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quinta-feira, 12 de abril de 2018

Centeno vai 2.460 milhões além do défice acordado com a esquerda

HÁ 10 MINUTOS

Pressão à esquerda não demoveu Centeno e a meta de défice de 0,7% para este ano mantém-se. Centeno já reduziu o défice em 1700 milhões além do acordado e quer chegar aos 2.460 milhões já este ano.

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

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A tensão entre o Governo e os parceiros à esquerda está ao rubro com a redução acima do acordado no défice orçamental deste ano que o Governo planeia fazer. Apesar das palavras do Bloco de Esquerda, o Governo não vai recuar no Programa de Estabilidade que apresenta esta sexta-feira e, a concretizar-se o plano de Mário Centeno, desde que tomou posse o Governo terá cortado o défice em mais 2460 milhões de euros que o acordado com os parceiros à esquerda.

“O ministro das Finanças vai, contrariamente e orgulhosamente, além das metas do défice”. As palavras são do deputado do Bloco de Esquerda Moisés Ferreira, que numa longa audição de Mário Centeno no Parlamento sobre as dívidas dos hospitais, teceu duras palavras contra a estratégia orçamental de Mário Centeno, e acusou-o de prejudicar o Serviço Nacional de Saúde, numa alusão às palavras de Pedro Passos Coelho de que iria além da troika, e que Mário Centeno tantas vezes tem usado contra a direita no seu discurso político.

A discordância não é de agora. Tanto o Bloco de Esquerda como o PCP têm vindo a apresentar as suas reclamações publicamente a Mário Centeno por, em primeiro lugar, ceder a Bruxelas e acordar défices mais baixos com base em regras que não concordam, e, em segundo lugar, pelo que consideram ser o estrangulamento dos serviços através das cativações e outras poupanças forçadas para atingir metas mais baixas.

O primeiro embate aconteceu quando António Costa e Mário Centeno começaram a celebrar a sua primeira meta do défice, que não só seria atingida – um ponto de honra e uma farpa à direita -, como até seria melhor que o esperado. O Bloco e o PCP insurgiram-se contra o discurso, argumentando que não havia razão para ir além e reduzir mais o défice, e que essa decisão tinha custos nos serviços públicos e na população.

Os dois partidos, que têm negociado orçamento após orçamento as suas bandeiras com o Governo – reversão nos cortes salariais, aumentos extraordinários nas pensões redução do IRS e descongelamento das carreiras, por exemplo -, têm visto muitos dos seus pedidos serem negados por Mário Centeno com o argumento da falta de fundos e a necessidade de cumprir as metas.

A redução maior que a esperada não caiu da melhor forma, mas a situação ganhou outra dimensão no verão do ano passado quando ficou conhecido o valor recorde de cativações que Mário Centeno usou para conseguir atingir a meta do défice. Foram 942,7 milhões de euros dos orçamentos dos Ministérios que não foram usados, por ordem do Ministério das Finanças. Estas não foram as únicas poupanças aplicadas, mas foram as mais visíveis.

Depois dos incêndios do verão, que expuseram dificuldades operacionais na resposta tanto aos incêndios como no período posterior, do episódio do roubo de armas em Tancos, com os dados conhecidos que demonstravam um travão na despesa que ficou acordada com o Parlamento para a Administração Interna e para a Defesa, os dois partidos apertaram o cerco.

A discussão do orçamento deste ano já trouxe uma escalada na retórica. O Bloco e o PCP exigiram o fim das cativações em várias áreas, como é o caso da Saúde (onde legalmente as cativações podem ser, e têm sido, aplicadas desde que não no Serviço Nacional de Saúde), e conseguiram proteger algumas delas, mas não ao ponto que desejavam.

A tensão voltou a crescer este ano quando Mário Centeno apresentou um défice (excluindo o tratamento contabilístico da injeção de capitais públicos na Caixa Geral de Depósitos) de 0,92%, muito abaixo dos 1,6% do PIB acordados no Orçamento para 2017 e já com os avisos dos partidos que era preciso respeitar o que estava acordado, ou até dos 1,4% do PIB da meta revista apresentada em abril no Programa de Estabilidade. Face ao acordado no Orçamento, mesmo com a economia a crescer significativamente mais que o esperado, o défice foi menor em 1.253 milhões de euros.

Mesmo no primeiro ano da governação de António Costa e Mário Centeno, no qual as exigências da Comissão Europeia e a necessidade de sair do Procedimento dos Défices Excessivos tiveram consequências mais concretas, o esforço além do necessário foi menor. Nesse ano, com a economia a crescer menos que o previsto, o esforço além do acordado no Parlamento com os partidos foi de 460 milhões de euros.

O caldo terá entornado, especialmente com o Bloco de Esquerda, quando Mário Centeno apresentou a revisão do cenário macroeconómico para este ano. Nele, o ministro diz que espera que a economia cresça mais, mas que ainda assim, e mesmo com o resultado do ano passado, o défice terá de ser menor em duas décimas que o que aconteceu no ano passado, quatro décimas do PIB menor que o acordado no Orçamento. A diferença é de quase 750 milhões de euros.

O défice nunca esteve tão baixo, mas o resultado melhor que o esperado no ano passado não elimina as obrigações que Portugal tem com a União Europeia e o défice estrutural tem de continuar a descer até atingir o Objetivo de Médio Prazo, que é de um saldo estrutural (ou seja, sem contar com medidas temporárias ou efeitos do ciclo económico que afetem temporariamente as contas públicas) positivo na ordem dos 0,25% do PIB.

Esta tem sido a justificação apresentada por Mário Centeno aos parceiros para a necessidade de rever as metas para baixo quando o défice já é significativamente melhor do que aquele que se antecipava há apenas seis meses.

Por isso mesmo, o Governo não recuou nas metas que decidiu apresentar no Programa de Estabilidade, apesar da pressão pública aplicada pelo Bloco de Esquerda, e manterá uma meta de 0,7% do PIB para este ano, uma melhoria que ainda assim implica uma redução do défice (excluindo juros) inferior a 170 milhões de euros.

A concretizar-se neste montante, Mário Centeno terá ido além do acordado com os partidos (e que Bruxelas tem aprovado todos os anos quando analisa o Orçamento) na redução do défice em 2460 milhões de euros.

Défice zero antes do fim da legislatura?

O cenário poderia parecer pouco plausível no início da atual legislatura, mas a ambição de Mário Centeno de atingir um saldo equilibrado pode ser concretizada mais cedo.

No Programa de Estabilidade aprovado esta quinta-feira em Conselho de Ministros o Governo prevê que o saldo positivo nas contas públicas chegue apenas em 2020, um ano após o fim da atual legislatura, mas o défice previsto para o próximo ano ronda os 300 milhões de euros, ou 0,2% do PIB.

Neste mesmo cenário, o Governo está a contar com uma virtual estabilização dos custos do Estado com a dívida pública e uma execução dos planos à risca, algo que não tem acontecido nos últimos anos.

A redução dos custos com juros, em parte devido à melhoria económica e da perceção dos investidores sobre a economia portuguesa e também devido à estratégia de pagar antecipadamente o empréstimo do Fundo Monetário Internacional a Portugal, tem sido uma das maiores contribuições para a redução do défice acima do esperado desde que o atual Governo tomou posse.

No ano passado, por exemplo, Mário Centeno diz que o Estado teve que pagar menos 430 milhões de euros em juros da dívida pública do que o previsto no Orçamento do Estado para 2017 e que essa foi uma das maiores contribuições para a redução do défice, a par de receitas fiscais acima do esperado (receitas essas que voltaram a ser revistas em alta no Programa de Estabilidade para o ano em curso). O mesmo havia acontecido em 2016.

Também a execução do orçamento tem sido melhor que o esperado, com a não concretização de despesa prevista em cada um dos Ministérios tal como previsto no Orçamento. Em 2017, por exemplo, houve poupanças adicionais na ordem dos 370 milhões de euros só em áreas como o Trabalho e Segurança Social, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, na Defesa e com os Órgãos de Soberania.

Se o padrão se mantiver este ano e no próximo, o saldo equilibrado pode chegar em ano de eleições, apesar do desagrado já manifestado pelos parceiros à esquerda no Parlamento.

Governo não recua no défice, mas tenta acalmar esquerda com lista de investimentos prioritários

HÁ 4 MINUTOS

Programa de Estabilidade terá lista de investimentos, com compromisso de montantes e calendário para execução. Em causa a áreas sociais mais afetadas pelos cortes, como a saúde.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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As últimas semanas foram de tensão crescente à esquerda, sobretudo do Bloco, que não quer ver no Programa de Estabilidade um défice abaixo do orçamentado em outubro, quando vários serviços públicos se queixam de falta de meios para funcionarem de forma eficiente ou até de serviços parados. O tom de crispação entre a “geringonça” aumentou publicamente, mas nem por isso o Governo cedeu nas metas. A resposta virá por outro lado, no Programa de Estabilidade entregue esta sexta-feira no Parlamento: uma lista de investimentos estruturantes, com montantes específicos para cada obra e um calendário de execução concreto.

O Programa foi aprovado esta quinta-feira, numa reunião do Conselho de Ministros que demorou sete horas e onde o documento que o Governo tem de entregar em Bruxelas até ao final deste mês ocupou a maior parte do tempo. No Programa que Mário Centeno apresenta esta sexta, vai constar uma lista de investimentos considerados prioritários pelo Governo que pretende dar respostas concretas em áreas sectoriais com um compromisso temporal para a execução assumido e escrito, segundo apurou o Observador. Uma das áreas é a da Saúde, por exemplo, e ainda esta semana o ministro das Finanças foi confrontado no Parlamento com a falta de condições na ala pediátrica do Hospital de São João, no Porto.

Na lista estarão investimentos que já foram anunciados, alguns deles já com a obra adjudicada ou em fase de concurso público, como é o caso do novo Hospital Lisboa-Oriental com que o Governo prevê gastar mais de 400 milhões de euros até 2023. Na área da Saúde estão outras obras, como a do Hospital de Évora (mais de 150 milhões de investimento até 2021) ou o do Seixal (mais de 50 milhões até 2022). A novidade maior é mesmo o compromisso com um prazo de execução e um montante para investimento, em projetos que a esquerda tem insistido. No caso do Hospital de Évora, ainda no início do ano o PCP exigiu que a obra avançasse até ao final deste legislatura. E no BE, Catarina Martins fez recentemente a mesma exigência em relação ao Hospital do Seixal, por exemplo.

A falência dos serviços públicos é uma das críticas centrais que a esquerda à esquerda do PS faz ao Governo liderado por António Costa. BE e PCP sempre disseram não comungarem das metas orçamentais assumidas pelo país junto de Bruxelas. Os dois partidos consideram que as exigências comunitárias cortam qualquer ambição nacional de investimento nos serviços públicos, sobretudo na saúde e na educação. A posição fez até o Bloco de Esquerda vir ameaçar, esta semana, com “instabilidade” na maioria parlamentar, caso o Governo apertasse mesmo no Programa de Estabilidade a meta de défice para este ano, em relação ao que estava no Orçamento do Estado. A diferença é de quatro décimas: 0,7% que vêm no Programa de Estabilidade, contra os 1,1% de défice que ficaram no Orçamento que a esquerda aprovou em outubro.

Um esticar de corda que pode resultar num projeto de resolução sobre o Programa de Estabilidade, que o Bloco de Esquerda não tem excluído nestes últimos dias de escalada de críticas contra Mário Centeno. O que isso significa? Que o Bloco tomaria uma posição pública, através de uma iniciativa parlamentar que tem o valor de recomendação ao Governo, contra o Programa de Estabilidade ou de, pelo menos, parte dele. Consequência prática? Nula, porque mesmo que fosse aprovado (e seria muito improvável), não seria mais do que uma recomendação. Valor político? Significativo, já que o Bloco nunca o fez, relativamente a um Programa de Estabilidade, desde que a “geringonça” é “geringonça”. É sempre importante lembrar que, em 2011, foi assim que caiu um Governo, o segundo de José Sócrates, embora o clima político seja hoje bem diferente do de um país à beira do resgate financeiro.

No PS e no Governo esta subida de tom do Bloco de Esquerda é visto como um efeito direto do clima eleitoral que já se começa a preparar. “O Bloco tem de dar sinal para a parte do eleitorado mais à esquerda”, diz um destacado socialista convencido de que os partidos que apoiam o Governo no Parlamento estão cientes de que provocar agora uma crise política não era do interesse de nenhuma das partes. Esta quinta-feira, confrontado pelos jornalistas com a ameaça da esquerda, o líder parlamentar socialista disse que tanto os comunistas como os bloquistas conhecem as consequências de um deslize nas contas públicas, fruto de um afrouxar da consolidação orçamental. No dia anterior tinha falado de “entusiasmo juvenil” dos dois partidos e avisava: “Não se pode dar um passo maior do que a perna”.

No lado do PCP, o Programa de Estabilidade é desvalorizado, o que explica a posição mais recuada dos últimos dias face ao Bloco de Esquerda. Os comunistas nunca fariam um ultimato, já que a sua posição é de discordância total de uma programação orçamental espartilhada por ditames comunitários. Ou seja, as críticas deste parceiro do Governo centram-se na forma, nem chegam ao conteúdo propriamente dito, ainda que todos estejam em uníssono quanto a queixas sobre o que consideram ser a  falência do Estado e, neste ponto, o alvo central é Mário Centeno.

A posição do ministro das Finanças começou a ser cercada de forma mais vincada pelo Bloco de Esquerda nas últimas semanas, com figuras de topo da bancada parlamentar a aproveitarem uma frase do ministro da Sáude para instalarem nas redes sociais uma frente de oposição ao ministro Centeno. Adalberto Campos Fernandes disse “somos todos Centeno”, garantindo solidariedade orçamental com o responsável pelas Finanças, e vários deputados do Bloco logo inauguraram um hashtag #nãosomostodoscenteno. Foi utilizado no Twitter para marcar posição face a polémicas como a do apoio à artes, por exemplo, mas não só.


Nem só na esquerda esta fricção existe. Dentro do Governo, os ministros das áreas setoriais manifestam, dentro de portas, uma incompreensão semelhante à dos parceiros parlamentares. Nomeadamente em matéria de ajustamento orçamental. E isto quando exigem reforço de dotação para as áreas que têm a cargo e veem as Finanças não aproveitarem a folga orçamental deixada, por exemplo, no último ano: o défice foi de 0,92% (sem contar com a capitalização da Caixa Geral de Depósitos), quando a meta prevista no Programa de Estabilidade entregue em abril de 2017 era 1,4%. A preocupação foi manifestada publicamente pelo porta-voz do PS, João Galamba, que veio dizer que “em 2018 e 2019, o país dispensa brilharetes”, ou seja, a postura orçamental do Governo deve atender ao investimento público e não em ir além das metas estabelecidas com Bruxelas.

Governo não recua na meta do défice mas a redução é diminuta

A necessidade de cumprir as regras orçamentais europeias, que impõe que o défice estrutural continue a descer até Portugal atingir um saldo estrutural positivo na ordem dos 0,25% do PIB, tem sido a justificação dada pelo Governo aos partidos à esquerda para a necessidade de apertar mais o cinto.

No ano passado, o défice ficou significativamente abaixo do previsto no Orçamento do Estado (1,6% do PIB) e até da meta revista no Programa de Estabilidade (1,4%).

A redução do défice – excluindo o impacto do aumento de capital da Caixa Geral de Depósitos – foi de tal ordem que o défice ficou pelos 0,92% do PIB, menos do que o previsto para este ano, 1,1% do PIB.

Depois do bom resultado de 2017, e devido às obrigações de Bruxelas, o Governo indicou aos partidos que iria rever a meta de 0,9% para 0,7%, mas esta redução de duas décimas não caiu bem à esquerda.

No entanto, a redução prevista no défice que foi comunicada aos partidos é residual: de apenas 295,6 milhões de euros face ao ano anterior, sendo que mais de 40% desta redução deve-se a uma queda nos custos que o Governo está a prever ter com os juros da dívida pública. Sem contas com estes encargos, a redução do défice seria de apenas 168,2 milhões de euros, num cenário em que o Governo está a contar com um aumento na receita fiscal acima do previsto, mesmo com a redução negociada no IRS.

Bloomberg compara António Costa a Tony Blair

HÁ 27 MINUTOS

António Costa esteve numa visita oficial de dois dias a Londres e a Bloomberg refere-se ao primeiro-ministro como numa espécie de "causa célebre para a esquerda Keynesiana da Europa".

António Costa com Theresa May durante a visita oficial do Londres

WILL OLIVER/EPA

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António Costa esteve numa visita oficial de dois dias a Londres e a imprensa britânica esteve de olhos postos no primeiro-ministro português. A Bloomberg descreve-o como sendo “um líder clássico de centro-esquerda, nos mesmos moldes do ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair”. A agência de informação financeira escreve que Costa é um “grande fã” de Emmanuel Macron e que até agora ele e o seu governo se tornaram “numa espécie de causa célebre para a esquerda Keynesiana da Europa, que vêem o sucesso das políticas portuguesas como uma prova do caso contra a austeridade”.

“Costa, no entanto, vê o caminho do Governo com um cuidado calibrado para não ser nem fiscalmente expansionista nem austero”, lê-se no artigo, que também faz referência ao facto de Mário Centeno ter sido escolhido para liderar o Eurogrupo e de Portugal ser uma zona livre de populistas, por enquanto.

Numa entrevista em Londres, António Costa falou da economia, que cresceu 2,7% no último ano, dos “imigrantes relativamente bem integrados, no país”, o que faz com que haja “menos espaço político para os populistas crescerem”.

A Bloomberg diz que Portugal esteve entre os países mais afetados pela crise, que precisou da intervenção da troika para recuperar e que o PS conseguiu formar Governo, apesar de não ter sido o partido mais votado nas eleições legislativas. Mas lembra que a economia portuguesa permanece “frágil”, que a dívida pública continua a ser a terceira maior na zona Euro.

“Os críticos dizem que o governo confiou demasiado no crescimento acentuado e no aumento do turismo, mas que fez muito pouco para tornar a economia mais competitiva no longo prazo. Apesar de o rácio da dívida pernate o PIB ter baixado, em termos absolutos, a dívida pública bruta está a aumentar”, lê-se no artigo.

Rússia diz que há risco de "guerra" com EUA se Washington lançar ataque

O embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, avisou hoje que há um risco de "guerra" entre o seu país e os Estados Unidos se Washington decidir lançar uma ofensiva militar na Síria.

Rússia diz que há risco de "guerra" com EUA se Washington lançar ataque

© Reuters

Notícias ao Minuto

HÁ 1 HORA POR LUSA

"Não podemos excluir nenhuma possibilidade, lamentavelmente, porque temos visto mensagens saídas de Washington que são muito belicosas", disse Nebenzia, dirigindo-se aos jornalistas, na sede das Nações Unidas.

Segundo o diplomata russo, a "prioridade imediata é evitar o perigo de guerra", pelo que instou Estados Unidos e seus aliados a não utilizarem a força contra a Síria, acusada de ter utilizado armas químicas.

"As ameaças são uma violação à Carta das Nações Unidas", afirmou, acrescentando que uma intervenção militar do Ocidente seria "muito perigosa", uma vez que "os militares russos estão lá", a convite das autoridades sírias, salientou.

O diplomata russo indicou que o país pediu uma reunião pública do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a Síria, com a presença do secretário-geral da ONU, António Guterres.

Ele deverá intervir "num futuro próximo", afirmou Vassily Nebenzia.

Na terça-feira, três resoluções relacionadas com o presumível ataque químico sírio foram rejeitadas pelo Conselho de Segurança. Uma das resoluções foi apresentada pelos Estados Unidos e os outros dois textos foram propostos pela Rússia.

Mais de 40 pessoas morreram no sábado num ataque contra a cidade rebelde de Douma, em Ghouta Oriental, que segundo organizações não-governamentais no terreno foi realizado com armas químicas.

A oposição síria e vários países acusam o regime de Bashar al-Assad da autoria do ataque, mas Damasco nega e o seu principal aliado, a Rússia, afirmou que peritos russos que se deslocaram ao local não encontraram "nenhum vestígio" de substâncias químicas.

Citando informações fornecidas por organizações de saúde locais em Douma, a Organização Mundial de Saúde (OMS) indicou na quarta-feira que "cerca de 500 pessoas procuraram centros de atendimento exibindo sintomas de exposição a elementos químicos e tóxicos".

BE, Podemos e França Insubmissa lançam movimento político europeu “Agora, o povo”

HÁ 21 MINUTOS

Bloco, Podemos e França Insubmissa lançam movimento "Agora, o povo". Catarina Martins afirma que a ideia é alargar o movimento, que oferece "alternativas" ao povo, a mais países e partidos.

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

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  • Agência Lusa
    O BE, Podemos e França Insubmissa, três partidos do Sul da Europa, lançaram esta quinta-feira o movimento político europeu “Agora, o povo”, uma “alternativa concreta, com as pessoas no centro” para “uma nova cooperação europeia” contra os tratados atuais.

“O Bloco de Esquerda juntamente com o Podemos e com a França Insubmissa dá hoje o passo para a criação de um movimento político europeu que ofereça uma alternativa aos nossos povos em relação aos tratados que estão hoje a impor tantas dificuldades aos vários países europeus”, disse Catarina Martins aos jornalistas, em conferência de imprensa, ladeada pelos líderes dos partidos Podemos e França Insubmissa, Pablo Iglesias e Jean-Luc Mélenchon, respetivamente.

Os três líderes partidários assinaram “a declaração de Lisboa por uma revolução cidadão na Europa” uma vez que acreditam, disse a coordenadora bloquista, ser “possível uma nova cooperação europeia, diferente dos moldes em que tem existido e que possa pôr no centro a vida das pessoas”.

“A União Europeia tem tratados que põem as prioridades de perna para o ar. Oferecer uma alternativa concreta, que põe as pessoas no centro. Agora, o povo. E que chama para construir essa alternativa forças políticas dos vários países europeus, movimentos sociais, todas as pessoas que não desistem de um futuro com dignidade dos nossos países”, justificou.

Catarina Martins defendeu a necessidade de um Europa que “em vez de pôr a finança e o sistema financeiro no lugar primordial de todas as decisões europeias, possa colocar questões tão estratégicas como essenciais aos nossos povos como o acesso à saúde, à escola, à habitação, o investimento público necessário aos setores estratégicos da economia para que possa existir emprego”.

“A União Europeia tem estado numa espiral de degradação das condições da sua democracia social. Aqui estamos três forças políticas do Sul da Europa empenhadas em, conjuntamente, criarmos uma nova cooperação europeia, que em lugar de retirar soberania aos povos, ponha a resposta aos povos no centro da política”, enfatizou.

A líder bloquista deu o exemplo de Portugal, onde apesar da vida ter melhorado, as pessoas “perguntam-se todos os dias se tem sentido dar tanto dinheiro aos bancos e depois faltar tudo nos nossos hospitais ou nas nossas escolas”. “Este movimento cria-se hoje aqui, com estas três forças políticas, e a ideia é essa mesmo: alargar a outros países e outros partidos”, garantiu.

Por toda a Europa, prosseguiu Catarina Martins, “há forças que se organizam para dar uma alternativa de cooperação”. “E o que este movimento cria é o espaço para o encontro dessas forças políticas, para criarmos alternativas concretas, credíveis, de organização no seio da Europa que possam respeitar os nossos povos”, concretizou.

Pablo Iglesias disse que o Podemos estava muito feliz por poder dar este “passo em frente para defender uma Europa que se fundamente na justiça social, nos direitos sociais, humanos e civis”.

“No próximo ano teremos eleições europeias e vamos trabalhar desde aí — e não só — para construir uma nova Europa que dê dignidade e soberania e aos seus povos. É importante assinalar o fracasso das políticas europeias fundamentadas naquilo que alguns chamaram austeridade”, disse.

As políticas neoliberais, condenou o líder do partido espanhol, “estão a destruir os consensos antifascistas que deram origem ao que para muitos cidadãos — especialmente para os do Sul da Europa — foi a chave de que a Europa poderia ser um projeto atrativo”: a prosperidade económica, a justiça social e garantias sociais mínimas.

Já Jean-Luc Mélenchon escolheu dizer as primeiras palavras em castelhano para que se ouvisse que não se falava em inglês “pela primeira vez numa reunião internacional”. Para o líder do partido francês, “é um dia de alegria” a assinatura deste manifesto, que “resume as ideias essenciais” do que move estes três partidos, que é criar uma alternativa na Europa, cujo projeto “tem convulsões inquietantes”. Mélenchon deixou “uma palavra de alerta” pela Europa se estar a dirigir para a guerra devido à questão da Síria, advertindo que a França, pela primeira vez em muitos anos, tem tropas estacionadas na fronteira da Rússia.