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sábado, 21 de abril de 2018

Trump não é um menino de coro

por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Expresso, 21/04/2018)

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Por mais que seja tentador, tratar Donald Trump como uma caricatura de si mesmo é imprudente. Bem sei que apetece: a melena à rockabilly, o queixo levantado à Mussolini, a agressividade em todos os azimutes a empalidecer um presidente de clube de futebol, “moralmente incapaz”, diz o ex-chefe do FBI, Trump é mesmo uma caricatura. Mas é muito mais do que isso, é o chefe ocasional que tem nas mãos o poder do arbítrio e, sobretudo, é um precursor do que a direita vai passar a ser. Ele próprio usa a ‘estratégia do madman’, como Nixon em relação ao Vietname: sou louco e posso fazer tudo, tenham medo de mim. Em todo o caso, mais vale tomá-lo a sério e o sábado de bombardeamento da Síria demonstra porquê.

A farsa como guerra do Solnado

Há aforismos que têm a maldição de estar sempre certos: cada episódio destes dias, como o ataque à Síria, confirma que a tragédia se repete como farsa (a encenação sobre o êxito da coligação bombista), mesmo que a farsa também se repita como tragédia (os tweets de Trump dão lugar às bombas). Mas, além da repetição, há algumas particularidades desta deriva belicista que merecem atenção.

A primeira é a aparência, a enfatuação. Os mísseis certeiros, letais, formidáveis, caíram como o fogo divino sobre instalações previamente evacuadas porque os bombistas avisaram os bombardeados, parece a guerra do Solnado. Aniquilaram a capacidade de produção de armas químicas, dizem os bombistas; os bombardeados argumentam que não detinham tal capacidade (e, se a tivessem, houve tempo de pôr as reservas químicas a recato); portanto, ficam todos satisfeitos. Tudo um pouco ridículo, não é? Esta pantomina é ilustrada pelas declarações solenes de Trump, Macron e May, triste encenação.

O facto, em todo o caso, é que as bombas foram inúteis, mas o bombardeamento não. A ameaça é real; mostra que várias potências estão dispostas a bombardear a Síria para gerirem as suas crises internas, o que sugere que o possam fazer mais vezes; comprova que as Nações Unidas são desprezadas por Trump, como já se sabia, e que nisso May e Macron se alinharam com ele, o que era menos evidente; demonstra que, para as potências, a Síria é meramente uma fronteira da segunda Guerra Fria.

Curvemo-nos perante o grande líder

A segunda nota é uma constatação. Virou uma página para Trump, até ontem tão ridicularizado nas chancelarias europeias e de repente empossado como respeitado grande líder do mundo ocidental. Os dirigentes europeus correm a servir Trump, mesmo que por vezes com alguma infelicidade: a prosápia de Macron, que se gabou de ter convencido Trump a ficar na Síria, para logo ser desmentido pelo seu aliado, fica nos anais da aselhice diplomática. Mas o que o caso sublinha é que Macron só se vê como braço de Trump na Europa. Isso é novidade e é espantosa, redefine-se o alinhamento da política europeia.

Se nos lembrarmos da guerra do Iraque, em que nos foi servido abundantemente um menu de evidências forjadas de armas de destruição maciça, há uma diferença, é que a França se opôs no tempo de Chirac (e tinha razão). Mas quem quer saber de provas ou de factos, ou da população ameaçada, quando há bombas a lançar? O Ministério dos Negócios Estrangeiros português, que tem por lema escolher bem as palavras, sabia bem o que queria com o elogio da “oportunidade” do ataque: tinha que ser depressa. Santos Silva achou razões para virar as costas a António Guterres e o Governo foi atrás.

Este processo configura por isso a maior transformação que a União Europeia vive na última década. Em vez de alternativa a Trump, os chefes europeus preferem ser Trump, seguindo aquele velho ditado dos gangsters de Chicago, se não o podes vencer, junta-te a ele.

A segunda Guerra Fria

A terceira nota é sobre a consequência. E ela é maior do que as bombas combinadas do sábado passado. Os Estados Unidos desistiram da Síria, mas não de Israel; e Israel não desistiu do seu principal objetivo militar, o Irão. Portanto, há mesmo uma escalada em curso. Só que as opiniões públicas, nos Estados Unidos ou na Europa, não aceitam invasões para paradas militares em Damasco ou Teerão. Portanto, bombas.

Pior ainda, os governos que conduzem esta escalada são mais frágeis do que os de Bush e Blair no seu tempo; esgota-se mais depressa o efeito anestesiante de um bom telejornal com mísseis pelos céus; e as pessoas tendem a lembrar-se das suas vidas e até a votar a sua desconfiança. Resta então o que sobra sempre: o discurso do ódio. E é aí que entra a guerra que verdadeiramente interessa, a que criará as justificações para as etapas seguintes, a segunda Guerra Fria.


A campanha eleitoral de Centeno

Diz o ministro das finanças: “Há uma alternativa, mas ela corresponde a escolhas de regresso ao passado em que o país enfrentou o risco de sanções, em que os investidores nos rotulavam de lixo, em que bancos ruíam e com eles a confiança no sistema financeiro. Não temos memória curta. Eu não seguirei esse caminho”. Parece tirado a papel químico dos editoriais que o incentivavam a arrepender-se de desvarios passados, confirmando assim que abriu a era d.C., desde Centeno. Em d.C. a memória é viva e a contenção orçamental é imperiosa. Cigarra e formiga, não há ministro das finanças que não adore um conto infantil que termine bem.

Alguns, decerto mal intencionados, terão notado que o ministro fala como se fosse o chefe do Governo, “eu não seguirei esse caminho”, que se pronuncia sobre o calendário eleitoral, obrigando António Costa a retificá-lo, e até que vai ao Parlamento explicar a política de outros ministérios, decerto intimado pelo PSD, mas com algum gosto que confirma aquele retumbante “somos todos Centeno”.

Ora, esta política tem uma única justificação: a candidatura de Centeno a vice-presidente da Comissão Europeia após as eleições de 2019. Para tanto, com a atual trajetória orçamental, o ministro anunciará o êxito com 0% de défice em 2018 e prometerá superavit para o exercício de 2019, esse vai ser o seu cartão de visita para a candidatura. Será impressionante, mesmo que uma parte, a de 2019, fique por confirmar quando entregar a pasta, e será convincente sobretudo porque satisfaz o critério pelo qual tudo se mede, o do défice. Só que este critério é errado e nem tudo o que reluz em d.C. é ouro.

O critério é errado pelo método. O Ministério das Finanças tem como objetivo o défice 0% em 2018 e superavit em 2019 unicamente por gestão das aparências. Estes objetivos nem são ocultados: as contas para os 0,7% agora anunciados incluem o gasto de 791,7 milhões de euros com o Novo Banco, dado que foi ativada a sua garantia contingente. Portanto, notando este despesismo bancário sempre justificado pelos contratos de conforto ao Lone Star, que comprou sem pagar o Novo Banco, o défice real das contas públicas seria de 0,3%. Mas as receitas estão subavaliadas e, como as finanças mandam em todos os ministérios, podem também controlar a despesa até ao final do ano para termos o número mágico. O verdadeiro objetivo é zero e a conta será zero.

Ora, essa forma de gestão é errada porque entrega às finanças a decisão sobre dossiês que só podem ser geridos com eficiência pelos outros ministérios. Foi por esse disparate que tivemos o concurso das médicas especialistas retido durante um ano por veto de gaveta das finanças, que olham para as contas, mas não para as necessidades, e que, por isso, ignoram a racionalidade das escolhas.

Mas o critério é ainda mais errado porque desperdiça a oportunidade de corrigir as contas públicas portuguesas. Pela minha parte, eu compreenderia uma obsessão contra o défice se a dívida portuguesa estivesse a ser emitida a 7% de juro, como aconteceu no passado. Mas se o défice é pago com dívida de curto prazo a juros negativos ou de médio prazo abaixo do crescimento nominal do PIB, mais vale gastar já o investimento que seja urgente, é mais racional do ponto de vista orçamental.

Veja o seguinte exemplo: um hospital precisa de um novo TAC, o atual está estragado. Se o comprar, é despesa, conta para o défice. Se não o comprar, as contas públicas parecem melhor, mas o serviço do hospital parou — é portanto défice escondido, porque algum dia vai mesmo ser preciso comprar a máquina. Se alguém nos diz que a melhor gestão é evitar o investimento, não se ofenda se ouvir que o fingimento é o pai da incompetência. Nenhuma candidatura a um lugar europeu vale a gestão deficiente do orçamento.

As escolhas: o que interessa e o que apenas entretém

por estatuadesal

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 21/04/2018)

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1 Portugal é um país assaz curioso: dentro da sua pequenez geográfica, o grande fascínio que tem é a sua diversidade — paisagística, cultural, arquitectónica, culinária. É tudo menos um país monótono. Mas, simultaneamente, do ponto de vista político, essa pequena dimensão geográfica, aliada a uma antiquíssima unidade e identidade nacionais e à sua localização na periferia de todos os conflitos contemporâneos que dilaceram a Europa e o mundo, mais os nossos tradicionais brandos, e agora liberais, costumes, deveria fazer deste país uma espécie de modelo perfeito de boa e fácil governança. Por que razão tal não sucede, então — pelo menos a fazer fé nas conversas com que os portugueses se entretêm nas tertúlias de café ou nos fóruns das rádios, onde se aliviam sem tréguas do seu inesgotável ódio e desprezo pela gestão política do país, venham os governos que vierem? Bem, há sempre aquela explicação, meio lenda meio verdade, do general romano que escrevia a César explicando que o problema era do povo que aqui vivia, os lusitanos, que nem se governavam nem se deixavam governar. Deixo a explicação profunda para os politólogos, que estudaram para isso, mas confesso que às vezes fico a pensar se o conceito de política que os portugueses gostam de discutir é realmente a política que interessa discutir. A política, simplesmente. E não a politiquice. Um bom exemplo é o charivari feito a propósito dos dois acordos estabelecidos esta semana entre o Governo PS e o PSD.

O que acordaram Costa e Rio de tão determinante e grave que levou a oposição interna a Rio a acusá-lo de posicionar publicamente o PSD como “muleta do PS”, os parceiros de extrema-esquerda do Governo a entrar em histeria de cônjuge enganado e os especialistas da politiquice a cheirarem sinais iniludíveis de regresso ao “bloco central”? Bom, primeiro acordaram numa posição conjunta em Bruxelas que permite defender a manutenção do valor do cheque de fundos estruturais a favor de Portugal no programa 20/30, já sem a contribuição inglesa, após o ‘Brexit’. É caso para perguntar a quem é que isto incomoda? Há por aí alguém, algum partido, que defenda o contrário, menos dinheiro de Bruxelas? A seguir, os dois conjurados defenderam aquilo a que pomposamente chamaram “pacote da descentralização”, que mais não é do que um tímido acréscimo de competências para as autarquias locais, acompanhado do respectivo envelope financeiro. Aqui entre nós, um simulacro de descentralização, que nada de substancial muda e a ninguém incomoda — a começar pelo PCP, o outro partido autárquico. Descentralizar é coisa absolutamente diferente e estamos longe, muito longe de ouvir o primeiro partido atrever-se a defendê-la, além dos discursos vácuos. E há duas formas de a fazer. Uma é a forma falsa, demagógica e ruinosa, que consiste em recuperar o já derrotado processo de regionalização. Dividiria o país em coutadas políticas, ao serviço dos partidos e seus caciques locais, instalaria um clima de guerra civil, financeira e política, permanente, e levaria Portugal à bancarrota num instante. A outra seria a fórmula séria, a única que verdadeiramente promoveria a descentralização e combateria aquele que é um dos principais problemas que enfrentamos, que é o despovoamento e envelhecimento galopante do interior. Consistiria em deslocar para fora dos grandes centros urbanos empresas públicas de vocação industrial e serviços públicos de apoio à indústria, à agricultura e infraestruturas, deslocar universidades e centros de investigação, em lugar de alterar excepcionalmente o PDM de Lisboa para os colocar à beira-Tejo, obrigar os museus, teatros e orquestras nacionais a passarem metade da temporada em digressão pelo interior, promover uma radical reforma fiscal que tributasse a zero por cento de IRC as empresas que se fossem instalar longe dos grandes centros urbanos criando postos de trabalho efectivos e com 50% de desconto o IRS dos trabalhadores, que criasse uma jurisdição especial para resolução acelerada de conflitos na aérea comercial, empresarial e de trabalho, e, já agora, se faz favor, uma política implacável de protecção ambiental, sem celuloses nem pocilgas nem lagares de azeite a despejarem esgotos sem tratamento para os rios. Enfim, uma descentralização que, preservando a superior qualidade de vida do interior e tirando partido dela, lhe trouxesse o mais precioso dos capitais para o seu desenvolvimento: o capital humano. É a isso que eu chamo política a sério. Mas dá trabalho e exige reflexão e coragem. Não vai a tempo das eleições de 2019.

2 Deixemos então de lado as escolhas que apenas entretêm e que tanto ocuparam os partidos, o Parlamento e os especialistas nestes assuntos esta semana, e vamos àquelas, que, de facto, interessam. A mais importante de todas foi levantada por Mário Centeno a propósito do Programa de Estabilidade para os quatro próximos anos e já aqui escrevi brevemente sobre isso há oito dias.

A questão pode resumir-se, como Centeno fez. E de forma simples e linear, o que só torna a escolha mais fácil: o que fazer com os 800 milhões de euros de saldo que vamos herdar da execução orçamental: aproveitá-los para diminuir a dívida ou gastá-los? Num cenário perfeito, a resposta seria simples: vamos gastá-los e renegociar a dívida, cortando parte do capital ou dos juros. Não digo que não fosse justo, pelo menos em parte e atendendo à composição da dívida, mas o certo é que não está nas nossas mãos consegui-lo e o contexto político europeu está longe de se mostrar propício a tal. Mais vale portanto tratar do assunto sem esperar a generosidade alheia.

O que fazer com os 800 milhões euros de saldo que vamos herdar da execução orçamental: aproveitá-los para diminuir a dívida ou gastá-los?

Na tese dos que defendem que o dinheiro sobrante é para ser gasto, coexistem dois argumentos, um formal e outro substancial. O argumento formal é que o défice previsto para este era de 1,1% e não de 0,7, como agora se prevê — a tal diferença de 800 milhões de euros, já incluindo nova injecção para prejuízos desse ruinoso brinquedo que é o Novo Banco. Logo, cumpra-se o Orçamento. A tese substancial é que não é socialmente aceitável continuar uma política de contenção de despesas além do acordado, quando falta dinheiro para serviços públicos essenciais, designadamente na saúde e na educação. Isto é o que diz o BE, porque o PCP vai mais longe e quer dinheiro para tudo o resto, na sua tradição de que não há limite para a despesa pública e que se os governos não aumentam salários, pensões, subsídios e tudo o resto, é só porque não querem.

A tese oposta, aparentemente partilhada sem estados de alma por António Costa e todo o Governo, é que não sobra dinheiro algum: há sim 800 milhões de euros de dívida a menos para pagar, mais os respectivos juros. E que, se não aproveitarmos esta conjuntura excepcional de crescimento económico, aqui e na Europa, e de juros baixos (a qual em breve se espera que começa a mudar), teremos perdido uma oportunidade, que tão cedo pode não se repetir, de trazer o monstro da dívida pública para patamares que não nos sufoquem a todos. E que nos coloquem em situação de nos deixar mais bem preparados para enfrentar uma crise como a de 2008, que nos obrigou a pedir ajuda externa quando os juros da dívida chegaram aos 10% nos mercados.

A escolha é esta. Há pormenores mal explicados em cada uma das posições: custa-me a perceber, por exemplo, como é que com cada vez menos crianças e menos escolas e depois do imenso investimento na Parque Escolar, ainda falta tanto dinheiro para a educação; assim como me custa a perceber como é que a banca, mesmo depois da Resolução e alegada privatização do BES, continua a ser um saco de dinheiro roubado aos contribuintes cujo fundo ninguém conhece. Mas, independentemente dessas nebulosas, também não consigo entender como é que os partidos que mais gritaram contra os encargos da dívida pública, o BE e o PCP, agora acham que diminuí-la, aproveitando as condições favoráveis, não é uma prioridade da política de finanças públicas. Ou conhecerão uma solução milagrosa?


Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

Costas e Ferrões e a Justiça de pelourinho

por estatuadesal

(Por Estátua de Sal, 21/04/2018, 01h)

COSTA_FERRÃO

Estive a ver a SIC Notícias. O Mano Costa e o Ferrão ao leme no Expresso da Meia Noite. Pareciam coscuvilheiras e lavadeiras de roupa suja à volta do lavadouro a falar do mau porte da filha da vizinha que anda enrolada aos sábados com o taberneiro aos e com o padre aos domingos.

Para a SIC o taberneiro é o Sócrates e o padre é o Ricardo Salgado. A vergonha perdeu-se. A SIC e o Expresso, que à época dos supostos "crimes" beijava a braguilha ao Salgado, agora descobre que afinal o Salgado sempre tinha tido a braguilha murcha, pouco limpa e pouco recomendável.

Em vez de se penitenciar pela criminosa divulgação dos interrogatórios a Sócrates, uma canalhice que devia fazer encher de vergonha qualquer jornalista decente, a SIC chafurda nas escutas, nos vídeos transmitidos à margem da lei e ergue a bandeira da pulhice como lema. É uma novela de pérfido mau gosto.

Que interessa saber se a mulher do Santos Silva não gostava do Sócrates? Que interessa saber se as cortinas do apartamento de Paris eram cor de rosa ou azuis? Talvez numa telenovela mexicana das mais rascas e lamechas isso possa ser relevante, mas nunca para a partir dessas minudências inferir a culpabilidade de quem quer que seja.

Mas, sibilinamente, as lavadeiras foram dizendo ao que vem: atacar o Governo, e nomeadamente o PS. Que o Sócrates tinha um projecto totalitário para o país, disse um deles, queria dominar tudo, a economia, a comunicação social e até a Justiça! E retorquiu o outro: É estranho, que nenhum dos membros deste Governo, que também foram ministros de Sócrates nunca tivesse dado por nada.

E diz outro: - E esta historia do Manuel Pinho e do Salgado, perante ela toda a classe política está calada, nomeadamente o Governo.  E todos concordaram. Amén.

O Mano Costa e o Ferrão parecem o Patilhas e Ventoinhas, inspectores fictícios criados pelos Parodiantes de Lisboa de saudosa memória. Mas já que tem tanto jeito para chafurdar na cusquice eu tenho muito mais casos para lhes entregar: perguntem ao Dr. Ricardo Salgado para quem foi o milhão das luvas envolvidas no negócio dos submarinos e que, nem à família, ele quis identificar. Perguntem ao Dr. Relvas e ao Passos para onde foi o dinheiro que a União Europeia reclama no caso da Tecnoforma, perguntem à Dra. Joana Marques Vidal como puderam ser roubadas crianças às mães, traficadas para os bispos da IURD, com a sua concordância e despacho favorável. E se não vos bastar, ainda tenho mais casos para vos colocar debaixo do nariz.

Mas se é para investigar a porcaria, vistam primeiro escafandros protectores, não vá ela fazer ricochete e sujar a suposta postura justiceira da SIC e do Dr. Balsemão, como sucedeu no caso dos Panamá Papers que, a partir de certo momento, tiveram que ser encerrados na gaveta, longe de olhares indiscretos, para evitar danos colaterais indesejados.

E, já agora, não pisem muito os calos ao Ricardo Salgado; e se o forem incomodar peçam licença, façam vénia e perguntem antes se ele tem disponibilidade na agenda para vos receber. O Alexandre e o Rosário já perceberam isso e tem-no tratado com a deferência que é devida a um banqueiro de velha linhagem porque devem ter percebido o lema, feito aviso, que há uns meses o Dr. Ricardo deixou a pairar sobre as cabeças de muito boa gente deste país: - O leopardo, quando morre, deixa a sua pele.

Pois é. Se o Dr. Ricardo abre a boca, não teremos um caso de polícia, mas um caso de regime. É por isso que Sócrates deve estar a rir-se à grande da inépcia do Procurador Rosário quando atrelou o Salgado e a PT nas fraldas do Marquês. E mais deve estar grato à SIC por lhe ter dado tanto tempo de antena com esta história dos vídeos dos interrogatórios. É que, quem sai como herói da novela é ele, tal a convicção com que se defendeu, e tal o atropelo e a devassa a que foi sujeito.

O Procurador fez figura de inapto e de vilão. As provas ninguém as viu, nem a cores nem a preto e branco. E mesmo muitos dos que sempre acharam que Sócrates é culpado, hesitam hoje na sua condenação, ou pelo menos na sua condenação com estes métodos, e com estes requintes de malvadez e insanidade.

É que, todas as elucubrações da SIC nas peças que construiu a partir dos vídeos, começam invariavelmente com a ladaínha : "A investigação acredita que.... bla... bla... bla...". Note-se o verbo acreditar. É portanto, uma questão de fé. Nunca é dito que a investigação provou ou demonstrou.

Eu espero que, a Inquisição já tenha acabado em Portugal, e já não se condene ninguém por autos de fé. O Procurador Rosário acredita. Bom, também eu acredito em muita coisa - em cada vez menos ícones, diga-se de passagem -, mas não acho que isso seja suficiente para acusar seja lá quem for, e muito menos para condenar alguém ao cárcere.

E, em relação à SIC e às masturbações justiceiras dos Costas, Ferrões, Ferreiras e quejandos, deixem-me que vos diga que eu não só acredito que tenham cometido um crime como o afirmo com todas as letras, como bem disse hoje, finalmente, a Ministra da Justiça (Ver aqui)  vindo a sofrer por isso a punição devida. Pelo menos, eu ainda vou querer acreditar nisso.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Entre as brumas da memória


25 Abril – Faltam 5 dias

Posted: 20 Apr 2018 02:06 PM PDT

@alfredocunha
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Macron, o salvador da Europa?

Posted: 20 Apr 2018 11:21 AM PDT

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Quarenta e sete anos, dez meses e vinte e quatro dias depois

Posted: 20 Apr 2018 08:39 AM PDT

«A cidade apareceu ocupada e radiosa. Deparámos com colunas militares inundadas de sol; e povo logo a seguir, muito povo, tanto que não cabia nos olhos, levas de gente saída do branco das trevas, de cinquenta anos de morte e de humilhação, correndo sem saber exactamente para onde mas decerto para a LIBERDADE!

Liberdade, Liberdade, gritava-se em todas as bocas, aquilo crescia, espalhava-se num clamor de alegria cega, imparável, quase doloroso, finalmente a Liberdade!, cada pessoa olhando-se aos milhares em plena rua e não se reconhecendo porque era o fim do terror, o medo tinha acabado, ia com certeza acabar neste dia, neste Abril, Abril de facto, nós só agora é que acreditávamos que estávamos em primavera aberta depois de quarenta e sete anos de mentira, de polícia e ditadura. Quarenta e sete anos, dez meses e vinte e quatro dias, só agora.»

José Cardoso Pires, Alexandra Alpha
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Dica (747)

Posted: 20 Apr 2018 07:14 AM PDT

The Labour Market Basis For Populism (Carl Melin e Ann-Therése Enarsson)

«All over the world, populist parties and movements are growing ever more strongly, and established parties appear to lack effective strategies to combat this. A newly-published report from Stockholm-based think tank Futurion confirms that this growing populism can be explained by people’s concerns about what is happening in the labour market. Politicians and many experts have underestimated the importance of the economy and jobs and overestimated the immigration issue. And this is why the response to the populists has been wrong.»

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As novas cidades

Posted: 20 Apr 2018 02:58 AM PDT

«Há poucos dias o South China Morning Post (SCMP) escrevia que o distrito central de Hong Kong se tinha tornado demasiado caro, mesmo para as multinacionais. Muitas, face ao aumento das rendas, estavam a preparar a saída do centro da cidade, embora fosse difícil abandonar Hong Kong, um centro financeiro e comercial por excelência. A própria Goldman Sachs estava a preparar a sua saída. É um sinal dos tempos, em que os centros das cidades se estão a tornar inóspitos para os cidadãos locais e mesmo para as empresas. Os dados desta mutação eram também visíveis noutras notícias que o SCMP foi dando nesses dias. Assim, um estudo do Australian Housing and Urban Research Institute mostrava que havia incentivos governamentais para que os construtores edificassem casas de preços acessíveis na Austrália. Sidney é a cidade menos acessível do mundo em termos de preços do imobiliário, só atrás de Hong Kong. E, nos últimos oito anos, a construção de casas de preço acessível tinha sido apenas 0,5% do total. Hoje em Sidney há 50,4 pessoas sem casa por 10 mil habitantes, face a 33,9 em 2006. Mais interessante: os investidores institucionais japoneses tinham agora mais apetite pelos fundos europeus de "real estate", porque os crescentes dividendos no mercado da Europa eram agora mais atractivos dos que os recebidos no mercado americano. Ou seja: a tendência de subida do preço das casas é para se manter.

Quando se olha para o que se está a passar em Lisboa (e no Porto) percebe-se essa tendência. Os centros das cidades estão a ser ocupados por quem tem dinheiro para investir e isso vai conduzir à desertificação dos cidadãos locais, mesmo daqueles que, como classe média, ainda tentavam resistir. E Portugal, nesse aspecto, surge como um lugar seguro para elites francesas ou brasileiras. O centro das cidades começa a parecer-se com enormes condomínios privados. Um dia destes os presidentes das juntas de freguesia da parte central de Lisboa serão eleitos por eles próprios, porque não haverá eleitores. Ou seja, a democracia está a suicidar-se com esta aparente "economia de mercado".

As cidades estão a tornar-se o território dos abastados sem pátria. Enquanto isso sucede, a cultura local irá extinguir-se e a diversidade também. Mas este é o caminho da urbanização acelerada e dos interesses económicos que nunca foram contrariados pelos poderes públicos. Porque uma coisa é investir e rentabilizar imobiliário nas cidades; outra é torná-la inabitável. Quando polícias, enfermeiros e funcionários dos serviços básicos deixarem de poder viver próximos dos centros urbanos e, portanto, resistirem a vir trabalhar para eles, se verá. Como escrevia George Orwell: "Não é coincidência que Charles Dickens nunca escreva sobre a agricultura e escreva sem fim sobre a comida. Era um cockney, e Londres é o centro da terra no mesmo sentido que a barriga é o centro do corpo. É uma cidade de consumidores." Hoje há uma alteração: as cidades estão a sofrer uma alteração estrutural. O problema é que parece que ninguém está muito atento a isso.»

Fernando Sobral

Provavelmente, a igreja mais estranha de Portugal

por admin

O Santuário de Nossa Senhora da Lapa localiza-se na freguesia de Soutelo, concelho de Vieira do Minho, num local muito agradável com muitas zonas de sombra e algumas mesas e bancos para aqui também piquenicar. Mesmo ao lado tem um acesso por escada em madeira que lhe dá acesso a um miradouro. Para aceder, terá que trepar a cumeada do monte de Penamourinha, com subida a pedir primeira e segunda, estradas estreitas em asfalto, transitáveis quanto baste. Por estar situado bastante alto, em tempo de chuva formam-se nevoeiros que dificultam a visão do horizonte, que é naturalmente bastante apelativo neste aprazível local.

Santuário de Nossa Senhora da LapaSantuário de Nossa Senhora da Lapa

Conta a história que no ano de 1805 Nossa Senhora da Lapa surgiu diante de uma pequena pastorinha, sabendo do ocorrido, o pai da criança deslocou-se ao local a fim de constatar o acontecimento. Quando a sua filha apontou para o local da aparição, lá estava a Nossa Senhora novamente. Rapidamente a notícia da aparição se espalhou pelas localidades mais próximas, iniciando as romarias no primeiro dia do mês de Junho.

Santuário de Nossa Senhora da Lapa

Em 10 de Junho de 1805 reuniram-se mais de quinhentas pessoas neste local. Dado o enorme fluxo de peregrinos, o abade Rodrigues Ramos ordenou a construção de um altar por baixo do bloco granítico onde a imagem de Nossa Senhora tinha surgido. Ordenou também que a área em redor fosse convenientemente preparada para receber o maior fluxo de peregrinos possível.

Santuário de Nossa Senhora da LapaSantuário de Nossa Senhora da Lapa

É um Santuário dedicado a Nossa Senhora da Lapa, com peregrinação no 2º domingo de Julho. No limite poente da cumeada do monte de Penamourinha, João Gonçalves e sua mulher Margarida da Silva mandaram edificar, em 1694, a capela da Senhora da Lapa, aproveitando os afloramentos graníticos do local.

Santuário de Nossa Senhora da Lapa

O pequeno templo corresponde a uma cavidade sob rochas, a “lapa”, encerrada com parede de cantaria granítica, formando uma fachada de desenho arquitectónico simples, onde se distinguem os vãos moldurados das janelas e da porta, sendo esta sobrepujada por um nicho onde se abriga uma pequena imagem de Nossa Senhora, com uma cartela na base onde se gravou a data 1694.

Santuário de Nossa Senhora da LapaSantuário de Nossa Senhora da Lapa

Uma porta em grade, colocada em 1898, dá acesso ao interior, onde se sobrepõem diversas soluções decorativas, destacando-se várias inscrições gravadas no tecto rochoso e o quadro encaixilhado com a história do santuário, escrita pelo padre José Maria Machado em 1851.

Santuário de Nossa Senhora da Lapa