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quinta-feira, 30 de novembro de 2017

ADEUS ZÉ PEDRO!

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 30/09/2017)

xutos

Poucas pessoas haverá na vida que nunca tendo entrado em nossa casa nos parece que dela nunca saíram! O ZÈ PEDRO era uma delas.

Daquelas pessoas de quem durante a vida apenas nos aproximamos, mas que temos por Amigo verdadeiro e indefectível. O ZÉ PEDRO é uma delas.

Uma pessoa que sendo Amiga de nossos Amigos é por inerência nossa Amiga. Daquelas que imediatamente tratamos por Tu, mesmo que nem apresentados sejamos.

Das que estando numa roda de Amigos em que pretendamos entrar nos convida logo para a mesma.

Uma pessoa de quem esquecemos todas as fraquezas por troca de um sorriso. De um sorriso único, de um sorriso tão convidativo que forçosamente nos contagia. De quem os nossos pequenos imediatamente gostam e para cujo colo logo vão.

A quem perdoávamos todas as imperfeições por troca de um Amor imenso e dedicado à Música e a todo o Rock and Roll. Que conhecia como ninguém.

A quem tudo perdoamos e tudo trocamos pela sua presença. Pela sua afabilidade e pela sua simpatia.

De quem nos aproximamos e por quem sofremos nas suas horas más, impelidos pela sua força de viver e pelo seu incandescente optimismo.

De quem nos fazemos de imediato participantes activos das suas causas, mesmo nelas só por simpatia participemos. Com quem estamos sempre, mesmo não estando.

Daquelas que sendo feitas de defeitos, na sua grandeza, transformamos em virtudes, pela maneira com que encaram a vida e nos ensinam dessa mesma grandeza.

Das que tendo visibilidade e palco, fãs de toda a ordem e seguidores sem fim, se portam na vida como qualquer pessoa decente se deve portar: Dando-se e dando-se sempre, como se qualquer gesto ou palavra fosse a redenção. E o elo fraterno que a todos une: o da cumplicidade.

O ZÉ PEDRO não era um virtuoso nem precisou nunca de o ser. Tinha o carisma dos grandes, daqueles que se dão à música como a maior invenção do Homem. Ou de Deus, tanto faz.

Mas não só na morte, porque na vida também assim todos fomos: seus enormes admiradores! Admiradores de quem nunca vimos ou ouvimos um lamento. Apenas um sorriso, sempre!

O Dr. Eduardo Barroso, que lhe fez o transplante do fígado, afirmou nunca ter tido um paciente assim. Um doente consciente dos danos que a vida lhe trouxe mas, ao mesmo tempo, confiante na própria vida e em quem lha poderia trazer de volta. Sem penas ou remorsos pelo que ela foi, mas com espírito sempre aberto à mudança e aos cuidados que a mesma lhe impunha. E sempre para a mesma disponível, até ao último segundo.

O ZÉ PEDRO foi e é, para além de um ícone transversal e único, um ser de uma simplicidade e humanidade desarmantes. Um ser que desconhecia a palavra ódio e só a Amizade trabalhava. Um ser incapaz de, por intrínseca educação, alguém menorizar.

Era uma pessoa progressista e virada sempre para o futuro. Sempre a matutar “cenas” de colaborações várias e sempre disposto à desinteressada ajuda. Participante de causas e agregador das mesmas. A sua simpatia a ninguém era indiferente. Ele unia!

Deixa um grande legado, para além da verdadeira Instituição que formou, os Xutos e Pontapés, banda sua, minha e de todos : o legado da BONDADE!

Adeus ZÉ PEDRO. Nós prometemos que não te vamos chorar. Prometemos que te vamos para sempre LEMBRAR!

Até sempre!

A mesma farsa de sempre

por estatuadesal

(João Rodrigues, in Blog Ladrões de Bicicletas, 30/11/2017)

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A chamada candidatura de Mário Centeno à chamada presidência do chamado Eurogrupo não é propriamente uma surpresa. A ser bem-sucedida, trata-se de mais uma “exportação”, mas não desta solução governativa, que obviamente não é exportável, dado que corresponde, e responde, a circunstâncias de tempo e de espaço muito próprias deste nosso rectângulo. E o que se importará? Instabilidade, arrisco.

A ambição de Centeno parece estar em linha com a lógica de circulação de elites periféricas, que logo se imaginam no centro quando chegam ao governo, ou pouco tempo depois, e que tão bom resultado tem dado desde Durão Barroso. Centeno é diferente, dirão. Isto não é sobretudo pessoal. As elites periféricas circulam em função da sua adaptação aos interesses do centro. O centro tem mostrado interesse. E, para ser franco, creio que Centeno nem terá de se adaptar muito.

Trata-se afinal de contas de alguém com credenciais impecavelmente ortodoxas, incluindo uma útil “visão de mercado” das relações laborais, subtítulo de um dos seus livros, ou uma visão do sistema financeiro assente no escrupuloso cumprimento do princípio europeu do pagam, mas não mandam, típico de semicolónia. No fundo, a fidelidade ao Euro e suas regras que se requer. Tudo na ordem a sul, dirá quem manda a norte.

Neste contexto, na óptica de quem está no comando, a pergunta que se impõe é a seguinte: porque não haveria Centeno de ser uma útil e complementar adição à lógica da evolução na continuidade em curso nas instituições formais e informais europeia, permitindo ainda alimentar a ideia zumbi de que agora é que vai ser diferente na Zona Euro e na UE?

A tragédia é o Euro. Esta circulação é só a mesma farsa de sempre.

O bloco central eléctrica

por estatuadesal

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 30/11/2017)

Costa fez do BE o seu Tozé Seguro. Ou o BE fez de Tozé Seguro com o Costa. A "geringonça" já é tão estável que permite que Costa tire o tapete ao BE e o Governo não cai.


O PS votou a favor da nova contribuição sobre renováveis, proposta pelo BE, na sexta-feira, mas na passada segunda-feira avocou a medida a plenário e votou contra. Há quem diga que é melhor dormir sobre o assunto, neste caso acredito que Costa e vários ministros tenham passado a noite acordados a atender telefonemas, alguns em mandarim. EDP is the new DDT.

Costa fez do BE o seu Tozé Seguro. Ou o BE fez de Tozé Seguro com o Costa. A "geringonça" já é tão estável que permite que Costa tire o tapete ao BE e o Governo não cai. A irrevogabilidade de Costa em relação às rendas da EDP não teve consequências. O BE que se cuide, porque isto não é uma boa relação. Parece aquelas senhoras que andavam com o Capitão Roby.

Pelo menos ninguém se demitiu. Relembro que, no tempo de Passos Coelho, o secretário de Estado teve de se demitir só por ter abordado ao de leve este assunto. "Pintilhices", como diria Catroga.

Fazendo um ponto da situação, e estou a tentar fazer esta crónica o mais depressa possível, porque ao preço a que está a electricidade a EDP está a ganhar mais dinheiro com isto do que eu, as pensões aumentaram 10 euros, a EDP ganhou 250 milhões, o que dá 25 euros por português. Ou seja, este ano o PM decidiu dar mais às famílias chinesas do que às portuguesas. Cristas vai acusá-lo de estar a governar para as eleições chinesas. Espera, não pode. Também votou contra. Bem diz ela que está pronta para ser PM.

Em termos ambientais, parece-me bem dar mais 250 milhões à EDP Renováveis, todos sabemos como os chineses querem salvar o mundo da poluição.

Custa-me acreditar que todo este poder da EDP venha do charme do Catroga e da inteligência do Mexia. Deve haver gente no Governo a quem cortaram a luz. Na verdade, este detalhe final e esta cambalhota do PS dizem mais sobre o país do que todo o Orçamento do Estado. É a moral do Orçamento. O Orçamento é do Estado, mas o Estado é de outros. Não podes vencer a EDP, junta-te a ela (depois de saíres do Governo).

A EDP Renováveis teve lucros de 165 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, um aumento de 468% em relação a 2016. Se há alguém que esteja a precisar de ajuda é ela. Ainda bem que vendemos a EDP aos chineses, ou agora não saberíamos o que fazer ao dinheiro. Ainda nos víamos obrigados a aumentar o ordenado mínimo para seiscentos euros.

Para terminar, convém recordar que António Mexia e João Manso Neto, da EDP, e João Faria Conceição e Pedro Furtado, da REN, foram constituídos arguidos aqui há uns tempos. Em causa estão os crimes de corrupção activa, corrupção passiva e participação económica em negócio. Felizmente, para eles, apesar de trabalharem para o governo chinês, não vão ser julgados na China. Imagino que cá também acabe por acontecer o mesmo.


TOP-5

Renováveis

1. Papa aconselhado a não dizer "rohingya" na visita a Myanmar - Nem que se queime numa vela.

2. Infarmed no Porto foi uma "intenção", não uma decisão, garantiu ministro à presidente do Infarmed - E era uma boa intenção, ou seja, lá vai a Infarmed para o Inferno.

3. Portugal está a ficar com clima próximo de Marrocos - Os radicais de direita já disseram que não podemos deixar este clima entrar.

4. Costa pede respeito pelos funcionários públicos - E pelos da EDP.

5. Santana recruta exército de 230 "jotas" para fazerem campanha pelo país - Jotanetes não soa bem. Parece uma doença nos joelhos.

Não sabia destes factos...

Pedro Farela

4 h ·

Não sabia destes factos...

"Em 1959, Afonso Pinto de Magalhães cria a Sonae - Sociedade Nacional de Estratificados, que em 1962 arranca com a produção de termolaminados e em 1965-1970 vai-se concentrar na produção de laminados decorativos, depois da contratação do engenheiro Belmiro de Azevedo.

Em 1982, Pinto de Magalhães oferece 16% da Sonae a Belmiro de Azevedo e, depois da sua morte, Azevedo atinge a maioria do capital após uma longa batalha judicial com a família do antigo presidente. A família Pinto de Magalhães desistiu do processo, dando assim o controlo da Sonae a Belmiro de Azevedo. Belmiro de Azevedo vendeu ações, que estavam na sua carteira pessoal, à Sonae, ficando com liquidez para acorrer a um aumento de capital de 15 milhões de contos que pretendia realizar na Sonae. Esse aumento de capital foi suspenso por duas vezes, por intervenção de acionistas minoritários que o consideraram abuso de poder, com prejuízo para esses mesmos minoritários. A contestação chega da família Pinto de Magalhães, aquela cujo patriarca entregou a gestão da Sonae a Belmiro de Azevedo e lhe doou ações que lhe garantiram uma posição de 16% naquele que acabou por ser o início da tomada de controlo da Sonae.

Depois da morte do banqueiro Afonso Pinto de Magalhães, Belmiro tenta comprar a posição da família, não consegue, mas garante um acordo que lhe dá a paridade no capital social. Depois aconteceu o episódio do aumento de capital, que Belmiro queria realizar a um valor superior à cotação no mercado, o que inibiria os outros acionistas de acorrerem a esse aumento, diz quem conheceu o processo. As relações com a família, em particular com as filhas de Afonso Pinto de Magalhães e com os genros, não eram das melhores. Piorou com a ação em tribunal que acabou por ser resolvida por um acordo entre as partes, em 1992. Belmiro de Azevedo afastava em definitivo a família Pinto de Magalhães da esfera de decisão da Sonae."

O Norte seria ainda mais pobre se não beneficiasse de uma capital como Lisboa?

por CGP

Em termos genéricos, há duas formas principais de acumular poder e concentrar riqueza: pela criação de valor ou pela sua captura. Esta é uma confusão que muitos populistas gostam de fazer quando se trata de avaliar a concentração de riqueza em indivíduos. A concentração de riqueza num qualquer cleptocrata africano não tem o mesmo significado que a concentração de riqueza em Bill Gates ou Belmiro de Azevedo. Até se pode discordar de ambas, mas a verdade é que Bill Gates acumulou riqueza criando algo que fez o mundo melhor e tornou a vida de milhões de pessoas mais fácil. Já um ditador africano fê-lo pela captura de riqueza aos que a iam criando. Mesmo discordando das duas, qualquer pessoa razoável admitirá que os efeitos nos outros de cada uma destas formas de acumulação é bastante diferente. Num dos casos, todos os outros ficaram a ganhar com aquele processo de acumulação de riqueza. No outro, ficaram todos a perder, excepto quem a capturou.

Com as cidades não é muito diferente. A concentração de poder económico numa cidade pode ser favorável a todo o envolvente. Existem economias de aglomeração evidentes, especialmente dentro da mesma indústria. A concentração do sector financeiro em cidades como Nova Iorque e Londres, mesmo criando desigualdades regionais, favorece o resto dos países em que essas cidades estão envolvidas. O mesmo com os clusters tecnológicos de São Francisco ou o cluster de serviços do Dubai. No entanto, a centralização do poder também traz riscos: a de ter todas as decisões tomadas pelo mesmo círculo social, dando incentivos à captura de riqueza em vez da sua criação. Quando os poderes político, financeiro e empresarial estão tão próximos que se confundem, há um evidente incentivo a direccionar energias para a captura de riqueza em vez da sua criação.

Chegados aqui, resta a questão: a centralização de poder e riqueza em Lisboa tem sido favorável ou desfavorável ao país? Houve economias de aglomeração que, mesmo criando desigualdes regionais, favoreceram o país como um todo? Ou, pelo contrário, a centralização contribuiu para um cenário de captura de poder por um grupo social fechado que condena as outras regiões, e o país como um todo, ao empobrecimento. Podíamos discutir esta questão horas a fio, mas há uma forma mais fácil de a entender que é pensar que teria acontecido se Norte e Centro tivessem vivido como país independente (ou seja, sem "beneficiar" das economias de escala de Lisboa). Parece-me evidente que o Reino Unido sem as eficiência criadas por Londres seria bastante mais pobre. O resto dos EUA também beneficia com a centralização dos serviços financeiros em Nova Iorque e da economia digital em Silicon Valley. E as regiões norte e centro? Será que beneficiaram com a concentração em Lisboa.

No meu texto anterior, referi que, se fossem um país independente, as regiões Norte e Centro seriam um dos mais pobres da UE*, atrás de muitas das economias mais pobres dos países de Leste. Quem defende que a centralização em Lisboa beneficia o resto do país, está basicamente a dizer que, sem centralização, Norte e Centro seriam ainda mais pobres do que são hoje. Seriam ainda mais pobres do que países que atravessaram décadas de comunismo. Isso é pouco credível. Tão menos credível quanto ali ao lado há uma região em tudo igual, a Galiza, e cujo PIB per capita é cerca de 21% superior.

galizanorte

A Galiza e as regiões a norte de Lisboa partilham culturas e posições geográficas semelhantes. A diferença principal: a Galiza tem uma autonomia alargada dentro de Espanha, o Norte e Centro de Portugal não.

*Nesse texto usei os dados do PIB per capita por região constantes na Wikipedia. Esses números entretanto foram alterados na fonte original, fazendo com que Norte e Centro, como país independente fossem o 5º e não o 2º país mais pobre da UE28. Os dados do post anterior continuam disponíveis aqui e os dados corrigidos aqui.