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quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

A sério???!!!

por Sérgio Barreto Costa

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Um destes dias, depois de rever o filme Os Homens do Presidente, fiquei algum tempo a reflectir sobre a importância do jornalismo. Não foi uma reflexão muito profunda, teve início durante os créditos finais e terminou três ou quatro minutos depois, quando a minha mulher, já cansada da cara de lorpa com que fico sempre que estou a pensar, me trouxe de volta à sala de estar. Felizmente, tal como em outros aspectos da vida, o que conta é a qualidade e não o tamanho da meditação.

Relembremos a história: Richard Nixon é eleito para um segundo mandato na Casa Branca com uma vitória absolutamente esmagadora e, dois anos depois, perante a total estupefacção dos americanos, é obrigado a resignar ao cargo por causa do escândalo Watergate. Bob Woodward e Carl Bernstein, jornalistas do Washington Post, ficam para a história como os corajosos profissionais que desenvencilham a tramóia e resgatam os eleitores do mundo de inocência em que viviam.

Em Portugal, no passado fim-de-semana, passámos por uma experiência semelhante. Todo um povo, até essa altura mergulhado numa doce ilusão, ficou de boca aberta e em estado de choque quando olhou para a capa do Jornal Sol. Pelos vistos, e contrariamente ao que julgávamos, os órgãos da administração da pátria estão repletos de boys dos partidos políticos; e alguns deles são tão bem remunerados que podemos considerar terem sido presenteados não com aquilo que vulgarmente se designa como um “tacho”, mas com um trem de cozinha completo. Como se isto já não fosse surpresa suficiente, ficamos também a saber que este esquema de distribuição de chicha tenrinha foi inventado por António Costa para exercer com mais facilidade o poder; e que todos os partidos, por serem bem-educados e saberem que não se fala enquanto se mastiga, se mantiveram calados.

Algumas pessoas, para se distraírem, dedicam-se a construir castelos de cartas com os amigos. O nosso primeiro-ministro, por não ser distraído, prefere construir pontes de notas com a oposição.

AS EMPRESAS FORAM MESMO ESQUECIDAS NO ORÇAMENTO?

por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 06/12/2017)

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Durante anos as empresas beneficiaram de uma transferência de rendimentos retirados aos trabalhadores das mais diversas formas, Sem qualquer contrapartida e beneficiando de um ambiente de ditadura gerido por Passos Coelho, as empresas viram descer o IRC compensado pelo aumento do IRS, beneficiaram de muitos dias de trabalho em férias e feriados retirados aos trabalhadores sem que tenha sido feita qualquer compensação.

Nesse tempo o Orçamento era um instrumento do Estado, ninguém via nele uma forma de adar mais a uns do que a outros. Só que as empresas habituaram-se de tal forma a esta generosidade que deram como adquirido que os orçamentos do Estado servem para dar às empresas e ou aos trabalhadores. Agora acham que porque há uma descida do IRS que foi brutalmente aumentado também têm direito a beneficiar da generosidade, sabendo-se que a generosidade feita através dos impostos sobre as empresas só pode ser financiada pelos rendimentos do trabalho.

Isto é, quando as empresas querem que o orçamento também pense nelas estão dizendo que sofrem da síndroma da abstinência e querem que o Estado continue a financiá-las com os impostos sobre os rendimentos do trabalho. Quando Passos Coelho era primeiro-ministro ninguém ouviu o camarada Saraiva queixar-se, agora é sempre a mesma ladainha, que o OE ignorou as empresas. Os senhores afinal já não são liberais como dizem, na hora das benesses estatais defendem uma maior intervenção do Estado, só que tem de ser um intervencionismo mais à moda de Passos Coelho.

Só que o problema do camarada Saraiva não é apenas a sua militância na prática do pecado da gula, o pobre senhor da CIP também revela vistas curtas. Se não fosse isso perceberia que são as empresas que também beneficiam do aumento dos rendimentos dos mais pobres e, em particular, dos que em Portugal trabalham a troco de um salário mínimo que não garante que uma família fique acima do limiar da pobreza.

O camarada Saraiva é mesmo um cegueta, está convencido de que as empresas ganham mais em recessão e em ambiente de crise, graças á generosidade de um qualquer Passos Coelho, do que com crescimento económico, com um sistema financeiro mais estável, com as agências de notação a tornar a dívida soberana mais barata e em paz social. O camarada Saraiva não evoluiu nada ao longo de uma vida, quem quadrado nasce tarde ou nunca se arredonda.

Ou será que o camarada Saraiva sabe mesmo fazer as contas, a forma como enriqueceu parece apontar nesse sentido, e quer ganhar a dobrar? O senhor Saraiva quer ganhar com a estabilidade social, com o reequilíbrio do sistema financeiro e com o aumento do consumo. Mas não quer dar nada, não quer sacrifícios, porque na opinião deste camarada muito original sacrifício é coisa para os trabalhadores, digamos que como já estão habituados não se estragam duas casas de família. Cá por mim que a escola do camarada Saraiva em vez do PCP foi alguma sacristia e gosta particularmente daquela parte do Pai Nosso que reza "venha a mim o vosso reino".

E se fosse consigo?

por vitorcunha

Este programa da SIC, mais uma concessão do regulador à pornografia em canal aberto, representa o mais repugnante dos defeitos das pessoas (ou, para o doutor Costa, a virtude): a sobranceria moral. Ponderando a eterna questão sobre se a arte imita a vida ou a vida imita a arte, admito que nunca assisti a canastrões numa paragem de autocarro a solicitarem que uma mulher artificialmente passiva levantasse a saia, mas, a partir da transmissão do programa, não me admirarei se passar a ver.

A lição que se pode tirar do programa é que há bestas em todo o lado: quer nas paragens de autocarro, quer nas produções das televisões. Até ter visto isto, sei que daria, com medo de me aleijar, duas chapadas aos palermas da paragem de autocarro; agora, além das chapadas, aproveitaria, quando a Conceição Lino me viesse perguntar porque dei as chapadas, para a questionar do motivo pelo qual a SIC não tem apresentadoras feias.

O auge da hipocrisia: A “lista negra” de paraísos fiscais

por Ana Moreno

Foto: dpa

Existirá maior desplante do que apontarmos a alguém o dedo por algo que nós próprios praticamos sem qualquer pejo? Pois a UE prova novamente que é basta detentora de tal capacidade de descaramento hipócrita, exigindo aos outros o que não cumpre.

Assim: O intransparente Grupo Código de Conduta (Fiscalidade das Empresas) do Conselho Europeu decidiu colocar 17 países numa “lista negra” com carimbo de “paraísos fiscais” por não cooperarem no cumprimento dos critérios por ela estabelecidos e outros 47 numa “lista cinzenta” de países que não os cumprem, mas dão sinal de que poderão vir a fazê-lo.

A decisão - com o objectivo de pressionar outros estados a praticarem uma maior transparência fiscal e troca de dados - é tomada segundo critérios de verificação de países terceiros, nomeadamente, transparência fiscal, justiça fiscal e implementação das normas mínimas anti-BEPS da OCDE (erosão da base tributária e transferência de lucros). Ler mais deste artigo

Estamos fritos?

Ladrões de Bicicletas


Posted: 06 Dec 2017 01:54 AM PST

O Negócios continha na segunda-feira várias análises sobre o que se julga saber acerca das ideias de Centeno para “a Europa” (felizmente, e ao contrário do que se depreende da manchete, há muito mais Europa para lá da desta prisão monetária). De todas as informações neste domínio, a novidade, que me pareceu tão relevante como outra coisa qualquer, é que o chamado Presidente do chamado Eurogrupo, de origem algarvia, gosta de cozinhar choquinhos fritos com tinta; um petisco, realmente.
Entretanto, e num plano talvez mais relevante, aproveito para relembrar que a tragédia da esquerda grega foi achar que as relações internacionais num quadro euro-imperialista eram uma espécie de debate entre parceiros em que vencia o melhor argumento. A farsa de parte da esquerda portuguesa é continuar a achar no fundo isso, somando-lhe agora a ilusão de que Centeno é um Cristiano Ronaldo das finanças que joga pelo nosso lado lá fora, como já afiançou Rui Tavares. A metáfora futebolística é de Schauble, lembre-se, e serve bem os propósitos ordoliberais alemães de nos fazer jogar pelas suas regras formais e informais, favorecendo os que estão sempre dispostos a fazê-lo.
No fundo, e mudando de metáfora, acho bastante mais adequada a fórmula de Pacheco Pereira, que tanto incomodou a sabedoria convencional: “será o mesmo que passar a ter como ministro das Finanças um general do exército inimigo”. Este realismo contrasta também com uma parte da esquerda portuguesa, que no fundo já só consegue pensar nos, e com os, termos do adversário. Assim também se explica a hegemonia do neoliberalismo, nas suas várias versões, incluindo a de Centeno. Na boa lógica do Eurogrupo, que Varoufakis acabou por descrever de maneira brutalmente clara depois do golpe europeu e da rendição grega, esta terá força na medida em que estiver alinhada com Merkel e agora com Macron.
A informalidade do Eurogrupo serve o directório das grandes potências. A formalidade das restantes instituições europeias serve as regras políticas que de forma explícita expandem as forças de mercado à custa da soberania democrática de Estados nacionais desprovidos de instrumentos decentes de política, o que é pior para as periferias, claro. Felizmente por cá, como João Ferreira indica, há quem se rebele contra esta máquina bem montada pelos de cima. E não por acaso, são os mesmos que avisaram a tempo para as consequências da economia política de Maastricht para os de baixo. Se este tipo de posição tiver força, talvez não estejamos ainda fritos.