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sexta-feira, 23 de março de 2018

Luz verde para a Baysanto

por Ana Moreno

União Europeia aprovou a fusão entre Bayer e Monsanto - Mais um passo a caminho do “admirável mundo novo”.

75% do mercado global de sementes é já controlado por apenas 10 empresas, outras tantas dominam 95% do mercado global de pesticidas. Com a megafusão, vai emergir uma corporação que, a nível mundial, dominará 30% do mercado de sementes e 24% do de pesticidas.

A Baysanto vai influenciar grande parte do que comemos, o modo como cultivamos os alimentos e os medicamentos que tomamos. Às mãos deste monstro agro-químico espera-nos maior redução da biodiversidade, mais pesticidas, organismos geneticamente modificados e monoculturas, aumento dos preços e perda de acesso a sementes, maior sujeição dos pequenos agricultores à prepotência e concorrência dos tubarões....

Mas com que direito andamos a dar cabo disto tudo como se não houvesse amanhã???

As activas e interventivas gentes de Barcelona

As activas e interventivas gentes de Barcelona

22/03/2018

by Ana Moreno

A beleza e riqueza de Barcelona não estão apenas na sua história, nos seus monumentos, nas suas tradições. Não menos, estão nas suas gentes organizadas e frontais.

Espetáculos culturais de bairro é dia sim, dia sim. Ontem um musical sobre os anos 60 no Centro Moral e Cultural, hoje, no Casal de Barri, um coro de mulheres activistas de todas as idades, que se assumem como solidárias, feministas, generosas, sonhadoras, revolucionárias. Um dos temas que cantaram, da cantautora argentina Liliana Felipe, mostra bem esse espírito aguerrido:

Nós, as histéricas, somos o máximo

Nós, as histéricas, somos o máximo

Perdidas, voyeristas, sedutoras compulsivas,

Finas divas atiradas para o divã de Freud… e de Lacan.

Ai, Segismundo, quanta pretensão!

Infantilóide, malsão, o orgasmo clitoriano

Ai, Segismundo, quanta pretensão!

O orgasmo clitoriano escapa-te da mão.

Ai, Segismundo, de tão macho já não encaixas,

Não me digas que o prazer é só masturbação.

Quanto ao resto, correspondo às tuas teorias:

Sou cheia de manias, sonhos, fobias e obsessões

Só a inveja do teu pénis e o divã dos teus eunucos

Gerem as minhas compulsivas pulsões.

Como me agride este mundo, Segismundo!

Somos governadas pela paralisia, a inveja, a neurose…

Como sofremos pelos pobres, como a miséria nos lixa!

Aí sim, o que menos importa é a histeria.

Nós, as histéricas, somos o máximo

Nós, as histéricas, somos o máximo…

Solidárias, fabulosas, planetárias, amorosas,

Superegos moderados, cunnilingus para todas, à vontade.

Ai, Segismundo, quanta pretensão!

Infantilóide, malsão, o orgasmo clitoriano.

Ai, Segismundo, quanta “vaginalidade”!

O orgasmo clitoriano escapa-te da mão.

Ai Segismundo! De tão macho já não sei

Se pôr ponto final ou pôr-lhe… ponto G!

A verdadeira política – não a politiquice da maioria dos políticos – faz-se de base e assume múltiplas manifestações: Castellers, “comidas de traje” (almoços de bairro na rua, para os quais cada pessoa traz alguma comida), centros culturais autogeridos em prédios ocupados ou disponibilizados pelo município, cabeçudos e correfocs, hortas de bairro, decisões da população sobre o uso de espaços livres, cooperativas de consumo autogeridas, iniciativas temáticas de base social…

É assim que a intervenção social e o associativismo se aprendem de pequenino, nos bairros de Barcelona.

Só agora?

por estatuadesal

(Por Zé de Baião, in Facebook, 22/03/2018)

so_agora3

Os meus pobres avós diziam-me que os ricos rezavam à mesa pelos pobres, mas não distribuíam nada com eles.
Só ganhou vergonha agora Sr. PR?
Só percebeu agora que há portugueses pobres?
Não teve vergonha quando os seus familiares e amigos apoiavam a miséria imposta pelos Governos de Salazar, atirando os nossos pais e avós para a miséria, sem condições de ir à escola, sem se poderem expressar e queixar da miséria e ainda a perderem a paz e a vida na guerra?
Não teve vergonha?
Não lhe pesa na consciência alguma co-responsabilidade?

Não conhecia a realidade do país enquanto passou tantos anos a comentar nas TVs para chegar a PR e enquanto assistia à degradação humana, social e económica no tempo dos governos do seu partido e no tempo do anterior Governo PSD/CDS? Fizeram melhor? Porque é que não sentiu vergonha? 

Pois eu que sou um simples cidadão aldeão e técnico de acção social citadino, que há muito sentiu e percebeu a pobreza, até porque, tal como a esmagadora maioria dos portugueses, não precisamos de chegar a PR nem ao aproximar de eleições, para perceber que a pobreza existe há muito e que é necessário preocupar-nos com ela.
Talvez, se tivesse sentido vergonha no tempo do senhor governante a quem escrevia umas cartas de simpatia, muito provavelmente o país e os portugueses estariam hoje bem melhores. Mas contribuíram para o acentuar da pobreza e para um atraso de décadas.
É este o sentimento de um filho e neto de gente que passou muitas dificuldades e até fome, trabalhando no duro e de sol a sol, para o senhor e outros que tais terem tudo, à custa de uma esmagadora maioria que há décadas tem quase nada.
Comece por dar o exemplo e limite o seu salário e reformas chorudas à média daquilo que recebem os portugueses. Ou então passe um só mês com a reforma ou salário mínimo e pode ser que perceba e faça perceber à classe política e designadamente à classe política de direita, que já vem do tempo dos governos de Salazar e dos seus familiares, o que é e como se sente a pobreza.
Se viverem e sentirem a pobreza aos mais diversos níveis, talvez se esforcem por a resolver.
Lamento que só tenha percebido e sentido agora, quando os portugueses já perceberam, ou deveriam perceber, que já anda a pensar nas próximas eleições.

A HORA DOS MEDÍOCRES

por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 22/03/2018)

mediocres

Esgotado o filão da homossexualidade, Sócrates foi massacrado por causa de uma cadeira do curso ou porque assinou projetos de construção civil de qualidade estética muito duvidosa. Foram dedicados milhares de páginas e notícias na televisão ao tema, como se esse fosse o maior problema do país; até o MP investigou a importante cadeira de inglês técnico.

Agora, anos depois, sabemos que os que acabaram com as Novas Oportunidades e que tanto se indignaram com o curso e o caráter de Sócrates são promovidos a catedráticos, conseguem cursos à pressa e depois de andarem 11 anos a tirar um curso com média de 11 numa universidade da segunda divisão afirmam-se investigadores em grandes universidades americanas.

Há um surto se sarampo, e porque muita gente se esqueceu ou recusou a vacina há duas ou mais décadas atrás, a doença regista algumas dezenas de casos, em consequência de um surto ocorrido na Europa, onde se registam milhares de doentes. De imediato três valorosos deputados se apressam a questionar o governo e até o Montenegro acusa o governo de responsabilidades, como se algum governo pudesse ser acusado.

Os nossos briosos jornalistas andam a vasculhar no seu espólio fotográfico, em busca de fotografias da bancada presidencial do Estádio da Luz, identificando personalidades públicas que certamente beneficiaram de convites, já que para essa bancada não são vendidos bilhetes. À falta de problemas, revistas como a Visão andam a vender exemplares à custa deste expediente miserável.

À conta de uma falsa notícia que alguém plantou na comunicação social o MP desencadeia uma mega operação de buscas no ministério das Finanças, lançando-se a notícia de que o recém-eleito presidente do Eurogrupo ter-se-ia corrompido a troco de um bilhete de futebol.

São quatro exemplos da mesquinhez, da falta de grandeza e da miséria humana de algumas personagens da justiça, da política e do jornalismo que estão promovendo o apodrecimento da democracia portuguesa, sucedendo na vida política um espetáculo tão deprimente e degradante como aquele a que assistimos no mundo do futebol. Não admira que alguém se gabe perante um Presidente do seu recorde de três filhos em três meses, dois dos quais concebidos com a ajuda do express mail.

Tal como na bola se tentam ganhar títulos a qualquer custo e de preferência fora do campo, na política quase não se discutem os problemas e usam-se desde os doentes com sarampo às vítimas de incêndios e manobras de agit prop. Vivemos um momento de pouca grandeza, com os medíocres a tomar conta do país.

quinta-feira, 22 de março de 2018

Como se fabricam católicos

por estatuadesal

(Por Carlos Espereança, 22/03/2018)

catolicos

Nos primeiros dias de vida os pais entregam os neófitos ao padre, que lhes mergulha a fronha em água benta, limpando-os do pecado original quando ainda precisam de quem lhes mude a fralda.

Depois, crescem no temor a Deus, que rejubila se comem a sopa e se entristece quando adormecem nas orações.

Aos seis anos de idade, com muitas ave-marias e padre-nossos rezados, para que o Deus cruel e apocalíptico os livre das perpétuas chamas e do azeite fervente do Inferno, onde só há choro e ranger de dentes, as pias catequistas ensinam-lhes os dez mandamentos da Santa Madre Igreja e os do único Deus verdadeiro, privando-os de tempos livres.

Depois do exame de aptidão vem a confissão. Os pecados – ofensas feitas a Deus –, são ditos ao padre, punidos com penitência adequada e perdoados para poderem saborear o corpo de Cristo numa fina rodela de pão ázimo (sem fermento nem sal).

Com a missa semanal e a desobriga pela Páscoa da Ressurreição, como tarifa mínima, seguida de nova rodela mística, os cristãos ficam aptos para novos pecados que serão perdoados de novo e, assim, sucessivamente, vão mantendo viva a fé na vida eterna.

A comunhão solene é um momento alto, com a família a alambazar-se em hidratos de carbono. Por pudor, a ICAR deixou de os vestir de cruzados. A confirmação é imposta por um bispo que exibe o anelão de ametista e o faz oscular pelas crianças, indiferente aos micróbios que passa de boca em boca. O sinal da cruz é desenhado a óleo na testa do cristão pelo dedo do prelado ricamente paramentado e refastelado num cadeirão.

Nesta altura já as crianças de dez anos sabem que os judeus mataram Cristo, que a Santa ICAR está já tão cheia de santos, mártires e bem-aventurados como o metropolitano de Lisboa de passageiros, em horas de ponta.

A xenofobia e o racismo vêm na Antigo Testamento. O dever do cristão é converter os que estão errados (os outros) à verdadeira fé, a que vem de Roma através de breves, bulas e encíclicas. O proselitismo é um dever e quem não quiser salvar-se deve ser obrigado.

Os créus querem impor, como destino, o Paraíso, e os ateus opõem-se à obrigatoriedade.