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segunda-feira, 21 de maio de 2018

Entre as brumas da memória


Última mensagem de António Arnaut: “A destruição das carreiras foi o rombo mais profundo no SNS”

Posted: 21 May 2018 10:42 AM PDT

«Foi convidado a estar presente no III Congresso da Fundação Para a Saúde SNS, que se realizou em Coimbra, no final da semana passada, mas não conseguiu. Na última sexta-feira, dia 18, deixou uma mensagem aos participantes do congresso. No dia seguinte foi internado no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. António Arnaut morreu nesta segunda-feira, aos 82 anos.

A última mensagem do antigo ministro dos Assuntos Sociais e responsável pela lei que em 1979 criou o Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi em defesa do serviço público, mas também um alerta aos desafios difíceis que o SNS enfrenta.

“Como todos sabemos, os meus amigos como profissionais e eu como utente, o nosso SNS atravessa um tempo de grandes dificuldades que, se não forem atalhadas rapidamente podem levar ao seu colapso. E tudo em consequência de anos sucessivos de subfinanciamento e de uma política privatizadora e predadora resultante da Lei 48/90, ainda em vigor, que substituiu a lei fundadora de 1979. A destruição das carreiras depois de tantos anos de luta, iniciada em 1961, foi o rombo mais profundo causado ao SNS”, escreveu António Arnaut na sua mensagem.

A Lei 48/90, que criou a actual de Lei de Bases da Saúde, está num processo de revisão. António Arnaut, em conjunto com o médico e ex-dirigente do Bloco de Esquerda João Semedo, foi o motor do processo, ao apresentar uma proposta de revisão da legislação. No livro Salvar o SNS, os dois propõem o fim das parcerias público-privadas e das taxas moderadoras. E foi depois de ter sido questionado no Parlamento sobre esta iniciativa que o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, anunciou a criação de uma comissão, liderada por Maria de Belém Roseira, para apresentar uma proposta de revisão da Lei de Bases da Saúde.

Na mensagem que enviou ao congresso, o “pai do SNS” disse, sem rodeios: “Sem carreiras, que pressupõem a entrada por concurso, a formação permanente, a progressão por mérito e um vencimento adequado, que há muito defendo seja igual aos dos juízes, não há Serviço Nacional de Saúde digno deste nome. A expansão do sector privado, verificada nos últimos anos, deveu-se a esta desestruturação e ao facto de a Lei 48/90 considerar o SNS como um qualquer subsistema, presente no ‘mercado’ em livre concorrência com o sector mercantil. É a filosofia neoliberal que visou a destruição do Estado social e reduziu o SNS a um serviço residual para os pobres.”

“É preciso reconduzir o SNS à sua matriz constitucional e humanista”, advogou, considerando que há agora “condições políticas e parlamentares” para o fazer. “A realização de iniciativas como este congresso são uma forma legítima e democrática de chamar a atenção do Governo para que cumpra o seu dever”, acrescentou.

Arnaut terminou a mensagem ao congresso dizendo esperar que a discussão pudesse resultar num “contributo substantivo em defesa da consolidação do SNS, para que nos 40 anos desta grande reforma possamos todos voltar a ter orgulho no nosso SNS”.»

Ana Maia
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Já somos todos chineses e futeboleiros

Posted: 21 May 2018 07:03 AM PDT

Cristiano Ronaldo é o novo embaixador da fabricante chinesa de automóveis WEY.

«Cristiano Ronaldo expressou estar ansioso por cooperar com a empresa chinesa desde que tomou conhecimento da mesma, acrescentando que “o VV7 demonstra o poder da marca chinesa de veículos. Esta é a primeira vez que sou embaixador de uma marca chinesa de luxo. Espero que minha cooperação com a Wey traga mais surpresas aos fãs de futebol chineses”.»

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A idade do populismo

Posted: 21 May 2018 03:37 AM PDT

«Desde há muitos anos que o Sporting se assemelha a uma guilhotina. Não era este "haraquíri" sucessivo que os adeptos ou os Cinco Violinos esperariam para o devir do clube.

Mas, de erro em erro, o Sporting deixou de ter tempo. Não tem nem vitórias e o dinheiro é emprestado ou perdoado. Tem agora uma assombração a vaguear pelos camarotes de Alvalade: um presidente que não se demite. Sabe-se que a história se repete sempre como farsa. E, se recordarmos, a carreira de Benito Mussolini começou em Itália quando conquistou os adeptos dos estádios de futebol. Berlusconi aprendeu a lição. E agora o Estado democrático defronta-se, pela primeira vez, com um populista a sério: Bruno de Carvalho. Isto porque o problema já deixou de ser clubístico: é político. As ameaças de Bruno de Carvalho (processar o presidente da Assembleia da República e criticar Marcelo) mostram o caminho minado por onde se corre. Sem nada a perder, tem uma estratégia: a culpa é dos outros, dos inimigos internos e dos políticos. Desde o início que o seu discurso era claramente populista, mas só se aplicava ao futebol. Agora chegou ao nível seguinte: ao disparar sobre os políticos, Carvalho está a criar o primeiro movimento populista de características futebolístico/políticas de que há memória em Portugal. Tem um exército atrás, que o venera, como já se viu.

A resposta do Estado democrático tem de ser célere. Tem para isso de cortar radicalmente a cumplicidade e promiscuidade que tem permitido aos dirigentes de clubes e claques agir impunemente. A violência latente nos estádios de futebol, e no ambiente mediático à sua volta, era visível mas o Estado esquecia-se de ver isso. Basta olhar para o número de políticos que têm saltitado pelas estruturas do futebol para se perceber esta vergonhosa promiscuidade. Agora o Estado defronta-se com um populista que pode partir para a conquista do coração de todos os que estão revoltados contra o Estado e o país. Cercado, com os seus fiéis, Bruno de Carvalho ainda tem muita força. O seu discurso soa a música em ouvidos carentes.»

Fernando Sobral

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Não é montagem - confirmado por quem viu

Posted: 20 May 2018 03:47 PM PDT

Morreu António Arnaut, pai do SNS e “o socialista mais genuíno”

Morreu o histórico socialista considerado o "pai" do Serviço Nacional de Saúde. António Costa decretou "luto partidário" e Manuel Alegre recorda o amigo. A líder do CDS também já reagiu.


PAULO NOVAIS/LUSA

Autores
  • Pedro Benevides
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Morreu António Arnaut, o histórico socialista que é considerado o “pai do Serviço Nacional de Saúde”, confirmou ao Observador junto de fonte do Partido Socialista. Foi cofundador do PS e tinha 82 anos. O corpo vai estar em câmara ardente na antiga igreja do Convento de São Francisco, em Coimbra, a partir das 18h30 desta segunda-feira, e será transportado na tarde de terça para o crematório da Figueira da Foz. O secretário-geral do PS, António Costa, decretou “luto partidário”, com a bandeira socialista a meia haste em todas as sedes do país. Manuel Alegre recorda o amigo que considera ser “o socialista mais genuíno” e o ministro da Saúde destacou o “importante legado” deixado pelo socialista.

António Costa diz que “o PS está de luto com o falecimento de António Arnaut” e, desde 2016, “presidente honorário” do partido. “Fundador do PS, militante dedicado, honrou-nos como deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República e como governante”, diz o secretário-geral socialista.

Para a eternidade, todos o recordaremos justamente como o pai do SNS”, declarou ainda o líder socialista e primeiro-ministro.

O Presidente da Assembleia da República diz que Arnaut “personificava, como poucos, o conceito de ética republicana“. Numa nota enviada às redações, Eduardo Ferro Rodrigues lembra o “combatente antifascista, deputado à Assembleia Constituinte e fundador do Partido Socialista”, um homem que ficará na história pelo seu contributo para “uma das principais conquistas sociais da democracia portuguesa”, o Serviço Nacional de Saúde. “Era, por isso, justamente apelidado de pai do SNS.”

Ferro Rodrigues diz ainda que António Arnaut “foi, até ao último dia, um cidadão empenhado e um militante ativo da causa dos direitos sociais, porque sabia bem que sem igualdade de oportunidades a liberdade não tem condições para ser exercida”. E deixa uma nota pessoal:

A sua partida deixa-me já um imenso sentimento de saudade”, diz Ferro Rodrigues.

A conta oficial do Twitter do Partido Socialista colocou o símbolo do partido a negro, em sinal de luto:

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Partido Socialista

@psocialista

Faleceu António Arnaut, Fundador e Presidente Honorário do PS e "pai" do Serviço Nacional de Saúde

Em declarações ao Observador, o ministro Adalberto Campos Fernandes também disse estar “profundamente triste pelo desaparecimento de alguém que nos ensinou a olhar a política com muita humildade”. O ministro considera que Arnaut “deixa um importante legado na construção do nosso sistema democrático, não só no papel que teve na criação do Serviço Nacional de Saúde, mas também pelos ensinamentos que nos deixou e pelo exemplo de combate político, como poeta, como escritor, como cidadão que sempre valorizou o exercício da democracia”.

Perdemos um homem que contribuiu para um estado mais forte e mais justo”, diz ministro da Saúde.

Natural de Penela, distrito de Coimbra, Arnaut estava internado nos hospitais da Universidade de Coimbra, segundo adianta a Lusa, tendo sido aí que morreu. Há duas semanas, aliás, quando o Observador contactou o histórico do PS a respeito da desfiliação de José Sócrates, Arnaut admitia a sua ausência do congresso do partido, precisamente por estar debilitado.

Em 2016, recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, que distingue “serviços relevantes prestados em defesa dos valores da Civilização, em prol da dignificação da Pessoa Humana e à causa da Liberdade”. Era Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, a mais antiga obediência maçónica.

O socialista era muitas vezes classificado como “o pai do Serviço Nacional de Saúde” por ter sido o ministro dos Assuntos Sociais durante o II Governo Constitucional (janeiro a agosto de 1978, de coligação entre PS e CDS) que lançou o Serviço Nacional de Saúde. No último congresso do PS, realizado em 2016, Arnaut foi nomeado presidente honorário do partido que representava até hoje, como notou outro histórico socialista ao Observador.

Manuel Alegre diz que “morreu o socialista mais genuíno”. O socialista, amigo de longa data do “pai do Serviço Nacional de Saúde”, recorda um homem “coerente, generoso, um grande cidadão e um grande português”.

Alegre e Arnaut estiveram juntos na Guerra do Ultramar. E é aí que Alegre regressa, num exercício de memória, para reviver um episódio que envolveu ambos. Arnaut tinha pendurado na parede dois quadros. Um de Fidel Castro, com uma inscrição de um discurso proferido em 1959 pelo antigo líder cubano: “Nem liberdade sem pão nem pão sem liberdade”. Ao lado estava a imagem do Papa João XXIII, mas o comandante ordenou apenas que tirasse a do cubano. “O António disse-lhe que não podia fazer isso, não tirava um quadro para deixar o outro porque isso obrigava-o a fazer uma distinção e ele recusava-se a fazê-lo”, recorda Alegre ao Observador.

“Era um dos meus grandes amigos e era o socialista mais genuíno e que criou a maior transformação social do nosso país”, com a criação do Serviço Nacional de Saúde. Por isso, diz o histórico do PS, “a melhor homenagem que o país lhe podia fazer era cumprir o apelo que fez, para que se salve o SNS”.

O presidente do PS prestou homenagem a um homem “apaixonado” pela causa da saúde pública e um “representante do sentido humanista” que a política deve ter. António Arnaut, disse Carlos César, “não era apenas um socialista, era um socialista muito simbólico, representante do sentido humanista com que a política se desenvolve”, um socialista “empenhado, apaixonado naquilo que sempre constituiu a sua grande causa, a causa da saúde pública”.

Com o desaparecimento de António Arnaut, fundador do PS, nosso presidente honorário, sobretudo nosso presidente afetivo, desaparece uma parte muito significativa da nossa memória do presente”, diz o presidente socialista.

A secretária-geral Adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, usou o facebook para fazer a sua homenagem ao “presidente honorário do PS, fundador do partido e fundador do Serviço Nacional de Saúde”:

Numa nota divulgada esta tarde, o presidente do PSD reagiu à notícia da morte de António Arnaut. Lembrando uma “figura incontornável” do pós-25 de Abril e do panorama político nacional, Rui Rio disse que “todos nós, portugueses, temos que agradecer” a marca deixada por António Arnaut.

O PCP destaca o “posicionamento antifascista” do histórico do PS e a sua “participação em acções unitárias democráticas”. Em comunicado, os comunista destacam a “intervenção institucional” e o “empenho” de Arnaut “na defesa de valores de Abril, nomeadamente no que toca à saúde e a outros direitos sociais e democráticos consagrados na Constituição da República Portuguesa”.

Ainda entre as reações socialistas, a eurodeputada Ana Gomes transmitiu, através do Twitter, um “tremendo sentimento de perda” e escreveu também que o “tributo” a prestar a Arnaut é “mais do que salvar o SNS: é salvar a Democracia”.

Ana Gomes, MEP

@AnaGomesMEP

Tremendo sentimento de perda, por ficarmos sem a voz do ímpar Socialista António Arnaut, pai do nosso SNS. O tributo q @psocialista e #Portugal lhe devem prestar é mais do q salvar o SNS: é salvar a Democracia. Liberdade, Igualdade, Fraternidade, Integridade e Transparência!

Carlos Zorrinho deixou uma palavra a “um homem extraordinário”e defende, nas redes sociais, que “a melhor homenagem” ao histórico socialista passa por “defender o SNS”. Outro socialista, o médico Álvaro Beleza faz acompanhar uma imagem de Arnaut de uma mensagem: “Saibamos ser dignos do seu legado! Caráter, coragem, cultura!”, uma “referência ética republicana”, assinala. E o deputado Diogo Leãorecorda “um campeão das liberdades” que o país perdeu. A socialista e secretária de Estado Adjunta do primeiro-ministro, Mariana Vieira da Silva, deixou um agradecimento também no Twitter.

Mariana VdS@margvs

Obrigada, António Arnaut. https://twitter.com/psocialista/status/976201211350151168 …

A coordenadora do Bloco de Esquerda, destaca a “homenagem e gratidão” que é devida ao histórico socialista. “Deixa-nos a responsabilidade de continuar a sua causa”, considera Catarina Martins.

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Catarina Martins

@catarina_mart

Lutou pela democracia, fundou o SNS e aos 82 anos continuava a defendê-lo como poucos. Morreu António Arnaut, a quem devemos homenagem e gratidão. Deixa-nos a responsabilidade de continuar a sua causa: “restituir ao SNS a sua dignidade constitucional e a sua matriz humanista”.

Numa nota simples, a eurodeputada Marisa Matias, eleita pelo Bloco de Esquerda, agradece o contributo deixado por Arnaut. “Obrigado”, escreve.

Numa mensagem mais extensa — e também com um cunho mais pessoal — João Semedo diz-se “amargurado, gelado e invadido por um vazio que retira todo o sentido” à mensagem que pretendia partilhar sobre este momento. O médico, ex-deputado e ex-dirigente do Bloco de Esquerda lamenta não encontrar palavras que lhe permitam descrever a “dimensão com cidadão e ser humano nas múltiplas facetas em que a sua riquíssima vida se desdobrou”. Arnaut, diz Semedo, foi “muito mais” que o pai do SNS.

Foi um insubmisso e permanente lutador da liberdade, pela igualdade e pela justiça social, um incansável combatente pelos valores da República, da esquerda e do socialismo”, diz João Semedo.

José Gusmão é outro dos bloquistas a assinalar a morte de Arnaut. Também no Twitter, o dirigente do Bloco de Esquerda diz que o socialista foi “uma vida única que salvou vidas incontáveis”.

Cristas realça “homem profundamente dedicado às causas em que acreditou”

A líder do CDS Assunção Cristas, que está esta segunda e terça-feira em Viana do Castelo no âmbito das jornadas parlamentares do partido foi apanhada de surpresa, tendo sido uma jornalista a dar-lhe a notícia da morte de António Arnaut.

“Não sabia, está a dar-me a notícia em primeira mão mas naturalmente que realço um homem profundamente dedicado às causas em que acreditou, nomeadamente à construção do Serviço Nacional de Saúde”, disse, saudando depois os familiares e amigos mas também o Partido Socialista, do qual Arnaut era “destacado membro e dirigente”. E acrescentou: “Todos ficamos unidos nessa perda, que é uma perda também por aquilo que é a nossa saúde. E hoje em Portugal tanto temos de batalhar para que o SNS funcione melhor. Independentemente de termos posições diferentes, o nosso objetivo é lutarmos para que possa haver melhor saúde para todos os portugueses”.

Médicos e enfermeiros lembram defesa da Saúde

O Sindicato Independente dos Médicos também já veio lamentar a morte de António Arnaut, “uma pessoa que, sem ser Médico, criou o SNS e até ao fim o defendeu em palavras e atos”. A bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, diz que “morreu um dos últimos homens bons e sérios” e o bastonário da Ordem dos Médicos considera ser “uma grande perda para o país, não só pelo seu papel fundamental no Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas por toda a sua atividade política, como grande defensor dos direitos, liberdades e garantias”.

Miguel Almeida considera que a figura de António Arnaut é insubstituível, destacando as suas “posições irreverentes”, tentando sempre “puxar pela carroça com o objetivo de salvar o SNS”.

Francisco George, ex-diretor-geral de Saúde, considera que “o país perde uma figura, mas ganhou o Serviço Nacional de Saúde (SNS) que ele fundou”. À agência Lusa, George diz que o país “perde uma figura política de impressionável transparência, mas ganhou um SNS para sempre”.

Arnaut colocou “Portugal no topo a nível internacional”, no que diz respeito à “saúde da população, em particular das mães e das crianças”. E tinha uma capacidade de “tomada de decisão inabalável”, destaca: “A decisão, uma vez tomada, era inabalável para ele. Ia para a frente, não recuava, não estava sujeito a pressões, a interesses. Isto na perspetiva do interesse público, do interesse de todos os portugueses, no interesse dos mais pobres, mais vulneráveis.”

A última intervenção política de António Arnaut foi há duas semanas, após a desfiliação de José Sócrates do PS. Em declarações ao Observador, o presidente honorário do PS considerou que José Sócrates fez bem em desfiliar-se do partido: “É uma atitude que já devia ter tomado, em face da gravidade das acusações e das críticas severas que lhe são feitas“, já que “independentemente de ter sido culpado dos factos que lhe são imputados, que são gravíssimos, levou uma vida acima das suas possibilidades, uma vida de fausto, acima daqueles que são os padrões indissociáveis da ética republicana e socialista.”

O “pai” do Serviço Nacional de Saúde não esqueceu a “presunção de inocência”, mas frisou que Sócrates devia ter-se afastado tendo por base um “conceito antigo, que hoje está muito esquecido: a lisura”. “Para mim a honra é muito importante”. Já sabia na altura que não iria ao Congresso do PS do próximo fim-de-semana por razões de saúde.

António Arnaut

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por Bruno Santos

Ficou hoje mais próximo da luz um homem - António Arnaut - cujo exemplo inspirou muita gente. Além de inspirar, deu também alento aos que, poucos, continuam a acreditar que uma sociedade mais justa é possível. Infelizmente, não há como disfarçá-lo, esse propósito tão humanista da Justiça tem encontrado obstáculos que não parecem, pelo menos num futuro próximo, fáceis de ultrapassar.

António Arnaut teve, durante a sua vida, uma actividade muito variada, mas talvez tenha sido pela criação do Serviço Nacional de Saúde que mais ficou conhecido, mesmo - ou principalmente - entre aqueles a quem não cabe decisão ou palavra alguma nos destinos do país e campeiam anónimos pelos caminhos da pobreza e da sobrevivência.

Esse seu legado, o Serviço Nacional de Saúde, está também em vias de desaparecer. Um pouco de atenção ao discurso e às acções daqueles por cujas mãos desaparecerá, será o suficiente para verificar que a palavra Serviço (Nacional de Saúde), fundamental no conceito expresso pela Constituição da República Portuguesa e pelo espírito de António Arnaut, está a dar lugar à palavra Sistema (Nacional de Saúde), conceito totalmente antagónico ao da Lei Fundamental e ao valor intrínseco da ideia de progresso que moveu homens como este socialista antigo. A passagem do Serviço ao Sistema representa a mercantilização absoluta de um direito humano basilar e a transformação da Doença não apenas numa indústria poderosíssima, mas em mais um instrumento de design social e de opressão sobre os mais fracos que garantirá, aos mais fortes, a perenidade do seu domínio e a perpétua servidão.

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Não me venham com esses argumentos…

por estatuadesal

(Carlos Esperança, 21/05/2018)

sharia

Estou farto de que me rebatam com as agressões imperialistas a países islâmicos, com o saque de que são vítimas, as malfeitorias dos EUA e de Israel, a cumplicidade europeia e muito mais, para tolerar uma ideologia totalitária e criminosa – o Islão político.

Tenho denunciado esses crimes, mas não os aceito como argumentos para um cómodo silêncio sobre o mais implacável dos monoteísmos e a sua demencial fúria prosélita.

Aliás, gosto da Constituição dos EUA e em Israel aprecio a igualdade de género que não existe em nenhuma outra teocracia, seja o Vaticano, a teocracia monástica ortodoxa do Monte Athos e as islâmicas e não preciso de censurar tais países para denunciar o perigo muçulmano.

Exijo a todas os devotos o respeito pela laicidade. Sei da História o suficiente para ter o dever de combater a influência das religiões nos aparelhos de Estado, num regresso em que o oportunismo dos políticos europeus trai a laicidade e compromete a democracia.

Há um maniqueísmo intolerável que leva pessoas de esquerda a conformarem-se com a deriva totalitária do Islão, leviandade e masoquismo de quem vê amigos nos inimigos dos seus inimigos e cala atrocidades contra inocentes, os tiques patriarcais, a violência tribal e a eterna humilhação da mulher.

O dever que a Europa tem de receber refugiados é incompatível com a condescendência no desprezo pelo seu ethos civilizacional. Os direitos humanos, a igualdade de género e a liberdade de expressão não podem ficar à mercê de idiossincrasias religiosas.

A Europa, depois de derramado demasiado sangue, conquistou o direito às crenças, não-crenças e anti-crenças, através da repressão ao clero. Não pode agora consentir crimes, chantagem ou violência de qualquer religião, sob pena de permitir retaliações de outras, autóctones, numa espiral de violência que foi apanágio de épocas passadas.

Proteger os crentes não é aceitar as crenças. O Islão político e os dignitários devem estar sob vigilância, para não sermos imolados, e, em vez de combatermos as crenças, sermos obrigados a enfrentar os crentes.

O ressurgimento de um catolicismo agressivo, ligado a partidos fascizantes, já anda aí a governar na Europa, em vários países, talvez vingando a indiferença com que deixamos bramir ulemás, xeques, mulás e outros marginais, contra os infiéis, na conceção desses trogloditas, homens e mulheres cosmopolitas e livres-pensadores. Nós.

ESPETÁCULO DE HIPOCRISIA

por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 21/05/2018)

bruno1

Quando Bruno de Carvalho tentou renovar o vínculo contratual com André Carrilo em condições parecidas às que conseguiu impor aos jogadores agora mais revoltados pelas dificuldades em sair para outros clubes, fez-se um silêncio. Ninguém reparou que Bruno de Carvalho usou os poderes da relação contratual com o jogador para o chantagear.

Práticas, como retirar o jogador dos treinos, convocá-lo para uma reunião e mantê-lo numa sala durante uma tarde e outros tratamentos de que Carrillo foi alvo são crimes de assédio laboral em muitos países. Mas ninguém se levantou em defesa do trabalhador, e até vimos ilustres deputados virem elogiar Bruno, referindo-se à personagem como o “meu presidente”. Como ninguém se incomodou por um jogador como o Bryan Ruiz, com 33 anos, ter sido forçado a treinar com os juniores.

Até poderia fazer aqui uma lista de personalidades de esquerda que, na ocasião, se mantiveram em silêncio e que não hesitaram em apoiá-lo nas últimas eleições. O Bruno de Carvalho sem regras não é uma novidade, não resulta de um desvio que levou Daniel Sampaio a afastar-se da criação, nada mudou em Bruno de Carvalho.

Só que, desta vez, o comportamento de Bruno de Carvalho ocorreu num contexto em que as boas consciências já voltaram a ter bons valores e os mesmos comportamentos que no passado eram tolerados, ou mesmo elogiados, passaram a ser considerados condenáveis. Ainda por cima parece que a brilhante gestão de Bruno de Carvalho foi mais longe e envolveu o recurso a jagunços para meter os trabalhadores na ordem.

Onde estavam os deputados defensores dos direitos laborais quando André Carrrilho foi maltratado? Não deixa de ser curioso que aqueles que parece defenderem que o mundo do futebol é um mundo com leis à parte, elogiando os métodos de Bruno de Carvalho, tenham agora mudar de opinião e já defendem que um assalto com roubos de relógios e provocando três pontos numa testa já é terrorismo.

A verdade é que Bruno de Carvalho é a melhor das produções da hipocrisia nacional, da cobardia e da falta de valores. Da cobardia porque agora que o monstro perdeu o controlo ninguém quer assumir a paternidade.

Alguns mais espertalhões dizem que só agora Bruno resvalou para a asneira; estão esquecidos do que ele fez ao Carrillo. Vá lá, na ocasião os “adeptos” não bateram no jogador peruano, e se tal tivesse sucedido, talvez muitas dessas boas pessoas tivessem vindo em defesa dos jagunços, sugerindo que tinha sido um pequeno exagero e que tudo não tinha passado de uns tabefes.