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quarta-feira, 9 de maio de 2018

Um drama, um vício e um elefante na sala

por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Expresso Diário, 08/05/2018)

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De repente, como quem oferece uma flor, os jornais enchem-se de intrigas. Uma é o drama shakespeariano, com o caso Pinho ou a demissão de Sócrates, com o ressurgir do fantasma das offshores e do seu serviço, os pagamentos por baixo da mesa ou o tráfico de influências, e depois os suculentos ajustes de contas dentro do partido. O passado vem morder o presente com o estardalhaço que se nota.

Noutro registo, o Presidente anuncia que não se candidatará se houver nova devastação de incêndios, um critério surpreendente mas que não oculta a revelação: haverá recandidatura, como seria de esperar. Aqui, é o futuro próximo a marcar passo no presente.

Outras intrigas, estas mais banais, serpenteiam entre os partidos que impediram que a direita continuasse no governo. Cada qual é mais absurda do que a anterior e só se pode perguntar de que alminha é que surgiram tais ideias: a mais esfusiante é uma proposta para que a comissão de inquérito ao caso Pinho e às rendas da energia se estenda a uma investigação sobre todas as privatizações e todas as parcerias público-privado, ou seja sobre toda a história moderna do capitalismo português. Aqui, o espantoso não é surgirem disputas de primazia, isso faz parte da encenação política com que os partidos animam as suas bases. Um partido promoverá tantas mais quanto mais frágil se sentir. O surpreendente também não é aparecerem propostas inviáveis para inviabilizariam a comissão de inquérito, como essa de abranger à vez todas as grandes empresas, todos os governos e todos os banqueiros. Isso é quase normal, é jogo de chinquilho entre partidos. O que espanta é que haja ainda alguém que imagine que esses subterfúgios têm algum efeito, ou mobilizador, ou criador de política. Isto tudo junto vale o que vale, que é tempo perdido, palavras desbaratadas e figuras de urso.

Mas, se esse tipo de erros é simples vício, e será portanto eterno, há um segundo que merece atenção particular. É mais grave porque terá consequências, como seria não ver o elefante na sala. E esse é o erro de ignorar os confrontos de ideias que vão deslocando a política para novos eixos. Um exemplo desse confronto de ideias é o que se tem acirrado na preparação do congresso do PS, entre os defensores da terceira via, como Santos Silva, Francisco Assis e Vital Moreira, e os proponentes de uma social-democracia de raiz histórica e aberta a confluências com as esquerdas, como Pedro Nuno Santos. Note que é a primeira vez nos últimos três anos que membros do governo se questionam em modo de confrontação pública sobre o arrependimento dos acordos com a esquerda ou a sua continuidade.

Nessa peleja não passa despercebido que os que mais influenciam o governo menos determinam o sentimento das bases e vice-versa. Então a pergunta é: será que a pressão dos eleitores socialistas bastaria para levar o governo a procurar um novo acordo com as esquerdas, ou seja, a trabalhar o tempo necessário e a profundidade exigida para que essa negociação seja bem-sucedida? Pelo menos até agora a resposta é não. Triplamente não: não, porque o governo já rompeu ou congelou acordos negociados trabalhosamente e que seriam colunas vertebrais de entendimentos futuros (sobre as rendas da energia ou, noutro plano, a mão morta na integração dos precários do Estado); não, porque a preparação do Orçamento do próximo ano está a ser condicionada, antes de ter começado, por braços de ferro impostos pelo Ministério das Finanças (o dogmatismo contra os aumentos salariais e o dogmatismo do défice); e não, finalmente, porque o governo agora só se interessa por um único projeto, a maioria absoluta.

Sobre que este seja o modo de gestão política pelo PS não deveria haver dúvidas. Qualquer partido do “arco”, podendo, quer maioria absoluta, a convergência é para si um sacrifício e, se for o caso, uma obrigação passageira, mas dificilmente será uma visão de confluência. Assim é, mesmo que a experiência ensine outra lição, e nisso tem razão Pedro Nuno contra Augusto, quando escreve que o abandono da “terceira via” e da naturalidade da convergência com a direita foi a novidade que salvou o PS em 2015.

Mas quer o partido salvar-se ou ser quem é? Parece antes que o elefante na sala volta sempre ao lugar onde foi feliz da última vez (ou infeliz, o que para o caso pouco importa). De facto, o que o congresso do PS se prepara para fazer é elogiar a solução governativa na exata medida em que se quer ver livre dela o mais depressa possível. O poder tem sempre razões que a razão não conhece.

Seria aliás fácil verificar se o caminho escolhido viesse a ser outro, se recusasse a terceira via de Santos Silva. Se essa alternativa ganhasse, a preparação do Orçamento, agora na estaca zero, não só seria posta em marcha como trabalharia uma resposta essencial aos défices portugueses: o da saúde, o da educação, o dos salários baixos, o dos truques fiscais, o da falta de investimento.

A ALEGORIA EM CÂNCIO OU O CASO IWAZARU NO RESCALDO DA VIDA

por estatuadesal

(Virgínia da Silva Veiga, 08/05/2018)

MACACCO

Então vamos lá, em época de pouca inspiração: se estamos perante uma jornalista que não consegue distinguir a verdade da mentira em fonte próxima, Câncio, confessadamente, estaria a declarar-se publicamente incapaz para a profissão.

Sejamos compreensivos. Foi mau, mas não foi isso. Como revela a superficialidade do seu polémico artigo, que nada tem de jornalístico, é um desabafo clássico, típico dos amores, também da mulher, quando toldada pelo mais velho sentimento do mundo, quando tem esse feitio. Entramos no campo íntimo e delicado das paixões findas e na preciosa opção de se saber manter a difícil consideração mútua de memória dos bons momentos. Prismas sobre dignidade.

As regras do amor são bipolares. Ai de quem assim as não analise. Gente serena em pose de adulto torna-se um passarinho a cantar poemas à lua ou um egocêntrico furioso. Ou uma egocêntrica furiosa, conforme o lado para que se vira a objectiva.

Nada a julgar. É o maldito do amor nos seus contornos.

O que diferencia as pessoas é compreenderem que tudo isso é passageiro, nos ultrapassa, nos “tira do sério” como dizem os brasileiros e, portanto, melhor deixar que o tempo nos deixe voltamos a ser nós próprios. Ninguém se leve nunca a mal de ter vivido tal ridículo, porque o Amor sem ridículo não existe.

E lembrou-me isto tudo a lenda dos três macacos sábios de Togoshu. Um, o surdo, observava o comportamento humano, transmitia-o depois ao cego que finalmente o relatava ao calado para que, no bom senso, o ignorasse em nome do bom relacionamento humano, de seus nomes Mizaru, Kikazaru, Iwazaru. Por ironia, a lenda japonesa vai parar a Sócrates, imagine-se! O da Alegoria da Caverna, entenda-se, igualmente vítima de julgamento injusto. E, nem de propósito, conta-se sobre ele uma história que este nunca viveu, falsa, portanto, a trazer contudo, um interessante ensinamento.

Conta esta outra invenção, conhecida pelos “Três Filtros de Sócrates”, imputada a este outro sem que e a tenha escrito. Conta-se que um aluno se terá abeirado dele para lhe contar um rumor ou, dito em termos de hoje, uma suspeição que alguém levantara sobre uma pessoa.
O Homem do excesso da luz que cega ter-lhe-á pedido que, antes de começar a fazer relatos e emitir opiniões, em primeiro lugar garantisse que o que dizia era verdade.
O aluno não podia garantir.
Perguntou-lhe então se o que ia contar era bom.
O aluno não podia garantir.
Por fim, queria que o aluno tivesse por certo que o relato que ia fazer era tão útil que justificasse abordar um assunto que não conhecia a fundo nem conseguia garantir não ir resultar numa maldade para com o visado.
E o aluno calou-se.
Filosofa de vida, as duas lendas.

Nada como tomar aviso na história contada sobre também este Sócrates, e, não se sendo nem surdo, nem cego, ser-se avisadamente mudo como Iwazaru, o macaco da Sabedoria.

Coisa que, no seu Amor perdido, Câncio – isso viu-se – não tendo, infelizmente, por filosofia pessoal saber esperar - ela e um bom par de políticos - , se espera que ainda aprenda.

A lição vale para homens e mulheres. Vale para um País.

COMO SER PRESIDENTE DA REPÚBLICA: DICAS DE AUTO-AJUDA

por estatuadesal

(José Gabriel, 08/05/2018)

Discurso seletivoImagem obtida no Blog 77 Colinas

Vossemecê tem 35 anos? Então pode ser presidente da República. Esteja à vontade para se candidatar, mas não tome as coisas de ânimo leve. Também não precisa de procurar um personal coaching. Algumas dicas simples bastam. Ora vamos lá, da mais básica à mais retorcida:
1 – Repita teses, proclamações e propostas consensuais – aliás, deve usar e abusar do termo “consensual” e derivados – do tipo “urge garantir o crescimento do país”; “promover uma justiça mais rápida e para todos”; “melhorar a eficiência do Serviço Nacional de Saúde”; “promover o emprego – e a habitação, direitos e tudo o mais – e combater as desigualdades”. Está a ver o género. Claro que não faltará quem queira esmiuçar o que se esconde por trás destas frases, mas o presidente não se ocupa de minudências.
2 – Não poupe nos afectos, sobretudo se isso lhe trouxer vantagem – o que nem sempre é o caso, por isso, há conjunturas em que é melhor ficar na toquinha de Belém. Pratique imoderadamente a consigna “vamos ver o povo, ai que lindo que ele é”. Neste capítulo pode incluir-se o aproveitamento do sucesso e mérito alheios, cujos protagonistas – artistas, atletas, cientistas, filantropos e, de um modo geral, todos os que sejam geralmente reconhecidos como populares ou popularizáveis – devem ser condecorados, abraçados, beijados, apaparicados. É preciso não esquecer uma possível recandidatura, em que algumas destas figuras poderão ser muito úteis, designadamente numa decorativa e ilustre comissão de honra. É importante, neste domínio, não ser demasiado esquisito. Pode ter de ranger os dentes e arriscar um ataque de icterícia perante um compatriota que ganhou o Nobel, mas tem de fazer cara alegre e figurar na foto de conjunto, sob pena de ficar irremediavelmente estigmatizado como um idiota iletrado – atenção: isto já aconteceu.

3 – Desempenhe o papel de homem sem sono e frenético multitarefas, mesmo que isso seja, como geralmente é, uma patranha. Esta cena deve ser apoiada por numerosos assessores, aos quais não deve faltar o ar cansado de quem mergulha com zelo nos problemas do país. Custa caro? Custa. A casa da presidência portuguesa é uma das mais dispendiosas do mundo, só ultrapassada, na Europa, pela casa real inglesa. Mas é – todos o sublinharão – para o bem da Nação.

4 – A sua relação fundamental é com o governo, seja qual for a distância política a que dele está. Lembre-se (mas nunca o diga em voz alta): é o seu interesse que está em causa, não o país, o povo, o partido. Isto é cinismo? Claro que é. Mas está interessado em fazer dois mandatos ou não? Claro que está. Por isso:
4.1 – Recorra, sempre que possível, à técnica que designaríamos como “se correr bem o mérito é meu, se correr mal a culpa é do governo; eu avisei”. Este efeito obtém-se fazendo sucessivas advertências ao governo sobre as excelências a que deve chegar. Se as coisas correrem bem, aproprie-se sem vergonha da ideia, mesmo que ela seja velha como a noite, e do mérito, mesmo que nada tenha a ver com ele. Se correrem mal, demarque-se – “eu expliquei, dirá, mas o governo não foi capaz”. Note que, fazendo variar em grau este recurso, ele serve para os casos de o governo ser do(s) seu(s) partido ou do(s) opostos. Neste processo não deixará de exceder as suas competências; não se preocupe, a maioria dos eleitores nunca leu a Constituição.
4.2 - A técnica descrita anteriormente pode revestir o modo “vitimização com ameaça de martírio”, podendo assumir as variantes “o menino quer, buuáááá´” (“o governo tem de fazer como eu quero, senão fico contrariado”) ou “se não me derem o brinquedo, não como a papa” (“se não for como eu quero, não me recandidato”). Esta última forma é um pouco mais arriscada, porque o pagode pode encolher os ombros e marimbar-se na coisa, o que é perigoso. É chantagem, sim, mas pode não valer muito como ameaça, mesmo que a sua popularidade esteja no céu. Outras modalidades de comportamento passivo-agressivo podem ser usadas com muito proveito.
4.3 - Finalmente, a bomba! Já outros a usaram – com assinalado cinismo, diga-se, e com pouca consideração pelas populações. Note que não tem de usá-la – pode ficar chamuscado. Mas tem de saber manejá-la como ameaça. Exemplo: “se não aprovarem o Orçamento, convocarei eleições antecipadas” – note que não se diz “dissolvo a Assembleia da República”, o que, por ser a verdade, seria mais dramático e agressivo. Sendo um presidente “fofo”, só fala em eleições de modo um tanto impressionista, até porque sabe que o(s) seu(s) partidos não estão prontos.

(Nota final: estas regras servem uma candidatura à presidência de um país como Portugal. Países há que podem, por razões – há razões? – mui desvairadas, eleger qualquer imbecil tresloucado.)

terça-feira, 8 de maio de 2018

Entre as brumas da memória


Sabemos que somos burros

Posted: 08 May 2018 01:12 PM PDT

… mas só eu é que acho isto uma ofensa, num país com 12 anos de escolaridade obrigatória?

Já agora, podiam pôr na factura 5000 desenhos de garrafas de litro. Ainda era mais fácil.

(Expresso diário de 08.05.2018)

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Dica (757)

Posted: 08 May 2018 10:09 AM PDT

Debt, Underemployment, and Capitalism: The Rise of Twenty-First-Century Serfdom (Cherise Charleswell e Colin JenkinsI)

«Systemic contradictions of capitalism have only intensified in the neoliberal era. Structural unemployment, a phenomenon directly related to capitalist modes of production, has continued unabated, creating a massive and ever-growing "reserve army of labor" that has been disenfranchised on an unprecedented scale. (…)

The twentieth-century liberal experiment has failed, bringing down with it the delusional hopes of constructing a manageable and benevolent form of capitalism. The ripple effects of capitalism's structural failures, intensified by modern forms of government-facilitated debt slavery, job markets that can no longer keep pace with wage demands, and interrelated housing insecurity and displacement, have pushed us into a twenty-first-century serfdom. We are left wondering how long this balancing act can last.»

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Quem manda na sombra

Posted: 08 May 2018 06:26 AM PDT

«É uma pedra no sapato do Banco de Portugal. A empresa de investimentos BlackRock faz parte de um consórcio da mais alta finança mundial que ameaça boicotar o país por conta da transferência de 2000 milhões de euros de dívida que vinha do antigo BES e que passou do Novo Banco para o "banco mau". Mas, como relata o jornalista Paulo Pena em dois artigos recentes no "Público", esta não é a única ligação do BlackRock ao banco de Ricardo Salgado e à economia portuguesa. (…)
Não é um banco, nem está obrigado às regras de regulação e supervisão do sistema bancário. Mas gere, sozinho, 5,2 milhões de milhões de euros, ou seja, 26 vezes o PIB português. Seja por sua conta ou por conta da gestão de dinheiro de clientes, a BlackRock detém participações em 17 mil das maiores empresas mundiais.»


Mariana Mortágua

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O charme discreto da presunção da inocência

Posted: 08 May 2018 02:34 AM PDT

«Foi em Março, mas podia ter sido ou poderá ser num qualquer mês dos últimos anos ou dos vindouros. Tinha vários jornais comigo e num deles li o obituário da atriz Stéphane Audran. Nesse dia, já tinha lido outras coisas, entre elas várias notícias e opiniões sobre casos de justiça, e numa ou noutra questionava-se como é que alguém suspeito de qualquer coisa ainda estava numa certa função. Li e passei adiante, mas ao ler o obituário da atriz lembrei-me de um dos filmes que ela protagonizou e de como a presunção da inocência é entre nós - pelo menos fora dos tribunais, um dia direi como é lá dentro - como o jantar daquele mesmo filme: um jantar esperado, desejado e celebrado, mas que não acontece. Os mais cinéfilos já perceberam que me refiro ao filme de Luis Buñuel "O Charme Discreto da Burguesia".

A presunção da inocência, pura e simplesmente, não existe na esfera pública. Talvez nunca tenha realmente existido, talvez sempre tenha sido, apenas e só, um desejo e um comando do legislador para que se ficcionasse a sua existência (como escrevi num livrinho há quase já vinte anos). Mas, até certo ponto da nossa História, esse comando era mais ou menos cumprido na esfera pública, como se fosse uma convenção de boas maneiras. No seu íntimo, cada qual presumia (ou tinha mesmo a certeza) do que lhe parecia, mas havia um certo cuidado no discurso e nas manifestações públicas, sobretudo de quem tinha mais responsabilidades (de autoridade, formativas, informativas ou outras). Era, por exemplo, como aquelas convenções sobre o que pode ou não fazer à mesa, sobretudo na presença de visitas. Até porque a presunção da inocência sempre é uma coisa importante, até está na Constituição, e eu até arriscaria dizer (mesmo que, para além das suspeitas do costume, fiquem a olhar para mim como se fosse um espécime de museu de História Natural) que é uma trave mestra do Estado de Direito.

Mas tudo isso acabou, está morto e enterrado. Como ao grupo de convivas do filme de Buñuel, tudo correu mal à presunção da inocência na esfera pública, e quem se atreve a invocar esse comandozinho constitucional ou é parvo ou então é logo suspeito de péssimas intenções e ainda piores interesses e agendas. Às vezes, há quem, ao mesmo tempo que discorre sobre a profunda culpa de alguém que ainda não foi julgado (ou sequer acusado), diz com ares de cuidado: "Mas atenção, há a presunção de inocência, eu não sei, veremos." E eu, quando ouço isso, lembro-me logo das crianças e dos adultos descuidados que, depois de serem surpreendidos por um flato embaraçoso, tossem para disfarçar.

Assumamos as coisas como elas são, e marchemos para o velório da presunção da inocência. Desde que certos processos, por tantas razões (que justificam uma biblioteca), se tornaram tema de interesse primordial e, ao mesmo tempo, tema de espetáculo quotidiano, qualquer crença de que a presunção da inocência pode ter lugar ou vida no espaço público é pura ilusão. E não venham já as carpideiras habituais e os guardiões da moral republicana de almanaque acusar-me de interesses e propósitos obscuros, até porque não estou ainda (aqui) a valorar o fenómeno, muito menos a querer colocar travão à discussão ou ao escrutínio público das coisas. Estou, agora e aqui, apenas a constatar e a dizer o óbvio - um óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues. Acreditar hoje na presunção da inocência em processos que estão no espaço público é como acreditar no Pai Natal. E, por favor, não tussam para disfarçar.»

Rui Patrício

PS quer Parlamento a avaliar todos os subsídios dos deputados (não só os das ilhas)

HÁ UMA HORA

Depois de aprovar o parecer da subcomissão de ética, os socialistas fizeram um comunicado a defender que a análise vá além da situação dos deputados das ilhas.

TIAGO PETINGA/LUSA

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Se é para avaliar o regime de ajudas de custo e deslocações dos deputados residentes na regiões autónomas, então o PS defende que essa análise seja alargada e incida sobre todos os outros deputados. Depois de aprovado (por unanimidade) o parecer pedido pelo presidente da Assembleia da República sobre os abonos às viagens dos deputados das regiões autónomas, os socialistas fizeram um comunicado a dizer que “o parecer poderia ter ido mais longe”.

O texto aprovado esta terça-feira na subcomissão parlamentar de Ética segue agora para as mãos de Ferro Rodrigues, que foi quem o pediu aos deputados. Mas os socialistas avisam já que a questão tem de ir além dos deputados das ilhas (no caso do PS  são cinco os deputados implicados no caso das viagens pagas duas vezes) e defendem que o parecer devia “propor algumas opções alternativas que analisassem e clarificassem também o quadro de ajudas de custo em tudo similares e em vigor para os Deputados residentes no território do Continente”.

E isto porque existem “apoios da mesma natureza” dos que “foram alvo de análise relativamente aos deputados residentes nas Regiões Autónomas”. Quais? Também existem descontos de que alguns deputados possam usufruir em viagens de comboio para a terceira idade, por exemplo; ou acordos de empresa a assegurar outros descontos também em viagens de comboio; ou ainda viagens de avião no território continental que também são subsidiadas pelo Estado (Bragança, Vila Real, Viseu e Portimão). Situações que os socialistas argumentam serem semelhantes à colocada aos deputados residentes nas regiões autónomas que têm quatro viagens mensais (cerca de 2500 euros) pagas pelo Parlamento, mas ao mesmo tempo reclamam o subsídio social de mobilidade (a que todos os residentes nas ilhas têm direito) para reaver esse dinheiro.

Os socialistas também sublinham discordar do ponto do parecer sobre a “necessidade de protocolar acordos com companhias aéreas que resultem em prioridades para os deputados nas reservas de respetivas passagens“. Os deputados do PS dizem que “não se revê nesse tipo de proposta por considerar que não tem a ver com o objeto da questão, em nada contribui para a matéria em causa e não se enquadra na visão que o grupo parlamentar tem sobre esta matéria”.

No comunicado divulgado ao fim do dia, os socialistas fazem ainda questão de sublinhar que o parecer que saiu da subcomissão de Ética reconhece que os deputados das ilhas “cumpriram a lei e as regras que disciplinam os abonos auferidos enquanto deputados e os reembolsos a que têm direito enquanto residentes nas respetivas Regiões” e que ainda “deixa claro que o modelo de remunerações” desses deputados “segue os mesmos princípios dos restantes”. E que quem define os abonos são os serviços da Assembleia da República.