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quarta-feira, 10 de maio de 2017

Anonymous avisam o mundo: "preparem-se para a Terceira Guerra Mundial"

10 DE MAIO DE 2017  16:29
Anonymous avisam o mundo: "preparem-se para a Terceira Guerra Mundial"
DN
Vídeo partilhado pelo grupo de hackers lança mensagem sombria perante movimentações na península coreana
Num clip de vídeo com cerca de seis minutos, publicado durante o fim de semana, o grupo Anonymous decidiu fazer um alerta global e dizer ao mundo que é preciso começar a preparar-se para a Terceira Guerra Mundial.
No vídeo, narrado por alguém que surge encarnando a personagem de Guy Fawkes, como habitualmente - a "face" do coletivo de hackers - os Anonymous apontam os recentes movimentos militares na península coreana e denunciam alertas feitas pelo Japão e Coreia do Sul aos cidadãos, para que se preparem para o conflito. "Ao contrário de guerras passadas, ainda que haja tropas no terreno, a batalha será provavelmente feroz, brutal e rápida. Será igualmente devastador ao nível global, tanto ao nível ambiental como económico".
Os Anonymous dizem ainda que, num conflito que envolve três grandes forças - EUA, Coreia do Norte e China - outros países do mundo vão ser obrigados a escolher lados. "Esta é uma guerra real, com consequências reais globais. Com três superpoderes arrastados nesta mistura, outras nações serão coagidas a escolher lados, portanto, como é que estão dispostas as peças de xadrez até agora?".
De acordo com o grupo, os EUA têm trabalhado com a China, Coreia do Sul e Filipinas para manter a paz na região, mas Pyongyang estará a fazer "orelhas moucas". Os 'hackers' dizem ainda que a administração Trump está a trabalhar com a Austrália e que já enviou para o país um destacamento de mil tropas e da força aérea. "Os cidadãos serão os últimos a saber, por isso é importante saber o que as outras nações estão a fazer".
"Quando o presidente Trump começa a estabelecer contactos com pessoas como o presidente Rodrigo Duterte das Filipinas para garantir que estão do mesmo lado, devemos questionar-nos", sublinham. "No entanto, até Duterte avisou os EUA para se afastarem de Kim jong-un".
O vídeo termina com uma mensagem sombria: "Preparem-se para o que vem a seguir".
 
Coimbra, 10 de maio de 2017
Álvaro Teixeira

"Vais arrepender-te dos próximos quatro anos". Anonymous ameaçam Trump

17 DE JANEIRO DE 2017  17:24

DN

 
Hackers disseram que Trump tem "laços financeiros e pessoais com mafiosos russos, traficantes de crianças e branqueadores de capitais"
O grupo de hackers Anonymous ameaçou Donald Trump pelo Twitter esta segunda-feira. "Vais arrepender-te dos próximos quatro anos", escreveu o grupo numa das contas que mais usa no Twitter.
Os Anonymous aproveitaram uma publicação no Twitter em que Donald Trump criticava o diretor da CIA, John Brennan, para o acusarem de ter "laços financeiros e pessoais com mafiosos russos, traficantes de crianças e branqueadores de capitais".
Numa série de comentários à publicação de Trump, os Anonymous disseram que o presidente estava "implicado em porcarias pesadas" e relembraram que "já não estamos nos anos 80 e que a informação não desaparece, está por aí".
A insinuação de que os Anonymous podem ter e revelar informações secretas sobre Donald Trump causou um grande reboliço nas redes sociais.
O grupo disse que as pessoas devem reagir e fazer algo com as informações que já estão disponíveis sobre Trump em vez de esperar que os piratas informáticos as salvem, como sempre.
"Palavras dos democratas e apoiantes de Trump nos últimos 2 meses: Anonymous, por favor, ajudem-nos. Vocês são a nossa única esperança. Ataquem [inserir nome aqui]", escreveu o grupo. "'Vão atrás deles', 'Sejam melhores', 'Salvem-nos, por favor'. Não, vão vocês atrás dele. É o vosso dever como adultos. Nós demos-vos os recursos, usem-nos"
O grupo de piratas informáticos mais famoso do mundo aproveitou também o dia de ontem para deixar uma nota ao público em que dizia que não é o "exército pessoal" de ninguém.
"Uma mensagem àqueles que querem a nossa ajuda contra o Trump: o nosso alvo não é apenas o Trump mas sim o fascismo no mundo inteiro", escreveu o grupo.
"Nós não somos o vosso exército pessoal. Não estamos aqui para servir os vossos interesses políticos. Não somos patriotas nem nos interessamos pelo vosso Estado. Nós interessamo-nos pelos direitos humanos, a dignidade e a liberdade de existir em segurança. Não queremos saber das vossas necessidades políticas nem do vosso governo falhado", concluiu o grupo.
Donald Trump não respondeu ao comentário dos Anonymous e continuou a fazer publicações no Twitter sobre outros assuntos.
Os Anonymous já tinham declarado "guerra total" contra Trump em março do ano passado, altura em que prometeram lançar uma operação contra o republicano que iria "chocar todo o mundo".
O grupo acabou por não tomar nenhuma atitude relevante devido a cisões internas, segundo a Vice News, que entrevistou um dos piratas. Alguns membros que apoiavam Trump não concordaram com as decisões tomadas em grupo e acabou por não acontecer nenhum ataque informático.
Não é claro o que terá motivado a decisão dos Anonymous de ameaçar Donald Trump novamente.
 
Coimbra, 9 de maio de 2017
Álvaro Teixeira

sexta-feira, 28 de abril de 2017

A TERESA TER “Minissaia”! (estatuadesal)

 

(Joaquim Vassalo Abreu, 28/04/2017)
SAIA_CURTA_COMPRIDA
As saias mudam. Mas as ideias ficam. 
Eu, por fase de evidente falta de inspiração, que não deixo de considerar natural pois nada de atraente e significativo se tem passado, para lá do pulsar dos dias e dos Macrons, dos Fillons, dos Hamnons e dos Molenchons, mais ainda da dos “didons”, não tenho comparecido por estas bandas…
Mas a inspiração, tal como um raio de luz, surgiu-me! E quem terá sido a coisa ou a pessoa que fez despertar em mim esse clarão de luz? O inefável Dr. Pedro Passos de Coelho! Nem mais! O que, convenhamos, não é já caso de admiração.
Como normalmente faço de quinze em quinze dias, também ontem me instalei para seguir a primeira parte do debate na Assembleia. O tal que é quinzenal de quinze em quinze dias! Começa o Primeiro Ministro com um tema à sua escolha, que ontem nem sei qual foi pois cheguei atrasado, e depois segue-se aquela parte mais interessante em que o líder da oposição, que também o tema proposto nem quase aborda, desata a fazer perguntas ao Primeiro, a ver se o encalacra, se o perturba ou se o põe à rasca, em suma. E esta parte é a que eu vejo, sempre embebecido, deliciado, boquiaberto e, porque não dizê-lo, às vezes deslumbrado até, com tanta perícia dialética e de tão fina estirpe e verve.
Da outra vez, como aliás aqui comentei, senti-me defraudado porque o Dr. Pedro Passos de Coelho remeteu-se ao silêncio e mandou para a boca de cena o seu fiel (fiel?) Montenegro, que não sei de que raça será. Mas desta vez não: desta vez foi o próprio, o Dr. Pedro Passos de Coelho “himself”, que tomou para si essa tarefa: a de tentar encalacrar o calejado Costa! E foi tão bonito, tão bonito mesmo, que não posso deixar de narrar.
O Dr. Pedro Passos de Coelho insistia, reiterava e voltava a insistir, em querer saber as razões por que o Governo tinha rejeitado os dois nomes “independentes”, propostos pelo BP e não sei mais quem, para o CFP, o da Teodora. O Costa mandava-o para canto, ele marcava o canto e voltava sempre ao jogo. E os cantos sucediam-se. Até que, não tendo mais tempo, o Dr. Pedro Passos de Coelho, rápido como este, faz a fulminante pergunta, desafio até seria mais apropriado, final: “Dou-lhe, Sr. Primeiro Ministro, a última oportunidade para responder…”.

Bem, eu contive o meu riso, à espera da resposta do já muito calejado Costa. Que disse:” Ó Sr. Deputado Dr. Pedro Passos de Coelho, que o Sr. Deputado não tinha nada para dizer eu até já desconfiava, agora vir em defesa da Teresa Ter “Minissaia”…!!!”. E a troca de galhardetes terminou com o Dr. Pedro Passos de Coelho escondendo os seus dentes nos seus cerrados grandes lábios…e metendo-se na toca, donde não mais saiu!

Mas a Teresa Ter “Minissaia” já vem de longe, e de longe virá também o interesse do Dr. Pedro Passos de Coelho, na altura um imberbe e pubertano rapaz, pela “Minissaia”, por muito que lhe dissessem que ela era Minassian! Não pode ser, dizia ele, pois ela é Italiana e não Arménia! Que Arménio só conhecia um: o Gulbenkian e mais nenhum, e este era até filantropo!
Mas quando mais tarde soube que a Teresa Ter tinha chefiado a missão do FMI (Família Mafiosa Internacional) para resgatar Portugal dos desmandos da sua AD, com mais admiração por ela ficou, não se lembrando já da “Minissaia”, mas sim do nome arménio de Minassian. Ele que sempre julgou que ela fosse Italiana! Como o Mikitarian, que joga na equipa do Mourinho e que ele pensava fosse Finlandês, ou coisa assim… ou ainda a Aracy Balabanian, a Cassandra do “Sai de Baixo” que, essa sim, ele pensava ser Brasileira!
E agora, a propósito da sua indicação para membro do CFP da Teodora, essa entidade independente e acima de qualquer suspeita, autêntico relicário das virtudes pátrias, o Dr. Pedro Passos de Coelho vislumbrou nela um autêntico Joker: a oposição firme de uma integrante da Família às políticas da “Jiga Joga” e o retorno do seu mais que querido FMI (não vou repetir o que significa), para a preparação do resgate que ele tanto anseia.
Era para ele uma questão, para além de recordativa dos seus pubertanos tempos, os tempos de todas as Teresas, de índole sentimental : o retorno da “Minissaia”.
Que não tem perfil, afirma o Sr. Dr. Primeiro Ministro? A Teresa? A Teresa Ter! Se a Teresa não tem, quem afinal Terá?
É que ela agora usa saia comprida, Dr. Pedro Passos de Coelho! Saia comprida, ouviu? Já não chega a Teodora?
Mas ela é Italiana, saiu ele protestando…Pois que cuide da Itália, terão gritado! Ao coitado…
 
Ovar, 28 de abril de 2017
Álvaro Teixeira

Trump, o prolixo

Celso  Filipe
Celso Filipe | cfilipe@negocios.pt 28 de abril de 2017 às 00:01

Trump, o prolixo

Entre a meia-noite e as 17h00 de ontem, Donald Trump publicou 13 mensagens no Twitter, ora revelando telefonemas mantidos com os Presidentes do Canadá e do México para renegociar os acordos comerciais, ora acusando o Partido Democrata de vários desmandos, tais como o de colocar em risco a segurança dos militares norte-americanos.
Os que gostam e aqueles que odeiam Donald Trump convergem numa opinião: o Presidente norte-americano é prolixo. Tudo o resto são divergências. E não apenas políticas. O homem que mandou lançar "a mãe de todas as bombas" não nucleares no Afeganistão e se desdobra em ameaças à Coreia do Norte, criando um clima de instabilidade à escala global, é o mesmo que os mercados adoram, facto verificável no comportamento das bolsas. O Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq bateram máximos históricos a 1 de Março e continuam em alta, revelando que os mercados gostam e acreditam nas promessas de desregulação, de redução de impostos e de investimento público prometidas por Trump.
Mas há mais. O índice de sentimento de confiança do consumidor elaborado pela Universidade de Michigan registou máximos de 17 anos e a taxa de aprovação de Trump está nos 41%. Nada mau, para o mais improvável de todos os Presidentes norte-americanos.
Depois há o reverso da medalha. A euforia dos mercados não encontra espelho na economia real. As vendas de carros e do retalho, assim como a produção industrial e o investimento privado, são indicadores estagnados desde que Trump tomou posse. Por sua vez, o PIB tem-se mantido quase inalterado, muito longe das promessas de crescimento de 4% feitas pelo agora inquilino da Casa Branca.
Isto sem esquecer os assuntos mais mediáticos, em boa parte responsáveis pela sua vitória eleitoral. A começar pelo muro que era para ser pago pelos mexicanos e afinal não o será, terminando no desmantelamento do Obamacare, que afinal ainda não aconteceu.
Um dos problemas estruturais de Trump, o prolixo, tem precisamente que ver com esta sua característica, que por natureza é adversária da credibilidade. Trump, o prolixo, achou que seria tão fácil governar quanto fazer negócios. Enganou-se. Estes 100 dias de governação são a demonstração da sua natureza errática. Resta esperar mais 100 dias para saber se prevalecerá o Trump homem de negócios fala-barato, ou o Trump convertido à política. Enquanto isso, Trump é, ele mesmo, o "pai de todas as bombas" que pode fazer explodir a política e a economia à escala global.

Ovar, 28 de Abril de 2017
Álvaro Teixeira

quarta-feira, 26 de abril de 2017

O 25 DE ABRIL DE TODAS AS CONSPIRAÇÕES

Por Carlos de Matos Gomes (25/04/2017)

 
 

A partir do Verão de 1973 todas as fações do regime, todas as personalidades marcantes e todas as instituições conspiram uns com os outros ou contra os outros. A partir do Verão de 1973 todas as fações do regime tinham uma consciência comum: A questão colonial caíra num impasse e era necessário sair dele. O regime assente na ditadura e no colonialismo esgotara-se e chegara ao fim.
É impressionante a lista de acções conspirativas no interior do regime a partir do Verão de 1973:
Spínola, que já estava em rutura com Marcelo Caetano, demite-se de governador e comandante-chefe da Guiné. Deixa uma situação militar gravíssima, já tem pronto o rascunho do “Portugal e o Futuro”, que contesta a as políticas de Marcelo Caetano e de Américo Tomás. Em Lisboa, Spínola conspira com Kaúlza de Arriaga, demitido por Marcelo Caetano em termos que jamais haviam sido utilizados nas relações entre o governo e os militares pela sua incapacidade de controlar o agravamento da situação em Moçambique e pelos escândalos dos massacres de populações, que assumiram dimensão internacional. Kaúlza de Arriaga, um dos salazaristas mais intransigentes, regressou a Lisboa para conspirar contra Marcelo Caetano.
Os generais de África, do Exército e da Força Aérea conspiram. Os salazaristas, adeptos da intransigente defesa do ultramar, reunidos à volta de Américo Tomás, organizaram o Congresso dos Combatentes, em Junho, no Porto. Largos sectores de militares dos quadros permanentes reagiram com abaixo-assinados e telegramas de repúdio. Uma atitude reveladora do mal-estar e da conspiração interna que atravessava as patentes intermédias das Forças Armadas.
Os capitães conspiram, aproveitando o pretexto de uns decretos sobre promoções, a primeira reunião é a 18 de Agosto, em Bissau, a 9 de Setembro realiza-se uma outra em Évora, com grande adesão. A conspiração dos quadros intermédios alastra e revela a sua oposição ao regime, tanto na questão das soluções para a guerra, como na ausência de democracia.
A 14 de Setembro, os generais Spínola, Venâncio Deslandes, Kaúlza de Arriaga e Pinto Resende reuniram-se em Lisboa num almoço para discutir a hipótese de substituição de Marcelo Caetano. Estes encontros continuaram com diferentes actores, mas sempre com a presença de Kaúlza de Arriaga. Chegou a ser estabelecido um contacto com a organização dos capitães, que rejeitaram qualquer hipótese de colaboração.
A agitação dos capitães e a forma como o ministro da Defesa, Sá Viana Rebelo, lidou com o assunto, foram a causa, ou o pretexto, para Marcelo Caetano remodelar o governo, transitando Silva Cunha do Ultramar para a Defesa e entrando Rebelo de Sousa para o Ultramar. Esta remodelação, conjugada com a nomeação, ainda em 1972, do engenheiro Santos e Castro para governador de Angola têm sido apontados como fazendo parte de um plano conspirativo de Marcelo Caetano para provocar uma independência unilateral de Angola. Um acto contra os sectores radicais do salazarismo.
Ainda no Verão de 1973, e após substituir Kaúlza de Arriaga, Marcelo Caetano abriu a possibilidade de uma solução política em Moçambique. Em Setembro, o engenheiro Jorge Jardim encontrou-se com Keneth Kaunda, presidente da Zâmbia, para estabelecimento de um primeiro acordo de princípios para resolver a situação de Moçambique, que ficaria conhecido por “Programa de Lusaca”, e que seria apresentado a Marcelo Caetano. O “Programa de Lusaca” era, em resumo, uma proposta de início de negociações entre Portugal e a FRELIMO para uma futura independência de Moçambique. Jorge Jardim apresentou esta versão a Marcelo Caetano seguida de uma outra no início de Fevereiro.
A 17 de Dezembro, numa aula no Instituto de Altos Estudos Militares, o major Carlos Fabião, em nome do movimento dos capitães, denunciou o golpe que Kaúlza de Arriaga estava a preparar, confirmando que não era a intensificação da guerra e o endurecimento do regime que os jovens militares pretendiam.
A conspiração estende-se ao topo da hierarquia do Estado e do regime. A 21 de Janeiro, Américo Tomás reuniu-se na Messe de Monsanto com os ministros militares e com o presidente da Junta Central da Legião Portuguesa, repetindo a reunião em Fevereiro, agora na base do Alfeite, num evidente processo de conspiração contra o chefe do governo.
Ainda em Fevereiro, o general Spínola, vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, publicou o livro “Portugal e o Futuro”, que contrariava as teses do governo sobre a questão colonial e a guerra. Marcelo Caetano faria mais tarde o seguinte comentário no seu livro de memórias, «Depoimento»: “ao fechar o livro tinha compreendido que o golpe de Estado militar, cuja marcha eu pressentia há meses, era agora inevitável”. Dois dias após ter terminado a leitura do livro, Marcelo Caetano convocou os generais Costa Gomes e António de Spínola e convidou-os a tomarem o poder, opção que estes recusaram.
A 28 de Fevereiro, Marcelo Caetano apresentou o pedido de demissão a Américo Tomás, que este não aceitou. Seria um dos três pedidos de demissão de Marcelo Caetano, como viria a revelar mais tarde.
A 11 de Março, Américo Tomás convocou Marcelo Caetano e impôs-lhe a exoneração de Costa Gomes e Spínola. O chefe do governo respondeu que, tendo autorizado a publicação do livro, não tinha moral para aplicar qualquer castigo. Horas depois de ser recebido por Américo Tomás, Marcelo Caetano enviou mais uma vez ao Presidente a sua própria carta de demissão. Américo Tomás respondeu: “já é tarde para qualquer de nós abandonar o cargo”.
A 14 de Março, um numeroso grupo de generais dos três ramos da Forças Armadas, que ficou conhecido pela “Brigada do Reumático”, reuniu-se no átrio do palácio de São Bento para se manifestar de acordo com a política ultramarina do governo. No dia seguinte, os generais Costa Gomes e Spínola, que não participaram na reunião, foram demitidos dos seus cargos.
Em reacção a estes acontecimentos, a 16 de Março, a unidade militar das Caldas da Rainha saiu em direcção a Lisboa, numa tentativa frustrada de levantamento militar, com a participação de militares próximos de Spínola.
Por outro lado, a 26 de Março, um enviado de Marcelo Caetano, o diplomata José Manuel Villas-Boas Vasconcelos Faria, encontrou-se secretamente em Londres com uma delegação do PAIGC, para negociações sobre o problema da Guiné. O ministro dos Negócios Estrangeiros não foi informado. A 4 de Abril, Marcelo Caetano enviou secretamente a Paris, Pedro Feytor Pinto, director-geral dos serviços de informação do governo e seu homem de confiança. Feytor Pinto reuniu-se com Jacquers Foccart, Monsieur Afrique, responsável pelas relações com África no Palácio do Eliseu, com o objectivo de conseguir uma terceira via para a questão de África, através de Senghor, do rei Hassan II, de Marrocos, e Félix Houphoet-Boigny, da Costa do Marfim. O governo foi mantido à margem deste encontro. Anteriormente, já Marcelo Caetano tinha desenvolvido outras iniciativas secretas de contactos com o PAIGC, o MPLA e igrejas protestantes, sempre à margem dos membros do governo, do Presidente da República e das Forças Armadas.
O partido do regime, a Acção Nacional Popular, estava dividido em três facções, os salazaristas, reunidos à volta de figuras como Cazal Ribeiro, tendo o patrocínio de Américo Tomás; os marcelistas, que tinham como porta-voz, Guilherme Melo e Castro; e a «Ala Liberal».
As Forças Armadas também estavam divididas entre os adeptos da solução militar, reunidos à volta de Kaúlza de Arriaga e com o apoio de Américo Tomás, os que procuravam soluções políticas para a guerra e uma evolução do regime, reunidos à volta de Spínola e de Costa Gomes, e ainda os capitães, como adeptos de uma ruptura com o regime e com a sua política colonial e de ditadura.
O 25 de Abril de 1974 resultou do confronto e das alianças que se estabeleceram entre estes grupos no interior do regime. Foi um golpe de que saiu vencedora a aliança entre os militares spinolistas e os capitães adeptos da independência das colónias e da democratização do regime. Vindos do interior do anterior regime, transitarão para a nova situação os políticos da «Ala Liberal».
Esta era a situação nas vésperas do 25 de Abri de 1974. Contra os factos, contra a realidade da História, mantêm-se ainda hoje resquícios de saudade da ditadura e do colonialismo que apresentam o golpe de estado do 25 de Abril como uma ação de um grupo de jovens militares, de patentes intermédias, politizados (comunizados) pelos estudantes que prestavam o serviço militar como milicianos e não queriam fazer a guerra.
Uma leitura em que o 25 de Abril é apresentado como a ação de um grupo exterior ao regime, de opositores ao governo de Marcelo Caetano e à política colonial, designada como ultramarina pelo Estado Novo. Para esses irredutíveis, existiria em 1974 uma maioria nacional e patriótica, defensora do Portugal pluricontinental e plurirracial, que foi vencida por uma facção vinda do exterior, o movimento dos capitães, depois Movimento das Forças Armadas.
Esta leitura mantem-se ainda hoje com várias tonalidades, desde a que defende não estar a guerra perdida — como se a recusa de uma parte decisiva das tropas em continuar a combater não materializasse a vitória do inimigo — à que fantasia as glórias e as grandezas de um império que nunca foi politicamente estruturado, nunca foi economicamente viável, nem sequer criou aos portugueses condições de riqueza e bem-estar, impelindo-os à emigração para outras paragens que não o mítico império.

Ovar, 26 de Abril de 2017
Álvaro Teixeira