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terça-feira, 24 de abril de 2018

A Galp dá-lhe as boas-vindas aos benefícios flexíveis!

Mariana Mortágua

Hoje às 00:04

"O plano de benefícios flexíveis vem permitir que cada colaborador possa escolher, se assim o entender, de uma forma dinâmica, flexível e participada, os benefícios adicionais de que pretende usufruir". É assim que a Galp apresenta aos seus trabalhadores uma nova política de remunerações, que permite substituir uma parte variável do salário - os prémios anuais - pelo reembolso de despesas em transportes, saúde, reforma, educação e tecnologia. As faturas devem, segundo as instruções, ser pedidas com o número fiscal da Galp. E o prospeto continua: "com este plano ainda beneficiarás de um conjunto de vantagens: condições específicas e atrativas, adequabilidade às necessidades de cada colaborador, aumento da disponibilidade financeira, facilidade do processo de adesão".

Ignoremos as "condições específicas e atrativas", uma vez que não significam nada. A "adequabilidade às necessidades" quer dizer, na verdade, substituir um salário que o trabalhador deve poder gastar (ou não) como entender, por despesas em áreas e empresas pré-determinadas, escolhidas pela Galp. É difícil compreender como é que estes esquemas servem as necessidades de cada "colaborador" ou quais as vantagens face à boa e velha transferência bancária.

Mas o busílis está no "aumento da disponibilidade financeira". Não se entende, à partida, como é que a disponibilidade financeira dos assalariados aumenta se são os próprios a avançar com os pagamentos, depois reembolsados. No prospeto a Galp explica. Conforme a área, as vantagens são: "isento de IRS", "não sujeito a contribuições para a Segurança Social", "recuperação do IVA".

Portanto, a Galp alicia os trabalhadores dizendo-lhes que, sobre parte do seu salário, pagarão menos impostos e menos contribuições para a Segurança Social. Nalguns casos, ainda podem também recuperar o IVA, apresentando as faturas como custos da empresa. Por seu turno, a petrolífera poupa na contribuição patronal para a Segurança Social e ganha publicidade e acordos empresariais.

A novilíngua empresarial é de uma criatividade sem limites, assim como a falta de ética. A Galp propõe aos trabalhadores que colaborem numa forma "dinâmica, flexível e participada" de planeamento fiscal e contributivo. E o mais perverso é que, no médio prazo, serão esses trabalhadores os mais afetados pela ganância da petrolífera, na sua pensão, por formarem uma carreira contributiva mais pobre.

A popularização destes esquemas, como os cartões de refeição, naturaliza a substituição de parte do salário por pagamentos em género e individualiza ainda mais negociação salarial; descapitaliza a Segurança Social, com prejuízos diretos para os trabalhadores; reduzirá a receita fiscal necessária ao financiamento de áreas sociais.

DEPUTADA DO BE

Voltando ao regime...

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

  • Eduardo Louro
  • 23.04.18

Capa Público

... O "Público" "diz" hoje que o ministro Vieira da Silva guardou na gaveta o relatório da auditoria à Santa Casa da Mersericórdia de Lisboa, particularmente negativo para a gestão de Santana Lopes.

Segundo o jornal, o relatório apresentava uma longa lista de irregularidades e denunciava pressões e condicionamento do trabalho dos auditores. De tal forma que o ministro achou que não seria muito conveniente homologá-lo - note-se bem, homologá-lo não é divugá-lo - antes das eleições internas do PSD.

Bloco central é isto, não é outra coisa. A outra coisa? Só por cima do cadáver de todos os Santana Lopes!

E o regime é isto, para que fique bem entendido...

Ladrões de Bicicletas


Efeitos perversos

Posted: 24 Apr 2018 01:40 AM PDT

Paremos para pensar.
Dois senhorios são proprietários de dois prédios iguais para arrendamento e praticam a mesma renda. O senhorio "mau" decide aproveitar para fazer arrendamento de curto prazo. Isso permitirá um aumento mais rápido das rendas, com potencial despejo de quem não aceite. O senhorio "bom" faz um arrendamento de longo prazo com aumentos mais condicionados de renda e com uma manutenção dos inquilinos.
O Governo quer transformar o senhorio "mau" em "bom", graças a uma descida para metade do IRS sentido pelo senhorio "bom".
Quando é que isso acontecerá?
Leitura de economista: o senhorio "mau" vai querer ser "bom" se a redução fiscal for superior ao que ganharia com os sucessivos aumentos de renda. Isso quer dizer que a medida só será eficaz se o aumento da renda praticado pelo senhorio "mau" for inferior a um certo limiar abaixo do qual ele sente que há mais vantagens em ser "bom". Exemplo: se a renda inicial fosse de 200 euros e o senhorio bom aumentar para 250 euros (mais 25%) e o senhorio "mau" para 300 euros (mais 50%), os rendimentos disponíveis dos dois senhorios assemelham-se. Mas se o senhorio "mau" aumentar para 400 euros, já ganha mais com o aumento do que ser senhorio "bom".
Se o senhorio "mau" achar que quer continunar a ser "mau" - ou mesmo "muito mau" - tenderá a aumentar mais o valor da renda, para lá desse limiar. Até porque tem procura para tal, vinda do estrangeiro. Por outras palavras, a medida pode ter o efeito perverso de conseguir o contrário do desejado e não suster o aumento das rendas.
Segunda questão. Por que razão decidiu o Governo desagravar a tributação dos senhorios "bons" e não agravar a dos senhorios "maus"? É que ao fazer isso, vai criar desigualdades fiscais relativamente a outros tipos de rendimentos.
Os rendimentos do trabalho e das pensões, por exemplo, chegam a ter taxas de tributações marginais três vezes superiores aos dos senhorios "bons". Há rendimentos de capital que ficam a acima da taxa sentida pelos senhorios "bons". Está o Governo a querer fazer transferir os trabalhadores por conta de outrem, pensionistas e detentores de outro tipo de capital para os transformar a todos em proprietários prediais "bons"?
Não sei porquê, mas parece que as coisas não terão sido suficientemente pensadas, de forma articulada.  

Os limites de José Rodrigues dos Santos

Posted: 24 Apr 2018 12:43 AM PDT

O jornalista e pivot da RTP José Rodrigues dos Santos (JRS) decidiu, ele próprio e por duas vezes (a primeira a 18/4/2018), nomear em directo o recém-nomeado Míguel Díaz-Canel como o “novo ditador” de Cuba.
A referência deu azo a uma polémica nas redes sociais. Em sua defesa, surgiu a ideia: Mas se é verdade, por que não dizê-lo? A resposta a essa questão é, obviamente, muito mais complexa do que aparenta.
Por que será ele um “ditador”?
É porque não há eleições ou partidos? Todos nós conhecemos países no mundo em que há partidos e eleições e se está longe de haver democracia... Nem é preciso ir mais longe: basta lembrar Portugal antes do 25 de Abril. Regularmente, o regime deixava constituir-se listas da oposição, mas a ditadura fazia-se sentir de outras formas: recenseamentos adulterados e limitados a uma minoria da população, sistema eleitoral sem representatitividade, repressão da oposição, violações várias aos direitos essenciais, etc., etc.
Será ele “ditador” porque a opinião não é livre e se pode ir parar à prisão por a expressar? Mas essa foi a situação comum em tantos países do mundo! Até acontece actualmente em Espanha e, que eu me lembre, JRS nunca chamou “ditador” a Rajoy...
Será ele “ditador” porque quem exerce o poder não é o povo soberano desse país, que não determina as regras de funcionamento social do país? Mas se assim é, nem precisamos de ir mais longe: falemos da moeda única, falemos do Tratado Orçamental, do Semestre Europeu, de todo o edifício europeu que conduz à centralização de decisões e de poderes num conjunto muito reduzido de pessoas na União Europeia, sem que se perceba – e sem que se consiga averiguar – quem exerce efectivamente o poder. E que eu saiba, nunca fui chamado a sufragar essas decisões. Para mim, trata-se de um golpe de Estado "constitucional".
E depois um “ditador” nunca está sozinho. A pessoa escolhida geralmente constitui apenas a cara de um sistema de forças que o colocou lá e que o mantém até que não seja necessário. E esse sistema de forças não é apenas nacional. É necessário haver cumplicidades internacionais que o favoreçam, caso contrário ele será deposto a pretexto, precisamente, de ser um ... “ditador”. Limitar toda esta situação a um mero papel de pacotilha de uma pessoa, é extremamente redutor e pobre.
Como é redutor e simplista abordar desta forma a situação política de países que tentaram afastar-se de uma lógica do sistema capitalista e que respondem a um desafio tremento: como é possível manter vivo um regime alternativo, cercado e atacado pelo mundo circundante? É um bom tema de discussão, e que tem passados terríveis (como o tem o regime capitalista mundial), mas que vai muito mais além da simplista formulação de "ditador"...
Aliás, interessante porque se bem se recorda, em 1959, Fidel Castro - após a revolução dos barbudos massivamente apoiada pela população - foi aos Estados Unidos pedir ajuda para o novo regime e os Estados Unidos recusaram-na, obrigando Cuba a recorrer aos países socialistas.
Mas se o apego de JRS é à verdade, nesse caso deveríamos exigir dele que adjectivasse um pouco mais quando menciona outras pessoas: o “mentiroso” Passos Coelho – que fez uma campanha eleitoral sabendo que ia aplicar um programa totalmente diferente; a “incompetente” troica que não entendeu que o seu programa nunca poderia ser eficaz; a “despudorada” e "ditadora" Merkel que sabia que estava a exigir “resgates” à Grécia e a Portugal que nunca poderiam ser pagos, que iriam condenar à pobreza milhões de gregos e portugueses, apenas para salvar os donos dos bancos alemães e franceses; o “vendido” Juncker que fixou acordos de baixa tributação com multinacionais em detrimento do comum cidadão; o no mínimo “incompetente” governador do Banco de Portugal que, já quando estava no BCP, era director do departamento internacional e desconhecia a existência de 17 veículos financeiros criados para empolar a cotação do banco ou, quando já estava no Banco de Portugal, deixou Ricardo Salgado à frente do banco, permitindo-lhe desfalcar o banco antes da intervenção pública... E a lista – como se imagina - poderia prosseguir.
Mas que se saiba JRS nunca teve o apego à verdade de os chamar assim. Apenas porque essa adjectivação vai contra as suas próprias opiniões. E esse é o risco da adjectivação: é que geralmente tende a privilegiar os nossos pontos de vista e a subavaliar os outros. Ou seja, a questão é que JRS está usar a sua posição de pivot para expressar os seus pontos de vista, quando a sua função deveria ser outra.
JRS sabe bem melhor o que é a televisão pública para estar a ter um ataque de teimosia que apenas mancha a televisão pública e o prejudica a ele.

O Meu Amigo Cerejo

Somos amigos desde os nossos tempos na Faculté des Sciences Économiques, Sociales et Politiques da Universidade de Louvaina. Uma amizade que soube manter-se e ultrapassar “divergências políticas”, sempre que as houve, e outras diferenças de posicionamento. Está dito para a “declaração de interesses”.

  • 23 Abril, 2018
  • José Mateus
  • amizade não é, contudo, chamada para o tema de hoje. O que aqui traz o Cerejo é outra coisa. É a alarve facilidade com que, soezmente, qualquer cretino atenta (até sem necessidade de recorrer às NTIC…) contra a reputação de um homem honrado, de grande seriedade e inteligência. De um homem de uma grande lisura de processos e de enorme domínio técnico das metodologias do seu trabalho.

Pouco depois de se ter reformado e, portanto, ter cessado o seu trabalho regular no “Público”, José António Cerejo (Jac, como há décadas lhe chamo) começou a ser alvo de uma miserável (em todos aspectos) campanha caluniosa.

O tema era o inefável “afinal, todo o homem tem um preço” e dizia, mais ou menos, isto: “O Santana Lopes deu uma avença ao Cerejo, comprou-o e ele calou-se com as suas investigações às “bernardas” da Santa Casa”.

Vejam a primeira página (e as quatro seguintes) do “Público” desta segunda-feira (23 de Abril). Mesmo reformado, o meu amigo Cerejo dá uma bela lição de jornalismo de investigação e mostra que não é qualquer Santana que pode pagar o seu preço de homem.

Abraço, Jac. Salut, l’artiste!

Exclusivo Tornado / IntelNomics

O PS e a situação de Lula: socialista sim, seguidista acrítico não!

por estatuadesal

(Jorge Rocha, in Blog Ventos Semeados, 23/04/2018)

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Militante socialista há mais de trinta anos preparo-me para ir votar na renovação do mandato de António Costa como secretário-geral do meu partido por ser quem possui as qualidades, a inteligência e a capacidade para manter as convergências à esquerda, que finalmente se enquadraram com quanto sempre pensei ser a melhor estratégia para impedir as direitas dos negócios em incrementarem as desigualdades entre os portugueses, favorecendo os mais ricos em detrimento dos mais desprotegidos.

Se gostaria de ver acelerada a correção das injustiças, das desigualdades e das liberdades (mormente contra o inquietante diktat de magistrados e juízes!), compreendo que se deva seguir o conselho de uma velha canção de José Mário Branco (“se vais à frente demais/ bem te podes engasgar”) e não me inquieto com cerimónias de acordos ao centro cujo sentido semiótico significam intenções distintas das que lhes têm sido conotadas.

Voto em António Costa, também porque o seu opositor, líder da tendência «Resgatar a Democracia», representa exemplarmente tudo o contrário, bastando olhar para algumas das «personalidades», que o acolitam, mormente aqui no Seixal.

Mas esta confiança em António Costa e a convicção em como Jerónimo de Sousa tem razão ao prever que a próxima legislatura continuará a comportar um equilíbrio de forças entre as esquerdas e as direitas aparentado com o atual, não me exime de lamentar atitudes internas por parte dos que apoio e se silenciam perante acusações de cederem a pressões brasileiras e norte-americanas para que não tomem posições públicas de apoio a Lula no combate decisivo contra a ignóbil (in) Justiça brasileira.

Relativamente à Operação Marquês ainda pude engolir em seco perante a passividade do Rato relativamente a alguns dos episódios de evidente violação dos princípios republicanos mais inegociáveis por parte de juízes e magistrados, que usaram e abusaram do princípio da separação de poderes para agirem como ditadores e não como representantes de uma Justiça democrática. A barragem mediática de manipulação contra Sócrates revelou-se tão eficaz, que uma boa parte dos portugueses não dá sequer o benefício da dúvida ao ex-primeiro-ministro numa altura em que, por Lei, ele deveria ser considerado presumivelmente inocente. Se o cálculo teve a ver com os votos perdidos por alguma posição antipática a esses cidadãos com um deturpado conceito do que deve ser a Democracia, só posso considerar lamentável, porque os valores e os princípios devem ser mais importantes do que um ou dois por cento no momento das contas eleitorais.

Mas o que pôde levar Ana Catarina Mendes e a sua parceira espanhola a faltarem à Conferência organizada pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra para a qual haviam confirmado a presença? Se Boaventura Sousa Santos tem razão quanto à relação causa-efeito entre as pressões diplomáticas de Trump e de Temer junto do meu partido para que ele se cale perante a iniquidade com que Lula está a ser tratado no seu país, só posso considerar que quem assim age tem a minha ruidosa discordância.