Translate

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Kim Jong-un e Moon Jae-in anunciam “uma nova era de paz” e prometem “desnuclearização da Península da Coreia”

ATUALIZADO

A cimeira arrancou com um longo aperto de mão entre os dois líderes, que no final anunciaram a chegada de "uma nova era de paz". "Não vamos voltar atrás no tempo", garantiu Moon Jae-in.

KOREA SUMMIT PRESS POOL/AFP/Getty Images

Autores
Mais sobre

Começou com um longo aperto de mão e terminou com um abraço caloroso. A cimeira entre as duas Coreias arrancou na madrugada desta sexta-feira no lado sul-coreano da Zona Desmilitarizada da Coreia (ZDC), culminando na assinatura de um acordo onde os líderes dos dois países firmaram o seu compromisso com “uma nova era de paz” e com a “desnuclearização da Península da Coreia.

“Vamos transformar as relações da Península da Coreia em terra, no mar e no ar. Vamos suspender todas as formas de hostilidades”, disse o líder da Coreia do Sul, que sublinhou que “não vamos voltar atrás no tempo”. Moon Jae-in anunciou ainda que vai haver, ao longo deste ano, novos encontros entre os dois países para que se chegue a um acordo de paz formal (para o qual terá de haver o consentimento da China e dos EUA, que também combateram na guerra de 1950-53) ainda em 2018.

Moon Jae-in disse também que, entre os pontos acordados, está a desnuclearização da Península da Coreia”. Na declaração assinada por ambas as partes, é explicado a desnuclearização que será feita de forma “faseada” e “à medida que for aliviada a tensão e forem feitos progressos substanciais na construção de confiança mútua militar”. Este é um detalhe que está a ser referido por vários analistas como um entrave a um possível entendimento entre Donald Trump e Kim Jong-un, que estarão reunidos numa cimeira inédita no final de maio. Da perspetiva de Washington D.C., parece haver pouca flexibilidade para lá de uma desnuclearização que não seja imediata e efetiva.

[Veja no vídeo os detalhes, pensados ao pormenor, do encontro das duas Coreias]

Kim Jong-un falou depois do Presidente da Coreia do Sul, deixando uma mensagem de união — mas não necessariamente de reunificação — entre os dois países. “O mesmo sangue, a mesma cultura e a mesma nação não pode estar separada. Nós somos irmãos. Esperamos unir esforços e abrir caminho para um novo futuro. Por isso é que eu atravessei a fronteira e vim à Coreia do Sul”, disse o ditador norte-coreano.

Apesar de estar escrito preto no branco no acordo que ambos os líderes assinaram, Kim Jong-un não fez referências à “desnuclearização” anunciada. Ainda assim, deixou uma garantia: “Vamos poder desfrutar da paz e prosperidade na Península da Coreia sem ter medo da guerra”.

Outros pontos do acordo incluem:

  • Uma cerimónia de reunião de famílias separadas pela guerra a 15 de agosto;
  • O estabelecimento de um “centro de contacto” entre os dois países em Kaesong, a cidade norte-coreana onde, entre 2002 e 2016, funcionou um complexo industrial financiado pela Coreia do Sul;
  • Os dois países vão competir juntos em eventos desportivos internacionais, como os Jogos Asiáticos, para demonstrar “sabedoria e conhecimentos coletivos” e “solidariedade”;
  • Serão dados “passos práticos” para estabelecer a “ligação” e “modernização das ferrovias e estradas” entre os dois países, de Seul (capital da Coreia do Sul) a Sinuiji (cidade no Noroeste da Coreia do Norte);
  • Moon Jae-in irá visitar Pyongyang no outono.

Dia marcado pela boa disposição

O encontro da manhã entre os dois líderes parece ter sido marcado pela cordialidade e até pelo humor. Ao fazer conversa sobre a viagem até à ZDC, Kim disse “vou fazer por não interromper o seu sono mais nenhuma vez”, numa frase que vários analistas interpretaram como sendo uma piada sobre os lançamentos de mísseis norte-coreanos, que costumam ocorrer de manhã cedo. E Moon referiu-se à irmã de Kim, Kim Yo-jong, que está presente nas reuniões, como uma “celebridade” na Coreia do Sul — o que, de acordo com Seul, fez com que Yo-jong corasse.

A reunião entre os líderes das duas Coreias desta sexta-feira foi sem dúvida histórica. Não só este é apenas o terceiro encontro entre os dois países desde a guerra que separou a península em 1953 — depois de reuniões no ano 2000 e em 2007 — como a viagem é apenas a segunda deslocação internacional de Kim Jong-un (a primeira foi à China, em março deste ano).

Os líderes seguiram depois para a cerimónia da guarda de honra na praça principal de Panmunjom, a chamada “Aldeia da Trégua” que está no centro da Zona Desmilitarizada da Coreia (ZDC) e que se considera ser “terra de ninguém”. Os chefes de Estado de ambas as Coreias caminharam até por breves momentos de mãos dadas.

Antes de entrar para a primeira reunião, Kim Jong-un ainda teve tempo de assinar o livro de visitas da “Casa da Paz”: “Uma nova História começa agora. No começo da História e da era da paz”, escreveu.

Ver imagem no Twitter

Ver imagem no Twitter

Hawon Jung@allyjung

Here's a message Kim Jong Un wrote on the guestbook at the Peace House summit venue, which reads "A new history begins now - at the starting point of history and the era of peace." #interkoreasummit

02:05 - 27 de abr de 2018

Informações e privacidade no Twitter Ads

Nas primeiras declarações dos líderes que foram televisionadas, Kim Jong-un disse-se disponível para uma conversa “franca” e deixou um pedido: “Não regressemos aonde estávamos. Consigamos desenvolvimentos“. “Demorámos 11 anos. Enquanto caminhava para aqui, perguntava-me ‘por que demorámos tanto?'”, disse Kim. Quanto a Moon, o Presidente sul-coreano mostrou-se otimista: “Espero que todo o mundo esteja a prestar atenção à primavera que se está a espalhar por toda a península coreana.” A reunião prosseguiu depois à porta fechada, com 100 minutos marcados por “conversações sinceras e honestas”, de acordo com Seul.

As autoridades sul-coreanas destacaram também dois momentos que classificaram como “inesperados”. O primeiro já tinha sido óbvio nas imagens dos apertos de mão, quando Kim Jong-un parecia ter quase arrastado Moon Jae-in para o lado Norte da linha de demarcação: de acordo com Seul, Moon terá dito que gostava de poder visitar a Coreia do Norte e Kim terá respondido “Por que não vamos agora?”. O segundo momento foi uma sugestão do Presidente sul-coreano para que fosse tirada uma foto de grupo com todos os dignatários dos dois países.

Depois do almoço, um momento simbólico com um pinheiro

Na pausa para almoço, Kim Jong-un regressou ao lado Norte da fronteira para comer com a sua comitiva. Depois da refeição, tornou a reunir-se com Moon Jae-in, por volta de 30 minutos. Quando saíram da “Casa da Paz”, protagonizaram um dos momentos mais simbólicos deste dia que, já por si, foi altamente simbólico: plantaram um pinheiro em conjunto.

CNN International

@cnni

JUST IN: Kim Jong Un and Moon Jae-in take part in a tree-planting ceremony using soil and water from both Koreas https://cnn.it/2FjfQOY

08:36 - 27 de abr de 2018

Informações e privacidade no Twitter Ads

Os dois líderes juntaram-se à frente de um pinheiro recentemente plantado. Ali chegados, cada um pegou numa pá e lançou solo da montanha Hallasan (no Sul) e do Monte Baekdu (no Norte), os picos mais altos dos dois países, aos pés daquele pinheiro. De seguida, regaram a árvore com água proveniente de dois rios, cada um do seu lado da fronteira. Ao lado, foi desvendada uma placa onde, sobre a assinatura dos dois líderes, se pode ler: “Plantamos a paz e a prosperidade”.

Este episódio contrasta com um incidente que envolveu outra árvore na Zona Desmilitarizada, em 1976, mas esse bem mais violento: resultou na morte de dois soldados norte-americanos à machadada e por pouco não provocou uma nova guerra.

A seguir à cerimónia de plantação do pinheiro, os dois líderes fizeram uma curta caminhada antes de se sentarem para uma conversa privada — mas à vista de todos, à distância — ao ar livre que durou cerca de 30 minutos, terminando às 16h13 locais (9h13 de Lisboa). Só depois deste momento foram assinados os acordos e o seu conteúdo foi anunciado.

O banquete simbólico

Depois das reuniões, os dois líderes partilharam um banquete às 18h30 (10h30 em Lisboa) onde todo o menu foi planeado ao pormenor. As primeiras-damas dos dois países também estiveram presentes. Houve pratos das cidades-natal dos três presidentes da Coreia do Sul que participaram em cimeiras com a Coreia do Norte e comida tanto do Norte como do Sul da Península.

De Pyongyang, por exemplo, virá Naengmyun, um prato de noodlesfamoso da capital norte-coreana, segundo a CNN. Mas o cardápio também contou com uma influência internacional: é o caso do sti de batata, um prato da Suíça, país onde Kim Jong-un estudou.

Cada prato tem um peso simbólico, como o de peixe-gato, comido dos dois lados da fronteira e por isso apresentado como representação das semelhanças entre os dois países. Já a sobremesa causou algum desconforto, ou não fosse a mousse de manga servida num mapa que inclui ilhas disputadas por ambas as Coreias e pelo Japão — o que levou inclusivamente a um protesto formal dos nipónicos.

Após a refeição, as delegações assistiram a um filme intitulado “Uma Nova Primavera Desfrutada em Conjunto”. No final da projeção, Kim Jong-un regressou à Coreia do Norte, pondo fim a um encontro que começou com simbolismo e terminou com uma declaração de intenções para atingir a paz e a desnuclearização — mas onde os pormenores escasseiam.

Quem participou na cimeira?

Os líderes dos dois países, naturalmente, mas não só. Pela primeira vez numa cimeira das duas Coreias, explica a BBC, a delegação do Norte incluiu representantes militares e diplomatas.

Do lado de Pyongyang, esteve presente o vice-presidente do Comité Central, Ri Su Yong, que a NBC descreve como influente na política internacional do país. Outro nome de destaque é o ministro dos Negócios Estrangeiros, Ri Yong-hog, ex-embaixador no Reino Unido que ainda no ano passado foi às Nações Unidas classificar Donald Trump como “Presidente Maléfico”. Uma das presenças mais polémicas foi a de Kim Yong-chol, chefe das secretas e um nome odiado na Coreia do Sul por ter ordenado a morte de 46 marinheiros do país.

Do lado de Seul, Moon contou com os representantes das secretas e da Defesa, entre eles Moon Chung-in, que estudou vários anos nos Estados Unidos, e Suh Hoon, que chegou a viver dois anos na Coreia do Norte, durante os anos 90.

Como foi possível chegar aqui?

As expectativas para a cimeira eram elevadas, mas até recentemente poucos esperavam que algo do género pudesse acontecer. Depois de momentos de tensão — como os dos testes nucleares norte-coreanos —, o gelo parece ter começado a derreter em janeiro, quando Kim se disse “aberto ao diálogo” com a Coreia do Sul. Do lado de Seul, Moon é um Presidente que, ao contrário de alguns antecessores, tem defendido uma política de negociação com Pyongyang.

Os Jogos Olímpicos de Inverno cimentaram esta aproximação, com as equipas de ambos os países a marcharem na cerimónia de abertura sob a mesma bandeira e com a diplomacia desportiva a dar frutos.

Resta saber quais as motivações de Pyongyang para se mostrar agora disponível ao diálogo, depois de anos de desafio. Os resultados da cimeira desta sexta-feira pode ajudar a entender o que devemos esperar do encontro marcado com o Presidente norte-americano, Donald Trump, que há alguns meses ainda prometia “fogo e fúria” aos norte-coreanos, mas que agora se irá sentar à mesa com Kim.

E se o Benfica não for pentacampeão?

Novo artigo em Aventar


 

por António Fernando Nabais

Confesso: tenho muito medo de que o Futebol Clube do Porto seja campeão nacional. Esse medo não nasce do meu já lendário benfiquismo, sendo antes resultado da minha profunda amizade por alguns portistas.

Na verdade, alguns dos meus amigos adeptos do extraordinário clube que é o Futebol Clube do Porto cultivam uma fé cega (o que é, talvez, uma redundância) na certeza de que os sucessos do Benfica assentam exclusivamente na corrupção, num domínio absoluto da arbitragem, através de uma multiplicidade de meios e de uma rede tentacular – mesmo octópode. Esses meus amigos têm, desde o início do campeonato, a certeza absoluta de que o Benfica será campeão nacional, ao contrário de mim, que acredito sempre que, enquanto for matematicamente possível, está-se sempre a tempo de não ficar em primeiro lugar. Isto quer dizer que, apesar da minha natureza essencialmente corrupta, tenho pouca fé na corrupção e chego, até, a duvidar de Jonas. Ler mais deste artigo

Carta a Amadeu Guerra

por estatuadesal

(Por Ricardo Marques, in Expresso Diário, 27/04/2018)

amadeu_guerra

Exmo. Senhor Diretor do DCIAP

DR. AMADEU GUERRA (PROCURADOR GERAL ADJUNTO)

Departamento Central de Investigação e Ação Penal

Rua Gomes Freire n.º 213, 1150-178 Lisboa

Excelência,

Espero que esta o encontre bem, assim como aos que consigo trabalham — e que, não obstante as mais diversas tentativas, não consegui vislumbrar na mais recente produção cinematográfica com que nos brindou o departamento que superiormente dirige.

Assisti com algum desconforto à discussão que se instalou nos últimos dias acerca da obra, principalmente porque me parece que é absolutamente lateral. Lemos e ouvimos incontáveis opiniões acerca do segredo de justiça e do direito à informação, mas nem uma linha, nem uma palavra sobre a questão realmente decisiva. Como tantas vezes sucede, enredados que estamos a analisar o fotograma, acabamos por perder uma excelente oportunidade para discutir o filme.

Não encontrará nestas linhas, Excelência, uma palavra que seja sobre o acessório. Cingir-me-ei ao essencial. E o essencial, senhor procurador-geral-adjunto, é a opção estética feita pelo DCIAP ao nível da realização do filme dos interrogatórios da denominada Operação Marquês. Em especial, o recurso à câmara estática e ao plano picado.

Rendi-me ao fim de apenas alguns segundos e, admito-o sem pingo de vergonha, terei mesmo exclamado, aos gritos numa sala vazia, algo como: "Génio! Puro génio!" Hoje percebo melhor o meu próprio entusiasmo. Naqueles instantes primevos de exposição à obra fui transportado à Paris de 1895 e dei por mim sentado a assistir ao histórico filme de Louis Lumière, "L'Arrivé d'un Train". Literalmente, senti-me como se um enorme comboio viesse na minha direção e não houvesse fuga possível. E fiquei ali.

George Sadul, na sua "História do Cinema Mundial", um livrinho que tenho aqui guardado, nota que se trata de uma espécie de 'travelling' invertido. "A câmara não se desloca", diz ele, "mas os objetos ou as personagens aproximam-se ou afastam-se constantemente dela". "Esta perpétua variação do ponto de vista permite extrair do filme toda uma série de imagens tão diferentes com os sucessivos planos de uma montagem moderna", conclui o Sadul, incapaz de adivinhar que 123 anos volvidos, numa sequência de balanços na cadeira e de gestos intensos personagens, voltaria a fazer-se história.

O génio da obra do departamento que dirige vai muito além da câmara estática, dessa homenagem aos dias do cinematógrafo. A aposta no plano picado coloca-nos como que sentados numa nuvem, como anjos, a assistir à história a acontecer diante dos nossos olhos. E nem sequer estamos sempre na mesma nuvem, embora não nos livremos de uma estranha sensação de fim do regime. Do mundo, digo. "Na 'chegada do comboio', a locomotiva vinha do fundo da tela e avançava para os espectadores, fazendo-os estremecer com o medo de ficarem esmagados. Identificavam, assim, a sua visão com a da máquina: a câmara era, pela primeira vez, um personagem do drama", resume o Sadul.

Ora, como se tudo isto não fosse suficiente, optaram os senhores por introduzir uma dimensão ainda mais extraordinária na vossa produção. Uma espécie de presença na ausência. Falo, como Vossa Excelência já deve ter adivinhado, das vozes que inquirem, das perguntas que surgem de nenhures para interpelar os personagens. No fundo, somos nós, do alto das nossas nuvens, que lhes falamos. Queremos saber, queremos saber – e não é o horário do comboio que queremos saber. As vozes exigem mais.

O modo desconfiado com que, a dado momento do filme, um dos advogados nos contempla leva-me inapelavelmente para as derradeiras linhas da humilde carta que lhe dirijo. Há no olhar daquele homem um misto de surpresa e resignação, como se reconhecesse, ali e então, estar em presença de uma obra seminal da cinematografia nacional e, em simultâneo, nos rogasse para que nada volte a ser como já foi.

Aqui chegados, e porque sei bem como são ocupados os seus dias, permita-me senhor procurador-geral-adjunto algumas sugestões. Não se trata de comprometer a integridade artística em obras futuras. Já ouvi dizer que o departamento que dirige não faz justiça ao cinema; que trata a imagem como se fosse apenas uma versão melhor das velhas cassetes em que se gravavam os interrogatórios. São os mesmos que, se levados diante de uma pirâmide, provavelmente iriam queixar-se de que a porta é pequena. São vozes, mas daquelas que não chegam ao céu.

Como lhe digo, não se trata de mudar por mudar. Ainda assim, creio que muito havia a ganhar se as próximas obras do DCIAP apresentassem, digamos, uma estética renovada. Imagine uma pequena câmara colocada na gravata dos procuradores? Há anos que os americanos o fazem com os polícias. Ou um plano fechado apenas nas mãos de quem está à mesa? Quem sabe apostar em grandes planos dos intervenientes, em momentos-chave da história, ou colocar uma câmara no teto, para obter planos de ambiente e, mais fechados, dos apontamentos... Estaríamos, bem sei, perante um novo paradigma ao nível da realização, mas é um erro ignorar os tempos em que vivemos.

Lembre-se: o comboio da vida anda sempre à tabela. Nós é que nos atrasamos.

Com os melhores cumprimentos,

Isto não é não jornalismo não é não isto

por estatuadesal

(Por Valupi, in Aspirina B, 27/04/2018)

MCOSTA

«É jornalismo por estar editado, enquadrado e escolhido, expurgado do acessório, gratuito ou privado. Por ser feito por pessoas que acompanham o caso desde o início, jornalistas altamente especializados, que leram tudo o que existe no processo, que já falaram com os envolvidos, que sabem distinguir o trigo do joio, que fazem escolhas, que editam e enquadram. Que fazem reportagem na rua, que fizeram dezenas e dezenas de trabalhos sobre este caso, que têm fontes, que contam histórias.»

«A luta pela liberdade de imprensa e pelo direito à informação nunca acaba. E cruza-se, sempre, com outros direitos, num difícil equilíbrio que está na base de qualquer democracia. O jornalismo não pode abusar das suas prerrogativas, mas tem que ter sempre presente a sua missão principal, que é a de informar.»

Ricardo Costa


O director-geral de Informação da IMPRESA escreveu um texto a justificar os crimes por si cometidos com a publicação de registos audiovisuais de interrogatórios. À mistura com ranger de dentes e mordidelas dadas em quem o denunciou publicamente como o traste profissional que é, conseguiu reunir umas vacuidades para embrulhar a  irresponsabilidade e a soberba.

Na primeira citação, recorre à falácia do argumento de autoridade. “Pessoas que acompanham o caso desde o início”, “jornalistas altamente especializados”, fulanos que isto e aquilo, estabelece, podem cometer crimes que devem ficar impunes. Na segunda citação, declara que a nossa Constituição deve ser anulada perante o exercício “de informar”. Informar o quê e como? Ora, aquilo que os tais indivíduos referidos na citação anterior decidirem quanto ao conteúdo e quanto à forma. Corolário: vivemos numa república de informadores.

Ricardo Costa seguiria o mesmo critério caso os interrogados fossem Balsemão ou amigos e familiares seus? Ricardo Costa publicaria escutas em áudio entre Marcelo e Ricardo Espírito Santo? Ricardo Costa irá tentar sacar as escutas entre Sócrates e António Costa, e quem mais tiver sido apanhado a falar de política ou da vidinha, em nome do óbvio – porque é óbvio – interesse do público em conhecer o que disse o actual primeiro-ministro àquele que o próprio Ricardo Costa considera ser uma ameaça tão grande à democracia que se justifica anular os seus direitos constitucionais?

O Expresso, recordemos, é o tal jornal que recusou publicar as provas de que Cavaco tinha organizado uma golpada mediática para perverter as eleições legislativas de 2009, a pícara “Inventona das Escutas”. A IMPRESA, pois, não pode ser acusada de falta de critérios jornalísticos. Dá-se é o caso de terem tantos que se podem dar ao luxo de irem usando um de cada vez ao sabor dos ventos e das correntes.

A Vitória de Trump

por estatuadesal

(Dieter Dellinger, 27/04/2018)

coreia

Donald Trump é um presidente populista, mentiroso, arrogante e altamente imprevisível. Como tal suscita temor a uns e pouca credibilidade a outros. No fundo é um segundo Ronald Reagan que derrotou a URSS com uma ideia estapafúrdia, a da Guerra das Estrelas.

Trump sempre quis travar os avanços da Coreia do Norte no campo do nuclear militar e a construção de mísseis balísticos intercontinentais, sabendo, como toda a gente, que por de trás da Coreia do Norte está a China que mantém relações comerciais intensas e fornece muito do que o país necessita e importa e exporta.

Há quem acredite que o armamento nuclear do Norte tem origem parcial ou total na China que admitiria um conflito nuclear por interposto país. Mas, se todos pensarem bem, o nuclear militar não tem qualquer sentido, é quanto muito um conjunto de armas de resposta, pelo que não servem para o ataque e a Coreia do Norte nunca poderia destruir os EUA, podendo suceder o contrário, os americanos podem anular a capacidade nuclear do Norte. Todavia, a arma termonuclear dá um estatuto de potência e importância a qualquer país e regime político. É, no fundo, uma arma diplomática a nível mundial.

Os EUA possuem 6.800 ogivas e 450 mísseis de grande alcance, enquanto a China terá 260 ogivas e 62 mísseis. A diferença numérica não tem sentido e é quase uma igualdade, dado o enorme poder destruição de cada ogiva. Em caso de guerra seria como uma pessoa morrer com duas balas ou com 20.

Por isso, a questão nuclear é secundária e os EUA não entrariam em conflito militar com a China, mas não toleram a ideia de uma guerra nuclear por interposto país, A China é a nação mais gigantesca do Mundo em população e tropa numerosa, cuja conquista não interessa a ninguém como não interessa a ninguém outras conquistas.

Trump ameaçou, mas não se meteu em qualquer conflito militar. Em vez disso, fez aquilo que os chineses não esperavam, desencadeou uma GUERRA COMERCIAL. Há poucas semanas ou dias as alfândegas passar a exigir 25% do valor do aço importado pelos EUA e 10% do alumínio.

Além disso, Trump anunciou que mais de 120 artigos diversos - tidos como cópias de inventos americanos - seriam taxados a valores elevados se não pagarem royalties ou direitos de autor. Estão aí quase todos os telemóveis, computadores e muita coisa mais da Huawei e outras empresas chinesas. Uma verdadeira catástrofe para a China.

Foi instantâneo, a Coreia do Norte deixou imediatamente de lançar os seus perigosos mísseis que passavam por cima do Japão e nunca mais fez explodir qualquer ogiva nuclear de ensaio.

Em vez disso lançou a mão ao presidente Mon Jae da Coreia do Sul com a participação de desportistas do Norte nos Jogos Olímpicos de Inverno e agora com o abraço fraternal na fronteira. Ambos os presidentes defenderam as duas Coreias desnuclearizadas, apesar de muita gente não acreditar que Kim o faça.

Pelo menos pode congelar o desenvolvimento do seu armamento que deveria custar uma fortuna para uma nação com uma área ligeiramente superior à de Portugal e cerca de 24 milhões de habitantes, enquanto a Coreia do Sul tem uma área semelhante e 48 milhões de habitantes e é uma potência económica mundial que produz tudo desde os maiores navios do Mundo aos mais pequenos smartphones de pulso tipo relógio e um grande concorrente da China e do Japão nas suas exportações. Os sul coreanos já vendem mais automóveis na Europa que o Japão.

O PIB per capita da Coreia do Sul é ligeiramente superior ao português (multiplicado por 48 milhões no total), sendo da ordem dos 25 mil dólares, enquanto o do Norte anda pelos 2.500 dólares, mas não “desperdiça” em milhões de automóveis e aparelhagem eletrónica pessoal, exceto televisores que o regime de Kim necessita para comunicar ao minuto com o seu povo.

Kim já convidou Donald Trump a visitar o seu país ou a encontrar-se com ele como fez ao presidente do Sul. Para além da questão comercial que é de importância vital, a China, cujo crescimento está em desaceleração, necessita de uma imensa reconversão industrial para não se afundar numa poluição quase mortal para a sua população.

A Coreia do Norte pretende a saída das tropas americanas da Coreia do Sul, o que não teria qualquer problema dado que o sul possui muita tecnologia e forças armadas muito bem armadas com material moderno não nuclear. Nada que se compare com a situação de 1950 quando o Norte invadiu um Sul quase desarmado. Além de que num improvável conflito, os aliados americanos estariam em poucas horas a lançar os seus mísseis de cruzeiro contra bases e centrais nucleares norte-coreanas.

Curiosamente, a Coreia do Sul nunca defendeu a unificação como fazia a Alemanha Ocidental que cortava relações diplomáticas com todos os países que reconheciam a Alemanha Oriental e sempre defendeu a integração do leste na sua República Federal como veio a acontecer há 28 anos.

Por outro lado, talvez Kim não deva querer ser o líder de um protetorado da China como foi a Coreia durante séculos ou uma segunda Cuba impossibilitada de exportar e importar. Por último, há a questão da mãe do presidente da Coreia do Sul que estava retida no Norte e suponho que tenha tido autorização de se juntar ao filho. A não ser assim, seria tudo uma farsa hipócrita.

Ao contrário da Coreia do Norte, a Alemanha Oriental ou Comunista deixou sair todos os reformados para o Ocidente. Assim, o Estado Oriental Alemão poupava nas reformas e nos cuidados de saúde e espaço habitacional. Já nos anos 50, a RFA já era tão rica que pagava a reforma de todos os idosos vindos do Oriente e cuidados de saúde, lares, etc., mesmo à minha avó quando veio para Portugal nessa década.