríamos no Tratado de Tordesilhas ou no Tratado de Berlim?

Trump é neste momento o porta voz dos interesses imperialistas dos E.U.A. Se é, do ponto de vista das diversas fações e círculos dirigentes daquele país, o mais adequado é discutível, mas ele é o chefe de fila dos interesses egoístas dos EUA. Para se considerar Trump um nacionalista teria de se ver a sua administração desmantelar a NATO, retirar as dezenas e dezenas de milhares de soldados dos sete cantos do mundo desde a Europa à Oceânia e concentrar o seu exército nos EUA? Há alguém com tino que acredite nisso?

Defender os interesses de Portugal, no quadro europeu e internacional, não pode ser confundido com qualquer espécie de nacionalismo. Os patriotas sabem do que se trata.

É prudente em que os grandes querem esmifrar os pequenos para continuarem a ter situações privilegiadas nos mercados, não travar uma luta séria pela defesa dos interesses nacionais? É prudente esperar que Bruxelas defenda os países vítimas da crise do sistema bancário?  

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Não brinquemos com coisas sérias. Se continuar a ouvir as louvaminhas da U.E a favor da austeridade não será apelidado de nacionalista, mas seguramente que no caso português os direitos humanos ficarão como agora se diz muito, muito poucochinhos…

É aqui que bate o ponto. A U.E. para ser melhorada tem de aceitar aquilo que até agora não aceita – libertar os países do sul da tirania da austeridade e fazer respeitar os direitos humanos urbi et orbi.

 

Fonte: Jornal Público

 

Ovar, 25 de janeiro de 2017

Álvaro teixeira

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Eis como a Presidência de Trump se irá desenrolar


por estatuadesal
(Pepe Escobar, in GlobalResearch, 21/01/2017, Tradução por Estátua de Sal)
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Nota: Este texto merece ser lido. Nele se tenta perceber quais as orientações da nova administração dos EUA, não em função da análise do carácter, da psicologia e dos discursos de Trump - que é apenas aquilo que os nossos comentadores sabem fazer e a maioria das pessoas sabe discutir, aderindo ou recusando -, mas sim em função dos profundos interesses e confrontos de ordem geopolítica e geoeconómica que se estão degladiar. Percam as ilusões aqueles que se ficam pela superfície das imagens e acham que Trump não passa de um pateta alegre, ou de um doido varrido. Mas ainda que ele o fosse, as gentes ocultas que o apoiam e comandam são tudo menos patetas ou alucinados. Tal como as gentes, também ocultas, que o atacam e que farão tudo para o destruir. Quem acha que a contenda principal é entre muros, piadas sexistas, misogenia e outros atributos de Trump, desengane-se. É pena que ainda tantos acreditem nisso.
Estátua de Sal, 23/01/2017

A era de Trump começa agora - com uma série de episódios plenos de suspense, ligados à geopolítica e à geoeconomia, iminentes e imprevisíveis.

Eu defendi que a estratégia de oposição do guru de Trump para a política externa, Henry Kissinger, ao poderoso trio de integração da Eurásia - Rússia, China e Irão - é uma mistura de dividir para reinar; seduzir a Rússia, afastando-a da sua parceria estratégica com a China, e acossar o elo mais fraco, o Irão.
Na verdade, é isso que está a acontecer - como se vê pelas ofensivas dos membros escolhidos para o gabinete de Trump durante suas audiências no Senado dos EUA. As fações dos EUA próximas do Think Tankland, defensores da política de Nixon para a China projetada por Kissinger, estão animadas com as possibilidades de contenção em relação a pelo menos um desses poderes "potencialmente virado contra a América." Kissinger e o Dr. Zbig "Grande Xadrez" Brzezinski são as duas principais autonomeadas sumidades ocidentais - mestres fantoches - que se disputam na área da geopolítica. Em oposição a Kissinger, o mentor da política externa de Obama, Brzezinski, fiel à sua russofobia, propôs uma lógica de dividir para reinar, apostada na sedução da China.
No entanto, um influente homem de negócios de Nova Iorque, muito próximo dos reais e discretos Mestres do Universo, que previu corretamente a vitória de Trump semanas antes do fato, depois de examinar o meu argumento ofereceu-me não só uma avaliação mordaz dessas queridas sumidades; ele dispôs-se a detalhar-me como a nova normalidade será estabelecida, tendo sido negociada pelos Mestres diretamente com Trump. Vamos designá-lo por "X".
A China em observação ininterrupta
"X" começa por dizer algo que aqueles que regularmente mantém ligações ao Deep State e que reverenciam os seus ídolos, nunca ousam dizer, pelo menos em público: "É importante não atribuir muita importância a Kissinger ou Brzezinski, pois eles são apenas fachadas para aqueles que tomam as decisões e o seu trabalho é recobrir e justificar as decisões com um refinamento de intelectualidade. O seu contributo não vale nada. Eu uso os nomes deles de vez em quando pois não posso usar os nomes daqueles que realmente tomam as decisões ". Está então aberto o caminho para" X " detalhar a nova normalidade:
"Trump foi eleito com o apoio dos Mestres para se inclinar para a Rússia. Os Mestres têm os seus instrumentos nos media e no Congresso mantendo uma campanha de difamação contra a Rússia, e têm o seu boneco Brzezinski também a pregar contra a Rússia, afirmando que ‘a influência global da América depende da cooperação com a China’. O objetivo é pressionar a Rússia para ela cooperar, colocando essas fichas negociais na mesa de Trump. Em termos de uma abordagem tradicional de polícia-bom, polícia-mau, Donald é retratado como o polícia bom querendo boas relações com a Rússia, sendo o Congresso, os media e Brzezinski os policias maus. Trata-se de ajudar Trump nas negociações com a Rússia supondo que Putin, à medida que for vendo o seu amigo numa posição mais ´precária´, estará disposto a fazer maiores concessões.”
E isso leva a explicar como é que Taiwan - e o Japão – entram em cena:
"Donald mostrou a sua inclinação para a Rússia conversando com os taiwaneses, de forma a demonstrar que a mudança é a sério. Mas foi decidido fazer entrar o Japão na peça como sendo um predador contra a indústria dos EUA, através de um ataque à Toyota, bem merecido. Isso moderou a nossa posição já que os Mestres recearam que a perceção de que estávamos a apoiar o Japão contra a China seria considerada uma provocação excessiva ".
Por isso, espera-se que a China - que "não tem demasiada importância", como afirmou Kissinger – seja mantida sob controlo ininterrupto:
"Os Mestres decidiram reindustrializar os Estados Unidos e querem trazer de volta os postos de trabalho da China. Isso é aconselhável do ponto de vista chinês; por que razões devem eles vender seu trabalho aos EUA por um dólar que não tem valor intrínseco, não recebendo realmente nada pelo seu trabalho. Cada trabalhador chinês deve ter um carro na sua garagem e a China deve tornar-se num produtor de carros maior do que a UE, EUA e Japão combinados, mantendo a sua riqueza no seu próprio país ".
E porquê a China e não a Rússia?
“A Rússia, no que toca a este tema, é um país com muitos recursos naturais, com um gigantesco complexo industrial militar (sendo este o único motivo pelo qual é secretamente respeitada), mas está fora destas difíceis negociações, pois quase não exporta nada além de recursos naturais e equipamentos militares. Os Mestres querem os empregos de volta do México e da Ásia, incluindo do Japão, de Taiwan, etc., e isso é já visível no ataque de Trump também ao Japão. A principal razão subjacente a esta estratégia é que os EUA perderam o controlo dos mares e não podem defender os seus destacamentos militares durante uma grande guerra. Esta é a realidade que interessa ter em conta no momento presente e esta é a verdadeira história que se desenrola nos bastidores. "
Em poucas palavras, "X" resume o conteúdo da reversão de um ciclo econômico:
"Os Mestres ganharam dinheiro com a transferência da indústria para a Ásia (A Bain Capital especializou-se nisso) e Wall Street ganhou dinheiro com taxas de juro mais baixas sobre os dólares reciclados dos défices comerciais. Mas agora, a questão é estratégica; eles ganharão dinheiro de novo com o regresso das indústrias que reduzirão os seus investimentos na Ásia devolvendo-os aos Estados Unidos, à medida que reconstruímos a produção aqui ".
" X " continua a ser um grande admirador da estratégia de negócios de Henry Ford, e esse é o ponto que ele vai usar para trazer à baila um tema crucial: a defesa nacional. De acordo com "X":
"Ford dobrou os salários que pagou e ganhou mais dinheiro do que qualquer outro fabricante. A razão é que um salário mínimo mais elevado que permitiu à mulher ter muitos filhos, dependendo só do salário do marido, foi psicologicamente bom para o aumento da produtividade nas suas fábricas de automóveis, além de que permitiu aos próprios trabalhadores comprar-lhe os seus carros. Desse modo ele reconheceu que numa sociedade deve haver uma mais justa distribuição da riqueza, coisa que o seu admirador, Steve Jobs, não pode fazer.
A produção em série e a produtividade de Henry foi a maravilha que fez os Estados Unidos ganharem a Segunda Guerra Mundial. A Amazon não contribui em nada para a defesa nacional, sendo apenas um serviço de marketing na Internet baseado em programas de computador, nem o Google que simplesmente organiza e fornece melhor os dados. Nada disso constrói um míssil ou um submarino melhor, exceto de modo marginal. "
É o Pentágono, estúpido
Então sim; tudo isto tem a ver com a reorganização do poder militar dos EUA. “X” fez questão de se referir a um relatório do CNAS (Centro para uma Nova Segurança Americana), que citei na minha coluna inicial:
"É muito importante o que se depreende do relatório. E é por isso que estamos em grande dificuldade por estarmos tecnologicamente atrás da Rússia em várias gerações de armamento, o que vem na sequência da afirmação de Brzezinski, que diz que já não somos uma potência global”.
Esta é uma análise completa e abrangente de como a Rússia conseguiu organizar as melhores forças armadas do mundo. E o relatório nem sequer leva ainda em conta o sistema de defesa de mísseis S-500, que agora está sendo ultimado e que, sem dúvida, vai fechar por completo a totalidade do espaço aéreo russo. E a próxima geração - S-600? - Será ainda mais poderosa. "X" aventura-se mesmo no território tabu do Deep State, referindo a forma como a Rússia, ao longo da última década, conseguiu posicionar-se muito à frente dos EUA, "eclipsando-o como o poder militar mais forte". Mas a vantagem deles no jogo deve estar perto do fim – seja isso desejo auto- realizável ou seja lá o que for:
“Esperamos que o Secretário de Defesa James Mattis entenda isso e que o Secretário Adjunto de Defesa tenha as competências técnicas, a capacidade organizacional e de previsão para entender que as armas da III Guerra Mundial são mísseis ofensivos e defensivos, e submarinos, e não poder aéreo, tanques e porta-aviões. "
Um realista, "X" admite que o status quo neoconservador / neoliberal - representado pela maioria das fações do Deep State dos EUA - nunca abandonará a postura padrão de hostilidade incessante em relação à Rússia. Mas ele prefere concentrar-se na mudança:
"Deixe Tillerson reorganizar o Departamento de Estado de acordo com a eficiência da Exxon. Ele pode ser válido nessa tarefa. Ele e Mattis podem parecer falhos de coragem mas se você disser a verdade ao Senado você nunca vai poder ser confirmado. Por isso, o que eles lá dizem não significa nada. Mas veja o que se passou no caso da Líbia. A CIA tinha um objetivo de empurrar a China para fora da África e por isso criou o AFRICOM (Comando dos EUA para a África). Esse foi um dos segredos da nossa intervenção na Líbia."
Não que tal tenha tido sucesso; A NATO / AFRICOM transformou a Líbia num terreno baldio dirigido por milícias, e a China ainda não foi afastada do resto da África.
"X" também admite: "A Síria e o Irão são linhas vermelhas para a Rússia. Assim como o é o leste da Ucrânia a partir do Dnieper. "
Está também plenamente consciente de que Moscovo não permitirá qualquer ameaça de mudança de regime em Teerão. E está também ciente de que "os investimentos da China no petróleo e no gás iraniano implicam que a China também não permitirá o derrube por Washington do governo iraniano".
As coisas vão tornar-se complicadas no que toca à NATO; "X" está convencido de que a Rússia: "invadirá a Roménia e a Polónia se os mísseis não forem retirados da Roménia e se o compromisso de aceitação de mísseis pela Polónia não for rescindido. A questão não são os mísseis defensivos não perigosos dos Estados Unidos, mas a possibilidade de os substituir por mísseis nucleares ofensivos nesses silos. A Rússia não tolerará esse risco. Esses mísseis não estarão sujeitos qualquer negociação. "
Em contraste com a "perpétua ameaça", contínua propaganda do Partido da Guerra dos Estados Unidos, Moscovo dá é atenção aos factos reais que ocorrem no terreno desde a década de 1990; a rutura do histórico aliado eslavo, a Sérvia; a anexação pela NATO das nações do Pacto de Varsóvia e até mesmo de ex-repúblicas da URSS, para não mencionar as tentativas de incluir também a Geórgia e a Ucrânia; o apoio e a organização, pelos EUA, de revoluções coloridas; o fiasco "Assad deve ir", na tentativa de mudança forçada do regime da Síria, incluindo inclusive o armamento de Salafi-jihadis; as sanções económicas, a guerra de preços do petróleo e os ataques ao rublo; o continuado assédio da NATO. "X", plenamente consciente destes factos, acrescenta:
"A Rússia sempre quis a paz. Mas eles não vão jogar um jogo com os Mestres do Universo que apresentam Trump como o tipo bom e o Congresso, CIA, etc., como o tipo mau, usando tal cenário como um estratagema de negociação. É assim que eles veem a situação. Eles não acham que este circo seja real. "
O circo pode ser apenas uma ilusão. Ou uma wayang – uma espécie de teatro de fantoches indonésio - como eu já sugeri. "X" avança uma interpretação nítida deste jogo de sombras do ponto de vista de Moscovo, admitindo que "vão ser necessários vários meses para ver se Putin pode aceitar negociar um desanuviamento com Trump que essencialmente passará por uma Ucrânia oriental autónoma, um tratado de paz na Síria com Assad no lugar, e uma retirada das forças da NATO, regressando esta à linha de defesa que existia no tempo de Ronald Reagan. "
Quem prevalecerá; Os Mestres, ou o Deep State? Prepare-se para a colisão.
 
Ovar, 23 de janeiro de 2017
Álvaro Teixeira