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quinta-feira, 19 de abril de 2018

Um truque de David Copperfield foi revelado em tribunal. O mágico está a ser processado por um homem que participou na ilusão

19/4/2018, 13:53

O mágico mais famoso do mundo foi obrigado pela justiça a revelar um dos truques. Em causa está um acidente, em 2013, em que um participante na ilusão caiu e sofreu danos cerebrais irreversíveis.

O mágico de 61 anos é considerado um dos melhores do mundo

Getty Images for Ride of Fame

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Um dos truques mais misteriosos e de maior sucesso do mágico David Copperfield foi revelado em tribunal. O americano está a ser processado por um britânico que diz ter sofrido lesões cerebrais irreversíveis ao participar na ilusão. Gavin Cox, o homem em questão, estava a assistir a um espetáculo de Copperfield em Las Vegas, em 2013, quando foi selecionado para participar num truque em 13 pessoas do público aparentemente desaparecem.

O homem de 58 anos diz ter sofrido lesões cerebrais irreversíveis e uma grave lesão no ombro depois de cair nos escombros de um local de construção durante o truque: a despesa hospitalar de Gavin Cox terá ascendido aos 400 mil dólares. Os advogados de David Copperfield interpuseram vários recursos para tornar o processo interdito ao público e, dessa maneira, evitar a revelação dos segredos da ilusão – mas foram todos recusados. Foi Chris Kenner, amigo pessoal do mágico e produtor executivo, que acabou por explicar detalhadamente o truque ao júri.

O Independent conta que o produtor explicou que as 13 pessoas selecionadas são levadas por assistentes de palco para um caminho rodeado de cortinas pretas: a travessia inclui passagens secretas e a zona de bastidores até os participantes chegarem novamente ao palco, onde “reaparecem” para o grande final do truque. O caminho, sempre às escuras, é feito ao longo de solos de linóleo, cimento e carpetes.

Os advogados de Gavin Cox alegaram que a travessia é perigosa e que os participantes não são avisados sobre o caminho que têm de percorrer até já lá estarem. Já a defesa do MGM Grand Hotel, o local do espetáculo de 2013 onde aconteceu o acidente, garantiu que David Copperfield fez aquele exato caminho 10 minutos antes de Cox cair. Para o advogado, o mágico norte-americano teria avisado um assistente de palco se detetasse quaisquer problemas ao longo da travessia. O processo vai continuar a decorrer.

Miguel Díaz-Canel. Quem é o “Richard Gere cubano” que sucede aos Castros?

17 Abril 2018147

Cátia Bruno

Discreto, afável e fã dos Beatles, o novo Presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, troca a farda militar pelas calças de ganga. Mas a mudança histórica pode não passar de cosmética.

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John McAuliff recorda-se bem de quando se cruzou com Miguel Díaz-Canel pela primeira vez. Corria o ano de 2012: Raúl Castro já tinha substituído o irmão Fidel à frente dos destinos da ilha, Díaz-Canel ocupava o posto de ministro do Ensino Superior e o norte-americano McAuliff estava no país em representação do Fundo para a Reconciliação e Desenvolvimento (uma organização norte-americana que tenta criar laços entre os EUA e países outrora “inimigos” como o Vietname ou Cuba), no Congreso Universidad, um evento internacional de educação que se realiza em Cuba a cada dois anos. “No segundo dia, um grande grupo apareceu ao pé da nossa barraca. Era Díaz-Canel, que visitava o evento acompanhado pela sua equipa, algumas câmaras de televisão e a sua mulher, Lis Cuesta Peraza”, conta o norte-americano ao Observador.

“Tive algum receio, até porque ele tinha sido citado um ano antes na imprensa a criticar as ‘subversivas’ universidades americanas que querem abrir programas em Cuba. Mas foi muito caloroso ao cumprimentar-me, agradeceu a minha presença e convidou-me para ir à receção que estava a organizar nessa noite.”

Dois anos depois, novo encontro no mesmo evento. Desta vez, Díaz-Canel já não era um simples ministro: no ano anterior tinha sido nomeado vice-presidente do país. Tal não o impediu, contudo, de trazer consigo a mesma imagem de simpatia, até com os estrangeiros: “Ele e a mulher caminharam por entre a multidão, ao som da música da [banda cubana] Los Van Van, com a mesma atitude que um político norte-americano ou português teriam”, garante McAuliff. Ao aproximar-se do casal, o vice-presidente cumprimentou-o efusivamente, como se fossem velhos conhecidos.

“Ele e a mulher caminharam por entre a multidão, ao som da música da [banda cubana] Los Van Van, com a mesma atitude que um político norte-americano ou português teriam.”

John McAuliff, presidente do Fundo para a Reconciliação e Desenvolvimento, nos EUA

A imagem do vice-presidente simpático e comunicativo até com norte-americanos contrasta com a de um vídeo que foi tornado público por um grupo de ativistas cubanos, onde se pode ver a intervenção de Díaz-Canel numa reunião do Partido Comunista Cubano em 2017. Nesse encontro, o vice-presidente não teve pejo em criticar os Estados Unidos e usar da retórica comunista mais agressiva: “O Governo dos EUA invadiu Cuba, instaurou o embargo, impôs medidas restritivas. Cuba não fez nada disto, por isso em troca de nada eles é que têm de resolver as assimetrias se querem a normalização das relações [entre os dois países]”, disse, num discurso onde também criticou “as atividades subversivas” de vários media independentes e das embaixadas de países como Noruega, Espanha, Alemanha e Reino Unido.

Este é o homem escolhido por Raúl Castro para ocupar o seu lugar, a partir desta quarta-feira. A escolha é simbólica: embora tecnicamente não seja o primeiro homem de fora da família Castro a ocupar o cargo de Presidente (Manuel Urrutia e Osvaldo Dorticos ocuparam o cargo imediatamente após a Revolução, antes de Fidel Castro), será o primeiro não-Castro a suceder aos irmãos. E também será o primeiro civil a suceder-lhes — Díaz-Canel, engenheiro eletrotécnico de formação, cumpriu apenas três anos de serviço militar numa unidade de mísseis anti-aéreos. À beira de completar 58 anos (celebra o aniversário esta sexta-feira), é também significamente mais novo do que a maioria da cúpula do partido.

A escolha é tão significativa que até Luis Enrique Ferrer, dissidente cubano e um dos líderes do partido oposicionista União Patriótica de Cuba (UNPACU), reconheceu ao Observador que Díaz-Canel representa um certo tipo de mudança: “Este homem nasceu em 1960 e não é como os outros dirigentes comunistas que nasceram antes da chamada Revolução que levou os irmãos Castro ao poder. Foi educado e doutrinado como o povo cubano em geral, por este Governo, que está no poder desde 1959”, afirma o político da oposição, a partir dos Estados Unidos. Tal não impede Ferrer, contudo, de estar cético relativamente às mudanças que o novo Presidente pode trazer: “Só quando já tiverem desaparecido todos os membros da velha guarda é que Díaz-Canel poderá ser um fator de mudança”, prevê.

Com o secretário de Estado de Barack Obama, John Kerry (ADALBERTO ROQUE/AFP/Getty Images)

Mas quem é este homem, capaz de sorrir e fazer conversa de circunstância com um norte-americano à frente das câmaras, mas também de acusar países ocidentais de “atividades subversivas”? Quem é Díaz-Canel, o escolhido pelo próprio Raúl Castro para lhe suceder, que representa esta mudança da guarda?

Do adolescente que ia a festas com música americana ao político comunista “terra-a-terra”

Nasceu a 20 de abril de 1960 em Placetas, cidade do município de Villa Clara conhecida como “Vila dos Louros” pela quantidade de loureiros que ali existem. Filho de uma professora, Aida Bermúdez, e de um operário (de quem também herdou o primeiro nome), tem origens espanholas, já que é bisneto de um homem vindo das Astúrias, segundo conta o El País.

Na juventude, poucos imaginavam que pudesse um dia tornar-se Presidente. “Não era a pessoa que hoje em dia parece ser”, reconheceu um antigo conhecido, o advogado Santiago Alpizar, à NBC. No liceu, recorda Alpizar, Miguel “era simpático, alto, com o cabelo loiro comprido” e frequentava festas onde se ouvia música americana. De política, não falava.

“Este homem nasceu em 1960 e não é como os outros dirigentes comunistas que nasceram antes da chamada Revolução que levou os irmãos Castro ao poder. Foi educado e doutrinado como o povo cubano no geral, por este Governo, que está no poder desde 1959.”

Luis Enrique Ferrer, político da oposição

A sua simpatia e simplicidade são recordadas com apreço em Villa Clara, onde se licenciou em engenharia em 1982. Seguiu-se o serviço militar e, depois, o primeiro contacto real com a política, ao ingressar na União de Jovens Comunistas, ao mesmo tempo que trabalhava como professor. No final dos anos 80, conta o El Nuevo Herald, fez várias missões voluntárias na Nicarágua, à altura sandinista.

Em 1994, surgiu o primeiro grande desafio político, ao ser nomeado primeiro-secretário do Partido Comunista (um cargo local com poder efetivo superior ao de presidente da câmara) na sua província natal de Villa Clara. A impressão que causou nos habitantes não podia ser melhor: o filho da terra deslocava-se para o trabalho de bicicleta, e não no Lada oficial; ia aos serviços para ver de perto como eram atendidos os utentes; e apoiou projetos inovadores como o ElMejunje, um centro cultural onde se davam concertos rock e se realizavam shows de transformismo.

Díaz-Canel a cumprimentar eleitores (YAMIL LAGE/AFP/Getty Images)

“Toda a gente estava a passar mal e o povo via o primeiro-secretário a andar de bicicleta. Ele não o fazia pela popularidade”, garantiu à Reuters José Antonio Fulgueiras, presidente do sindicato de jornalistas de Villa Clara e amigo de Díaz-Canel. “Ele fazia-o porque é mesmo assim, é muito terra-a-terra.”

Em Villa Clara, sucedem-se os relatos de pessoas impressionadas com a ação política do filho da terra. “Em 1996, recém-nomeado, veio a este espaço que é um programa de opinião onde se discutem os temas mais quentes. Duas horas ao vivo, com o microfone aberto, a responder às chamadas da população”, recordou a jornalista Xiomara Rodríguez, responsável pelo programa “Alta Tensão” da rádio local CMHW.

Em 2013, o fundador do Mejunje contou a Fernando Ravsberg, correspondente da BBC em Cuba à altura, o papel essencial de Díaz-Canel para a abertura do centro cultural considerado por muitos um “santuário” para a comunidade LGBT da ilha: “Quando lhe oferecemos o nosso livro, escrevemos-lhe uma dedicatória que dizia ‘Obrigado pela tua cumplicidade”, revelou.

O desafio político seguinte, contudo, não correria tão bem. Em 2003, no mesmo ano em que se tornou o mais jovem membro de sempre do Politburo cubano (aos 43 anos), foi também nomeado primeiro-secretário da província de Holguín, terra natal dos irmãos Castro. Aqui, ao contrário do que aconteceu em Villa Clara, enfrentou alguma resistência por não ser um local, a que se somou uma seca profunda que teve impacto na agricultura local. Para a estrutura do partido, contudo, Díaz-Canel fez um bom trabalho. Em 2009, seria nomeado ministro do Ensino Superior; quatro anos depois, era escolhido para o cargo de vice-presidente, revelador da confiança profunda que Raúl Castro deposita em si.

Um homem com “baixo perfil mediático”, mas também “de mente aberta”

Os relatos na imprensa internacional enfatizam a mudança de estilo que Díaz-Canel trará consigo para a presidência. Em vez das fardas militares, o novo Presidente prefere as calças de ganga, por exemplo. Para além de ser um fã confesso dos Beatles, Díaz-Canel utiliza frequentemente um iPad, faz-se acompanhar da mulher em público e é por vezes apelidado de “Richard Gere cubano”, pelos cabelos grisalhos — um estilo que contrasta em tudo com o tom austero de Raúl Castro e do antecessor Fidel. “A sua proximidade e acessibilidade sugerem que trará um estilo pessoal diferente da geração anterior de líderes cubanos”, resume John McAuliff.

Essa acessibilidade, contudo, não significa necessariamente maior transparência. Em 2013, o correspondente da BBC já destacava que Díaz-Canel “não é muito amigo de fazer declarações à imprensa”. “Tem um estilo de baixo perfil mediático que lhe permite mover-se mais livremente”, resumia Fernando Ravsberg. No ano seguinte, com a subida à vice-presidência, cortou todos os seus contactos com os media estrangeiros.

“Quando desempenhava um cargo de dirigente médio era um certo homem. Agora é outro. Tornou-se totalmente discreto e hermético”, confidenciou à Associated Press um diplomata europeu na ilha. Em Cuba, há quem especule que é essa discrição que tem garantido a sua sobrevivência política, como é o caso do cronista Juan Orland Pérez: “Díaz-Canel observou desde a bucólica monotonia de Villas como [Carlos] Lage se converteu por sorte em primeiro-ministro e administrador-geral da miséria de Cuba, e [Roberto] Robaina em ministro dos Negócios Estrangeiros. Quando Robaina caiu, Díaz-Canel viu outro adversário, Felipe Pérez Roque, ser elevado a ministro das Relações Exteriores”, resume o escritor.

Pérez Roque e Lage foram entretanto afastados em 2009, acusados por Fidel de terem sido seduzidos pelo “mel do poder”. Díaz-Canel, o simples dirigente local cujas opiniões mal se conhecem, irá agora, pelo contrário, conduzir os destinos do país.

“Toda a gente estava a passar mal e o povo via o primeiro-secretário a andar de bicicleta. Ele não o fazia pela popularidade. Ele fazia-o porque é mesmo assim, é muito terra-a-terra.”

José Antonio Fulgueiras, amigo de Díaz-Canel

E que ideias trará consigo? Não se sabe ao certo. “Miguel Díaz-Canel tem uma reputação de ser um homem de mente aberta, pragmático e um bom gestor”, resume ao Observador William LeoGrande, académico e autor do livro “Back Channel to Cuba: The Hidden History of Negotiations Between Washington e Havana” (sem edição em português). Para além desta fama, pouco mais se sabe, a não ser que, a par do uso do iPad, foi um dos primeiros funcionários do partido a aparecer em reuniões com um computador e que tem defendido a abertura às novas tecnologias.”Hoje em dia, com o desenvolvimento das redes sociais e da internet, interdirqualquer coisa é quase uma quimera, não faz sentido”, disseem 2013. Em Cuba, apenas cerca de 5% da população tem acesso à internet, e os que conseguem aceder-lhe encontram uma rede lenta e limitada.

Essa atitude de abertura é elogiada por vozes até dentro da ilha. É o caso de Harold Cárdenas, professor de marxismo e autor do blog de esquerda “La Joven Cuba” que, no entanto, se viu debaixo de fogo por fazer críticas a alguns dirigentes do partido. “Díaz-Canel sentou-se connosco a uma mesa e perguntou ‘o que é que precisam para continuar a fazer o ‘La Jovens Cuba?’”, recordou à AP Cárdenas. “Ele é muito mais comunicativo do que aparenta. Existe uma imagem cinzenta do Díaz-Canel que é uma construção governamental de tirar as cores aos dirigentes para mostrar uma solenidade desnecessária”, disse o académico, citado pelo El Nuevo Herald.

Díaz-Canel: um novo Xiaoping ou antes um Gorbachev?

Díaz-Canel pode trazer mais colorido à presidência cubana, mas há dúvidas de que traga consigo mudanças de fundo.

“Podemos esperar uma mudança para o país com a nomeação de Díaz-Canel? Sim, mas não necessariamente as que são precisas para nos convertermos numa sociedade democrática”, afirma ao Observador a advogada Laritza Diversent, responsável pelo projeto Cubalex, que denuncia violações de direitos humanos na ilha. “Digamos que há uma mudança de imagem, um funcionário público mais jovem com mais dotes de ‘oratória’ e coerência para responder à imprensa internacional, mas que não se afastará nem um milímetro da política trazida desde os anos 60 pelos irmãos Castro.”

"Há uma mudança de imagem, um funcionário público mais jovem com mais dotes de ‘oratória’ e coerência para responder à imprensa internacional, mas que não se afastará nem um milímetro da política trazida desde os anos 60 pelos irmãos Castro.”

Laritza Diversent, ativista cubana

“Enquanto a velha guarda for viva e a família Castro mantiver o poder, Díaz-Canel não passará de um fantoche”, lamenta-se o político oposicionista Luís Enrique Ferrer. “Castro não será Presidente oficialmente, mas tudo indica que se manterá à frente do partido comunista de Cuba, que é quem dirige a nação. E tudo indica que um filho dele, militar, Alejandro Castro Espín, pode ser o homem que detém de facto o poder na ilha e que Díaz-Canel seja apenas um instrumento da família Castro para lavar a cara perante a opinião pública internacional.”

Carlos Alberto Montaner, autor cubano no exílio em Espanha e ex-preso político, opta por classificar Díaz-Canel como um “apparatchik dócil”. “Foi eleito para uma tarefa impossível: continuar a política dos Castro e conseguir tirar Cuba da miséria em que se encontra”, diz ao Observador, aludindo à situação económica complicada em que o país se encontra. Para além dos efeitos do Furacão Irma, que ainda se fazem sentir, a ilha continua a sentir os constrangimentos do embargo norte-americano (que, com Donald Trump na Casa Branca, não deverá ser levantado) e ressente-se da redução no apoio económico da Venezuela.

A economia cubana é atualmente, por exemplo, um terço do que era em 1985, de acordo com o estudo do economista cubana Pavel Vidal. E Díaz-Canel é o rosto escolhido para enfrentar estes desafios, dando uma nova cara ao aparelho comunista. “Se resultar, ele será uma espécie de Deng Xiaoping. Se falhar, será um Mikhail Gorbachev”, resumiu à revista brasileira Época um diplomata caribenho.

Díaz-Canel com Raúl Castro (ADALBERTO ROQUE/AFP/Getty Images)

Certo é que terá na sombra Raúl Castro. Díaz-Canel não é um intruso nem um impulsivo”, declarou o Presidente cubano em 2013, no discurso em que apontou o vice-presidente como seu provável sucessor, emprestando-lhe capital político. No entanto, Raúl não sai de cena, até porque se manterá como primeiro-secretário do partido até 2021. E o seu filho Castro Espín mantém-se, por enquanto, como especialista em contra-informação das Forças Armadas, a instituição que muitos observadores internacionais crêem ser o verdadeiro centro do poder em Cuba, levando a especulações sobre o futuro do Castro mais jovem.

Díaz-Canel “representa uma nova geração de líderes, nascidos depois de 1959, que irão sem dúvida ver o mundo de forma diferente dos seus antecessores”, resume LeoGrande ao Observador. Mas, vaticina o académico, “não devemos esperar mudanças políticas de fundo.” “Se ele não partilhasse a agenda de Raúl Castro, não estaria em linha para a presidência”, resume. Se dúvidas houvesse, bastaria recordar as palavras do próprio, há menos de meio ano, quando já era quase certo que o cargo de Presidente seria seu: “Não concebo ruturas no nosso país. Creio que, antes de tudo, é preciso haver continuidade.”

Portugal na rota da corrupção que matou jornalista em Malta

18 Abril 2018384

Edgar Caetano

Banqueiro iraniano em Malta foi preso nos EUA e arrisca pena de 125 anos. Estava a ser investigado por repórter assassinada. Ministério Público diz que lavou dinheiro vindo de contas em Portugal.

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Há vários meses que Daphne não conduzia o próprio carro. Alugava viaturas, por alguns dias de cada vez, usando nomes falsos, e nunca arriscava andar com o marido ou com os filhos no carro.

A jornalista sabia que a queriam morta e já tinha, ela própria, escrito sobre o modus operandi favorito de alguns grupos que a tinham ameaçado. Certo dia, uma tarde de segunda-feira, pouco depois de sair de casa e entrar num discreto Peugeot 108 alugado, uma explosão fez o carro despistar-se, aterrando num campo de cultivo perto da estrada.

Havia mais uma bomba, colocada debaixo do assento — uma segunda explosão, alguns segundos depois, para garantir que a jornalista, Daphne Caruana Galizia, envolvida na investigação dos Panama Papers, não saía dali viva. A tese da polícia é que as bombas foram detonadas remotamente, por alguém a bordo de um barco mas avisado sobre o timing ideal por alguém escondido numa colina ali perto, com vista para a estrada.

Até ao momento, foram detidos três homens acusados de envolvimento no assassinato de Daphne Caruana Galizia. Trabalhavam num armazém. Os suspeitos, que se declaram inocentes, têm, segundo a polícia, ligações ao submundo do crime organizado em Malta. As autoridades chegaram até esses homens porque geolocalizaram sinais de telemóvel no exato momento em que as bombas foram detonadas. Mas ainda não se conseguiu apurar o motivo do assassinato nem chegar a quem deu a ordem. Isto partindo do pressuposto de que três funcionários de armazém não teriam especiais razões para, por sua iniciativa, assassinar uma jornalista.

O crime aconteceu em outubro de 2017, em Malta, uma ilha de praias paradisíacas e clima invejável mas que se transformou num beco escuro em plena zona euro, assolada por corrupção à escala internacional no sistema financeiro e político, envolvendo crimes como contrabando de combustíveis e financiamento para o auto-proclamado Estado Islâmico.

No centro dos problemas, segundo os críticos do Governo, está o programa de entrega de passaportes (malteses, portanto, europeus) a estrangeiros que, investindo cerca de 650 mil euros, podem não só ter acesso a um visto como, também, a cidadania. São, por isso, como “vistos diamante”. Quem mais tem aproveitado este programa, dizem os seus críticos, são russos e árabes, muitos deles com negócios e motivações suspeitas.

O carro alugado de Daphne Caruana Galizia explodiu perto de casa. O primeiro a chegar ao local foi um dos filhos, que descreveu um cenário de horror, “com partes do corpo por todo o lado”. (FOTO: STR/AFP/Getty Images)

A 19 de março de 2018, cinco meses após a morte da jornalista, um dos seus principais “alvos” de investigação, Ali Sadr Hasheminejad, foi detido nos EUA, acusado de crimes que lhe podem valer uma pena de 125 anos na cadeia.

Ali Sadr era presidente de um influente banco maltês, relativamente recente, o Pilatus Bank (batizado com o nome de uma das maiores montanhas suíças). O banqueiro era uma estrela em ascensão na banca europeia, com aparições frequentes nos canais financeiros para falar sobre temas como a influência das novas tecnologias inovadoras na banca do futuro.

Após a detenção, os ativos do banco foram “congelados” — ninguém pode meter ou tirar de lá dinheiro. A instituição está impedida de operar, mas não lhe foi retirada a licença bancária que lhe foi dada em 2014 pelo primeiro-ministro, o socialista Joseph Muscat — cujos negócios pessoais e patrimónios familiares eram um dos grandes filões de investigação da jornalista que foi assassinada.

Daphne Caruana Galizia era, por vezes, chamada de “WikiLeaks feito por uma mulher só”. (Foto: Reuters)

À frente da sede do banco, em La Valletta, alguém colocou uma máquina de lavar roupa enferrujada — um símbolo de crimes de branqueamento de capitais — com o nome do primeiro-ministro como pretenso “padrinho” da instituição. Outra máquina de lavar roupa, essa feita de cartão, foi colocada na fachada do supervisor financeiro do país.

A investigação de Daphne apontava Ali Sadr como um banqueiro que facilitava a circulação de dinheiro sujo, por exemplo vindo dos petróleos do Azerbeijão, para várias pessoas poderosas — incluindo uma conta em nome da mulher do primeiro-ministro revelada pelos Panama Papers. Joseph Muscat defendeu-se garantindo que a licença bancária para o Pilatus já tinha sido oferecida pelo governo anterior (uma declaração facilmente desmentível com uma simples pesquisa no Google).

Os filhos de Daphne Caruana Galizia referiram o facto de Ali Sadr Hasheminejad ter “ameaçado despudoradamente” a jornalista, acusando-a de estar a causar danos reputacionais no banco devido aos textos que vinha escrevendo.

“Em maio do ano passado, Hasheminejad abriu um processo em tribunal contra a nossa mãe, nos EUA, a pedir uma indemnização de 40 milhões de dólares, sem nunca a notificar disso. Retirou o processo no dia que ela foi assassinada — algo que só descobrimos em janeiro”, escreveram os filhos da jornalista num comunicado emitido após a detenção do banqueiro nos EUA.

Ali Sadr Hasheminejad, que tem 38 anos, era uma estrela em ascensão na banca europeia

Ali Sadr Hasheminejad, que tem apenas 38 anos, foi detido quando aterrou no aeroporto de Washington, a capital norte-americana, onde tem um apartamento avaliado em dois milhões de dólares no bairro de Georgetown. Tentou sair com fiança, com pulseira eletrónica, mas a juíza recusou, argumentando que é demasiado elevado o risco de fuga. Está preso em Nova Iorque.

Em tribunal, o banqueiro declarou-se “não culpado” dos crimes de que está acusado. Com base em várias provas, incluindo trocas de e-mails, é acusado de seis crimes de conspiração, fraude bancária e branqueamento de capitais. A principal acusação, contudo, é sobre aviolação das sanções económicas impostas pelos EUA ao Irão.

Os crimes (e as penas) de que Sadr é acusado

Ali Sadr é acusado de um crime de conspiração para defraudar os Estados Unidos, o que pode valer até cinco anos na cadeia. Além disso, podem somar-se à sentença 20 anos pelo crime de conspiração para violar a IEEPA, basicamente as sanções específicas contra o Irão. Mais: até 30 anos por fraude bancária; até 30 anos por conspiração para cometer fraude bancária; até 20 anos por branqueamento de capitais e mais 20 anos por conspiração para cometer fraude bancária. No total, uma pena máxima de 125 anos.

Segundo a acusação, analisada pelo Observador, Ali Sadr terá criado uma rede de empresas fictícias na Turquia e na Suíça — uma delas chamava-se Clarity, ou “Claridade” — e em paraísos fiscais. Aproveitando a sua dupla nacionalidade (é cidadão do Irão mas comprou um passaporte de São Cristóvão e Nevis, nas Caraíbas) e a residência no Dubai (tem, também, uma casa em Washington), fez chegar mais de 150 milhões de dólares ao grupo da sua família no Irão, violando, assim, as sanções que são aplicadas ao país desde 1979.

A acusação está centrada num negócio milionário, em especial: uma encomenda feita em finais de 2005 pela Venezuela a uma construtora iraniana — a Stratus Group, fundada pelo pai, conhecido como o “Bill Gates do Irão”, por ser tão rico — para construir 7.000 casas no país sul-americano. No total, o negócio valia 475 milhões de dólares, o equivalente a 387 milhões de euros ao câmbio atual.

Ali Sadr foi o tesoureiro da mega-obra

Segundo a acusação, em 2009 o Stratus Group criou uma comissão para acompanhar a construção das casas na Venezuela. “Os membros dessa comissão incluíam, entre outros, Ali Sadr Hasheminejad, o réu. O réu também tinha outras funções relacionadas com o projeto — por exemplo, Ali Sadr era responsável por gerir as finanças do projeto”, descreve a acusação, a que o Observador teve acesso.

Desses 475 milhões, só 115 milhões de dólares é que chegaram a ser, efetivamente, pagos. Mas, para se conseguir pagar em dólares à construtora iraniana, como era seu desejo, os fundos tiveram de passar pelo sistema financeiro norte-americano. Foi para camuflar esse facto — e contornar as sanções económicas ao Irão — que Ali Sadr terá montado uma estratégia para que os pagamentos dessem várias curvas e contracurvas até chegar à sua família.

Quem ia pagar o projeto, na prática, era a gigante petrolífera estatal venezuelana: a PDVSA.

Mas de onde vinham os dinheiros da PDVSA? Os pagamentos tiveram origem em contas bancárias portuguesas, explicou o procurador Matthew Laroche à juíza Barbara Moses, segundo uma transcrição obtida pelo Observador da sessão em tribunal em que Ali Sadr se declarou “não culpado”.



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Quem pagou a mega-obra foi a petrolífera estatal venezuelana PDVSA, a partir de contas em Portugal, apontou o Ministério Público. Em “bancos portugueses”. Plural.

O Observador tentou contactar os advogados do Ministério Público do Southern District of New York responsáveis pela acusação a Ali Sadr. Mas não foi possível obter mais informações sobre a identidade dos bancos envolvidos — já que esta informação não consta das páginas da acusação.

Mas é público que a PDVSA há muito tinha relações privilegiadas com Ricardo Salgado e o Banco Espírito Santo. A companhia venezuelana era um “cliente importante” do banco, como reconheceu Ricardo Salgado. Chegou a ter depósitos superiores a dois mil milhões de euros no BES.

Contactada pelo Observador, fonte oficial do Novo Banco, que herdou ativos e passivos do BES, não fez comentários.

O BES não era, contudo, o único banco português com ligações conhecidas à Venezuela e, em particular, à gigante petrolífera PDVSA.

A Caixa Geral de Depósitos chegou a ter contas da PDVSA, pelo menos a partir de 2008, na sequência dos acordos de cooperação com a Venezuela assinados por comitivas lideradas pelo ex-primeiro-ministro José Sócrates, durante viagens a Caracas e encontros de alto nível com Hugo Chávez, falecido chefe de Estado venezuelano. Fonte oficial da Caixa também não revelou se a PDVSA continua a ser cliente do banco público e, devido ao sigilo bancário, não revela também se as operações poderão ter saído das contas da Caixa.

Não existe, porém, qualquer indicação de que sejam estes os bancos referidos pelas autoridades americanas — ou que não possa haver outros além destes. De resto, mesmo que sejam, não estará em causa qualquer ilegalidade da sua parte, porque o dinheiro saía das contas da PDVSA para os bancos correspondentes nos EUA. Fica por explicar, contudo, porque é que a gigante petrolífera venezuelana, com depósitos elevados em contas bancárias em vários países, escolheu as contas nos bancos portugueses para transferir dinheiro para contas norte-americanas, quando sabiam que o que estava em causa era o pagamento a um cliente iraniano (sendo que as sanções económicas dos EUA ao Irão eram bem conhecidas).

Hugo Chávez e José Sócrates durante uma visita do falecido líder venezuelano a Lisboa, a 23 de julho de 2008. (Foto: Francisco Leong/AFP/Getty Images)

Excluir iranianos dos órgãos sociais das empresas fictícias, usar nomes abreviados das verdadeiras entidades destinatárias (iranianas), fracionar os pagamentos venezuelanos — estes foram alguns dos “métodos enganosos” usados pelos conspiradores para esconder o destino de todos aqueles dólares.

Até ao momento, a nossa estratégia parece estar a funcionar”, escreveu Ali Sadr num e-mail a um colaborador, em julho de 2011.

Captura de ecrã da acusação a Ali Sadr, pelo Ministério Público

O banqueiro estava convencido de que estava a ser possível movimentar os dinheiros sem fazer soar os alarmes das autoridades norte-americanas. Mas esses alarmes acabaram por soar — e isso poderá ter-se devido, em parte, não só a Daphne Caruana Galizia, a jornalista assassinada em outubro, mas, também, a uma mulher russa que está, neste momento, detida numa prisão de máxima segurança na Grécia, acusada de fazer um desfalque de algumas centenas de euros.

A mulher russa chama-se Maria Efimova. Era uma das fontes da jornalista, tendo trabalhado alguns meses no Pilatus Bank — os meses suficientes para, segundo as informações que transmitiu a Daphne Caruana Galizia, descobrir que a mulher do primeiro-ministro de Malta era a titular de uma conta para onde eram transferidos os proveitos de uma offshore secreta no Panamá, alegadamente através de uma conta no Pilatus com ligações ao Azerbeijão.

Assim que a jornalista foi assassinada, Efimova meteu-se num avião, temendo pela vida. Nessa altura, a russa estava a ser procurada pela polícia de Malta e chegou a ser emitido, em novembro, um mandado de detenção europeu. A mulher, de 35 anos, é acusada pelos antigos patrões de ter desviado 2.000 euros — sim, dois mil euros — e a polícia acusa-a de ter prestado declarações falsas sobre o caso.

No mesmo dia em que Ali Sadr é detido em Washington, Maria Efimova caminha voluntariamente até uma esquadra de polícia perto da Praça Syntagma, em Atenas, e entrega-se às autoridades.

No mesmo dia em que Ali Sadr é detido, uma das fontes de Daphne - a russa Maria Efimova - caminha até uma esquadra de polícia em Atenas e entrega-se às autoridades.

Ativistas contra o crime económico em Malta escreveram ao primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, a pedir que seja concedido asilo político a Maria Efimova. Mas os advogados da russa dizem que é improvável que a ex-fonte de Daphne Galizia peça asilo, não obstante dizer que teme pela própria vida caso seja extraditada para Malta.

Não é a única. Numa reportagem da britânica BBC, foi entrevistado Jonathan Ferris, um investigador experiente ligado à agência (pública) de combate ao branqueamento de capitais a FIAU. Ferris decidiu lançar-se numa investigação aprofundada depois de o escândalo dos Panama Papers ter revelado que dois membros do governo, dos mais próximos de Muscat, estavam envolvidos. Pouco tempo depois, foi chamado ao gabinete do seu chefe.

Despediram-me. A mim e ao meu colega”, contou Jonathan Ferris, sem dúvidas de que “houve interferência política” para evitar que alguém provasse que aquelas entidades no Panamá serviam para receber subornos. À BBC, a agência recusa qualquer interferência e garante que os despedimentos foram resultado de “avaliações objetivas” sobre o desempenho do ex-funcionário.

Ferris não saiu de Malta — está sob proteção policial — mas é com um olhar assustado que conta à reportagem da BBC que, no dia em que Daphne foi assassinada, decidiu fazer seis cópias das suas notas e dos seus relatórios, inseriu-as em seis envelopes e distribuiu-as a diferentes familiares e amigos próximos.

Caso me aconteça alguma coisa, de forma abrupta se for assassinado toda aquela informação vai tornar-se pública imediatamente”, garante o investigador.

KPMG não viu problemas (também) no Pilatus Bank

A acusação a Ali Sadr, nos EUA, nunca menciona o Pilatus Bank pelo seu nome, apenas constata as coincidências temporais entre os factos. Mas um relatório da FIAU (que foi noticiado por Caruana Galizia) encontrou deficiências graves nos controlos de compliance do banco e encontrou “deficiências graves”.

Quem nunca revelou que houvesse qualquer problema no banco foi a auditora KPMG, que emitiu um relatório positivo sobre o Pilatus Bank. Nesta fase, a auditora não comenta o caso de Ali Sadr, citando “confidencialidade dos clientes”.

A mesma auditora também foi criticada em Portugal por não ter apontado os problemas, por exemplo, no BES Angola, nos anos que antecederam o colapso do banco liderado por Ricardo Salgado. Segundo notícia desta terça-feira do Público, está concluído o processo contra-ordenacional do Banco de Portugal por alegadas falhas na auditoria às contas, que podem resultar numa coima até 2,5 milhões de euros contra a auditora.

Algumas das informações que poderão estar na mão deste investigador estarão ligadas ao escândalo que levou o governo a convocar eleições antecipadas em 2007 (que Muscat viria a vencer de forma retumbante, renovando o mandato). Trata-se da tal revelação dos Panama Papers de que uma offshore ligada à família do presidente do Azerbaijão transferiu, alegadamente através do Pilatus Bank, pelo menos um milhão de dólares para uma entidade do Panamá ligada à mulher do primeiro-ministro, Joseph Muscat.

Numa entrevista à BBC, o primeiro-ministro lamentou a morte de Daphne Galizia, assegurando que “não é algo que qualquer primeiro-ministro deseje. Ela era uma crítica duríssima de muitas pessoas, eu sendo talvez uma das principais dessa lista, portanto isto não é algo que me favoreça, em termos de aspeto”.

Mais: “Excluindo os membros da sua família, penso que se há alguma pessoa que sofreu com este assassinato brutal somos [sic] nós, porque esta sombra foi colocada sobre nós por muito tempo”, garante Joseph Muscat, considerando, porém, que muito do trabalho da jornalista se baseava em “diz-que-dissee informações que lhe eram dadas por “quem não gosta de ver Malta a ter o sucesso que tem tido e que continuará a ter” e por delatores “com um historial dúbio, para dizer pouco” (uma referência a Maria Efimova).

Mas esse é um “sucesso” que é feito, no mínimo, com a conivência do crime económico? “Eu não diria que Malta tem um problema com crime económico maior do que têm países como o Reino Unido, Luxemburgo, Holanda…”, respondeu o primeiro-ministro de Malta.

O primeiro-ministro, Joseph Muscat, diz que sofreu muito com o homicídio de Daphne Caruana Galizia (Thierry Charlier/AFP/Getty Images)

Não será bem assim, segundo jornalistas que querem continuar o trabalho de Daphne Caruana Galizia e impedir que Malta se torne um refúgio para foras-da-lei. Um desses jornalistas é Manuel Delia, que à BBC afirmou que “há um gangue que se apoderou do governo deste país e esse gangue está preocupado com a sua auto-preservação, está a aniquilar o poder de instituições que deveriam ser independentes do Governo”.

“O primeiro-ministro é o ponta-de-lança da promoção dos passaportes. E, sejamos claros, eles estão a vender passaportes europeus. É certo que o passaporte leva um brasão de Malta, mas o que isto lhes dá é liberdade de movimento em toda a Europa, para eles e para os seus capitais”, sublinha Manuel Delia.

Depois da morte da jornalista maltesa, nasceu o “Project Daphne” (dentro da organização sem fins lucrativos Forbidden Stories), em que 45 jornalistas de 15 países se juntaram para explorar as histórias contadas por Daphne Galizia e lançar um aviso a quem ordenou a morte da repórter: “Vocês podem ter eliminado a mensageira, mas não conseguirão eliminar a mensagem“.

A acusação a Ali Sadr Hasheminejad e as investigações de Daphne Caruana Galizia pintam o banqueiro iraniano como uma peça-chave em Malta. Mas o banqueiro nunca foi perturbado enquanto operava em plena União Europeia e em plena zona euro.

Viúvo diz que quem mandou matar Daphne é "próximo do governo"

Em entrevista ao The Guardian, o viúvo de Daphne Caruana Galizia, Peter, diz acreditar que quem ordenou a morte da jornalista é alguém “muito próximo do governo”.

“Parece muito claro para nós que os três homens acusados até ao momento são, apenas, assassinos a soldo contratados por terceiros”, afirmou Peter Caruana Galizia, na primeira entrevista que deu após a morte da mulher, publicada esta terça-feira.

“Os meus filhos e eu não estamos convencidos de que o nosso governo quer, realmente, revelar quem contratou estes homens, por medo de que essas pessoas estejam, de facto, muito próximas do governo”, afirmou o viúvo de Daphne. “Por essa razão, talvez nunca venhamos a saber a verdade.”

É “muito embaraçoso” que tenham tido que ser os americanos a detetar os alegados esquemas de Ali Sadr — quem o disse foi a responsável máxima pela supervisão bancária na zona euro, Daniele Nouy (do Banco Central Europeu). A responsável pediu que se tirem lições deste caso, para que se caminhe no sentido de harmonizar as regras contra o branqueamento de capitais e que se crie uma agência europeia exclusivamente mandatada para esse controlo — já que o BCE não tem responsabilidades nessa matéria, sublinhou Daniele Nouy.

Mas se para a Europa é um “embaraço” que Ali Sadr tenha sido detido em Washington, para os filhos de Daphne Caruana Galizia fez-se(um pouco de) justiça. “As autoridades norte-americanas acabaram com a impunidade com que Hasheminejad operava. As suas ações [a iniciativa de prender o banqueiro] vêm vingar o trabalho da nossa mãe, mas é algo que teve um custo terrível”, lamentaram os filhos, acrescentando que “Hasheminejad poderá, agora, enfrentar a justiça e pagar pelo que fez”.Apenas desejávamos que a nossa mãe estivesse viva para ver isso a acontecer”.

RTP - O Essencial

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19 Abril, 2018

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Sérgio Alexandre
Jornalista
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por rui a.

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A Caixa Geral de Depósitos é um banco público que, segundo o tão apregoado «interesse público», não deveria servir apetites privados, nem clientelas. Supostamente por isso é que, até hoje, nunca nenhum governo consentiu na sua privatização. Pois bem, se a CGD não fosse um banco público, se o governo não lhe tem acorrido com uma recapitalização de muitos milhões de euros feita à custa dos contribuintes portugueses, a Caixa estaria fechada a estas horas e os seus clientes a arder. Porquê? Porque o dinheiro dos seus depósitos foi devassado em financiamentos a terceiros. Quem e com o apoio de que gestores da Caixa é o que convém saber. Para a segunda pergunta ainda não há resposta translúcida. Para a primeira já são conhecidos os nove grandes devedores do banco e os montantes das suas dívidas. São estes:

  1. Grupo Artlant (La Seda e Carlos Moreira da Silva): 476,4 milhões de euros;
  2. Grupo Efacec (têxtil Manuel Gonçalves e Grupo José de Mello, e, desde 2017, Isabel dos Santos): 303,2 milhões de euros;
  3. Vale de Lobo (Hélder Bataglia, via Armando Vara)): 282,9 milhões de euros;
  4. Auto Estradas Douro Litoral (Grupo José de Mello): 271,3 milhões de euros;
  5. Grupo Espírito Santo (palavras para quê...): 237,1 milhões de euros;
  6. Grupo Lena (palavras para quê...): 225 milhões de euros;
  7. Grupo António Mosquito (representado por Proença de Carvalho): 178 milhões de euros mais 49,2 milhões de euros de créditos já considerados perdidos;
  8. Reyal Urbis (imobiliária espanhola): 166,6 milhões de euros;
  9. Finpro SCR (Américo Amorim, Segurança Social e Banif): 123,9 milhões de euros.