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quinta-feira, 1 de março de 2018

A essência do capitalismo selvagem

CRÓNICA

José Miguel Pinto dos SantosSeguir

1/3/2018, 0:07

No fundo, no fundo, o capitalismo “selvagem” é um sistema de cooperação e ajuda mútua entre pessoas livres. E que trás mais prosperidade que qualquer tipo de socialismo, selvagem ou pseudocivilizado

Depois de se fazer um grande negócio tem-se duas opções. Uma é começar a “gozar a vida”, como o homem da parábola que disse “ó alma, tens muitos bens em depósito para largos anos, descansa, come, bebe, regala-te” (Lc 12, 19). A outra é ilustrada pela opção que Kinokuniya Bunzaemon 紀伊国屋文左衛門 (1669—1734) tomou depois da sua viagem cheia de perigos:

“Apesar de o vento ser ainda forte na baía, comparado com o oceano revolto de onde vinham, o mar interior parecia-lhes, como se costuma dizer, ‘liso como um soalho’. Pouco depois do nascer do sol chegaram à frente de Edo e lançaram ancora não muito longe do estuário do Sumida-gawa.

“Por aquela altura, todos os mercadores de frutas, esperavam impacientemente a chegada dos navios com laranjas provenientes da região de Kishū, devido à iminência do Festival dos Foles. Nem o vento, nem as vagas, nem a tempestade, nada os impedia cada manhã de acreditarem que seria nesse mesmo dia que os navios chegariam. Mas o único navio que não desapontou as suas expectativas foi o Navio dos Mortos. Quando foi conhecida a sua chegada, a alegria dos grossistas e armazenistas e merceeiros foi indescritível e rapidamente se começou a entoar pelas ruas e vielas da grande cidade o poema que imortalizou esta grande aventura:

“Sobre o mar tenebroso é avistada
Uma vela, uma vela esbranquiçada.
De onde virá?
Da longínqua costa de Kishū
Trás precioso tesouro,
Laranjas d’ouro.” 

“Como um formigueiro cobre uma laranja aberta, assim os mercadores no seu entusiasmo cobriram o navio, cada um oferecendo mais que o outro por cada caixa. O resultado foi Bunzaemon encaixar nesse dia de mais de cinquenta mil ryō.

“É comum, e apenas natural, que depois de um grande ganho ou vitória uma pessoa anseie por sossego e descanso de modo a usufruir do seu lucro e espólio. É o que se chama ‘gozar tranquilamente da vida.’ Mas não era assim com Bunzaemon. Depois disto ele pensou: ‘A uma batalha segue-se outra. Devido ao persistente vento de oeste que sopra desde há várias semanas nenhum navio terá conseguido navegar de Edo para Osaka. Com certeza que lá haverá escassez de salmão salgado, enquanto aqui a oferta é tão abundante que se pode comprar baratíssimo. Quanto não ganhará o primeiro que consiga levar até lá um carregamento?’

“Quando propôs aos seus homens esta nova ventura todos aceitaram acompanhá-lo. Assim Bunzaemon comprou imediatamente um carregamento de salmão salgado, embarcou-o e pôs-se à espera de vento favorável. Não teve de esperar muito. Ao fim de  poucos dias o vento mudou de repente e uma forte brisa começou a soprar de leste. Aproveitando a primeira aragem o Navio dos Mortos foi o primeiro a sair do porto, enquanto os outros mercadores, menos despachados, ou ainda estavam a embarcar os fardos ou ainda se dirigiam para o mercado para adquirir a mercancia. Após uma viagem de vários dias o Yūrei-maru entrou no porto de Osaka, e também ali Bunzaemon conseguiu um lucro de muitas dezenas de milhar de ryō, de modo que que, quando regressou a Kumano, vinha senhor de uma inaudita soma acima dos cem mil ryō.

“Como Bunzaemon considerava que tinha podido fazer as suas viagens apenas devido aos esforços do capitão Kichidayu remunerou-o principescamente com mil ryō em ouro. A tripulação também foi remunerada tão generosamente que nenhum dos homens podia acreditar na sua boa fortuna.

“Em Kumano, a notícia da sua chegada a Edo tinha sido recebida com muita alegria pelos homens da Daikokuya e por todos os seus vizinhos. Quando Bunzaemon regressou a bordo do Yūrei-maru toda a cidade o foi acolher e oferecer os seus parabéns. A partir desse dia o Mestre da Daikokuya deixou de o acolher como aprendiz, mas passou a tratá-lo como convidado.

“Depois de contar ao seu benfeitor as suas transações e aventuras, Bunzaemon foi ter com os mercadores a quem tinha comprado as laranjas que tinha vendido em Edo e disse-lhes: ‘Agradeço-vos me terdes vendido tão barato as laranjas há uns dias atrás. Obtive um grande ganho com o carregamento que levei até Edo, e não gostaria de ser o único a lucrar enquanto todos vós perdestes dinheiro. Assim gostaria de vos dar agora o dobro do que então vos paguei.’

“Todos ficaram agradecidos com esta não esperada liberalidade, e a sua fama espalhou-se por toda a região de Kii. A partir desse dia não houve quem não conhecesse a sua generosidade e quando Bunzaemon queria investir nalgum produto todas as portas se lhe abriam e ninguém lhe punha dificuldades nas negociações, transações e contratos.

“Pouco tempo depois, Bunzaemon decidiu abandonar a pequena cidade de Kumano e ir viver para a grande cidade de Edo e tornar famoso o seu nome em todo o Império negociando em larga escala. Assim determinado foi-se despedir dos grandes mercadores de Kumano e pediu-lhes que lhe dessem o direito exclusivo de lhes comprar todas as laranjas e madeiras que vendessem para fora da província. Todos eles, sujeitos a uma pesada dívida de gratidão, simpatia e obrigação para com o jovem magnata, aceitaram a proposta de boa vontade e prometeram-lhe manter os seus armazéns em Edo bem abastecidos.

“Assim sucedeu que Bunzaemon se foi estabelecer na freguesia de Hachobori em Edo, quando tinha dezanove anos de idade. Chamou à sua empresa Kinokuniya e tornou-se o maior comerciante de laranjas e de madeira de todo o Japão e todos os dias a sua prosperidade crescia, de modo que ficou a ser conhecido, até hoje, como o Príncipe dos Mercadores.”

É um dos mitos do marxismo que o sucesso nos negócios e a acumulação de fortunas se obtém com exploração, não com cooperação. Bunzaemon sabia melhor: sucesso momentâneo não é verdadeiro sucesso, e para ser continuado em iterações futuras necessita da boa vontade e cooperação dos outros players. Para conseguir essa boa vontade é necessário algo mais do que se ser justo e honesto nas contratações, transações e negócios: é preciso ser-se liberal com as pessoas. No fundo, no fundo, o capitalismo “selvagem” é um sistema de cooperação e ajuda mútua entre pessoas livres. E que beneficia mais toda a sociedade e trás mais prosperidade que qualquer tipo de socialismo, selvagem ou pseudocivilizado.

Professor de Finanças, AESE Business School

Costa diz que bons resultados económicos não são obra do acaso, mas das políticas

GOVERNO

28/2/2018, 16:15

António Costa afirmou que os bons resultados económicos do país "não são obra do acaso", mas sim das boas políticas do Governo. O primeiro-ministro visitou a Bolsa de Turismo de Lisboa.

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Autor
  • Agência Lusa
O primeiro-ministro, António Costa, considerou esta quarta-feira que os “bons resultados” da economia e desemprego agora conhecidos “não são obra do acaso”, mas do trabalho dos agentes económicos e fruto das boas políticas do Governo, caminho que promete prosseguir.

Esta manhã, enquanto António Costa fazia uma visita à BTL — Bolsa de Turismo de Lisboa, o INE confirmou que a economia portuguesa cresceu 2,7% em 2017 e aproxima-se do valor que tinha em 2010, tendo ainda revisto em baixa a taxa de desemprego de dezembro para os 8,0%.

“A sustentabilidade da descida do desemprego depende do crescimento da economia e, por isso, é absolutamente essencial que nós prossigamos as boas políticas que nos têm permitido ter estes bons resultados. Estes bons resultados não são obra do acaso”, disse aos jornalistas no final da visita à BTL.

De acordo com o primeiro-ministro, estes bons resultados “são obra certamente do trabalho dos agentes económicos, mas são também fruto das boas políticas” que o Governo tem seguido.

“Se estamos a ter bons resultados com as boas políticas que temos seguido, o que temos a fazer é muito simples: é não arrepiar caminho, é prosseguir o caminho que iniciámos, continuarmos a ter boas políticas para continuarmos a ter bons resultados”, sintetizou.

Estas políticas, detalhou António Costa, “têm assegurado a estabilidade macroeconómica, que tem permitido ao país sair do procedimento por défice excessivo, ver melhorado o seu rating internacional e ver diminuído o juro da dívida”.

“Mas, que tem permitido também melhorar o rendimento das famílias e as condições de investimento por parte dos empresários. É esse esforço e essas políticas que nós temos que prosseguir para continuar a crescer economicamente”, insistiu.

O chefe do executivo reiterou ainda uma ideia expressa na sua mensagem de Natal do ano passado, defendendo que não chega haver mais empregos uma vez que é preciso ter “empregos com mais qualidade, maior estabilidade e mais bem remunerados”.

“O que tem permitido sustentar o crescimento tem sido, sobretudo, as exportações e o investimento privado”, respondeu aos jornalistas. No entanto, Portugal está “há quase 20 anos, consecutivamente, a aumentar ano após ano as exportações e, portanto, cada ano é um salto mais difícil, é uma vitória mais importante”.

“Temos que continuar a apostar no crescimento com base nas exportações, agora para que isso aconteça é fundamental que esse investimento na inovação exista”, defendeu.

António Costa exemplificou que a cada concurso para candidaturas aos programas dos fundos comunitários são batidos “novos recordes de intenções de investimento”, o que indica que “o fluxo de investimento ao longo deste ano vai continuar a aumentar”.

“O inimigo da verdade não é a mentira, é o mito”

LIBERALISMO

Diogo Prates

HÁ 21 MINUTOS

O caminho não será fácil, mas com o recente aproximar de posições entre PSD e PS abriu-se uma janela de oportunidade para aqueles que querem uma alternativa real à “geringonça”, mais liberal.

O título deste artigo é na verdade uma citação de John Fitzgerald Kennedy, que fica mais completo do seguinte modo: “O inimigo da verdade não é a mentira, é o mito, o teimoso apego aos chavões dos nossos avós, o conforto da opinião sem o desconforto do pensamento”. JFK pronunciou esta frase quando pretendia implementar nos Estados Unidos da América um programa de cortes fiscais que ia contra aquilo que era a opinião dominante da sociedade americana da altura.

Lembrei-me desta frase quando participei numa tertúlia organizada pelo Instituto Mises Portugal no dia 22 de Fevereiro na Universidade Católica Portuguesa que teve como principal orador o Professor André Azevedo Alves (AAA). Neste evento encontrava-se o líder da Iniciativa Liberal (IL), que usou da palavra para dar conta da sua ambição de que a Iniciativa Liberal possa um dia participar de uma solução de governo, mas ressalvando que provavelmente não será sob a sua liderança. André Azevedo Alves, por seu lado, mostrou-se bastante céptico, notando que as pessoas votam de forma muito conservadora, arriscando pouco, muitas vezes influenciados pelos pais e avós, como se nota olhando para a composição do nosso parlamento ao longo dos anos.

Ninguém discordará de AAA. De facto, com a excepção recente do PAN, e mesmo apesar de todo o descrédito da classe política, não é fácil a uma força politica nova entrar no parlamento português. Do que necessitam então os liberais para ganharem a confiança do número suficiente de portugueses?

Em Portugal criou-se o mito, alimentado sobretudo pela esquerda e por alguma comunicação social, que ser liberal é ser inimigo dos mais pobres e desfavorecidos, é querer acabar com o SNS e a escola pública, é ser egoísta e pouco solidário. Só que, tal como diz JFK, “o inimigo da verdade não é a mentira, é o mito”, pelo que cabe aos liberais, quer aos que se revêm na IL como os que estão noutros partidos, acabar com este mito. Precisam de mostrar as vantagens, sobretudo para os mais pobres, de uma escola pública exigente que funcione a par com escolas privadas, que o seu acesso seja facilitado pela livre escolha dos pais, de uma ADSE que não seja um exclusivo dos funcionários públicos mas sim uma opção para todos os portugueses, para que estes tenham um leque mais variado de opções quando recorrem a serviços de saúde, de um corte de impostos para famílias e empresas que promova o investimento e a criação de riqueza e emprego.

O caminho não será fácil, mas com o recente aproximar de posições entre PSD e PS abriu-se uma janela de oportunidade para aqueles que querem uma alternativa real à “geringonça”. CDS e novas forças políticas têm aqui o seu momento, cabe-lhes abrirem-se mais à sociedade e não falarem em circuito-fechado. Devem sobretudo não teorizar demasiado e responder aos anseios da população, abordando temas como a natalidade, a segurança social, a carga fiscal, a saúde e aeducação. Estes são temas que seguramente interessam à maioria das pessoas que não estão disponíveis para lerem programas partidários mas querem saber quais são as alternativas que existem ao presente estado de coisas.

A reforma do Estado Social é inevitável. Com o envelhecimento da população e com o avanço da medicina os custos com a saúde e pensões serão insuportáveis, como insuportáveis serão também os impostos que serão lançados para tentar disfarçar o óbvio. Por isso os contributos de novas forças políticas terão aqui um papel a desempenhar e uma oportunidade para convencerem os portugueses das vantagens das suas propostas, assim as tenham e as saibam comunicar.

RTP - O Essencial da manhã

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1 Março, 2018

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Alexandre David
Jornalista

Alexandre David

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Bom dia

Ontem à noite, um homem foi arrastado por uma onda na praia da Formosa, no Funchal, e está dado como desaparecido. Uma informação dada à agência Lusa pelo comandante da Zona Marítima da Madeira. Paulo Silva Ribeiro disse que
foram logo accionados os meios da Marinha e da Polícia Marítima mas acrescentou que a noite está muito escura e o mar alteroso, o que torna impossível proceder às buscas. As buscas vão ser retomadas esta manhã.

A Madeira com “aviso vermelho”. O último ponto de situação feito pela Protecção Civil Regional dá conta de 34 ocorrências sem danos materiais a assinalar. As viagens do navio Lobo Marinho que liga Madeira e Porto Santo estão canceladas.

O Simplex no turismo. O governo estreia esta quinta-feira, na BTL, um portal do Turismo e uma plataforma informativa para quem investe no sector. É também dia de reunião com empresários para fazer balanço de um projecto que pretende simplificar o licenciamento de unidades turísticas em várias localidades.

Vai ser difícil formar um Governo em Itália, depois de contados os votos no próximo domingo. É a previsão do Professor de Ciência Política da Universidade de Florença, Alessandro Chiaramonte. Ouvido por Raquel Morão Lopes, a enviada da Antena 1 a Itália diz que “os novos partidos – ou aqueles que souberam reinventar-se – são os partidos que mais estão em sintonia com o eleitorado e isso vai ter reflexo nas urnas!”

A conversa não serviu para grande coisa. Os professores saíram da reunião de ontem no ministério da Educação a garantir que as greves marcadas para este mês continuam de pé. É a resposta à proposta do Governo que diz que vai ter em conta 2 anos e 10 meses para efeitos de contagem de tempo de serviço dos professores em relação a todo o período em que a carreira esteve congelada. A Fenprof diz que é um insulto, a secretária de estado da Educação diz que não é uma proposta fechada.

Para já, o Desportivo de Aves parte em vantagem,mas ainda falta a segunda mão, no terreno do Caldas. A equipa da casa venceu por 1-0 na primeira mão da meia-final da Taça de Portugal. O único golo da partida foi de penalti, marcado por Nildo Petrolina, aos 32 minutos. Antes disso já o Aves tinha falhado um outro penalti. O treinador do Caldas diz que tudo está em aberto.

A realidade versus a grande burocracia

por helenafmatos

José Pedro Anacoreta: De acordo com o artigo do Jornal de Negócios, o Governo refere que apenas estão abrangidos pelo Banco de Horas Individual cerca de 0,9% dos trabalhadores, correspondendo a pouco mais de 23 mil pessoas em todo o país (dados de 2016). Uma análise superficial levar-nos-ia a concluir que o Banco de Horas por acordo individual tem pouca expressão. Acontece que, qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento da realidade, percebe que este indicador tem de estar errado. Ninguém sabe qual o número real, mas será seguramente várias vezes superior àquele que é indicado pelo Governo.
Qual é a origem do erro?
Estes dados resultam da informação fornecida nos mapas de quadros de pessoal, que consistem em informação prestada pelas empresas de forma administrativa através do preenchimento de extensos formulários. No caso específico dos instrumentos de flexibilidade, estamos a falar de uma questão com 12 opções de resposta distintas. No entanto, esta questão não permite respostas múltiplas. Se um trabalhador estiver abrangido por dois ou mais regimes de flexibilidade, o que é o mais comum, a empresa só pode optar por uma resposta. Normalmente, as empresas optam pela primeira opção aplicável. Como o banco de horas está em sétimo lugar, normalmente as empresas só preenchem este campo quando nenhum dos anteriores é aplicável. Prova disso é o facto de a primeira opção merecer mais de metade das respostas. E assim se constrói um indicador que não indica coisa alguma!