Translate

sábado, 21 de abril de 2018

Quotas para burras

Novo artigo em BLASFÉMIAS


Quotas para burras

por vitorcunha

Na mesma semana em que se aprova quotas para obrigar mulheres a entrarem à força para listas partidárias — à força porque voluntariamente nunca arranjaram desequilibradas do sexo feminino em número suficiente —, aparece a proposta Roseta que permite que o monstro roube a propriedade das pessoas porque sim. Excelente publicidade para mulheres na política: és invejosa, queres o que é dos outros, tens a tara de tirar ao Pedro para dar ao Paulo, que é teu irmão? Anda para as nossas listas.

Tem havido um certo reboliço em torno de feministas nos meios liberais, uma coisa de que nenhum dos leitores ouvirá falar por ter relevância cultural entre a de um clube de bridge e a de um rancho folclórico. Todavia, o feminismo isabelmoreirista/câncioburaquista, infelizmente transversal quer a socialistas quer a socialistas que julgam ser outra coisa, é a encarnação mais recente do racismo (e que neologistas poderiam chamar de generofobia) e está aí para ficar, elegendo o sexo masculino como inimigo de ninguém sabe bem o quê. Podiam ser “os ciganos”, “os judeus”, “os pretos”, mas, para quê limitar o inimigo a franjas da população se se pode encontrar o inimigo em metade da população incluindo todas as etnias e as religiões?

Lêem-se frases incluindo “os homens decentes” ou “os homens inteligentes”, como em tempos se leram frases contendo “os pretos decentes” ou “os pretos inteligentes” sem que ninguém ligue o alarme. É o que é. Às vezes fico na dúvida sobre se nasci no tempo errado ou se é o resto do mundo que se esqueceu de nascer entre uma paragem e outra.

Jornais do Dia

Capa do Correio da Manhã

Correio da Manhã  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
Seis pessoas morreram em 2017 em acidentes em passagens de nível
Eleições de 2019 com plano europeu para tentar travar perturbações nas redes sociais
Desfigurar "sites" é arma de campanha no ciberespaço -- Centro Cibersegurança
Adesão da Sérvia à UE é perturbada pela ligação à questão do Kosovo -- MNE
Há 30 anos que Júlia Almeida anda a ver passar os comboios de bandeira na mão
Réptil reage mal a fotografia
Sérgio conceição exige reação aos seus jogadores

Capa do Público

Público  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
A oportunidade do digital e as músicas no exílio
Há um novo barão na quinta de Colares
Uma corrida, uma viagem
Cartas ao director
Obrigado pelas citações, F.F., mas eu tenho melhores
A pintora daqueles animais aristocratas que lhe enchem o Instagram (e os cafés)
A Melhor Chef do Mundo serviu truta e tripas em Lisboa

Capa do Expresso

Expresso  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
A guerra comercial pode ser evitada?
Taiwan
Geologia
A caça ao deputado e a bomba-relógio
Tirar a roupa

Capa do Jornal Económico

Jornal Económico  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
Taxa de lacticínios: PGR arquiva processo contra o vice-primeiro ministro
Euromilhões dá dois terceiros prémios a Portugal
Trabalhadores da distribuição terminam hoje quinzena de luta e continuam até 1 de maio
Costa destaca “excelente notícia” da subida de ‘rating’ de Portugal pela DBRS
Governo apresenta 2.ª feira proposta para investigadores do IPMA em greve
Wall Street cai puxada pela Apple
Ao contrário do esperado, Moody’s mantém ‘rating’ de Portugal em ‘lixo’

Capa do Jornal Negócios

Jornal Negócios  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
Coreia do Norte coloca ponto final no programa de testes nucleares
Governo diz que riscos apontados pela DBRS estão controlados
Costa destaca "excelente notícia" da subida de 'rating' de Portugal pela DBRS
Ainda não foi desta que a Moody's decidiu tirar Portugal do lixo
Centeno fala sobre a sua popularidade nas sondagens
Receios de queda nas vendas de smartphones pressionam Wall Street
DBRS sobe rating de Portugal para dois níveis acima de lixo

Capa do Diário de Notícias

Diário de Notícias  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
David Justino: "O PSD perdeu eleitorado pela forma como fez oposição"
Honra e glória conquistadas após forte susto com... uma onda
Depois de floresta ardida, limpam-se os terrenos. Às vezes até demais
"O conceito de piza mudou. Já não é fast food, pode até ser gourmet"
M1lhão: Conheça a chave vencedora
Ninguém venceu o superjackpot do Euromilhões. Vão ser 138 milhões na terça-feira
Feira de empresas portuguesas promove áreas afetadas pelos fogos

Capa do Jornal de Notícias

Jornal de Notícias  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
Nova Iorque proíbe veículos no Central Park
Primeira Página em 60 segundos: Violência e crimes nos estádios de futebol aumentam 26%
Metro à beira da rutura por falta de investimento
Câmaras dão casa para ter nadadores-salvadores
Dupla armada assalta quatro bombas de gasolina em Paredes e Penafiel
Violência e crimes nos estádios aumentam 26%
Lousada está em "Folia" este fim de semana

Capa do Sol

Sol  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS

Capa do Expresso Economia

Expresso Economia  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
Quando eu decidir ser Vanessa o mundo vai ver o que vale verdadeiramente uma mulher
Guy Playfair (1935 - 2018)
“Carousel”
Sem remédio e sem perdão
O regresso da regionalização

Capa do A Bola

A Bola  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
«Explorar fator casa frente a FC Porto e Sporting»
Barbara Palvin passou a noite com… Neymar
«O melhor de nós ainda está por chegar»
«Seria chato perder esta final»
PSG não está convencido com Antero Henrique e quer Wenger para o lugar
«Espero que Messi não esteja neste planeta»
Igualado recorde de pontos de 2009/10

Capa do Record

Record  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
Alvalade protegido por muro de betão
Acuña dá sinais positivos
Bruno de Carvalho com o futsal em Saragoça
Sócrates e Lello viabilizaram Seixal
Zaracho faz horas extras
Benfica pode festejar título em casa do Sporting
Manuel Abrantes: «Aceito que me vejam como o Manel do Estoril»

Capa do O Jogo

O Jogo  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
Festival Jovem antecede Dias da Música com bilhetes a favor dos Estudantes Sírios
Polícias debatem sindicatos na PSP enquanto lei continua parada no parlamento
Japão espera que decisão de Pyongyang sirva para desarmamento "irreversível"
ENTREVISTA: Relações com a Rússia e a China são do interesse da Sérvia -- MNE
Desfigurar "sites" é arma de campanha no ciberespaço -- Centro Cibersegurança
ENTREVISTA: Adesão da Sérvia à UE é perturbada pela ligação à questão do Kosovo -- MNE
Eleições de 2019 com plano europeu para tentar travar perturbações nas redes sociais

Trump não é um menino de coro

por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Expresso, 21/04/2018)

louça1

Por mais que seja tentador, tratar Donald Trump como uma caricatura de si mesmo é imprudente. Bem sei que apetece: a melena à rockabilly, o queixo levantado à Mussolini, a agressividade em todos os azimutes a empalidecer um presidente de clube de futebol, “moralmente incapaz”, diz o ex-chefe do FBI, Trump é mesmo uma caricatura. Mas é muito mais do que isso, é o chefe ocasional que tem nas mãos o poder do arbítrio e, sobretudo, é um precursor do que a direita vai passar a ser. Ele próprio usa a ‘estratégia do madman’, como Nixon em relação ao Vietname: sou louco e posso fazer tudo, tenham medo de mim. Em todo o caso, mais vale tomá-lo a sério e o sábado de bombardeamento da Síria demonstra porquê.

A farsa como guerra do Solnado

Há aforismos que têm a maldição de estar sempre certos: cada episódio destes dias, como o ataque à Síria, confirma que a tragédia se repete como farsa (a encenação sobre o êxito da coligação bombista), mesmo que a farsa também se repita como tragédia (os tweets de Trump dão lugar às bombas). Mas, além da repetição, há algumas particularidades desta deriva belicista que merecem atenção.

A primeira é a aparência, a enfatuação. Os mísseis certeiros, letais, formidáveis, caíram como o fogo divino sobre instalações previamente evacuadas porque os bombistas avisaram os bombardeados, parece a guerra do Solnado. Aniquilaram a capacidade de produção de armas químicas, dizem os bombistas; os bombardeados argumentam que não detinham tal capacidade (e, se a tivessem, houve tempo de pôr as reservas químicas a recato); portanto, ficam todos satisfeitos. Tudo um pouco ridículo, não é? Esta pantomina é ilustrada pelas declarações solenes de Trump, Macron e May, triste encenação.

O facto, em todo o caso, é que as bombas foram inúteis, mas o bombardeamento não. A ameaça é real; mostra que várias potências estão dispostas a bombardear a Síria para gerirem as suas crises internas, o que sugere que o possam fazer mais vezes; comprova que as Nações Unidas são desprezadas por Trump, como já se sabia, e que nisso May e Macron se alinharam com ele, o que era menos evidente; demonstra que, para as potências, a Síria é meramente uma fronteira da segunda Guerra Fria.

Curvemo-nos perante o grande líder

A segunda nota é uma constatação. Virou uma página para Trump, até ontem tão ridicularizado nas chancelarias europeias e de repente empossado como respeitado grande líder do mundo ocidental. Os dirigentes europeus correm a servir Trump, mesmo que por vezes com alguma infelicidade: a prosápia de Macron, que se gabou de ter convencido Trump a ficar na Síria, para logo ser desmentido pelo seu aliado, fica nos anais da aselhice diplomática. Mas o que o caso sublinha é que Macron só se vê como braço de Trump na Europa. Isso é novidade e é espantosa, redefine-se o alinhamento da política europeia.

Se nos lembrarmos da guerra do Iraque, em que nos foi servido abundantemente um menu de evidências forjadas de armas de destruição maciça, há uma diferença, é que a França se opôs no tempo de Chirac (e tinha razão). Mas quem quer saber de provas ou de factos, ou da população ameaçada, quando há bombas a lançar? O Ministério dos Negócios Estrangeiros português, que tem por lema escolher bem as palavras, sabia bem o que queria com o elogio da “oportunidade” do ataque: tinha que ser depressa. Santos Silva achou razões para virar as costas a António Guterres e o Governo foi atrás.

Este processo configura por isso a maior transformação que a União Europeia vive na última década. Em vez de alternativa a Trump, os chefes europeus preferem ser Trump, seguindo aquele velho ditado dos gangsters de Chicago, se não o podes vencer, junta-te a ele.

A segunda Guerra Fria

A terceira nota é sobre a consequência. E ela é maior do que as bombas combinadas do sábado passado. Os Estados Unidos desistiram da Síria, mas não de Israel; e Israel não desistiu do seu principal objetivo militar, o Irão. Portanto, há mesmo uma escalada em curso. Só que as opiniões públicas, nos Estados Unidos ou na Europa, não aceitam invasões para paradas militares em Damasco ou Teerão. Portanto, bombas.

Pior ainda, os governos que conduzem esta escalada são mais frágeis do que os de Bush e Blair no seu tempo; esgota-se mais depressa o efeito anestesiante de um bom telejornal com mísseis pelos céus; e as pessoas tendem a lembrar-se das suas vidas e até a votar a sua desconfiança. Resta então o que sobra sempre: o discurso do ódio. E é aí que entra a guerra que verdadeiramente interessa, a que criará as justificações para as etapas seguintes, a segunda Guerra Fria.


A campanha eleitoral de Centeno

Diz o ministro das finanças: “Há uma alternativa, mas ela corresponde a escolhas de regresso ao passado em que o país enfrentou o risco de sanções, em que os investidores nos rotulavam de lixo, em que bancos ruíam e com eles a confiança no sistema financeiro. Não temos memória curta. Eu não seguirei esse caminho”. Parece tirado a papel químico dos editoriais que o incentivavam a arrepender-se de desvarios passados, confirmando assim que abriu a era d.C., desde Centeno. Em d.C. a memória é viva e a contenção orçamental é imperiosa. Cigarra e formiga, não há ministro das finanças que não adore um conto infantil que termine bem.

Alguns, decerto mal intencionados, terão notado que o ministro fala como se fosse o chefe do Governo, “eu não seguirei esse caminho”, que se pronuncia sobre o calendário eleitoral, obrigando António Costa a retificá-lo, e até que vai ao Parlamento explicar a política de outros ministérios, decerto intimado pelo PSD, mas com algum gosto que confirma aquele retumbante “somos todos Centeno”.

Ora, esta política tem uma única justificação: a candidatura de Centeno a vice-presidente da Comissão Europeia após as eleições de 2019. Para tanto, com a atual trajetória orçamental, o ministro anunciará o êxito com 0% de défice em 2018 e prometerá superavit para o exercício de 2019, esse vai ser o seu cartão de visita para a candidatura. Será impressionante, mesmo que uma parte, a de 2019, fique por confirmar quando entregar a pasta, e será convincente sobretudo porque satisfaz o critério pelo qual tudo se mede, o do défice. Só que este critério é errado e nem tudo o que reluz em d.C. é ouro.

O critério é errado pelo método. O Ministério das Finanças tem como objetivo o défice 0% em 2018 e superavit em 2019 unicamente por gestão das aparências. Estes objetivos nem são ocultados: as contas para os 0,7% agora anunciados incluem o gasto de 791,7 milhões de euros com o Novo Banco, dado que foi ativada a sua garantia contingente. Portanto, notando este despesismo bancário sempre justificado pelos contratos de conforto ao Lone Star, que comprou sem pagar o Novo Banco, o défice real das contas públicas seria de 0,3%. Mas as receitas estão subavaliadas e, como as finanças mandam em todos os ministérios, podem também controlar a despesa até ao final do ano para termos o número mágico. O verdadeiro objetivo é zero e a conta será zero.

Ora, essa forma de gestão é errada porque entrega às finanças a decisão sobre dossiês que só podem ser geridos com eficiência pelos outros ministérios. Foi por esse disparate que tivemos o concurso das médicas especialistas retido durante um ano por veto de gaveta das finanças, que olham para as contas, mas não para as necessidades, e que, por isso, ignoram a racionalidade das escolhas.

Mas o critério é ainda mais errado porque desperdiça a oportunidade de corrigir as contas públicas portuguesas. Pela minha parte, eu compreenderia uma obsessão contra o défice se a dívida portuguesa estivesse a ser emitida a 7% de juro, como aconteceu no passado. Mas se o défice é pago com dívida de curto prazo a juros negativos ou de médio prazo abaixo do crescimento nominal do PIB, mais vale gastar já o investimento que seja urgente, é mais racional do ponto de vista orçamental.

Veja o seguinte exemplo: um hospital precisa de um novo TAC, o atual está estragado. Se o comprar, é despesa, conta para o défice. Se não o comprar, as contas públicas parecem melhor, mas o serviço do hospital parou — é portanto défice escondido, porque algum dia vai mesmo ser preciso comprar a máquina. Se alguém nos diz que a melhor gestão é evitar o investimento, não se ofenda se ouvir que o fingimento é o pai da incompetência. Nenhuma candidatura a um lugar europeu vale a gestão deficiente do orçamento.

As escolhas: o que interessa e o que apenas entretém

por estatuadesal

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 21/04/2018)

MST5

1 Portugal é um país assaz curioso: dentro da sua pequenez geográfica, o grande fascínio que tem é a sua diversidade — paisagística, cultural, arquitectónica, culinária. É tudo menos um país monótono. Mas, simultaneamente, do ponto de vista político, essa pequena dimensão geográfica, aliada a uma antiquíssima unidade e identidade nacionais e à sua localização na periferia de todos os conflitos contemporâneos que dilaceram a Europa e o mundo, mais os nossos tradicionais brandos, e agora liberais, costumes, deveria fazer deste país uma espécie de modelo perfeito de boa e fácil governança. Por que razão tal não sucede, então — pelo menos a fazer fé nas conversas com que os portugueses se entretêm nas tertúlias de café ou nos fóruns das rádios, onde se aliviam sem tréguas do seu inesgotável ódio e desprezo pela gestão política do país, venham os governos que vierem? Bem, há sempre aquela explicação, meio lenda meio verdade, do general romano que escrevia a César explicando que o problema era do povo que aqui vivia, os lusitanos, que nem se governavam nem se deixavam governar. Deixo a explicação profunda para os politólogos, que estudaram para isso, mas confesso que às vezes fico a pensar se o conceito de política que os portugueses gostam de discutir é realmente a política que interessa discutir. A política, simplesmente. E não a politiquice. Um bom exemplo é o charivari feito a propósito dos dois acordos estabelecidos esta semana entre o Governo PS e o PSD.

O que acordaram Costa e Rio de tão determinante e grave que levou a oposição interna a Rio a acusá-lo de posicionar publicamente o PSD como “muleta do PS”, os parceiros de extrema-esquerda do Governo a entrar em histeria de cônjuge enganado e os especialistas da politiquice a cheirarem sinais iniludíveis de regresso ao “bloco central”? Bom, primeiro acordaram numa posição conjunta em Bruxelas que permite defender a manutenção do valor do cheque de fundos estruturais a favor de Portugal no programa 20/30, já sem a contribuição inglesa, após o ‘Brexit’. É caso para perguntar a quem é que isto incomoda? Há por aí alguém, algum partido, que defenda o contrário, menos dinheiro de Bruxelas? A seguir, os dois conjurados defenderam aquilo a que pomposamente chamaram “pacote da descentralização”, que mais não é do que um tímido acréscimo de competências para as autarquias locais, acompanhado do respectivo envelope financeiro. Aqui entre nós, um simulacro de descentralização, que nada de substancial muda e a ninguém incomoda — a começar pelo PCP, o outro partido autárquico. Descentralizar é coisa absolutamente diferente e estamos longe, muito longe de ouvir o primeiro partido atrever-se a defendê-la, além dos discursos vácuos. E há duas formas de a fazer. Uma é a forma falsa, demagógica e ruinosa, que consiste em recuperar o já derrotado processo de regionalização. Dividiria o país em coutadas políticas, ao serviço dos partidos e seus caciques locais, instalaria um clima de guerra civil, financeira e política, permanente, e levaria Portugal à bancarrota num instante. A outra seria a fórmula séria, a única que verdadeiramente promoveria a descentralização e combateria aquele que é um dos principais problemas que enfrentamos, que é o despovoamento e envelhecimento galopante do interior. Consistiria em deslocar para fora dos grandes centros urbanos empresas públicas de vocação industrial e serviços públicos de apoio à indústria, à agricultura e infraestruturas, deslocar universidades e centros de investigação, em lugar de alterar excepcionalmente o PDM de Lisboa para os colocar à beira-Tejo, obrigar os museus, teatros e orquestras nacionais a passarem metade da temporada em digressão pelo interior, promover uma radical reforma fiscal que tributasse a zero por cento de IRC as empresas que se fossem instalar longe dos grandes centros urbanos criando postos de trabalho efectivos e com 50% de desconto o IRS dos trabalhadores, que criasse uma jurisdição especial para resolução acelerada de conflitos na aérea comercial, empresarial e de trabalho, e, já agora, se faz favor, uma política implacável de protecção ambiental, sem celuloses nem pocilgas nem lagares de azeite a despejarem esgotos sem tratamento para os rios. Enfim, uma descentralização que, preservando a superior qualidade de vida do interior e tirando partido dela, lhe trouxesse o mais precioso dos capitais para o seu desenvolvimento: o capital humano. É a isso que eu chamo política a sério. Mas dá trabalho e exige reflexão e coragem. Não vai a tempo das eleições de 2019.

2 Deixemos então de lado as escolhas que apenas entretêm e que tanto ocuparam os partidos, o Parlamento e os especialistas nestes assuntos esta semana, e vamos àquelas, que, de facto, interessam. A mais importante de todas foi levantada por Mário Centeno a propósito do Programa de Estabilidade para os quatro próximos anos e já aqui escrevi brevemente sobre isso há oito dias.

A questão pode resumir-se, como Centeno fez. E de forma simples e linear, o que só torna a escolha mais fácil: o que fazer com os 800 milhões de euros de saldo que vamos herdar da execução orçamental: aproveitá-los para diminuir a dívida ou gastá-los? Num cenário perfeito, a resposta seria simples: vamos gastá-los e renegociar a dívida, cortando parte do capital ou dos juros. Não digo que não fosse justo, pelo menos em parte e atendendo à composição da dívida, mas o certo é que não está nas nossas mãos consegui-lo e o contexto político europeu está longe de se mostrar propício a tal. Mais vale portanto tratar do assunto sem esperar a generosidade alheia.

O que fazer com os 800 milhões euros de saldo que vamos herdar da execução orçamental: aproveitá-los para diminuir a dívida ou gastá-los?

Na tese dos que defendem que o dinheiro sobrante é para ser gasto, coexistem dois argumentos, um formal e outro substancial. O argumento formal é que o défice previsto para este era de 1,1% e não de 0,7, como agora se prevê — a tal diferença de 800 milhões de euros, já incluindo nova injecção para prejuízos desse ruinoso brinquedo que é o Novo Banco. Logo, cumpra-se o Orçamento. A tese substancial é que não é socialmente aceitável continuar uma política de contenção de despesas além do acordado, quando falta dinheiro para serviços públicos essenciais, designadamente na saúde e na educação. Isto é o que diz o BE, porque o PCP vai mais longe e quer dinheiro para tudo o resto, na sua tradição de que não há limite para a despesa pública e que se os governos não aumentam salários, pensões, subsídios e tudo o resto, é só porque não querem.

A tese oposta, aparentemente partilhada sem estados de alma por António Costa e todo o Governo, é que não sobra dinheiro algum: há sim 800 milhões de euros de dívida a menos para pagar, mais os respectivos juros. E que, se não aproveitarmos esta conjuntura excepcional de crescimento económico, aqui e na Europa, e de juros baixos (a qual em breve se espera que começa a mudar), teremos perdido uma oportunidade, que tão cedo pode não se repetir, de trazer o monstro da dívida pública para patamares que não nos sufoquem a todos. E que nos coloquem em situação de nos deixar mais bem preparados para enfrentar uma crise como a de 2008, que nos obrigou a pedir ajuda externa quando os juros da dívida chegaram aos 10% nos mercados.

A escolha é esta. Há pormenores mal explicados em cada uma das posições: custa-me a perceber, por exemplo, como é que com cada vez menos crianças e menos escolas e depois do imenso investimento na Parque Escolar, ainda falta tanto dinheiro para a educação; assim como me custa a perceber como é que a banca, mesmo depois da Resolução e alegada privatização do BES, continua a ser um saco de dinheiro roubado aos contribuintes cujo fundo ninguém conhece. Mas, independentemente dessas nebulosas, também não consigo entender como é que os partidos que mais gritaram contra os encargos da dívida pública, o BE e o PCP, agora acham que diminuí-la, aproveitando as condições favoráveis, não é uma prioridade da política de finanças públicas. Ou conhecerão uma solução milagrosa?


Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

Costas e Ferrões e a Justiça de pelourinho

por estatuadesal

(Por Estátua de Sal, 21/04/2018, 01h)

COSTA_FERRÃO

Estive a ver a SIC Notícias. O Mano Costa e o Ferrão ao leme no Expresso da Meia Noite. Pareciam coscuvilheiras e lavadeiras de roupa suja à volta do lavadouro a falar do mau porte da filha da vizinha que anda enrolada aos sábados com o taberneiro aos e com o padre aos domingos.

Para a SIC o taberneiro é o Sócrates e o padre é o Ricardo Salgado. A vergonha perdeu-se. A SIC e o Expresso, que à época dos supostos "crimes" beijava a braguilha ao Salgado, agora descobre que afinal o Salgado sempre tinha tido a braguilha murcha, pouco limpa e pouco recomendável.

Em vez de se penitenciar pela criminosa divulgação dos interrogatórios a Sócrates, uma canalhice que devia fazer encher de vergonha qualquer jornalista decente, a SIC chafurda nas escutas, nos vídeos transmitidos à margem da lei e ergue a bandeira da pulhice como lema. É uma novela de pérfido mau gosto.

Que interessa saber se a mulher do Santos Silva não gostava do Sócrates? Que interessa saber se as cortinas do apartamento de Paris eram cor de rosa ou azuis? Talvez numa telenovela mexicana das mais rascas e lamechas isso possa ser relevante, mas nunca para a partir dessas minudências inferir a culpabilidade de quem quer que seja.

Mas, sibilinamente, as lavadeiras foram dizendo ao que vem: atacar o Governo, e nomeadamente o PS. Que o Sócrates tinha um projecto totalitário para o país, disse um deles, queria dominar tudo, a economia, a comunicação social e até a Justiça! E retorquiu o outro: É estranho, que nenhum dos membros deste Governo, que também foram ministros de Sócrates nunca tivesse dado por nada.

E diz outro: - E esta historia do Manuel Pinho e do Salgado, perante ela toda a classe política está calada, nomeadamente o Governo.  E todos concordaram. Amén.

O Mano Costa e o Ferrão parecem o Patilhas e Ventoinhas, inspectores fictícios criados pelos Parodiantes de Lisboa de saudosa memória. Mas já que tem tanto jeito para chafurdar na cusquice eu tenho muito mais casos para lhes entregar: perguntem ao Dr. Ricardo Salgado para quem foi o milhão das luvas envolvidas no negócio dos submarinos e que, nem à família, ele quis identificar. Perguntem ao Dr. Relvas e ao Passos para onde foi o dinheiro que a União Europeia reclama no caso da Tecnoforma, perguntem à Dra. Joana Marques Vidal como puderam ser roubadas crianças às mães, traficadas para os bispos da IURD, com a sua concordância e despacho favorável. E se não vos bastar, ainda tenho mais casos para vos colocar debaixo do nariz.

Mas se é para investigar a porcaria, vistam primeiro escafandros protectores, não vá ela fazer ricochete e sujar a suposta postura justiceira da SIC e do Dr. Balsemão, como sucedeu no caso dos Panamá Papers que, a partir de certo momento, tiveram que ser encerrados na gaveta, longe de olhares indiscretos, para evitar danos colaterais indesejados.

E, já agora, não pisem muito os calos ao Ricardo Salgado; e se o forem incomodar peçam licença, façam vénia e perguntem antes se ele tem disponibilidade na agenda para vos receber. O Alexandre e o Rosário já perceberam isso e tem-no tratado com a deferência que é devida a um banqueiro de velha linhagem porque devem ter percebido o lema, feito aviso, que há uns meses o Dr. Ricardo deixou a pairar sobre as cabeças de muito boa gente deste país: - O leopardo, quando morre, deixa a sua pele.

Pois é. Se o Dr. Ricardo abre a boca, não teremos um caso de polícia, mas um caso de regime. É por isso que Sócrates deve estar a rir-se à grande da inépcia do Procurador Rosário quando atrelou o Salgado e a PT nas fraldas do Marquês. E mais deve estar grato à SIC por lhe ter dado tanto tempo de antena com esta história dos vídeos dos interrogatórios. É que, quem sai como herói da novela é ele, tal a convicção com que se defendeu, e tal o atropelo e a devassa a que foi sujeito.

O Procurador fez figura de inapto e de vilão. As provas ninguém as viu, nem a cores nem a preto e branco. E mesmo muitos dos que sempre acharam que Sócrates é culpado, hesitam hoje na sua condenação, ou pelo menos na sua condenação com estes métodos, e com estes requintes de malvadez e insanidade.

É que, todas as elucubrações da SIC nas peças que construiu a partir dos vídeos, começam invariavelmente com a ladaínha : "A investigação acredita que.... bla... bla... bla...". Note-se o verbo acreditar. É portanto, uma questão de fé. Nunca é dito que a investigação provou ou demonstrou.

Eu espero que, a Inquisição já tenha acabado em Portugal, e já não se condene ninguém por autos de fé. O Procurador Rosário acredita. Bom, também eu acredito em muita coisa - em cada vez menos ícones, diga-se de passagem -, mas não acho que isso seja suficiente para acusar seja lá quem for, e muito menos para condenar alguém ao cárcere.

E, em relação à SIC e às masturbações justiceiras dos Costas, Ferrões, Ferreiras e quejandos, deixem-me que vos diga que eu não só acredito que tenham cometido um crime como o afirmo com todas as letras, como bem disse hoje, finalmente, a Ministra da Justiça (Ver aqui)  vindo a sofrer por isso a punição devida. Pelo menos, eu ainda vou querer acreditar nisso.