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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
O último pote
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
Uma Primavera americana?
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domingo, 12 de fevereiro de 2017
Ao mau cagador até as calças empatam
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(In Blog O Jumento, 08/02/2017)
Para conseguir défices bem acima dos 3% a direita inventava desvios colossais para justificar cortes de vencimentos e de pensões, acusava o povo de consumir acima das possibilidades, difamava o país sugerindo que por cá erramos, mais gandulos dos que os outros, cortavam-se férias e feriados, fazia-se de tudo.
As escolas tinham salas empanturradas de alunos para poupar nos professores, morria-se à porta das urgências, os pilares de uma futura ponte perto de Ferreira do Alentejo foram convertidos em postes para ninhos de cegonhas, o Metro deixou de renovar a sua frota, todas as obras pararam. Não havia dinheiro para nada, criou-se um ambiente de terror, não se sabia quanto se iria receber de ordenado no mês seguinte. Não gastar um tostão era símbolo de rigor, competência e amor à nação.
A direita que sempre se afirmou com o dom da competência e do rigor orçamental apostou no falhanço de António Costa, deixou armadilhas montadas nas receitas fiscais, recusou-se a dar contributos para o OE e os seus deputados recebiam o ordenado para roçar o cu no veludo das cadeiras parlamentares, apelaram à direita reunida em Madrid para que condenassem o governo português, exigiram que Bruxelas impusesse um plano B.
A tese era a de que o défice proposta era aritmeticamente impossível de alcançar, já não seria um problema de rigor, a funcionária da Arrows dizia que Centeno nem sabia fazer as contas mais elementares. Ainda esperaram pelo Diabo em Setembro, e cada vez que uma agência de rating se ia pronunciar toda a direita se excitava, sendo o momento mais alto foi quando chegou a vez da canadiana DBRS; se esta desse a notação de lixo viria aí o desejado segundo resgate.
Mas o país sobreviveu à DBRS e às diatribes fiscais da Maria Luís, a esperança deles passou a ser uma armadilha deixada por Passos Coelho, a situação da CGD e do BANIF. As agências rating deixaram de falar no défice, o problema era a banca. A cada subida nas taxas de juro da dívida sentia-se a excitação colectiva da direita. Mas o tal governo que não respeitaria os compromissos internacionais cumpriu com tudo, o défice foi reduzido a mínimos e a CGD vai ser recapitalizada.
Agora o problema já é o crescimento, todos exigem crescimento. Esquecem-se de que era uma palavra proibida por Passos Coelho; e os mesmos jornalistas e comentadores que hoje exigem crescimento no passado elogiavam o Gaspar, o tal ministro que transportava os valores da avó Prazeres, mulher da Serra da Estrela.
Quando o Sôr Pereira exigia medidas para promover o crescimento o Gaspar respondia “não há dinheiro”, perante a insistência perguntou ao colega “qual das três palavras não percebeu”. Os que hoje exigem crescimento numa economia que deixaram descapitalizada elogiavam na altura o traste que era ministro das Finanças.
sábado, 11 de fevereiro de 2017
Serviços secretos confirmam algumas informações do relatório comprometedor sobre Trump
As autoridades americanas terão confirmado a veracidade das conversas descritas no relatório onde se alega que Moscovo está na posse de informações comprometedoras sobre o Presidente americano.
PÚBLICO
11 de Fevereiro de 2017, 2:02
As autoridades norte-americanas confirmaram, pela primeira vez, a veracidade de alguns aspectos do relatório elaborado por um antigo espião britânico em que se alega que a Rússia possui informações pessoais e financeiras comprometedoras em relação a Donald Trump, noticia a CNN, citando fontes oficiais de segurança e das agências secretas americanas.
A informação que terá sido confirmada pelas autoridades diz respeito a comunicações realizadas entre fontes russas que deram origem a algumas das informações presentes no relatório. As fontes que falaram à CNN não revelaram, no entanto, o conteúdo dessas conversas.
O documento que foi entregue a Barack Obama e a Trump, sobre a suposta informação comprometedora sobre o actual Presidente dos EUA, descreve dezenas de conversas. A investigação concluiu agora que as comunicações se deram entre as mesmas pessoas, nos mesmos dias e nos mesmos locais daqueles descritos no relatório. O canal norte-americano nota que não foi possível confirmar se essas conversas tiveram como tema o então candidato a Presidente dos EUA, Donald Trump.
Algumas das pessoas envolvidas nestas conversações interceptadas pelas agências americanas estavam sob a mira das autoridades por estarem “fortemente envolvidas” na ingerência de Moscovo nas eleições americanas através de ataques informáticos à campanha da candidata presidencial democrata Hillary Clinton.
Esta confirmação por parte das agências americanas traz maior confiança em relação à veracidade do conteúdo do relatório, que continuará a ser investigado.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2017
A cabeça à direita de Trump
A opinião de
Chama-se Stephen Bannon, é inteligente, astuto, obstinado, provocador, bizarro, polémico e descarado. Muito hábil a desenhar e construir estratégias e perito em manipulação. É um ultra, admirado pela direita mais estridente nos EUA. Há vários anos que não esconde a sua ambição: destroçar o atual establishment global, aquilo que ele chama de “o partido de Davos”. Assume que gosta de estar no lado obscuro da força. É tão poderoso que a revista Time acaba de lhe dedicar uma capa em que o apresenta como o “grande manipulador” e o The New York Times até já perguntou num editorial se não será ele, Bannon, o presidente.
É a personagem mais influente na presidência Trump. Stephen Bannon foi nomeado por Trump para o cargo de Chefe de Estratégia da Casa Branca e para um dos lugares no determinante Conselho Nacional de Segurança dos EUA. É o autor do decreto presidencial anti-imigração.
Bannon entrou na campanha de Trump quando liderava o discurso contra o sistema através do website Breitbart News. O Breitbart, que se prepara para entrar na Europa, rejeita ser um inventor de notícias falsas mas é inquestionável que o seu ativismo conduz à leitura orientada dos factos.
O Breitbart.com é uma plataforma digital que se declara pela “alt-right”. Essa preferência pela alternativa radical à direita aparece em tudo o que é publicado e que The New York Times analisou e definiu como um sítio de pessoas, designadamente jovens, que acreditam na supremacia branca, que se opõem à imigração, ao feminismo e ao multiculturalismo, e que são ásperos com judeus, muçulmanos e outros grupos étnicos, que insultam nas redes sociais.
Nascido de uma família católica de origem irlandesa, Bannon insiste nas suas origens modestas, foi oficial de marinha ao longo de quatro anos, mas antes de chegar à banca em Wall Street, frequentou escolas de prestígio como a Georgetown University e a Harvard Business School.
O jackpot na vida de Bannon surgiu nos anos 90, quando, ainda na Goldman Sachs, decidiu investir numa série de televisão que estava a ficar sem produtor: Seinfeld. Aposta em cheio. As sucessivas temporadas, com mais de 180 episódios, rendem milhares de milhões de dólares em direitos de transmissão por todo o mundo. Seinfeld e os amigos são ferozmente democratas, Bannon já então era contra o sistema, mas todos fazem fortuna com a série. A incursão de Bannon pelo audiovisual continuou com um filme promocional sobre Sarah Palin, no apogeu do movimento ultra que tomou a etiqueta de tea party.
Em 2009 surgiu o Breitbart, website fundado por Andrew Breitbart, um protegido de um blogueiro que se tinha tornado guru mediático das direitas nos EUA, Matt Drudge. Andrew morreu repentinamente em 2012 e Stephen Bannon tomou a liderança do Breitbart. O que se apresentava como uma plataforma jornalística depressa passou a ser um website combativo, militante, provocador, com ideologia radical à direita. No verão passado, Bannon, em entrevista à Mother Jones, descreveu o Breitbart.com como “a platform for the alt-right” [uma plataforma para a alternativa de direita]. Já era, de facto, uma plataforma para a direita fora do sistema. Com grandes meios, muitas histórias, mas com os factos de forma convenientemente manipulada.
O Breitbart tem sido repetidamente acusado de propagar fake news, notícias falsas, como quando fez manchete a proclamar que “uma multidão com mais de 1000 pessoas que gritavam 'Allah Akbar' incendiou uma histórica igreja na Alemanha”. Destaques assim falsos, com evidente intenção orientada, tornaram-se frequentes. A propaganda racista e contra a imigração tornou-se tema dominante e transitou, ampliada, para furiosas publicações nas redes sociais. Numa outra manchete leu-se que “Os jovens muçulmanos no Ocidente são uma bomba-relógio contra nós todos”. O Breitbart passou a ser força dominante na conversa online, a inflamar o sentimento radical de direita. Contra toda a classe política.
Quando toda a imprensa dos Estados Unidos, designadamente a mais conservadora e republicana, se levantou em oposição ao que se sabia da campanha presidencial de Trump, o Breitbart.com de Bannon disparou com a cobertura pró-Donald e hostil a Hillary. Nos quadros da Score, o Breibart apareceu em outubro com mais de 19 milhões de utilizadores. Cresceu o número de apoiantes de Trump que percecionam o mundo pelo que veem e leem no Breitbart.com. Com os Clinton, os Obama e até os Bush como alvos privilegiados. O próprio Trump diz que encontra no Breitbart.com tudo o que precisa de saber sobre o mundo. Tanto o presidente como o Breitbart.com nunca estão interessados em ouvir pontos de vista diferentes dos seus.
“Estão a criar uma atmosfera tóxica”, indigna-se num mail Jane Eisner, editora do Forward.com, em Nova Iorque.
Há uma ideia dominante: eles, Trump e Bannon, a sua cabeça pensante à direita, nem querem saber o que pensa a gente que não pensa como eles.
Bannon já disse que lhe agrada ver-se como um Darth Vader, a desmontar a engrenagem dos adversários sem eles saberem como. Agora é o homem que o presidente dos EUA escuta sempre e em quem crê cegamente.
O Breitbart.com trata de entrar na Europa continental e propõe-se montar a sua plataforma em Paris. O lançamento da edição em francês está em fase de preparativos, mas ao contrário da intenção inicial de Bannon, já não deve ser antes da eleição presidencial francesa.
A sombra do falso jornalismo como modo de propaganda anda por aí, avança. Por agora, Bannon é o dono do castelo na corte de Donald Trump.
Sapo, 7 de fevereiro 2017