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quinta-feira, 25 de maio de 2017

O Ronaldo do Ecofin


(In Blog O Jumento, 24/05/2017)
Portugal's Finance Minister Centeno poses with a national scarf during an euro zone finance ministers meeting in Brussels
Os Cenários Macroeconómicos “desenhado” por um grupo de economistas liderados por Mário Centeno já foram quase esquecidos, na ocasião a direita dividiu-se entre a gargalhada e a mobilização de economistas apoiantes da tese do empobrecimento forçado. O desplante chegou ao ponto de a direita propor que as propostas económicas apresentadas pelo PS fossem previamente avaliadas pelo Conselho de Finanças Públicas, para o que prontamente Teodora Cardoso se ofereceu.
Os cenários Macroeconómicos previam 3,1% de crescimento para 2017, número que serviu para promover gargalhadas à direita. A primeira ida de Mário Centeno ao parlamento não foi notícia pelas suas propostas ou ideias, mas sim porque segundo a comunicação social noticiou Passos Coelho riu até chorar. Sem experiência de calhandrice parlamentar e com o seu ar desajeitado Mário Centeno parecia presa fácil para o cinismo de políticos com calos no cu.
Mas Centeno lá foi sobrevivendo e quando a direita se começou a aperceber dos resultados em catadupa perdeu a vontade de rir, a partir de então a estratégia era destruir a sua política, aproveitando-se de uma divergência entre o PS e os seus parceiros no parlamento, a direita votou de forma suja na questão da TSU. A estratégia era agora boicotar as propostas de Centeno, percebia-se que resultavam e era imperioso que tal não sucedesse.
A estratégia falhou e o objetivo passou a ser o derrube de Mário Centeno, custasse o que custasse. Um obscuro gestor de bancos proporcionou a oportunidade, amigo de um conhecido especialista de corredores e de porteiro de passagens entre o poder e a finanças, proporcionou a oportunidade, durante semanas desenrolou-se o folhetim miserável das mensagens de SMS. Mais uma vez Passos Coelho teve o azar do diabo.
Mário Centeno não só está de pedra e cal como em pouco mais de um ano provou que quem se opunha à reformatação económica do país iniciada por Passos Coelho tinham razão. Ainda ontem a agência de Notação Fitch teceu elogios às mudanças de orientação política, apontando-as como uma das causas do crescimento da economia. Mário Centeno não só provou que era possível seguir outro caminho, como já conseguiu negociar dois orçamentos com o PCP e o BE, já ninguém acredita que o governo caia antes do fim da legislatura.
É a newsletter “Político” que divulga que o ministro das Finanças Alemão disse em privado que Mário Centeno é o Ronaldo do Ecofin acrescenta:
“Há doze meses, era tudo tão diferente. Portugal estava à beira das sanções económicas da União Europeia e o sucesso do seu novo Governo de coligação de esquerda estava longe de ser assegurado. Hoje, já não viola as regras orçamentais da UE e espera entregar antecipadamente 10 mil milhões de euros ao FMI”
Por cá há quem diga que tudo se deve a vários treinadores, argumento muito usado quando os presidentes dos clubes querem chamar a si os louros pelo bons resultados de uma equipa.

Ovar, 25 de maio de 2017
Álvaro Teixeira

sexta-feira, 28 de abril de 2017

A TERESA TER “Minissaia”! (estatuadesal)

 

(Joaquim Vassalo Abreu, 28/04/2017)
SAIA_CURTA_COMPRIDA
As saias mudam. Mas as ideias ficam. 
Eu, por fase de evidente falta de inspiração, que não deixo de considerar natural pois nada de atraente e significativo se tem passado, para lá do pulsar dos dias e dos Macrons, dos Fillons, dos Hamnons e dos Molenchons, mais ainda da dos “didons”, não tenho comparecido por estas bandas…
Mas a inspiração, tal como um raio de luz, surgiu-me! E quem terá sido a coisa ou a pessoa que fez despertar em mim esse clarão de luz? O inefável Dr. Pedro Passos de Coelho! Nem mais! O que, convenhamos, não é já caso de admiração.
Como normalmente faço de quinze em quinze dias, também ontem me instalei para seguir a primeira parte do debate na Assembleia. O tal que é quinzenal de quinze em quinze dias! Começa o Primeiro Ministro com um tema à sua escolha, que ontem nem sei qual foi pois cheguei atrasado, e depois segue-se aquela parte mais interessante em que o líder da oposição, que também o tema proposto nem quase aborda, desata a fazer perguntas ao Primeiro, a ver se o encalacra, se o perturba ou se o põe à rasca, em suma. E esta parte é a que eu vejo, sempre embebecido, deliciado, boquiaberto e, porque não dizê-lo, às vezes deslumbrado até, com tanta perícia dialética e de tão fina estirpe e verve.
Da outra vez, como aliás aqui comentei, senti-me defraudado porque o Dr. Pedro Passos de Coelho remeteu-se ao silêncio e mandou para a boca de cena o seu fiel (fiel?) Montenegro, que não sei de que raça será. Mas desta vez não: desta vez foi o próprio, o Dr. Pedro Passos de Coelho “himself”, que tomou para si essa tarefa: a de tentar encalacrar o calejado Costa! E foi tão bonito, tão bonito mesmo, que não posso deixar de narrar.
O Dr. Pedro Passos de Coelho insistia, reiterava e voltava a insistir, em querer saber as razões por que o Governo tinha rejeitado os dois nomes “independentes”, propostos pelo BP e não sei mais quem, para o CFP, o da Teodora. O Costa mandava-o para canto, ele marcava o canto e voltava sempre ao jogo. E os cantos sucediam-se. Até que, não tendo mais tempo, o Dr. Pedro Passos de Coelho, rápido como este, faz a fulminante pergunta, desafio até seria mais apropriado, final: “Dou-lhe, Sr. Primeiro Ministro, a última oportunidade para responder…”.

Bem, eu contive o meu riso, à espera da resposta do já muito calejado Costa. Que disse:” Ó Sr. Deputado Dr. Pedro Passos de Coelho, que o Sr. Deputado não tinha nada para dizer eu até já desconfiava, agora vir em defesa da Teresa Ter “Minissaia”…!!!”. E a troca de galhardetes terminou com o Dr. Pedro Passos de Coelho escondendo os seus dentes nos seus cerrados grandes lábios…e metendo-se na toca, donde não mais saiu!

Mas a Teresa Ter “Minissaia” já vem de longe, e de longe virá também o interesse do Dr. Pedro Passos de Coelho, na altura um imberbe e pubertano rapaz, pela “Minissaia”, por muito que lhe dissessem que ela era Minassian! Não pode ser, dizia ele, pois ela é Italiana e não Arménia! Que Arménio só conhecia um: o Gulbenkian e mais nenhum, e este era até filantropo!
Mas quando mais tarde soube que a Teresa Ter tinha chefiado a missão do FMI (Família Mafiosa Internacional) para resgatar Portugal dos desmandos da sua AD, com mais admiração por ela ficou, não se lembrando já da “Minissaia”, mas sim do nome arménio de Minassian. Ele que sempre julgou que ela fosse Italiana! Como o Mikitarian, que joga na equipa do Mourinho e que ele pensava fosse Finlandês, ou coisa assim… ou ainda a Aracy Balabanian, a Cassandra do “Sai de Baixo” que, essa sim, ele pensava ser Brasileira!
E agora, a propósito da sua indicação para membro do CFP da Teodora, essa entidade independente e acima de qualquer suspeita, autêntico relicário das virtudes pátrias, o Dr. Pedro Passos de Coelho vislumbrou nela um autêntico Joker: a oposição firme de uma integrante da Família às políticas da “Jiga Joga” e o retorno do seu mais que querido FMI (não vou repetir o que significa), para a preparação do resgate que ele tanto anseia.
Era para ele uma questão, para além de recordativa dos seus pubertanos tempos, os tempos de todas as Teresas, de índole sentimental : o retorno da “Minissaia”.
Que não tem perfil, afirma o Sr. Dr. Primeiro Ministro? A Teresa? A Teresa Ter! Se a Teresa não tem, quem afinal Terá?
É que ela agora usa saia comprida, Dr. Pedro Passos de Coelho! Saia comprida, ouviu? Já não chega a Teodora?
Mas ela é Italiana, saiu ele protestando…Pois que cuide da Itália, terão gritado! Ao coitado…
 
Ovar, 28 de abril de 2017
Álvaro Teixeira

domingo, 5 de março de 2017

Do milagre segundo Teodora Cardoso aos offshores - estatuadesal

 

(Francisco Louçã, in Público, 03/03/2017)
louca
      Francisco Louçã
 
Manda o rigor que se diga que foi a jornalista da Rádio Renascença quem falou de “milagre” na conversa com a entrevistada, Teodora Cardoso, mas esta entusiasmou-se e usou-a para argumentar que, afinal, o défice é ilusório. Como a noção tinha precedência, afinal a própria entrevistada tinha sugerido no final do ano passado que só por “fé” se poderia imaginar que fosse alcançado o objectivo do défice, ficou a tese do “milagre”. Terá portanto sido coisa sobrenatural, independente da vontade ou do mérito humano.
Não foi. Foi do lado da despesa o efeito de uma sucessão de cortes antigos, só parcialmente repostos, combinado com algumas medidas excepcionais e com o impacto, esse estrutural, da melhoria do desempenho da economia e do alívio das pessoas. Ou seja, o que salvou a economia foi a viragem de 2015 com o fim do governo de Passos e de Portas.
Em contrapartida, o que para Teodora Cardoso não é do domínio da “fé” mas da “ciência”, pelo contrário, é a doutrina da austeridade. Empossada em 2011 à frente do Conselho de Finanças Públicas pelo governo de Passos Coelho, Cardoso defendeu a estratégia de cortes estruturais com a troika, chegando a declarar que o programa do PSD-CDS era “prudente, credível e fundado na melhor e mais sofisticada ciência económica” e que por isso a sua ideologia, a “racionalidade”, a levava a saudar estas medidas “científicas”.
Recapitulemos então. Para Cardoso, “milagre” é conseguir-se um bom indicador orçamental ao passo que “a mais sofisticada ciência económica” é a austeridade que agravou a recessão com cortes sociais. Mas então temos um problema: se a medida do êxito desta espiritualidade for o seu resultado, a “ciência” garantida alcançou o pior efeito e só a tal “fé” não-científica conseguiu sacudir a pressão.
Portanto, Cardoso e o seu apoio à austeridade ficam mal no retrato: nem a sua posologia resultou nem as previsões acertaram. A pergunta então será: por que razão deveríamos dar crédito às suas antecipações do diabo, se falhou sempre desde 2011 e apoiou o caminho mais prejudicial? De facto, o Conselho presidido por Teodora Cardoso revelou-se inútil: só faz previsões e são todas erradas, nunca dando uma ideia de medidas e estratégias para evitar o sofrimento da população.
A polémica sobre os offshores ilustra perfeitamente esta doutrina “científica”. Há aliás uma pulsação irritante na questão: dia sim, temos escândalo e promessas de acabar com os offshores e, dia não, temos silêncio e continuidade. Bush prometeu em 2001 acabar com eles; Obama prometeu em 2008; e, quando foram revelados os dossiers dos “Offshore Leaks” (100 mil empresas, 2013), do LuxLeaks (400 multinacionais, 2014) e dos Panama Papers (214 mil empresas, 2016), repetiu-se a mesma farsa, agora é que vai ser. Não foi e não por culpa de Paulo Núncio, que afinal é só um advogado especializado na promoção de offshores. Ora, a “mais sofisticada ciência económica” é isto: os offshores são centros da finança mundial. É por isso que a União Europeia tolera jurisdições não cooperantes como Andorra, Liechtenstein, Mónaco e Guernsey, ou respeita a Holanda, Áustria e Suíça; ou que Portugal protege a zona fiscalmente privilegiada da Madeira, onde, como aqui se escreveu, “percebemos que a UC Rusal, a maior produtora de alumínio, a British American Tobacco, a segunda maior tabaqueira do mundo, a Pepsi, a Sonangol e um total de mil empresas partilhavam uma sala de 100 metros quadrados sem terem contratado um único madeirense e sem terem atividade produtiva no Funchal.”
Aqui, sim, temos uma “fé”. Só que ela não produz milagres, antes a jigajoga fiscal no nevoeiro dos offshores.
 
Ovar, 5 de março de 2017
Álvaro Teixeira

sexta-feira, 3 de março de 2017

A Teodora virou sonora

(Joaquim Vassalo Abreu, 02/03/2017)
milagre

Ou: Portugal, uma “Tenda de Milagres”!
Quer dizer, ela deu uma entrevista a um jornal, vi hoje no Facebook e fiquei tão fascinado que…li tudo!
Eu já há uns tempos escrevi e publiquei um texto ( que o Estátua de Sal também compartilhou) a que chamei de “TEODORA, a INSONORA”, ( para quem não leu vai aqui o Link: http://wp.me/p4c5So-J1 e se não leram não deixem de ler porque acho que , com todo o respeito que a Senhora, enquanto pessoa, me merece, até está bem conseguido), mas desta vez, e a propósito das suas novas declarações, ela falou e falou de um tema que eu já aqui abordei ao de leve, mas que agora vou desenvolver mais um pouco:o dos “Milagres”.
Dos “Milagres” e dessa tendência cada vez mais crescente de, ocorrendo algum sucesso pátrio ou de alguém que não nos merecendo total credibilidade ele seria, portanto, de inacessível alcance e a sua explicação só poder residir no tal “Milagre”! Só por “Milagre”, como dizem e repetem…
A D. Teodora, agora sonora, não fugiu à regra e ela e o departamento que dirige (o CFP- Conselho de Finanças Públicas), que nunca engoliram a evolução positiva do Défice das contas nacionais, para não repetir “públicas”, sempre alertaram para o perigo de não haver medidas alternativas e planos B e C e, assim sendo, da impossibilidade do défice ser inferior a 3% e da saída do “procedimento por défice excessivo” por parte das autoridades europeias. Como é que ela agora reage ao défice de 2,1% por este Governo conseguido? Com o “Milagre”! “Só pode ter sido Milagre”, disse ela.
Mas este perigoso, ela acrescenta, porque “irrepetível”! Porque baseado em medidas políticas que não são sustentáveis, reitera, o que levou o Prof. Eduardo Paz Ferreira a fazer uma pertinente e engraçada observação. Escreveu ele: “Ela é como aqueles treinadores que, sempre que perdem, são incapazes de reconhecer o mérito do adversário e culpam sempre os árbitros…!”.
Mas ela, à semelhança de outros, também dizia lá do alto da sua sapiência de teorias fracassadas feita que, acreditar que as medidas “à la Centeno” a bom rumo nos conduziriam, só por uma questão de “Fé”. Mas como a fé não move montanhas, senão Sísifo não passaria a eternidade empurrando o pedregulho montanha acima…, restavam os “Milagres”.
Mas essa tradição e fama dos “Milagres” é como o Licor Beirão: já vem de longe! Já vem dos tempos do Pires de Lima, para não falar na “Tenda dos Milagres” do Jorge Amado e do seu Pedro Arcanjo!
Por definição “Milagre” é algo, algum facto ou algum acontecimento que não pode ser explicável à luz das ciências conhecidas, sendo apenas possível ocorrer através do sobrenatural ou acção divina. Será mais ou menos isto, quer-me parecer, e até dizem ser.
E quando o Pires de Lima, aqui há três ou quatro anos, afirmou que estava a acontecer um “Milagre” na economia portuguesa, com o “inexplicável” aumento das exportações, a Teodora manteve-se no mudo e nada disse. Acreditou, portanto.
Ora sabendo todos que os “Milagres” são tão mais raros quanto a ciência evolui, porque agora quase tudo é explicável, a existir um, ele tem que ter origem em algo tão transcendente e tão espantoso, por impossível explicação.
Ora a D. Teodora, agora convertida ao sonoro, elevando para a qualidade de “Milagre” o défice em 2016 conseguido, ainda por cima com aquelas erradíssimas, perigosíssimas e contraproducentes medidas, e ela sabe do que fala porque ela diz que conversa com os “Mercados”, do mesmo modo que aquela filha do Solnado dizia que falava com Deus, ela vem engrossar, como disse, o caudal desse imenso rio constituído por todos aqueles que vêm Portugal como uma “Tenda dos Milagres”!
Porque de “Milagres” têm sido feitos os sucessos de Portugal e dos Portugueses. Senão vejamos: ganhar o Euro de Futebol? Só por milagre e porque tínhamos um Santinho! Guterres na presidência da ONU? Só por milagre! Onde já se viu, um Português! A “Geringonça” funcionar? Nem por milagre! A Paz Social? Só mesmo um milagre! O Marcelo ser um Presidente oposto ao grande “estradista” anterior? Impossível: só por milagre! Levantamento de sanções por défice excessivo? Nem com um Milagre! A Web Summit em Lisboa? Milagre! Etc.Etc.Etc e Etc.
De modos que, na mesma proporção com que se produzem em Portugal génios como a D. Teodora, com toda esta facilidade com que dizem ser tudo “Milagre”, eu só posso concluir que os “Milagres” andam ao “preço da chuva”…
Ó D. Teodora: porque não vai embora? Tem o cão lá fora, à espera da D. Teodora! Porque tanto demora? Até o seu cão chora…
 
Ovar, 3 de Março de 2017
Álvaro Teixeira