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quarta-feira, 25 de abril de 2018

OS AMIGUINHOS DO POVO

por estatuadesal

(José Gabriel, 24/04/2018)

capitalista1
A direita em Portugal - e todos os assumem as suas políticas -, abomina o investimento em serviços públicos de, particularmente, três áreas: saúde, educação e segurança social - por esta ou outra ordem. Como o sabemos? Pelas suas práticas reiteradas cada vez que as suas políticas hegemonizam o poder. Para a direita e quem faça as suas vezes, investimento público significa, invariavelmente, sugar com avidez os recursos do Estado, de todos nós, e pô-los ao serviço dos interesses privados que a patrocinam.

Que isto seja frequentemente acompanhado de corrupção é um desgraçado bónus que fica à nossa conta; mas, mesmo quando isso não acontece, a natureza do saque muda mais de grau que de natureza.

Daí o profundo nojo com que se assiste à direita parlamentar rasgando as vestes pelo financiamento do Serviço Nacional de Saúde, quando ela própria votou contra ele desde a sua fundação e, sempre que lhe coube governar, mais não fez que lhe desviar fundos para as organizações privadas do sector; a náusea que provoca ouvir a defesa do Ensino Público por quem o deixou à beira da exaustão enquanto uma rede de desqualificados parasitas lhe vampirizava os recursos; a raiva de ouvir preocupações sobre a Segurança Social por parte de quem sempre se dividiu entre privatizá-la ou deixá-la esgotada de meios e futuro.

E a revolta não decorre tanto do facto de a direita e correlativos defenderem os pontos de vista dos interesses que representam. Isso é natural, não seria de esperar outra coisa.

O repugnante é o modo como as figuras mais reaccionárias do regime tentam mimetizar comportamentos e argumentos geneticamente de esquerda, em tons que variam entre a indignação de pechisbeque e a piedade lacrimejante dos hipócritas. Com seguimentos conhecidos nas suas metástases televisivas e jornalísticas.

Sócrates, o criminoso nato

Opinião

Miguel Guedes

Hoje às 00:03

  • A exposição da debilidade humana é uma revelação de falência da sociedade democrática. Quando sujeito à pressão e ao escrutínio dos interrogatórios da Operação Marquês, José Sócrates comporta-se como qualquer acossado. Gesticula, verborreia, atira-se às grades com distinção animal, defende e ataca, dissimula e voa entre figuras de estilo e acto dramático. Nada de provinciano transmontano assoma ou de fausto parisiense brilha. Não há qualquer justificação ou interesse público em ver um animal político dar luta senão para edificar a convicção no julgamento público da sua culpa. Sabe-se agora que ninguém está a salvo de ver a sua liberdade devassada com videoinquéritos judiciais sem consentimento informado. Não há razão plausível que me convença de que quem defende esta invasão da justiça pelo dente-por-dente não se mova, sobretudo, pela sede canina de soltar o seu olho-por-olho em rasgo individual de carrasco.

Com a devida vénia em dia de Liberdade, nem a minha nem a convicção de ninguém sobre a culpa ou a inocência de José Sócrates são para aqui chamadas. Sorridentes, continuam a desfilar os alumiados que mancham todos aqueles que defendem os mais elementares princípios de direito, associando-os à torpe tentativa de justificar ou absolver Sócrates. Esse processo de linchamento do Estado de direito pela sede de ir ao pote dos ódios particulares é uma perigosa travessia para o tempo dos algozes. Ao longo dos dias, analistas políticos transformaram-se em especialistas comportamentais através de câmaras de vigilância. Salivam por frame. Asseguraram o interesse público na divulgação de imagens de um processo judicial em curso, estimulados pelas expressões faciais subliminares, manifestações corporais com peso específico, pelos silêncios e escusas de labirinto, pelo timbre de voz da fera ou pelo seu esmagador silêncio, pelos segundos de aceleração aos 100. Não há nada de novo, não há investigação. Há voyeurismo judicial. A felicidade do torcionário está estampada. O julgamento pela convicção está na cara.

É assustadora a facilidade com que hoje se reescreve o "Tratado antropológico experimental do homem delinquente". No século XIX, a teoria do criminoso nato de Cesare Lombroso fazia escola na antropologia criminal, inebriada pela selecção natural de Darwin. Bastava, então, a análise das características puramente físicas e comportamentais para se apontar ao criminoso, condenado que estava à reincidência pelo peso da hereditariedade e pela irrenunciável vertigem da delinquência. Epicteto, filósofo grego, assegurava que "não são as coisas que nos perturbam mas a forma como interpretamos o seu significado". Se a justiça passar a conviver bem com um kit de justiceiros, convirá tipificar criminalmente o ódio como a verdadeira doença.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.

MÚSICO E JURISTA

terça-feira, 24 de abril de 2018

Entre as brumas da memória

Entre as brumas da memória


25 Abril – Falta (muito menos de) 1 dia

Posted: 24 Apr 2018 02:04 PM PDT

@alfredocunha
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Também há isto, claro

Posted: 24 Apr 2018 10:53 AM PDT

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Onde estive eu no 25 de Abril? Foi assim

Posted: 24 Apr 2018 10:41 AM PDT

Noite cerrada, o telefone a tocar pouco depois das quatro da manhã, alguém que me diz que a tropa está na rua, uns minutos de espera, de ouvido colado a um velho aparelho de rádio, a voz inconfundível de Joaquim Furtado: «Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas. As Forças Armadas portuguesas apelam a todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de se recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma.»

No primeiro acto de desobediência a novas autoridades, que ainda nem o eram, saí imediatamente e só regressei a casa na madrugada do dia seguinte. Fui ter com amigos, reunimos máquinas fotográficas, deambulámos de carro e a pé pela cidade – horas e horas primeiro pelas ruas da baixa, depois no Carmo até à rendição de Marcelo.

Pelas 11 da manhã, quando absolutamente nada estava ainda decidido, alguém me tirou esta fotografia, no Largo do Corpo Santo, em Lisboa – guardo-a como a mais preciosa de toda uma vida. Tinha acabado de perguntar àquele soldado, empoleirado no tanque, o que se passaria a seguir. Que não sabia, mas que estava com Salgueiro Maia e que tudo ia correr bem. E eu também não duvidei, nem por um minuto, que sim, que ia acabar o pesadelo em que vivera desde que tinha nascido. Sem me passar pela cabeça temer o que quer que fosse.

Já no Largo do Carmo, a espera, as dúvidas, os boatos, o megafone de Francisco Sousa Tavares – e também os cravos, a Grândola. Pelo meio algumas corridas, evacuação obrigatória do local quando se pensou que o quartel não se renderia a bem, almoço tardio com últimos feijões do fundo de uma panela numa tasca do Largo da Misericórdia, pelo mais total dos acasos na companhia de José Cardoso Pires; um carro estacionado mesmo em frente, com as quatro portas abertas para o que desse e viesse. Regresso ao Carmo, o desenrolar de tudo o que se sabe, o poder que Marcelo Caetano não quis deixar cair na rua antes de sair de chaimite, os gritos sem fim de vitória, que se cravaram na memória e ainda hoje fazem arrepiar. A liberdade, enfim, que nunca se imaginara poder ser tão grande.

Passaram 44 anos. Portugal é hoje, sem qualquer espécie de dúvida, um país melhor do que era naquela quinta-feira de Abril. Mas não é aquilo que sonhámos, não foi por isto que tantos lutaram durante décadas de ditadura, que alguns morreram, não é o que podia e o que devia ser hoje. Falhámos uma oportunidade única, nós que tivemos na mão uma das mais belas revoluções dos tempos modernos. Os humanos não são deuses omniscientes, e ainda bem, porque teria sido absolutamente insuportável, naquela primeira semana luminosa, naquele 1º de Maio triunfante, uma espécie de «regresso ao futuro» em que pudéssemos ver o Portugal de hoje.

O mundo está agora mais perigoso, a Europa navega à vista sem que se entenda nem mais ou menos para onde, muitos regimes não democráticos estão a tomar as rédeas do poder. Sem sabermos exactamente como, nem muitas vezes com que instrumentos, resta-nos continuar a lutar pelo futuro, com a mesma força com que festejámos a chegada da democracia há quarenta e quatro anos. É também para isso que ainda estamos vivos.

Uma primeira versão deste post, entretanto alterada, fez parte de uma brochura que a APRe! divulgou em 25 de Abril de 2014, com textos escritos por um grande grupo de membros da Associação.

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Falar para um muro chamado Centeno

Posted: 24 Apr 2018 05:53 AM PDT

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Melo Antunes, 1984

Posted: 24 Apr 2018 03:02 AM PDT

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Deputado Matos Rosa mora em Lisboa mas recebe como se vivesse em Portalegre

HÁ UMA HORA

Matos Rosa vive em Lisboa numa casa que a filha comprou em 2015, mas recebe o subsídio de transporte e ajudas de custo como se vivesse a 192 km, em Portalegre. Deputado do PSD diz que é tudo legal.

José Matos Rosa foi secretário-geral do PSD entre junho de 2011 e janeiro de 2018

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Autor

O deputado e antigo secretário-geral do PSD, José Matos Rosa, mora em Lisboa há pelo menos três anos, mas comunicou aos serviços da Assembleia da República que reside em Portalegrepara efeitos de recebimento de abonos. Apesar de morar com a mulher e a filha a apenas cinco quilómetros da Assembleia da República, o deputado do PSD recebe subsídios de deslocação e ajudas de custo como se vivesse a 192 quilómetros. Isto pode significar até mais 1000 euros por mês não sujeitos a descontos no recibo de vencimento.  A proprietária da casa onde Matos Rosa vive — situada na zona de Belém e adquirida em maio de 2015 por 300 mil euros — é a filha do deputado.

O deputado do PSD justifica, em declarações ao Observador, que a sua residência “sempre foi Portalegre” e que em “vários fins-de-semana” vai sempre para a sua terra e que é lá que sempre teve a sua morada fiscal. Um parecer da Procuradoria-Geral da República de 1989 feito, precisamente, para clarificar o conceito de “residência habitual” é muito claro nessa definição e contraria a justificação de Matos Rosa. A definição da PGR é a seguinte: “O local da residência habitual, estável e duradoura de qualquer pessoa, ou seja, a casa em que a mesma vive com estabilidade e em que tem instalada e organizada a sua economia doméstica, envolvendo, assim, necessariamente, fixidez e continuidade e constituindo o centro da respetiva organização doméstica referida”. Ora, Matos Rosa mora, pelo menos desde maio de 2015, com a mulher e a filha numa casa em Lisboa. Mais: o único trabalho que exerce neste momento é o de deputado (em exclusividade) em Lisboa. Mais ainda: até o trabalho político que faz no círculo eleitoral é no distrito de Lisboa, uma vez que sempre foi eleito pelo círculo da capital.

Os serviços da Assembleia da República confirmaram ao Observador que Matos Rosa comunicou ao Parlamento em todas as legislaturas desde que é deputado — para efeitos de despesas de deslocação e ajudas de custo — que reside em Portalegre. Matos Rosa, confrontado pelo Observador,  lembra que sempre foi “transparente“, que a sua vida é marcada “pela sinceridade” e que “nunca faria nada ilegal“. Logo, entende que não cometeu nenhuma ilegalidade nem qualquer falha ética. O antigo secretário-geral do PSD entende que, em Lisboa, só tem a sua “residência profissional” e não há “continuidade” na sua residência na capital porque “há vários fins-de-semana” em que vai para Portalegre.

Quanto à casa, Matos Rosa explica que é da filha e não dele, daí que não a declare ao Tribunal Constitucional. O Observador confirmou, ao consultar as últimas declarações entregues por Matos Rosa no Palácio Ratton, que a única casa que Matos Rosa declarou foi a de Portalegre.

Independentemente da propriedade da casa, o que conta, segundo a definição da PGR de “residência habitual”, é onde Matos Rosa mora efetivamente e onde tem a sua família e o seu trabalho (a tal “economia doméstica“). A família Matos Rosa faz a vida em torno daquela casa, que está em nome da filha. Matos Rosa justifica que, uma vez que trabalha em Lisboa, tem de “dormir em qualquer lado“: “Tendo a minha filha uma possibilidade de me alojar, eu durmo na casa da minha filha, não vou dormir a outro sítio. E ajudo, comparticipo nas despesas da minha filha, da casa, como qualquer pessoa faz. Com toda a transparência”.

Mas deputados, vizinhos e companheiros de partido veem aquela como a residência de José Matos Rosa, embora esteja em nome da filha. Até o presidente da junta de freguesia de Belém, Fernando Ribeiro Rosa(PSD), assumiu ao Observador que convidou Matos Rosa para integrar a lista do PSD nas últimas autárquicas porque “ele mora há muitos anos em Belém, ali na Rua do Embaixador, faz a vida dele aqui“. Ribeiro Rosa até diz com orgulho: “Eu sempre disse que não queria ter paraquedistas nas listas, que vivessem noutros sítios que não na freguesia. Ele mora aqui, trabalha aqui, anda sempre por aqui, até o encontro muitas vezes ao fim-de-semana na [pastelaria] Versailles, ali na Junqueira“.

Após confrontado com o parecer da PGR, Matos Rosa faz um entendimento diferente. Para o deputado do PSD, o “parecer da PGR descreve que uma pessoa pode ter mais de uma residência habitual (o que não é, aliás, incomum) [e] diz, expressamente, que os membros do Governo que não viviam em Lisboa antes de serem nomeados para o Governo não passam a viver permanentemente/habitualmente em Lisboa apesar de obviamente terem de passar a viver em Lisboa para poderem desempenhar o cargo. Lisboa é para eles uma ‘residência ocasional’, independentemente da duração do desempenho das funções no Governo”.

O deputado considera que a sua “situação é muito paralela” à dos governantes que vêm para Lisboa trabalhar para o Governo já que “mantém, desde que assumiu funções políticas em Lisboa” a sua “residência permanente/habitual em Portalegre”. Matos Rosa alega ainda que é em Portalegre que tem “a casa própria” onde sempre viveu, que é lá que “vota”, que tem a sua “residência fiscal e paga impostos” e que é em Portalegre que tem o seu “emprego permanente e o lugar de quadro, para o qual necessariamente” diz que voltará “quando terminar as funções públicas” que tem exercido. Matos Rosa diz ainda que é em Portalegre que passa “quase todo o tempo” quando não tem de estar em Lisboa no desempenho das funções públicas”.

Matos Rosa justifica ainda que até na junta deu “a morada de Portalegre” e quando vai, por exemplo, a “uma livraria” e lhe pedem o código postal, diz sempre: “7300-180, Portalegre”. Quanto ao porquê de ser candidato pela junta de freguesia de Belém, explica que o presidente da Assembleia de Freguesia era Jorge Moreira da Silva, mas “como foi para a OCDE” acabou por aceitar entrar nas listas para ir para o lugar do antigo vice-presidente do PSD. Matos Rosa mostrou até um documento ao Observador de contactos para a inscrição da CNE onde dava como morada a residência de Portalegre. O documento nada prova de novo, uma vez que — como candidato autárquico — Matos Rosa teria que dar sempre a morada que tem associada ao cartão do cidadão e essa é a de Portalegre.

O deputado vai insistindo em todas as conversas que tem com o Observador a ligação à terra: “Eu sou de Portalegre. Estou sempre a dizer que o que Lisboa tem de melhor é a estrada para Portalegre“. Numa resposta escrita a propósito do parecer, Matos Rosa voltou a vincar: “Nunca perdi ou diminuí os laços residenciais a Portalegre, sendo aí a minha efetiva residência permanente e a minha residência mais intensa, em termos pessoais, familiares, sociais, culturais e até afetivos. Em Lisboa estou ‘deslocado’ por razões funcionais e enquanto estas razões durarem, por mais ou menos tempo”.

Acontece, porém, que o trabalho de Matos Rosa é continuamente — e há, pelo menos, mais de 13 anos — em Lisboa. A família mais próxima (mulher e filhos) está há vários anos a viver em Lisboa; a mulher trabalha na zona de Lisboa e é funcionária pública; e o deputado vive na mesma casa que a mulher e a filha (o filho vive noutra casa) e vai a Portalegre ao fim-de-semana quando pode — como qualquer deputado que viva em Lisboa e tenha a sua naturalidade e raízes noutro ponto do país. A vida de Matos Rosa é, portanto, feita na capital durante a esmagadora maioria do tempo da semana, do mês e do ano.

Uma casa de 300 mil euros em nome da filha

Há uma diferença entre o caso do também antigo secretário-geral do PSD, Feliciano Barreiras Duarte, e o de José Matos Rosa. É que Feliciano tinha uma casa em Lisboa em seu nome. Neste caso, a casa onde Matos Rosa vive está em nome da filha. No entanto, de acordo com os termos definidos pela PGR, a propriedade da casa não é um fator determinante. Um deputado que seja de Lisboa e viva numa casa alugada tem de declarar essa “residência habitual” ao Parlamento. Podem ser tidos em conta nessa análise fatores como se a família reside ou não nessa casa. E, de facto, a mulher de Matos Rosa também vive em Belém. Não se dá, por isso, o caso de o deputado estar cá a morar e de voltar para o lar familiar em Portalegre, uma vez que a mulher, Branca Matos Rosa, mora também em Lisboa.

Sobre o facto de viver numa casa que está em nome da filha, Matos Rosa afirma: “Se a casa estivesse em meu nome eu comunicava logo que passei a ter a minha residência aqui. E que mudei tudo para aqui. Mas não foi isso que aconteceu”.

Escritura da casa na rua do Embaixador está em nome da filha de José Matos Rosa, Beatriz Matos Rosa

De acordo com a escritura, à qual o Observador teve acesso, a proprietária da casa na Rua do Embaixador é Beatriz Matos Rosa (vice-presidente da JSD de Portalegre) e filha de José Matos Rosa. Trata-se de um “rés-do-chão, dois andares e quintal”, que foi comprado em abril de 2015 por 300 mil euros.

José Matos Rosa é o fiador da filha na compra da casa

Para que a casa pudesse ser comprada, a Caixa Geral de Depósitos emprestou 275 mil euros a Beatriz Matos Rosa. A jovem tem pouco mais de vinte anos (licenciou-se na Faculdade de Direito em Lisboa entre 2014 e 2018). Matos Rosa explica que “os avós ajudam, o irmão trabalha” e os pais, morando na casa, comparticipam naturalmente as (não especificando quais). Matos Rosa admite que é “avalista” do empréstimo. A escritura confirma, de facto, que os fiadores são os pais. Como acontece com vários outros jovens no país, aliás. A questão é se Matos Rosa estaria a pagar uma casa que, simplesmente, está em nome da filha.

O deputado insiste que a casa não é sua, nem de forma indireta: “Eu gostava de ter muito mais casas, mais património. Mas, infelizmente, sou o último filho de oito filhos. E não tenho possibilidades para isso. Só tenho a minha casa de Portalegre”.

José Matos Rosa é deputado desde 2005 e, desde então, deu sempre como local de residência para efeitos de abonos, Portalegre. Nestes 13 anos, segundo o próprio contou ao Observador, esteve seis anos na residencial Alicante, na Duque de Loulé. Depois chegou a estar em casas alugadas e viveu também com o filho em Alcântara. Só em 2015 se mudou para a casa na rua do Embaixador, onde vive com a mulher e a filha.

Quanto ganha a mais por declarar que mora em Portalegre?

A diferença entre declarar a morada em Lisboa e em Portalegre pode chegar e até ultrapassar largamente os 1000 euros mensais, juntando dois tipos de abonos: o subsídio de deslocação e as ajudas de custo. No que diz respeito ao subsídio de deslocação, cada deputado tem direito a receber 36 cêntimos por quilómetro entre a residência e a Assembleia da República. As viagens pagas, num mês com quatro semanas de trabalho parlamentar podem ser dez (oito entre a residência e a AR que correspondem a uma viagem de ida e volta por semana e mais duas mensais entre a residência e o círculo). Ora, são 192 os quilómetros que separam a casa de José Matos Rosa em Portalegre e S. Bento. Multiplicando por 36 cêntimos por quilómetro são 69,12 euros por cada viagem. Multiplicando pelas tais dez viagens, num mês são mais de 690 euros. Já se declarasse a morada de Belém, em vez de 690 receberia apenas 14,40 euros.

A isto ainda acresce a diferença em termos de ajudas de custo — que também é significativa. Um deputado que more em Lisboa ou nos concelhos limítrofes recebe 23,05 euros por cada dia de trabalhos parlamentares, mas um deputado que resida fora desses concelhos (caso de Portalegre) recebe 69,19 euros. Ou seja: mais 46 euros por dia que um residente em Lisboa.

Neste exemplo, num mês de quatro semanas de trabalhos parlamentares, com quatro dias por semana (por exemplo, terça para comissões e quarta, quinta e sexta para plenário), um deputado que more em Lisboa ganha 368, 80 euros enquanto que um que more em Portalegre ganha nesse mesmo mês 1107 euros. Ou seja, neste mês-tipo, só em ajudas de custo Matos Rosa ganharia mais 738 euros. Somando as ajudas de custo às despesas de deslocação, um deputado que resida em Portalegre poderá ganhar mais 1428 euros do que um que resida em Lisboa com estes dois abonos.

Matos Rosa não vê problema em receber a mais do que deputados que, como ele, vivem durante a semana em Lisboa, lembrando que os deputados têm diferenças salariais de acordo com a condição profissional de cada um. “É como o deputado que está em exclusividade como estou. E o que não está. E o que está em exclusividade ganha 3 mil euros e o outro ganha 30 mil por mês. É como tudo na vida. É como é”, atira o antigo secretário-geral social-democrata.

O deputado do PSD lembra ainda duas situações que considera similares às suas para justificar a sua situação: “Aqui há alguns anos, os deputados das ilhas (creio que a questão se colocou quanto aos Açores e até envolveu Mota Amaral) viram-se confrontados com uma intenção da Autoridade Tributária de os considerar residentes em Lisboa, tendo vindo (depois de muito debate público) a fixar-se a posição de que tais deputados, apesar de terem casa em Lisboa, aqui passarem a maioria do tempo e aqui viveram habitualmente, não deixavam de residir nas Ilhas”.

Além deste, Matos Rosa refere ainda outro caso que acredita justificar o facto de ter dado a morada de Portalegre ao Parlamento: “A segunda situação é mais antiga, foi pública e envolveu o então ministro Miguel Cadilhe: apesar de ele ter adquirido casa em Lisboa e aqui viver com a família com caráter habitual, a PGR considerou (precisamente como o parecer por si referido) que ele, mantendo no Porto a casa que tinha antes de vir para o Governo, teria a sua residência permanente no Porto, devendo, portanto, continuar a receber o subsídio de residência”.

Ainda assim, Matos Rosa insiste que se trata tudo de uma confusão entre “residência habitual” e “residência exclusiva”,já que, “se assim fosse, como qualquer cargo político implica residir em Lisboa durante a semana, pelo menos, então não haveria quaisquer ajudas de custo ou subsídios de residência.” Não é assim: se os deputados tiverem a sua família a viver na cidade de origem e tiverem lá a sua vida organizada, podem continuar a receber estes abonos. Já se tiverem em Lisboa a família, e a sua vida organizada na capital, têm que receber ajudas de custo como se morassem em Lisboa e apenas os quilómetros que vão da casa de Lisboa até à Assembleia da República.

Matos Rosa, o alentejano simpático que chegou a secretário-geral

José Matos Rosa nunca gostou de dar nas vistas. E sempre foi diferente de outros secretários-gerais com grande ambição política como Miguel Relvas, José Luís Arnaut ou mesmo Feliciano Barreiras Duarte. Matos Rosa começou por ter cargos na política local antes de chegar a S. Bento: foi presidente da junta de freguesia de S. Lourenço, em Portalegre, e também vereador na câmara da cidade. Embora a carreira fosse discreta na política nacional, Matos Rosa sempre trabalhou junto da sede nacional e é visto como um homem do partido.Foi secretário-geral adjunto do PSD durante mandatos de quatro secretários-gerais: José Luís Arnaut, Miguel Relvas (tanto no tempo de Durão como de Passos), Miguel Macedo e Marques Guedes.

Com a saída de Relvas para o Governo em 2011, José Matos Rosa tornou-se secretário-geral do PSD. Rapidamente ganhou a simpatia de toda a estrutura. No Congresso do PSD de 2016, a par do histórico assessor Zeca Mendonça, José Matos Rosa recebeu a principal ovação. Em 2018, mesmo na sua saída, Rui Rio fez questão de referir o seu nome no discurso de vitória e voltou a ser dos mais aplaudidos.

Durante os anos de liderança de Passos Coelho — quer no Governo, quer na oposição –, Matos Rosa foi uma peça fundamental a segurar o partido, do qual foi secretário-geral durante quase sete anos (2011-2018). Nesse tempo no partido dinamizou a PSD TV e as redes sociais do partido e promoveu a inscrição de militantes através do site do PSD. Nos 40 anos do PSD, Matos Rosa acompanhou quase sempre Marcelo Rebelo de Sousa em eventos pelas estruturas do partido. Além disso, dentro das várias afinidades sempre foi visto como um homem próximo de Miguel Relvas, embora não goste de estar envolvido nas jogadas de bastidores. E, claro, passista convicto.

Feliciano, Fertuzinhos e o “casal do Corgo”

O caso de Matos Rosa não é uma novidade. Há outros casos similares, embora as histórias tenham diferenças. Em março, o Observador noticiou que, ao longo de 10 anos, o então secretário-geral do PSD, Feliciano Barreiras Duarte, tinha dado a morada da casa dos pais no Bombarral para cálculo do subsídio de transporte e ajudas de custo na Assembleia da República. Porém, pelo menos durante nove desses 10 anos, morou na Avenida de Roma, em Lisboa. Os próprios serviços da Assembleia da República confirmaram ao Observador que, nas VII, IX, e X legislaturas (entre 1999 e 2009), o deputado do PSD “declarou, para efeitos de cálculo de ajudas de custos e despesas de deslocação” que era “residente no Bombarral”.

Um deputado do distrito de Leiria recebe hoje, em média, entre 900 e mil euros mensais em abonos de deslocação. Vários deputados contactados pelo Observador confirmaram na altura que os parlamentares que residem fora de Lisboa recebem em média mais algumas centenas de euros dos que vivem na capital e os nos concelhos mais próximos. Já Feliciano Barreiras Duarte justificava, em respostas ao Observador, que tinha no Bombarral a sua “morada fiscal” e alegava até “perder dinheiro” com essa escolha em vez de ter fornecido aos serviços o endereço de Lisboa.

O caso da morada de Lisboa deu o empurrão que faltava para a demissão do então secretário-geral do PSD, Feliciano Barreiras Duarte, que já estava bastante debilitado na sequência de ter declarado que era “visitingscholar” na Universidade da Califórnia, em Berkeley. No dia da demissão, Feliciano Barreiras Duarte admitiu que se se provar que foi beneficiado financeiramente por ter dado a morada do Bombarral quando morava em Lisboa, irá devolver, imediatamente, o dinheiro. O secretário-geral demissionário vai continuar como deputado na Assembleia da República e já pediu para os serviços fazerem as contas do que poderá ter (ou não) recebido indevidamente. “Se tiver de fazer um acerto de contas, fá-lo-ei na hora”, garantiu à TSF. Ainda não são conhecidas essas contas.

A deputada Sónia Fertuzinhos também foi envolvida numa polémica com deslocações, noticiada pela RTP em dezembro, que revelava que a deputada recebia como se morasse em Guimarães quando, na verdade, vivia em Lisboa. De acordo com a RTP, além do salário de deputada, Sónia Fertuzinhos recebia 1.054 euros por mês a mais em deslocações, inflacionados por morar em Guimarães. Na resposta, Fertuzinhos justificou-se da seguinte forma: “Por estar entre o círculo eleitoral e Lisboa, tenho a necessidade de ter uma morada/alojamento em Lisboa, para além da minha residência permanente em Guimarães. A minha residência no cartão do cidadão é e sempre foi em Guimarães, é aí que estou recenseada e que sempre votei e voto, e pelas razões que expus é natural que a minha residência permanente seja a de Guimarães.”

A RTP lembrou, na altura, que a própria deputada tinha declarado que morava na Avenida de Roma, numa declaração entregue ao Tribunal Constitucional em 2002. Sobre isso não foi clara: “Não me recordo de ter indicado como minha morada a Avenida de Roma, mas se alguma vez o fiz em alguma circunstância específica, em nada afeta o que acabo de explicar e que a minha residência permanente seja a de Guimarães, como sempre foi”. Segundo a RTP, a deputada vivia desde 2009 em Lisboa na casa do seu companheiro e agora ministro António Vieira da Silva.

Tem havido outros casos controversos ao longo dos anos em relação ao problema das moradas e dos subsídios de alojamento, também em relação a membros do Governo — cujo estatuto não é igual ao dos deputados. No Executivo de Passos Coelho, por exemplo, foram detetadas várias situações de governantes que, tendo casa em Lisboa, declararam moradas noutras regiões do país. Foram os casos de Miguel Macedo, então ministro da Administração Interna, que vivia numa casa própria em Miraflores, mas que recebia ajudas por ter residência efetiva em Braga. Em finais de 2011, Macedo renunciava ao subsídio e era acompanhado por outros colegas de Governo como José Pedro Aguiar-Branco, que vive no Porto, e por José Cesário, então secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, com residência em Viseu.

No Governo de José Sócrates surgiram as mesmas dúvidas em relação a ministros e secretários de Estado como Laurentino Dias, Luís Amado ou Maria Manuel Leitão Marques.

No livro “Politicos.pt”, publicado em 2016, o antigo deputado José Magalhães, sem indicar o nome dos deputados em questão, disse ser do conhecimento público que houve um “casal de parlamentares que anos a fio recebeu apoio do Estado (sempre a multiplicar por dois) para supostamente viajar até ao Corgo, sem quase nunca sair de um simpático andarzinho em Oeiras.” Com base neste exemplo, no entender do antigo deputado, o “‘segundo vencimento’ travestido e isento de impostos deve ser abolido, adotando-se as regras do Parlamento Europeu para reembolso das despesas feitas (efetivamente).” Ou seja: em vez de ser atribuído um subsídio, o antigo deputado defende que sejam pagas as despesas efetivamente feitas.

O País de Famintos – Promovido pela direita brasileira.

Novo artigo em Aventar


por Sotero

30052492_186630338726266_8507624169635107388_oFamília nordestina faminta pedindo comida na beira da estrada durante severa seca no sertão cearense, em 1985.

A FOME é conhecida e vivida por milhares de brasileiros desde a colonização portuguesa.

Uma das primeira referências a fome no Brasil remota o século XVII quando Artur de Sá e Meneses, então governador do Rio de Janeiro  escreveu ao rei relatando umas das causas dos mineiros deixarem de enviar ouro a coroa portuguesa:

“pela grande fome que experimentam e que chegou a necessidade a tal extremo que se aproveitaram dos mais imundos animais, e faltando-lhes estes para poderem alimentar a vida, largaram as minas, e fugiram para os matos com os seus escravos a sustentarem-se com as frutas agrestes que neles acharam”.

Séculos depois brasileiros continuaram passando fome inclusive durante a  ditadura militar de 1964. A pesar de muitos  defensores da ditadura propagandear que os anos de chumbo resultaram em crescimento, vários estudos atestaram mais tarde a total miséria das massas trabalhadoras alijadas do crescimento.  Em 1975 cerca de  67,0% da população brasileira presentava um consumo energético inferior às necessidades nutricionais mínimas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

A  fome parecia ser algo natural e inevitável no Brasil com milhares de crianças e adultos  desnutridos e em alguns casos morrendo por ela. Então  o ex-presidente Lula assume em 2002 e promove o "impossível"; retirou o Brasil do Mapa da Fome da ONU. Um dos fatores que tornam Lula um fenômenos de intenção de votos no norte e nordeste atualmente, são as memórias de sua politica de combate a fome.

lula no nordeste A direita pode espalhar milhares de fakenews mas na memoria do povo brasileiro Lula foi o presidente que levou comida aos lares de muitos braisleiros. Foto Instituto Lula.

Anos mais tarde a direita golpista retomou o poder e com ele seu projeto de "desenvolvimento" com safras recordes e milhões de famintos.

TOMATE.jpg20 toneladas de tomate foram descartadas por produtores do Espirito Santo em 2017. Agro é Pop, Agro é Tech - Foto Reprodução Internet.

Atualmente 13 milhões de pessoas passam fome no Brasil. Segundo a fundação Getúlio Vargas os brasileiros que mais passam fome são negros, nordestinos, pessoas da zona rural ou das periferias das grandes cidades, com baixo nível escolar, e afeta principalmente as mulheres. Cortes de gastos públicos e programas sociais  estão entre os fatores que levam a dor no estomago a esses brasileiros.

“Eu quero meu Brasil de volta!”. Esse foi o lema de pessoas pessoas de direita.
O Brasil deles é cheio de pobres morrendo de fome.

brasil_volta_ao_mapa_da_fome112682.jpegCrianças e mulheres estão entre as principais vitimas da fome no Brasil. Foto Portal Vermelho.