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sábado, 20 de janeiro de 2018

A Internet, uma nova religião

por estatuadesal

(António Guerreiro, in Público, 19/01/2018)

Guerreiro

António Guerreiro

Evgeny Morozov é o autor de um bestseller publicado em 2013, nos Estados Unidos, intitulado To Save Everything, Click Here. Este especialista das implicações políticas e sociais da tecnologia nasceu na Bielorrússia, viveu em Berlim e instalou-se depois nos Estados Unidos. Morozov é um crítico, com muito humor, da tecno-utopia e denuncia no seu livro aquilo que ele classifica como uma “ideologia” com duas feições complementares: uma é o “Internet-centrismo” e outra é o “solucionismo”. A primeira consiste na visão da Internet como um credo para a vida, uma filosofia da existência em que até se perde de vista que se trata de uma ferramenta criada por seres humanos falíveis; a segunda consiste na ideia de que a Internet fornece soluções para tudo e promete o melhoramento incessante. Nesta visão que faz da Internet um centro absoluto, é como se ela, que nasceu há tão pouco tempo, já estivesse fora da história, elevada à condição de um deus supremo. Partindo de um prudente e racional tecno-cepticismo (que não se confunde com uma atitude passadista e reaccionária), Morozov critica a ideologia da transparência e a busca compulsiva da certeza e da perfeição, ao mesmo tempo que nos adverte de que devemos desconfiar das “soluções” com as quais os “problemas” são identificados, já que a faculdade suprema da Internet é a de inventar  os problemas que ela parece resolver. Os promotores da “ideologia” analisada por Morozov projectam na Internet certos valores que eles imaginam que são como uma “natureza” própria dela - valores intrínsecos, em suma, e imperativos de eficiência. Para a ideologia do “Internet-centrismo” o conhecimento é criado através da recolha de dados e da análise algorítmica; e a quantificação minuciosa da existência é o caminho para a autoconsciência. Os médicos são provavelmente a classe profissional que mais se confronta com os malefícios e perigos desta “ideologia”: os doentes chegam à consulta já com o diagnóstico feito, bastou ir à Internet e fazer uma busca pelos sintomas.

Podemos mesmo deduzir desta nova forma cumulativa de conhecimento uma concepção da história que não anda longe de um certo hegelianismo. Deste modo, Silicon Valley, que é o lugar sagrado para onde se voltam, nas suas orações, os devotos do credo de que fala Morozov, pode ser visto como o lugar de realização do Espírito Absoluto, na época em que ele se realiza sob a forma de sociedades tecnológicas. Silicon Valley integra actualmente as cinco empresas mais rentáveis do mundo. E conseguiu este milagre, do qual também fala Morozov: enquanto Wall Street se tonou um alvo do descontentamento público dos cidadãos, símbolo da corrupção institucional e sinónimo de práticas de exploração desenfreada, Silicon Valey é uma verdadeira indústria “Teflon”, essa matéria plástica que repele tudo: por muito grande que seja a quantidade de porcaria que lhe seja lançada, nada lhe fica colado à pele. Os patrões destas empresas têm uma imagem pública que hesita entre dois pólos: são anarcas e heterodoxos ou os máximos representantes da nova ordem? São filantropos ou máquinas tão poderosas de absorção que estão para além de todos os fins que possamos conceber para a riqueza e tornaram-se a medida do incalculável e exemplos do sublime matemático?

A verdade é que as empresas de tecnologia funcionam cada vez mais segundo o modelo do tecno-populismo (do qual, a chamada “economia da partilha” é um exemplo eloquente): apresentam-se como puras e virgens, cultivam uma imagem de benfeitoras. E até se dão ao luxo de nos convencer que têm um efeito de “disrupção” (como se diz hoje) do capitalismo mundial.

6 aldeias de sonho para visitar no Parque Nacional Peneda Gerês


por admin

O Parque Nacional da Peneda Gerês é um dos últimos santuários da Natureza em Portugal e está repleto de pequenos recantos por descobrir. É muito difícil escolher os melhores locais para visitar na Peneda Gerês porque isso depende, sobretudo, daquilo que cada pessoa gosta de ver e visitar. Alguns preferem as deslumbrantes cascatas do Gerês, outros preferem fazer longas caminhas nos vários percursos pedestres sinalizados e outros preferem ver e sentir o dia-a-dia das populações que ainda habitam este maravilhoso recanto. As aldeias do Parque Nacional Peneda Gerês são locais onde pode viajar no tempo e sentir a ligação das suas gentes à terra, à agricultura, aos animais e às estações do ano. Aqui pode, por exemplo, visitar aldeias onde ainda hoje se pratica a transumância, que consiste em movimentar o gado para zonas mais altas das montanhas durante os meses de Verão para aproveitar as pastagens.

Descubra alguns dos tesouros desta área protegida: estas são as melhores aldeias para visitar no Parque Nacional Peneda Gerês.

1. Lindoso

Lindoso, na freguesia com o mesmo nome do concelho de Ponte da Barca, é uma aldeia turística conhecida e visitada por muitas pessoas. O castelo e o conjunto de espigueiros que apresenta aprimoram este núcleo rural, inserido no Parque Nacional da Peneda-Gerês, do qual se vislumbra uma sublime paisagem sobre a albufeira do Lindoso.

Lindoso

Além do castelo, a aldeia do Lindoso apresenta um valioso património edificado, que inclui o pelourinho, espigueiros e eiras comunitárias, o cruzeiro do Castelo, a ponte medieval e os moinhos de água de Parada, calçadas medievais, o castro de Cidadelhe e as igrejas paroquiais de São Mamede, Santa Maria Madalena e Santo André, além do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

2. Val de Poldros

Vale de Poldros ou Val de Poldros ou ainda Santo António de Vale de Poldros é uma jóia que urge preservar. Este povoado situado na Serra da Peneda parece uma aldeia do tempo do Astérix ou dos famosos Hobbits do filme "Senhor dos Anéis". Vale de Poldros é um dos exemplos de brandas no Alto Minho, povoados de montanha apenas habitado durante os meses de Verão. Nos restantes meses, os habitantes desciam à inverneira Riba de Mouro, a sede da freguesia, uma transumância humana que hoje poucos praticam.

Vale de Poldros

Como abrigo para o frio cortante de Val de Poldros, os pastores utilizavam as cardenhas, construções rudimentares de granito, com tecto baixo para preservar o calor, de que ainda ali existe um conjunto muito significativo e possível de preservar. A Branda de Santo António de Vale de Poldros é, pois, um conjunto arquitectónico de inestimável valor patrimonial, constituindo um óptimo exemplo de povoamento de transumância: povoados de montanha para onde os vigias (brandeiros) levavam o gado durante os meses de verão, descendo novamente às suas povoações de origem, as inverneiras, a partir de Setembro.

3. Soajo

O Soajo, uma das mais típicas aldeias portuguesas, pertence ao concelho de Arcos de Valdevez e situa-se numa das vertentes da serra da Peneda, inserida no Parque Nacional da Peneda-Gerês. A aldeia foi vila e sede de concelho entre 1514 e meados do século XIX mas, a sua história, começa muito antes, como o comprovam o Santuário Rupestre do Gião, na serra do Soajo, e as inúmeras antas e mamoas que existem nesta zona.

EspigueirosEspigueiros do Soajo

Possui um grandioso conjunto de espigueiros (classificados como imóvel de interesse público) erigidos sobre uma gigantesca laje granítica e que, ainda hoje, são utilizados para secar o milho, pelas gentes da terra. Enquanto caminha pelas ruas pavimentadas com lajes de granito repare nas casas típicas construídas no mesmo material. Aprecie a Casa da Câmara, a Casa do Enes, a Igreja Paroquial de São Martinho do Soajo, o moinho em ruínas e o pelourinho. Atente na calçada medieval que proporciona uma vista panorâmica da aldeia. As inúmeras casas de turismo aqui existentes nasceram da recuperação de edifícios antigos. São espaços muito bem restaurados que mantiveram a traça tradicional e que proporcionam estadias confortáveis em pleno Parque da Peneda-Gerês.

4. Castro Laboireiro

A aldeia possui ainda um milenar e riquíssimo legado histórico, arqueológico e arquitectónico, designadamente os monumentos megalíticos, o Castelo de Castro Laboreiro – classificado como monumento nacional -, as pontes e igrejas medievais, os fornos comunitários, os moinhos, a actividade agro-pastoril e as singulares brandas, inverneiras e lugares fixos, testemunhos, também aqui, da prática da transumância.

Castro Laboreiro - Luís Borges

As florestas da região são dominadas por carvalhos. Encontram-se também o medronheiro, o azevinho, o azereiro, o pinheiro e o vidoeiro. Os matos arbustivos são característicos de zonas mais elevadas e são constituídos principalmente por tojos, urzes e giestas. As espécies animais com maior representatividade são o javali, o veado, o texugo e a lontra. Na aldeia, os visitantes podem encontrar alojamento resultante da recuperação de casas típicas castrejas e moinhos.

5. Pitões das Júnias

Localizada em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, no bonito concelho de Montalegre, Pitões das Júnias é uma das mais tradicionais e pitorescas aldeias transmontanas, que tem conseguido manter ao longo dos séculos a sua pequena população e o aspecto medieval, de construções em pedra, sendo um dos principais atractivos turísticos desta região nos meses de Verão, contando já com algumas unidades de turismo ecológico.

locais para visitar no interior de PortugalPitões das Júnias

A origem desta aldeia origem confunde-se com a do Mosteiro de Santa Maria das Júnias, localizado num vale isolado, consagrado à Senhora das Unhas que acabou por se tornar Senhora das Júnias. O ano de 1147 será a data provável da fundação do mosteiro das Júnias, como atesta a data gravada no muro da igreja. Sabe-se que a incorporação na importante Ordem de Cister ocorreu no séc. XIII, sendo este o estabelecimento cisterciense mais isolado que se tem conhecimento.

6. Sistelo

A aldeia de Sistelo situa-se no concelho de Arcos de Valdevez, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gêres, junto à nascente do rio Vez. Famosa pelas suas paisagens em socalcos, onde se cultiva o milho e pasta o gado, a aldeia encontra-se muito bem preservada, tendo sido recuperadas as casas típicas de granito, os espigueiros e os lavadouros públicos. O Castelo de Sistelo, ex-líbris da aldeia, merece uma cuidadosa visita: trata-se de um palácio de finais do século XIX onde viveu o Visconde de Sistelo. Deambule pelas ruelas de Sistelo e aprecie a Igreja Paroquial, a Casa do Visconde de Sistelo, a Ponte Romana e o Moinho, a ponte de Sistelo de jusante, a Ermida de Nossa Senhora dos Aflitos e as Capelas de Santo António, de São João Evangelista, da Senhora dos Remédios e da Senhora do Carmo.

SisteloSistelo

Não deixe de subir ao miradouro do Chã da Armada para admirar a magnífica vista panorâmica! Se é apreciador de caminhadas na natureza, percorra o Trilho das Brandas de Sistelo (10 km), que tem início na aldeia, e fique a conhecer as brandas de Rio Covo, em Sistelo, do Alhal, no Padrão, e da Cerradinha, terrenos que, durante o verão, serviam de apoio à pastorícia. O artesanato característico da aldeia é composto pelas meias redondas de lã e pelos aventais de lã. Aproveite e traga algumas peças de recordação!

Os 12 melhores locais para visitar em Santiago de Compostela

por admin

Património da Humanidade desde 1985, há séculos que Santiago de Compostela atrai visitantes e peregrinos do mundo inteiro. É a cidade mais cosmopolita da Galiza, mas toma isto com naturalidade, por isso, logo a partir do primeiro momento sente-se que se faz parte da mesma. Aqui há de tudo. No centro histórico, a Catedral e o Pórtico da Glória. Praças emblemáticas como a do Obradoiro, a Quintana e a d’O Toural. Dezenas de igrejas, conventos e palácios. Românico, gótico e barroco. E também lojas, bares, restaurantes e um bonito Mercado Hortícola a transbordar de produtos frescos.

Além disso, em pleno centro, a Alameda com as suas árvores de camélias e o Passeio da Herradura, com uma estupenda vista da catedral. E nas margens do Sar, a Colexiata de Santa María e as suas impossíveis colunas inclinadas. Santiago é grande. E assim nos faz sentir. O visitante de Santiago não deve perder a oportunidade de subir às coberturas da Catedral. A visita aos telhados do templo era já recomendada no Códex Calixtinus para se poder apreciar a sua esplêndida beleza. O que nós podemos acrescentar é que das mesmas se pode ver grande parte do conjunto histórico e da parte nova da cidade, bem como dos arredores de Santiago, do Monte Pedroso ao do Gozo, tornando-se num miradouro excepcional.

Vista de cima, Santiago pode-se compreender melhor, tornando-se ao mesmo tempo mais verdadeira e mais mítica. Das coberturas, podemos ver a Cruz dos Farrapos, aos pés da qual os peregrinos medievais queimavam as roupas velhas do caminho, numa espécie de ritual purificador. É também um sítio óptimo para apreciar as fases de construção do templo e os diversos estilos arquitectónicos empregues até se conseguir o faustoso resultado final. Se está a pensar fazer a peregrinação até Santiago de Compostela, também pode ver as melhores dicas para fazer o Caminho de Santiago.Descubra os 12 melhores locais para visitar em Santiago de Compostela, na Galiza!

1. Catedral de Santiago de Compostela

No séc. IX, o bispo Teodomiro de Iria Flavia identifica um pequeno templo romano como o túmulo do Apóstolo Santiago. A raiz desta descoberta, o rei Afonso II, o Casto, manda erigir um modesto templo em torno a dita construção pagã. O aumento das peregrinações e uma certa estabilidade depois dos ataques árabes conduzem a uma nova construção que se inicia em 1075, durante o reinado de Afonso VI e sob a direção arcebispal de Diego de Peláez. Inicia-se, assim, a construção da catedral românica que continua durante o arcebispado de Diego Gelmírez e que já não parará até converter-se no grande templo que hoje podemos contemplar.

galizaSantiago de Compostela

A catedral foi construída em silharia de granito coberta com lajes do mesmo material. Construção românica com planta de cruz latina, braço longitudinal e transepto de três naves, deambulatório na cabeceira e tribuna que percorre todo o perímetro; capelas laterais que se dispõem em ordem ao longo de todo o templo e possuem um espaço com individualidade própria, de época românica só se conservam algumas do deambulatório. Naves laterais cobertas com abóbada de aresta, nave central com abóbada cilíndrica peraltada e sustentada por arcos de reforço e trifório com quarto cilíndrico. A fachada da Acibechería é neoclássica (Ventura Rodríguez e Lois Monteagudo). A fachada das Praterías é românica e paradigma da iconografia medieval. A Porta Santa, barroca (1611), só se abre nos anos santos. A fachada do Obradorio (Fernando Casas y Novoa, 1738-1750) é uma combinação de pedra e vidro, destacando-se as grandes janelas do corpo central, das maiores anteriores à Revolução Industrial.

2. Praça do Obradoiro

A Praça do Obradoiro está entre as maiores praças da Galiza e é um símbolo importante de Santiago de Compostela. Os quatro lados da praça são cercados de prédios históricos e cada um deles representa um estilo diferente de arquitectura e uma faceta distinta da vida local. Uma vez que a Catedral de Santiago atrai peregrinos e turistas e há eventos ao ar livre realizados o ano todo, você sempre encontrará actividades nesta praça majestosa. A praça é dominada pela Catedral de Santiago de Compostela, que começou a ser construída no século XI. Admire o seu exuberante exterior barroco e confira o Pórtico de la Gloria, do século XII, do lado de dentro, que é um exemplo excepcional de trabalho romanesco de escultura.

Praça do ObradoiroPraça do Obradoiro

Admire a maravilhosa entrada do século XVI do Colexio de San Xerome, que fica no lado sul da praça. Esta instituição, um importante local de ensino desde o século XVI, foi fundada para estudantes que não tinham dinheiro para frequentar uma universidade. No lado norte da praça, encontre o Hostal dos Reyes Católicos. Fundado no século XVI, esta fabulosa construção renascentista já foi um santuário para os peregrinos que visitavam a Catedral de Santiago de Compostela. Agora a construção faz parte da rede hoteleira espanhola Parador. Não é necessário ser hóspede para visitar o seu interior. No lado oeste da praça, o Palácio de Raxoi é imperdível. Este palácio neoclássico inicialmente era um seminário para futuros padres. Hoje, ele abriga a sede da prefeitura e o governo local. Procure o busto do Arcebispo Bartolomé de Raxoi, com o seu lema gravado: "Viva como se fosse morrer esta noite, trabalhe como se fosse continuar neste mundo para sempre".

3. Museu do Povo Galego

O Museu do Povo Galego (em galego: Museo do Pobo Galego) abriu suas primeiras salas em 1977 no antigo Convento de San Domingos de Bonaval, na cidade de Santiago de Compostela, Galiza, Espanha, no lugar conhecido como Porta do Caminho. A 22 de maio a de 1993, a Junta da Galiza reconheceu o Museu do Povo Galego como "centro sintetizador dos museus e colecções antropológicas da Galiza", considerando que "não somente age de fato como referente e estímulo para a criação de outros museus e colecções de carácter semelhante em toda a Galiza, senão que pode ser considerado como essa cabeceira espiritual e simbólica da rede de museus antropológicos da Galiza".

Museu do Povo GalegoMuseu do Povo Galego

O Museu conta com as seguintes salas permanentes: O Mar, O Campo, Os ofícios, Música, Traje, Habitat e Arquitectura e Sociedade, memória e tradição. Estas oferecem uma visão sintética da sociedade galega tradicional, um compêndio da diversidade da Galiza. Dispõe ainda de espaços de exposição temporária, de um auditório e dos serviços de biblioteca, videoteca, arquivo gráfico e sonoro, administração e departamento de educação e acção cultural. Foi-lhe outorgado em 2008 o Prémio Nacional de Cultura tradicional e de base, um dos prémios que integram os Prémios Nacionais da Cultura Galega.

4. Centro Histórico

Seguimos pela rua Valle Inclán até à de San Roque, onde está situado o antigo Hospital barroco, com um belo pórtico e um sedutor claustro, localizado ao lado da antiga Porta da Pena, pela qual entramos na zona velha. Seguimos pela rua Algalia de Arriba (nesta e nas paralelas situavam-se a maior parte das pensões de estudantes até bem entrado o séc. XX). À altura do n.º 27, detemo-nos em frente de uma torre gótica (s. XIII) de quatro alturas e ar majestoso que dispõe de elementos decorativos nalgumas das suas janelas.

Centro Histórico de Santiago de CompostelaCentro Histórico de Santiago de Compostela

Entramos à esquerda no beco dos Truques e tomamos a rua Algalia de Abaixo, área de animada vida nocturna juntamente com as ruas dos arredores, onde o número 29 surge como a casa mais antiga da cidade, do séc. XI ou XII, boa amostra da arquitectura medieval com paredes salientes. Precisamente em frente encontra-se o paço barroco de Amarante. Passeamos pela Compostela mais tradicional: Entremuros, Rua da Oliveira e Praça dos Irmáns Gómez, para chegar finalmente à porta da Igreja de San Agustín, à qual falta uma torre, derrubada por um raio no séc. XV.

Humanistas britânicos se manifestam contra "discurso de ódio"

Há apenas um ano

Dois anos atrás, dei a conversa do dia Darwin em Londres para a British Humanist Association, que agora mudou seu nome para  Humanists UK . Eu admirava muito o grupo - e ainda assim - porque eles realmente se envolvem em ações reais para promover o humanismo e o secularismo, e eu gosto das pessoas que o dirigem.

Mas eles não são perfeitos, eu acho. Há cinco dias, a organização colocou este desenho na página do Facebook com a legenda: "Karl Popper, membro do conselho consultivo do Humanists UK no século XX, no paradoxo da tolerância". Já ouvi essa citação antes, mas aqui Está em forma de desenho animado, completo com nazistas:

Bem, a mensagem aqui é bastante clara: "Temos que tornar o discurso do ódio ilegal, porque tal discurso, se for avaliado, levará à erosão da sociedade, tornando-o totalitário". Em outras palavras (último painel), "Kick a Nazi ".

Esta é uma mensagem tão errada como uma organização humanista pode transmitir. Primeiro, há os problemas habituais com a definição do discurso que "prega intolerância e perseguição". Quem irá definir isso? E quanto à intolerância aos imigrantes indocumentados? De Donald Trump? De religião? (Lembre-se, muitos países têm leis de blasfêmia proibindo a dissidência da religião.) De sionistas? O que, exatamente, o Humanists UK significa por "intolerância"? Talvez eu escreva para o presidente e pergunte.

Vejamos os países onde há liberdade de expressão. Eles se tornaram ditaduras "intolerantes"? O principal exemplo é os EUA (mesmo o Canadá tem leis de blasfêmia). Você pode mencionar Trump, mas, claro, você não pode empatar a eleição de Trump na política de liberdade de expressão dos EUA. Se você diz isso, então você está dizendo que ele deveria ter sido amordaçado antes das eleições. Mas como podemos fazer isso?

Não, em grande parte, a política norte-americana de liberdade de expressão quase irrestrita, que barre apenas a fala ilegal como o assédio no local de trabalho ou a incitação direta e imediata sobre a violência, funcionou bastante bem. E mesmo a Grã-Bretanha, com seus partidos de direita, é tolerante com a intolerância. E a Grã-Bretanha não vai passar.

Não consigo imaginar uma situação neste mundo, onde dar a um país o tipo de liberdade de expressão que temos nos EUA faria com que ela se tornasse uma ditadura. Isso aconteceria ao Canadá se abandonasse suas leis de blasfêmia não forçadas , ou a Alemanha, onde as leis de blasfêmia e as leis anti-nazistas  são aplicadas? Não é uma chance. E lembre-se, Hitler chegou ao poder, e depois silenciou a liberdade de expressão, porque as pessoas o votaram no poder. Isso sempre pode acontecer em uma democracia, como sabemos das eleições de Trump. Mas eu prefiro falar livre e a possibilidade de as pessoas escolherem imprudentemente do que a censura, o que tira as pessoas do direito de considerar questões.

Se você não concorda comigo, leia as páginas da Wikipedia sobre " leis de blasfêmia " ou " liberdade de expressão por país " e me diga quais são os países melhores porque restringem a fala que é considerada "intolerante".

Você explodiu isso desta vez, Humanistas do Reino Unido!

A máquina de lavar roupa

Ladrões de Bicicletas


Posted: 20 Jan 2018 01:18 AM PST

No debate quinzenal de 9/1/2018, o primeiro-ministro desvalorizou uma pergunta do Bloco de Esquerda sobre a qualidade de emprego que está a ser criado (36'30'') e, baseando-se nos dados do INE, questionou uma análise feita pelo Observatório sobre Crises e Alternativas, em duas publicações (aqui e aqui), com larga projecção mediatica, porque baseada numa "metodologia" que empola os números da precariedade. Disse ele:

"Os números do INE não consentem duas interpretações. 70% dos novos contratos de trabalho são contratos sem termo, não são contratos precários, são contratos de trabalho definitivos. O estudo que cita é um estudo que deve ser analisado, primeiro porque não se refere apenas ao período destes dois anos, mas mais extenso; e segundo pela metodologia própria com que trabalha que é uma metodologia onde não identifica contratos de trabalho, mas trabalhadores [aqui alterei o que o primeiro-ministro disse porque, obviamente, não era isso que ele queria dizer] e em que, por isso, há porventura um empolamento daquilo que são os contratos precários por via da multiplicação de contratos na mesma pessoa. Agora, os dados oficiais, formais, do INE dizem que, nestes dois anos, são 76%. E mais: tem vindo a melhorar porque os dados de 2017 já dizem que 78% do emprego existente em Portugal é sem ser contrato a termo e, portanto, emprego com maior qualidade.

Mas não é inteiramente assim. Vamos por partes.

1) "70% dos novos contratos são contratos sem termo, não são precários, são (...) definitivos": A ideia do primeiro-ministro baseia-se nos valores do INE relativas à criação liquida de emprego.

Fonte: INE, Inquérito ao Emprego

Na verdade, no mandato de 2016/17 foram criados 242 mil novos empregos, dos quais 264 mil postos de trabalho por conta de outrem (TPCO). E destes 193 mil com contratos sem termo (73%), 62 mil com contratos com termo (23%) e 9 mil com outro tipo de contratos (4%). Mas serão eles "definitivos"?
Olhando para a imagem ao lado, dir-se-ia que a criação de postos de trabalho TPCO segue uma evolução contínua e progressivamente positiva. Tudo estaria a correr bem e cada vez melhor. Mas a realidade é bem mais complexa. Para que se tenham criado aqueles postos de trabalho, esse foi o resultado de um fluxo contínuo de pessoas que se deslocaram entre o emprego, o desemprego e a inactividade. As pessoas que conseguem um emprego, não o mantêm definitivamente. O mundo do trabalho de trabalho vive presentemente ciclos contínuos de criação e destruição de postos de trabalho, que geram precariedade e instabilidade social e pessoal, demográfica e migratória, com impactos nas contas públicas, na saúde pública e na estabilidade da Segurança Social. E para esse retrato, os números do INE ilustram bem o que se passa.

Fonte: INE, Inquérito ao Emprego

O gráfico mostra que a criação líquida de empregos é apenas uma pequeníssima parte do volume de emprego criado, que por sua vez é igualmente destruído. Quanto desse emprego eram contratos de trabalho sem termo? Quantos eram postos de trabalho a prazo? Nunca se saberá. Por isso, é um pouco arriscado dizer que a criação de emprego que esta a ser feita é maioritariamente de contratos permanentes. E afirmar categoricamente que os postos de trabalho criados (do ponto de vista líquido) são mesmo "definitivos" é uma aventura oratória que,  a prazo, se arrisca a pagar cara.
2) "O estudo que cita é um estudo (...) em que, por isso, há porventura um empolamento daquilo que são os contratos precários": De que estudo fala o primeiro-ministro? Trata-se como é visível no link acima mencionado de uma análise aos dados do Fundo de Compensação do Trabalho (FCT) e do Fundo de Garantia de Compensação do Trabalho (FGCT), criados em 2013 para pagar metade das indemnizações por despedimento. Esses dados, é verdade, não estão construídos para seguir o trajecto dos trabalhadores assalariados, mas quantificam e qualificam os contratos que foram criados desde finais de 2013, durante o período da retoma. Ou seja, um mesmo trabalhador pode ter vários contratos de trabalho desde 2013 e, por isso, não se trata de uma medida eficaz de criação de emprego. Mas é-o quanto ao tipo de contratos que se estão a criar. Porquê? Porque os FCT/FGCT quantificam o número de contratos que foram criados desde finais de 2013 e que se mantêm vigentes a cada data de avaliação. Assim, em Outubro de 2017, havia 1.282.471 contratos em vigor criados desde finais 2013. E desses, apenas 430 mil eram contratos sem termo. Como é possível que se tenham criado 1,3 milhões de contratos quando - segundo o INE - apenas se criaram, em termos líquidos, 193 mil postos de trabalho? Porque o que se verifica é que a enorme rotação de contratos que está a atingir aquelas pessoas que supostamente estariam "protegidas" com os supostos "contratos definitivos" anteriores à retoma. Ao contrário da teoria oficial (Centeno inclusive defende-a), não há uma real segmentação do mercado de trabalho, entre "protegidos" e "desprotegidos": todos estão desprotegidos como esses números revelam. O que se verifica no mundo do Trabalho é uma imensa mortandade entre os contratos assinados. Veja-se os dados do FCT/FGCT relativos a Abril de 2017:

Fonte: FCT/FGCT

Como é visível, este tipo de evolução cíclica assemelha-se muito ao ritmo de passagem entre emprego, desemprego e inactividade estimados pelo INE. E caso houvesse dados personalizados por trabalhador dos FCT/FGCT, muito provavelmente se teria uma avaliação condizente.
3) "Os números do INE não consentem duas interpretações": Como se viu, os números do INE não têm apenas uma interpretação; apenas tem uma interpretação se o analista olhar apenas para um dos números do INE. Mas assim nunca se fará uma análise realista do que se passa. Se o primeiro-ministro olhar apenas para a criação líquida de emprego, tem razões para ficar contente; se olhar para a criação bruta de emprego, verificará que o mundo é muito diferente. Claro que é possível verificar que o ritmo de criação e destruição de postos de trabalho está a abrandar face aos anos anteriores e isso é positivo, mas está longe de ser um mundo pacificado. E mais: os números do INE, quando têm em consideração a criação e destruição de postos de trabalho, assemelham-se muito dos dados da metodologia que - erradamente - o primeiro-ministro desvalorizou.
4) Os números têm "vindo a melhorar porque os dados de 2017 já dizem que 78% do emprego existente em Portugal é sem ser contrato a termo".Será que é assim? Mesmo olhando para a estrutura do emprego que está a ser criado do ponto de vista líquido, verifica-se que 2017 pode não ter sido um ano que prolongou uma tendência positiva.

Fonte: INE, Inquérito ao Emprego

Fonte: INE, Inquérito ao Emprego

Em 2016, o peso dos contratos sem termo foi de 79.1% face aos postos  TPCO criados. E em 2017 foi menor: 69,5%. Porquê? Talvez porque o ritmo de criação de postos com contrato a prazo tenha sido anormalmente baixo (2,6%). Porquê? Não se sabe, talvez porque houve decisões de investimento adiadas pelo pânico gerado por um governo de esquerda. A Direita terá assustado bem os empresários? Não se sabe. O certo é que o peso dos contratos de trabalho sem termo gerados pela retoma, está abaixo do valor da estrutura do emprego quando analisados do ponto de vista do stock de emprego, e não apenas dos criados durante 2016/17. Veja-se o gráfico ao lado para verificar que, do ponto de vista da estrutura do emprego, nada tem mudado e o peso dos contratos sem termo está acima dos gerados pela retoma 77-78% contra ao redor dos 70%). E estamos a falar de dados do INE...

5) Os números têm vindo a mostrar que o emprego gerado é "emprego com maior qualidade". Como se viu, esta afirmação é um pouco ousada, mas toda a gente sabe que os debates no Parlamento não primam pela capacidade de análise das estruturas. O combate de trincheira apenas gera mais defesa de trincheira... Na realidade, o emprego gerado não só é mais precário como essa precariedade tem gerado condições contratuais mais recuadas. A nível salarial, revela-se que os contratos permanentes - seguindo os dados do FCT/FGCT - têm vindo a perder terreno na sua remuneração média, o que é condizente com a progressiva penetração em ofensiva dos novos contratos naquilo que se dizia ser o quadro protegido dos trabalhadores com contratos sem termo. Um turbilhão que vai se alasstrando a cada vez mais trabalhadores, contribuindo para a redução salarial, tal como era objectivo da desvalorização salarial defendida pelo PSD/CDS e a troika. Se os valores dos anos de 2013 e 2014 poderão ser relativizados (tratava-se do início da base de dados), já em 2016 essa não é a situação.

Fonte: FCT/FGCT

Mais recentemente os valores dos contratos sem termo têm registado uma possível muito sensível melhoria, mas nada que se compare com a verificada nos contratos a prazo (mais de 100 euros). Em termos gerais, os dados contabilizados pelo Ministério do Trabalho, a partir dos descontos feitos para Segurança Social, revelam que, não só o valor médios dos salários globais pouco tem subido (uns 20 euros em vários anos), como do ponto de vista real (descontada a inflação), eles estão mesmo estagnados.

Ou seja, apesar da retoma económica e da subida do valor criado, a participação dos salários nesse criado deve estar a reduzir, contribuindo para maiores desigualdades.
Algo que não é de estranhar, uma vez que este governo manteve, grosso modo, todo o edifício legal do mundo laboral, não se podendo esperar que gere resultados muito diferentes. O mundo do Trabalho tem vivido - e continua a viver - em algo parecido como uma máquina de lavar roupa, usando a expressão feliz de José Castro Caldas para uma realidade insustentável no futuro.
Se o governo socialista quer ter resultados diferentes, terá de mudar esse edifício. Aqui, sim, é que não há lugar a duas interpretações.