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terça-feira, 3 de abril de 2018

Oracular, caro Watson!

03/04/2018 by Bruno Santos

Tem-se manifestado notável a vocação oracular da Direcção Geral de Saúde, facto que abre todo um novo mundo de possibilidades ao já amplo universo do conhecimento científico e recupera a esperança nos contributos que o esoterismo pode trazer às sociedades contemporâneas, estruturas complexas das quais vão emergindo problemas também mais complexos, como foi o mais recente surto dessa temível doença chamada Sarampo.

Graça Freitas, Directora Geral da Saúde, afirmou hoje numa audição pública ocorrida no Parlamento, a pedido do PCP e do PS, que “os cientistas estudam agora a possibilidade de vir a ser necessária uma terceira dose contra o vírus [do Sarampo]”. A responsável adiantou que tal conclusão científica “ainda não está escrita em lado nenhum”, mas que “acredita” que vai acontecer, porque “há muita gente” a estudar essa possibilidade.

O rigor científico das ilações premonitórias da Dra. Graça Freitas não deve ser confundido com as crenças não científicas da “gente” que “acredita” nos efeitos terapêuticos da oração, ou na importância de fluxos electromagnéticos com origem em zonas profundas do cérebro sobre o fenómeno da telecinesia. Está á vista – e toda a gente sabe – que são realidades totalmente distintas, pois radicam em pressupostos e tradições epistemológicas que não podiam estar mais distantes do ponto de vista da credibilidade e do rigor metodológico.

Aliás, o oráculo científico – e cheio de estudos – da Direcção Geral de Saúde, já produziu adivinhações cujo grau de exactidão supera o de qualquer relojoeiro suíço, como foi o caso – para dar apenas um – da Nota de Imprensa sobre o Sarampo – lembrando que pode ser uma doença grave – emitida pela DGS no dia 23 de Fevereiro de 2018, cerca de duas semanas antes do primeiro Comunicado, da mesma DGS, a dar conta da “notificação” dos primeiros 2 casos da doença e a declarar a existência de um “surto” (14 de Março de 2018).

Oracular, caro Watson.

Centum Cellas: provavelmente, o mais misterioso dos monumentos de Portugal

Novo artigo em VortexMag


por admin

Sabia que a Torre de Centum Cellas, perto de Belmonte, foi durante anos a fio considerado um dos mais enigmáticos monumentos portugueses? A Torre de Centum Cellas é um espaço único em toda a Península Ibérica com uma monumentalidade invulgar. Com a sua forma paralelepipédica, os seus silhares bem aparelhados e a sua altura assinalável, o edifício tem sido alvo de muitas elucubrações especulativas; desde ser construído por Incas até à construção por judeus sefarditas (os mesmos que construíram Petra na Jordânia) e isto em plena Beira Interior!

Torre de Centum CellasTorre de Centum Cellas

Mas quase sempre os estudiosos associaram a Torre de Centum Cellas a uma edificação romana o que se veio a comprovar pelas escavações efectuadas por Helena Frade.

A Estrutura da Torre de Centum Cellas

A construção em cantaria granítica tem secção rectangular de 11,5 m por 8,5 m com 12 m de altura. Com três pisos e encontra-se hoje sem cobertura. No andar térreo rasgam-se vãos rectangulares, que deveriam ter sido portas, e pequenas aberturas rectangulares, de difícil interpretação.

Torre de Centum CellasTorre de Centum Cellas

Hoje sabe-se que não foi uma mansio (estação de muda), um praetorium (o ponto nevrálgico de um acampamento militar romano) ou um mutatio (albergaria); já no século XII ela aparece na documentação com o curioso nome de cento celas, ou seja cem celas o que mostra que para além da torre poderiam existir mais edificações devidamente organizadas

O que terá sido então a Torre de Centum Cellas?

Temos a certeza terá sido um importante espaço de uma villa romana, rematando-a a sudoeste a ladear e a servir um grande pátio central. Até sabemos quem possivelmente a construiu –Lucius Caecelius (não ressoa aqui o topónimo Centum Cellas?) no século I d.C. rico negociante de estanho. A parte da villa escavada inclui a residência do proprietário e algumas dispensas e armazéns; terão existido umas termas e o alojamento para escravos, que poderá ter sido perdido com a construção da estrada ou de uma vinha contígua.

Torre de Centum CellasTorre de Centum Cellas

Temos ainda hoje, vestígios de uma sala com abside e larário ou altar de veneração dos deuses Lares protectores da casa. A torre possuía um piso térreo, eventualmente destinadas a funções de armazenamento, com aberturas amplas, e um piso superior, onde se situava uma sala única, rodeada por uma varanda com cobertura em madeira e telha assente sobre colunas da ordem toscana, coberto por um telhado de duas águas, possuía em dois dos seus lados uma cimalha em frontão triangular, o que lhe conferia ainda maior monumentalidade e beleza.

Torre de Centum Cellas

Todo o conjunto sofreu um incêndio no século III d. C., que poderão ter originado modificações diversas, especialmente na área da villa menos resistente. Na Alta Idade Média a torre foi aproveitada e prolongada, construindo-se um terceiro piso com fachada regular também de boa silharia com pedras de pequena dimensão.

Torre de Centum CellasTorre de Centum Cellas

É possível que no período medieval a torre de Centum Cellas tenha tido algum papel na consolidação e defesa da fronteira oriental do reino de Portugal com o de Leão; tendo inclusivamente recebido foral de Sancho I em 1188, onde surge referenciada como Centuncelli. Em 1198 a sede do concelho foi transferida para Belmonte.

Qual a função da Torre de Centum Cellas?

A geometria vitruviana presente não deixa aqui de impressionar pela sua robustez, verticalidade, equilíbrio esfíngico, fazendo de facto relembrar monumentos distantes do próximo Oriente ou da América Latina de gosto Inca ou Azteca. Durante o domínio romano a torre poderia ter sido uma utilitária - torre de vigia e/ou simples salão nobre de estar, marca estética e de poder.

Torre de Centum CellasTorre de Centum Cellas

Hipótese mais remota é estar ligada a um espaço sagrado uma vez que a sua orientação é peculiar - com os ângulos dos seus cantos dirigidos para os pontos cardeais. Quer isto dizer que nos períodos de solstício as aberturas maiores deixavam entrar a luz com maior generosidade, o que parece concordar com o seu insólito ar de observatório astronómico.

Lenda de São Cornélio de Centum Cellas

Segundo a tradição a torre seria uma prisão, tendo sido aqui que esteve encarcerado São Cornélio, que morreu em 253 d.C., devendo-se o nome do espaço as cem celas que nele existiriam. É certo que esta lenda não passa de fantasia, no entanto, o espaço foi cristianizado na Idade Média com uma pequena capela, de que ainda existem as fundações e que desapareceu no século XVII, dedicada a São Cornélio.

Torre de Centum CellasTorre de Centum Cellas (Bruno Cruz)

Também se diz que quem fez a Torre de Centum Cellas foi uma mulher com um filho às costas. Também se dizia que na Torre de Centum Cellas havia um bezerro de ouro escondido.

E o mistério dissipou-se na Torre de Centum Cellas?

Apesar do seu ar enigmático ter sido em parte dissipado pela voragem da Ciência este monumento inédito na Ibéria, pela sua estranheza, pela sua dimensão e monumentalidade - e porque não dizer também - pela sua beleza, merece a nossa visita.

“Muito mais de 90% dos impostos são pagos voluntariamente”

Novo artigo em BLASFÉMIAS


“Muito mais de 90% dos impostos são pagos voluntariamente”

por Telmo Azevedo Fernandes

imposto é roubo

Numa entrevista à RTP, a directora-geral da Autoridade Tributária quer-nos tomar por parvos. Diz ela que os impostos são pagos voluntariamente. Helena Borges dá como exemplo a baixa percentagem de incumprimento como prova da sua tese. Esta senhora é cínica ao ponto gozar com a cara de quem, sob a ameaça da força e tendo como perspectiva enfrentar um inferno legal e um quadro de inversão do ónus da prova opta por pagar sem resistência aquilo que lhe mandam.

Esta funcionária do estado tem ainda o desplante de dizer que o propósito da AT é "fazer com que cada um dos que cumpre seja nosso aliado na forma como observa os incumpridores". Está instituída a nova bufaria fascista!

Se isto não bastasse, esta personagem adverte o indivíduo de que está sob vigilância apertada e que nem vale a pena resistir à AT pois o Fisco dispõe de informação e bases de dados suficientes para "antecipar o comportamento das pessoas e para sinalizar capacidade de detecção do incumprimento".

Meu caros leitores: não sois seres autónomos nem indivíduos, sois cidadãos contribuintes!

Três notas sobre as notas de Marques Mendes

Opinião

Mariana Mortágua *

Hoje às 00:07

Marques Mendes está sempre bem informado. O comentador adivinha humores e antecipa eventos em primeira mão. Fê-lo várias vezes com a Banca, libertando informações sobre as ações do Banco de Portugal, ou pormenores das negociações de venda do Novo Banco. No seu último comentário, à falta de novidade, Marques Mendes optou por uma comparação entre o Novo Banco (NB) e a Caixa Geral de Depósitos (CGD) que, além de parcial, é simplista.

Marques Mendes começa por naturalizar o facto de, quatro anos depois, o banco ainda registar enormes prejuízos e diz que essas perdas não foram reconhecidas antes porque o Fundo de Resolução não tinha dinheiro. Tudo certo. Mas esquece que o balanço do NB foi escolhido e "limpo" pelo Banco de Portugal em 2014, e que o seu perímetro foi já ajustado depois disso. Esquece também que a única coisa que mudou no Fundo de Resolução foi a disposição do Governo para injetar o dinheiro para compensar todas as perdas que o anterior Governo não quis assumir para não beliscar a "saída limpa".

O comentador defendeu a tese que o dinheiro injetado pelo Estado no Fundo de Resolução para recapitalizar o NB é só um empréstimo, que será pago pelos bancos no futuro. Bem diferente, afirma, da recapitalização a fundo perdido da CGD. Há de facto uma diferença entre os casos, mas não é essa. Todos os bancos, inclusive a CGD, pagam uma contribuição obrigatória para o Fundo de Resolução, independentemente dos compromissos deste para com o Estado. Dizer que esta contribuição transforma os 5000 milhões já injetados no NB num empréstimo é o mesmo que dizer que o dinheiro público gasto a construir uma escola é um empréstimo aos trabalhadores, pago com o seu IRS futuro. Os euros injetados na CGD são tão públicos como os do NB, a diferença que importa é que no primeiro caso o banco é nosso, tal como os seus lucros passados e futuros. Já o NB foi entregue a um fundo abutre que verá o seu investimento compensado com dinheiro dos contribuintes. Marques Mendes não pode criticar a operação porque está contra a única solução que, não estando isenta de custos, protegia o interesse público: a não venda do NB.

Finalmente, as imparidades. É óbvio que parte das perdas na Banca resulta de favores e gestão danosa. Mas essas práticas, que têm de ser investigadas e punidas, são muito mais transversais do que Marques Mendes quer fazer parecer, e o PSD, tal como o CDS e o PS, sempre conviveu bem com elas, pelo menos até o escândalo rebentar. Outra parte decorre da combinação de um modelo assente no crédito, sobretudo à construção, e uma crise induzida pela austeridade que levou milhares de empresas à falência.

Querer fazer dos problemas da Banca apenas um caso de Polícia é uma forma de fugir ao debate que interessa, sobre a natureza, propriedade e real utilidade do sistema bancário.

* Deputada do BE

Uns "totós"

Opinião

António José Gouveia *

Hoje às 00:09

O Novo Banco é, há muito, liderado pela máxima: "se deves 5 mil euros ao banco é um problema teu, mas se deves 5 milhões é um problema do banco". O prejuízo do Novo Banco disparou o ano passado para quase 1,4 mil milhões de euros, as maiores perdas registadas desde a constituição, em agosto de 2014, depois da queda do BES. Um resultado negativo alicerçado por imparidades (dinheiro que o banco nunca mais vai ver) de cerca de 2 mil milhões de euros, dos quais a maior parte foram empréstimos contratados pelo Banco Espírito Santo e que o Novo Banco sabe que não será ressarcido.

O presidente do banco, António Ramalho, explicou que destes 2 mil milhões, 1,2 mil milhões de euros se referem a perdas de dinheiro emprestado e que nunca foi pago. Ficou por explicar se, desses empréstimos, fazem parte os maiores devedores da instituição financeira, quase todos muito próximos de Ricardo Salgado e com o qual beneficiaram quase de crédito ilimitado, como o Grupo Mello, que detém as autoestradas da Brisa e vários hospitais privados, que em 2016 tinham uma dívida de 945 milhões de euros.

Ou da Ongoing, o grupo de Nuno Vasconcellos que foi arrastado na queda da Portugal Telecom com uma dívida que ascendia a 606 milhões. Mas há mais: grupo Moniz da Maia (603 milhões), Martifer (560 milhões) ou a Promovalor, detida pelo presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, com 466 milhões de euros de dívida, fazem também parte desta lista. Com dívidas a rondar os 300 milhões de euros encontrava-se o empresário madeirense Joe Berardo e as construtoras Prebuild, Grupo Lena e Obriverca.

É evidente que o Novo Banco, ao não divulgar os "donos" das imparidades, pode sempre alegar o sigilo bancário, embora exista aqui uma questão ética importante. Quem vai assumir estes milhares de milhões de dívidas é o Fundo de Resolução, que em último caso serão os portugueses a pagar.

Claro que tudo isto decorre do acordo entre Governo, Banco de Portugal e Lone Star na venda do Novo Banco ao fundo norte-americano. A exposição dos contribuintes ao Novo Banco e BES é atualmente de uns astronómicos 11 mil milhões de euros. Dava para pagar os gastos de saúde de todos os portugueses durante um ano e ainda sobrava dinheiro. Para bem da imagem do setor, que seja a Banca, através do Fundo de Resolução, a pagar os empréstimos do Estado. Ou os contribuintes serão uns "totós".

* Editor-executivo