25 Maio 2018
O PS deve estar mais à esquerda ou mais ao centro? O debate vai marcar o congresso do partido, por isso desafiámos destacados socialistas a responderem ao famoso teste da bússola política.
Dois anos e meio de uma inédita “geringonça”. Será que devemos repetir? Não será hora de realinhar ao centro? Há social-democracia para lá da terceira via ou é ela o único caminho? Os socialistas moderados ainda têm espaço? Agora só conta a esquerda? Para onde ir? Eis o PS às portas da Batalha, onde vai decorrer o congresso do partido — o último antes das legislativas — durante todo o fim-de-semana. O debate ideológico volta em força, com dirigentes, deputados e governantes a trocarem argumentos publicamente nas últimas semanas. Desafiámos um grupo de destacados socialistas que se opõem neste debate interno a responderem a um questionário já bem conhecido. Afinal o que os separa dentro da esquerda a que pertencem?
O teste é o do Political Compass e o Observador desafiou vários socialistas a responderem às 62 perguntas do teste americano que não só ajuda a mostrar o posicionamento político na lógica esquerda-direita, como também permite perceber quem é mais liberal ou conservador em matéria de costumes. Juntámos a este grupo, as respostas dadas por António Costa ao mesmo teste, em 2014 ao Observador, quando ainda estava a concorrer pela liderança do partido. O resultado geral não é surpreendente: são mesmo todos socialistas. Mas apesar de todos estarem no espectro da esquerda libertária — a tradução não é fácil porque o teste é americano, mas diz respeito a pessoas que defendem um maior peso do Estado, mas são liberais nos costumes –, a verdade é que a rosa tem vários tons.
Pode ler as respostas dos nove socialistas a cada uma das perguntas no final do texto e também comparar as diferenças entre o que pensam. Em mais de metade das resposta (34) não há discordâncias, com os novos socialistas a divergirem apenas na intensidade da resposta: “concordam” ou “concordam fortemente”; “discordam” ou “discordam fortemente”. Nuances que acabam por ter na mesma relevância para o resultado final. Há apenas quatro perguntas em que as respostas são exactamente iguais.
Quanto à diferenças, as mais significativas têm a ver com a segurança do país e dos direitos dos cidadãos quando se combatem ameaças terroristas. Por exemplo, são cinco (António Costa, Ascenso Simões, Eurico Brilhante Dias, Marcos Perestrello e Sérgio Sousa Pinto) os que consideram que “ações militares que desafiem o direito internacional são por vezes justificadas”, os outros quatro estão contra. E há quatro dos socialistas (António Costa, Ascenso Simões, Marcos Perestrello e Eurico Brilhante Dias) que consideram que “os nossos direitos cívicos estão a ser excessivamente limitados em nome da luta contra o terrorismo”.
Também há divisão quando o tema é o papel que as escolas religiosas têm na educação das crianças, ou à “fusão crescente entre a informação e o entretenimento” e como ela “contribui de forma preocupante para o declínio do interesse dos cidadãos”. Os nove socialistas que fizeram o teste também não se entendem quando são confrontados com a capacidade que as empresas têm de defenderem o ambiente por si mesmas, sem intervenção do Estado. Ou sobre o proteccionismo. Ou ainda sobre se toda a autoridade deve ou não ser questionada.
Um a um (aqui por ordem alfabética), afinal onde se posicionam estes socialistas no partido?
Ana Gomes: mais à esquerda não há
A eurodeputada consegue ser não só a socialista mais à esquerda do espectro, como a mais anti-sistema. É, aliás, a única que defende com mais convicção que toda a autoridade deve ser questionada. As respostas de Ana Gomes revelam uma crítica mais radical de tudo o que tenha a ver com o capitalismo do que a maioria dos companheiros de partido que responderam ao inquérito.
Vejamos este exemplo: é a única que concorda que a venda de água engarrafada, um bem essencial transformado em produto de marca, é um triste reflexo do estado a que a sociedade chegou. E só ela concorda “fortemente” que a terra não deve ser um bem de comércio, para comprar e vender. No extremo oposto, “discorda fortemente” que as pessoas sejam mais livres quanto mais livre o mercado. Neste ponto junta-se a Duarte Cordeiro e a Tiago Barbosa Ribeiro, dois socialistas também conotados com a ala mais à esquerda do PS.
Do lado dos costumes, se a maioria das respostas está alinhada com a dos outros inquiridos, há um surpreendente lado conservador quando se fala da abertura da sociedade às questões ligadas ao sexo. Hoje vai-se longe demais? Ana Gomes diz que sim. É a única que concorda.
António Costa: patriótico e de esquerda
António Costa não é homem de acreditar em previsões astrológicas. Mas se todos os outros socialistas deste painel discordam “fortemente” da possibilidade de os astros explicarem “muita coisa de forma rigorosa”, Costa não nega à partida uma ciência que desconhece e é o único a deixar ali alguma margem. Talvez já em 2014 estivesse escrito nas estrelas que chegaria a primeiro-ministro.
Foi precisamente no início dessa caminhada, quando ainda disputava a liderança do PS a António José Seguro, que o Observador o desafiou a responder às perguntas do teste Political Compass. E, por essa altura, os resultados apresentaram-no como um político mais à esquerda que Alexis Tsipras, aliás, um político patriótico e de esquerda — talvez também estivesse escrito nas estrelas que, para chegar a primeiro-ministro, haveria de se entender com o Bloco e com o PCP.
Olhando agora para os resultados, e em comparação com o restante painel, António Costa é o único que defende apoiar sempre o país, esteja o país certo ou errado. E é dos poucos (na verdade, é ele e é Sérgio Sousa Pinto) que discordam “fortemente” de quem considera um “disparate” ter orgulho no país quando não se escolhe o sítio onde se nasce.
Na economia, surpresa seria se Costa defendesse ideias liberais como “quanto mais livre o mercado, mais livres as pessoas” — não o faz. Defende a necessidade de restringir certas multinacionais “predatórias”, assume que o protecionismo na economia às vezes é necessário e discorda fortemente da ideia de que os ricos pagam poucos impostos. Ou seja, um homem à esquerda.
Já em termos de política internacional, o posicionamento é menos consensual, já que Costa é daqueles que admitem ações militares que desafiem o direito internacional.
Já foi ministro da Administração Interna, hoje é primeiro-ministro. Na altura não gostava (provavelmente agora ainda gosta menos) da ideia de que “toda a autoridade deve ser questionada”. Duarte Cordeiro pensa exatamente o mesmo. Mas já não concorda com o agora primeiro-ministro que em 2014 entendia que a reconciliação com a norma estabelecida é “um aspeto importante de maturidade”.
E por falar em disciplina, António Costa concorda que “os bons pais têm por vezes de bater nos filhos para os ensinarem a distinguir o certo do que está errado”.
A resposta mais surpreendente a este questionário tem a ver com sexo. Se na maioria das perguntas sobre costumes Costa se mostra liberal (embora não seja o mais entusiasta da adoção de crianças por casais homossexuais), na questão sobre sexo fora do casamento apresenta-se bem mais conservador e é o único da lista a considerar esta prática “geralmente imoral”.
De então para cá, admitimos a hipótese de algumas coisas terem mudado, mas outras estão exatamente na mesma. O mesmo Costa que, em Março deste ano, aproveitou um debate quinzenal para co-responsabilizar a comunicação social pelas consequências dos incêndios do ano passado, nomeadamente por causa da “péssima qualidade” da “informação que só desperta para o problema no meio da tragédia”, já era crítico dos media em 2014. É, aliás, o único deste painel a concordar “fortemente” com a ideia de que a “preocupante” falta de interesse dos cidadãos está ligada à “fusão crescente” entre informação e entretenimento.
Para terminar, a curiosidade de Costa ter ao seu lado apenas dois socialistas na pergunta sobre os momentos em que nos sentimos “perturbados”, precisamente o que está mais à direita e a que está mais à esquerda nos resultados deste teste. Tal como Ascenso Simões e Ana Gomes, Costa também concorda que nesses casos o melhor “é não pensarmos nisso” e ocuparmo-nos com “coisas alegres”.
Talvez seja esta a fibra dos “otimistas irritantes” como lhe chamou o Presidente da República. Em todo o caso, Costa não deverá ter de recorrer ao truque. Este 22.º congresso está desenhado para lhe trazer o mínimo de “perturbações” possível.
Ascenso Simões: o mais à direita dentro da esquerda
Discorda que o protecionismo seja por vezes necessário no comércio internacional, não tem desconfianças de maior face à iniciativa privada e admite ações militares que desafiem o direito internacional. Estas são apenas algumas das ideias defendidas por Ascenso Simões que o colocam à direita dos seus camaradas de partido. Exemplos? Este defensor assumido da “terceira via” assume simpatia com os mercados e não vê necessidade de ter a mão estatal a intervir no comércio entre países, nem diaboliza as empresas, sendo, aliás, o único dos socialistas que aceitou fazer este teste a concordar que “o que é bom para as empresas mais bem sucedidas é, em última análise, bom para todos”.
Também confia nas empresas para que “respeitem o ambiente de forma voluntária” e sobre a regulação do comércio com outros países, Ascenso Simões é claro: discorda da opção “o protecionismo é por vezes necessário no comércio internacional”, uma das ideias fortes da esquerda. No capítulo económico do teste, estas são questões decisivas para o posicionamento ao longo do eixo horizontal, que baliza o pensamento económico dos inquiridos entre esquerda e direita. As respostas dadas por Ascenso Simões acabaram por colocá-lo mais perto do centro nestas matérias.
Já em termos sociais, este socialista só tem outro mais conservador do que ele, entre os que fizeram o teste: António Costa. E, para esta definição, muito contribuem respostas como as que deu sobre o tema da segurança. Ascenso Simões concorda que “ações militares que desafiem o direito internacional são por vezes justificadas” e não se revê na ideia, defendida por tantos dos seus pares, que “os direitos civis estão a ser excessivamente limitados em nome da luta contra o terrorismo”. É o único que considera que a primeira geração de imigrantes nunca se consegue “integrar completamente no país de acolhimento” e está também isolado quando defende que “numa sociedade civilizada há sempre pessoas acima para serem obedecidas e abaixo para serem comandadas”. O socialista também destoa da maioria dos inquiridos ao “discordar fortemente” da ideia que “toda a autoridade deve ser questionada”. E quando admite que os pais batam nos filhos “para os ensinarem a distinguir o que está certo do que está errado”.
É um moderado, mas socialista. Em questões sociais que são decisivas para o espectro político a que pertence, como por exemplo no acesso ao Serviço Nacional de Saúde, não descola um milímetro da ideia da universalidade e “discorda fortemente” da ideia que os que podem pagar tenham acesso a melhores cuidados de saúde. É também radical no que diz respeito à defesa do sistema de Segurança Social, discordando também fortemente da ideia de que a caridade o possa substituir.
Duarte Cordeiro: economicamente alinhado com o líder
Quanto mais livre o mercado, mais livres as pessoas? Duarte Cordeiro não se limita a discordar — “discorda fortemente”. Um verdadeiro mercado livre necessita de restrições à capacidade que multinacionais predatórias têm para criar monopólios? O socialista não fica por apenas concordar — “concorda fortemente”. Quem pode trabalhar mas recusa a oportunidade para tal não deve esperar o apoio da sociedade? Discordar não chega para Duarte Cordeiro, que “discorda fortemente” da ideia. Aqueles que o podem pagar devem ter direito a melhores cuidados médicos? Discordar é pouco, este socialista “discorda fortemente”. Asrespostas extremadas que dá em questões centrais do pensamento da esquerda em matérias económicas fazem com que o líder do PS-Lisboa apareça como um dos socialistas mais à esquerda no que diz respeito ao pensamento económico (à sua esquerda, só mesmo Ana Gomes).
É também o mais radical na resposta sobre a frase popularizada por Karl Marx para descrever a sociedade que ambicionava: “De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”. Duarte Cordeiro foi o único dos inquiridos a optar por responder “concordo fortemente”, em vez de apenas concordar, como fizeram os outros seis socialistas que, tal como ele, também veem a ambição celebrizada por Marx como “fundamentalmente uma boa ideia”. Recorde-se que Cordeiro faz parte da ala que começa a ganhar peso dentro do PS e que é representada, à cabeça, por Pedro Nuno Santos, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares que é um dos principais defensores da “geringonça”. Tal como ele, também Duarte Cordeiro defende a continuidade desta solução no futuro, com o PS mais encostado à esquerda. Ainda recentemente, na apresentação em Lisboa da moção que António Costa vai levar ao congresso, mesmo ali ao lado de Costa (que tem evitado entrar neste debate a fundo) defendeu que o PS se mantenha neste trilho: “É à esquerda que temos de ir buscar as forças para executar este programa e será à direita que temos de combater”.
É o mais alinhado com António Costa, se olharmos exclusivamente para o eixo horizontal, mas bem mais liberal do que o líder em matéria de costumes. Um dos exemplos é a resposta que dá sobre a legalização do haxixe. Não se limita a concordar, como a esmagadora maioria dos socialistas que fizeram o teste. Duarte Cordeiro também aqui opta por sublinhar o seu acordo com a ideia respondendo que “concorda fortemente”. Nas outras respostas sobre moral e costumes, Cordeiro responde muito alinhado com os mais novos, Ivan Gonçalves (líder da JS) e Tiago Barbosa Ribeiro.
Eurico Brilhante Dias: protecionismo, não
Eurico Brilhante Dias é o segundo socialista mais à direita no teste do political compass e, tal como Ascenso Simões, o resultado é este muito por causa de algumas posições que tendem a defender o papel das empresas e, claro, pelo que assume sobre uma questão central para a esquerda em matérias económicas: o protecionismo nas relações comerciais com outros países. Este secretário nacional do PS é contra o protecionismo.
A questão ganha especial interesse por Eurico Brilhante Dias ser o atual secretário de Estado da Internacionalização, lidando diariamente com empresas que pretendem posicionar-se além fronteiras. Na prática, o seu trabalho é precisamente facilitado quanto menos protecionismo existir. Nesta posição não está sozinho, com Ascenso Simões a pensar a mesma coisa (ver mais acima neste mesmo texto). Também não está isolado quando discorda que as empresas multinacionais estão a explorar, contra a ética, os recursos genéticos das plantas nos países em vias de desenvolvimento, sendo curiosamente acompanhado por um socialista bem mais à esquerda, Tiago Barbosa Ribeiro. Mas já lá chegaremos.
Eurico Dias é também dos poucos socialistas que discorda dos efeitos nefastos para os cidadãos com a mistura entre informação e entretenimento e pertence ao grupo dos mais securitários. Ações militares que desafiem o direito internacional podem justificar-se? Eurico Brilhante Dias concorda e também não alinha pela ideia que “os nossos direitos cívicos estão a ser excessivamente limitados em nome da luta contra o terrorismo”. Isto quer dizer que este secretário nacional do PS acredita que a segurança pode sobrepor-se, em algumas situações, a outros direitos dos cidadãos ou dos países.
Já quanto a costumes, Eurico Brilhante Dias é um dos socialistas questionados que se mostra mais libertário, ainda assim é o único que discorda da legalização do haxixe. Mas nem mesmo esta resposta faz com que o seu posicionamento no eixo vertical (que mede a posição sobre liberdades individuais e costumes) se mexa do fundo do diagrama. Na maior parte das questões que contam para essa leitura, a resposta do socialista é tendencialmente libertária. Exemplos: concorda fortemente com a adoção por casais de pessoas do mesmo sexo, ou discorda totalmente da ideia de que “ninguém se pode sentir naturalmente homossexual”, ou ainda discorda fortemente que hoje em dia se vá demasiado longe sobre questões ligadas ao sexo (além dele só Tiago Barbosa Ribeiro fez esta mesma opção no teste).
Ivan Gonçalves: sempre alinhado com a maioria
O líder da Juventude Socialista é dos mais liberais em matéria de costumes e liberdades individuais e na economia é, sem dúvida, à esquerda que se coloca. Ainda assim, é curiosamente o primeiro a aparecer neste eixo imediatamente depois do grupo que é considerado da ala direita do partido (Ascenso Simões, Marcos Peretrello e Eurico Brilhante Dias) e também de Sérgio Sousa Pinto.
Nas respostas que deu ao questionário do political compass, Ivan Gonçalves quase nunca aparece isolado. Na maior parte das vezes surge ao lado da resposta que é maioritária. Onde radicaliza mais a sua posição é, por exemplo, numa questão sobre a presença do Estado na comunicação social, onde só é acompanhado por Tiago Barbosa Ribeiro ao optar pela resposta “discordo fortemente” quando questionado sobre se nenhum meio de comunicação social, seja qual for o grau de independência que tem, deve receber financiamento público.
Há um tema em que acaba por ser sempre mais extremado nas respostas: naquele que analisa o nível de confiança no meio empresarial. No caso de Ivan Gonçalves, esta confiança é muito reservada já que não acredita, e manifesta-o de forma firme, que as empresas sejam capazes de auto-regular-se de forma voluntária para cumprirem normas ambientais. Também “discorda fortemente” que a única responsabilidade social seja dar lucro aos seus acionistas, bem como a maioria dos socialistas que fez o teste.
Marcos Perestrello: de esquerda sim, comunista não
Bastava ver o final da sessão comemorativa deste 25 de Abril no Parlamento, para se perceber que Marcos Perestrello é um orgulhoso homem de esquerda. Tanto ele, como Pedro Nuno Santos, se juntaram ao coro de deputados do PS e do BE que de improviso cantavam a Grândola Vila Morena.
Mas é preciso bem mais do que se assumir de esquerda e cantar a Grândola, para se ser considerado revolucionário. E Perestrello traça bem essa fronteira quando é um dos dois únicos socialistas neste grupo — o outro é Sérgio Sousa Pinto — que não se deixa encantar pelas palavras popularizadas por Karl Marx (“De cada um de acordo com as suas capacidades, para cada um de acordo com as suas necessidades”). Está aqui sumariamente corporizado o conceito de uma sociedade comunista. Marcos Perestrello não concorda que esta seja “fundamentalmente uma boa ideia”.
Está mais enturmado quando se fala de comércio externo ou de políticas fiscais — concorda que às vezes o protecionismo é necessário, e não acha que os ricos paguem demasiados impostos. É defensor da intervenção estatal nos mercados para evitar abusos monopolistas, mas aqui não com a mesma convicção de outros companheiros mais à esquerda.
O homem que é hoje secretário de Estado com a pasta da Defesa também não fica propriamente sozinho — até porque essa é a questão que mais divide o painel — quando admite que por vezes pode haver necessidade de recorrer a acções militares, mesmo que desafiem o direito internacional.
Mas Perestrello é o único a romper o consenso em três questões. Defende que a escolaridade deve ser obrigatória (embora seja o único que não o defenda “fortemente”), e depois fica isolado em mais duas outras perguntas que mexem sobretudo com a escala de valores e de costumes. Quase todos os inquiridos discordam “fortemente” da premissa “Ninguém se pode sentir naturalmente homossexual.” Marcos Perestrello também discorda, ponto final.
Tem exatamente o mesmo posicionamento no que diz respeito à pergunta sobre as vantagens de “pessoas diferentes” se darem mais com os seus. Discorda. O resto do painel “discorda fortemente”.
O ex-presidente da FAUL (Federação da Área Urbana de Lisboa do PS) acredita que a religião e a moral estão fortemente ligadas e, embora defenda a adoção de crianças por casais homossexuais, não o faz tão convictamente como alguns dos seus pares. Aliás, o único que nesta pergunta deu uma resposta exatamente igual foi António Costa.
Sérgio Sousa Pinto: contra a “geringonça” mas fora da ala direita
É um dos principais críticos da atual solução governativa, não se conformando até hoje com os acordos que António Costa firmou com PCP e Bloco de Esquerda para governar. Mesmo assim, Sérgio Sousa Pinto não se posiciona na ala direita do PS, aparecendo mais à esquerda do que este grupo e divergindo dele em matérias decisivas, como as relativas à segurança ou na fé quanto à existência de um bom senso empresarial. É também um dos únicos dois a responderem com um rotundo “discordo” perante a frase que sintetiza o pensamento marxista.
Só Sérgio Sousa Pinto e Marcos Perestrello não acham que “é fundamentalmente uma boa ideia” a frase “de cada um de acordo com as suas capacidades, para cada um de acordo com as suas necessidades”. O socialista que até rompeu com Costa (de quem sempre foi próximo) na sequência do acordo do líder do PS com a esquerda tem feito várias declarações, nos últimos anos, contra PCP e BE. Chegou mesmo a dizer que a “geringonça” só funciona porque, “em tudo o que é essencial, o PCP e até o BE não são tidos em consideração”. E especificou que temas são esses: “A política de alianças de Portugal, a política europeia, a prioridade absoluta ao equilíbrio orçamental”.
O seu posicionamento no gráfico do political compass é bem no centro do espectro da esquerda libertária, onde se localizam (mais à esquerda ou mais moderados, mais ou menos libertários) todos os socialistas. Dois exemplos de duas matérias socialistas em que vinca a sua posição de forma muito clara: discorda fortemente que os que podem pagar tenham melhores cuidados de saúde e acredita fortemente na ideia que um verdadeiro mercado livre necessita de restrições para multinacionais que tenham tendência para criar monopólios. São pontos de honra para os socialista.
Aparece ao lado de Ana Gomes numa questão bem atual (que tem centrado o debate político ao nível internacional): há povos mais civilizados do que outros? Ou o que existe é apenas uma variedade grande de culturas? Apenas estes dois socialistas se afastam mais de um certo relativismo moral normalmente associado aos que consideram que “não há povos selvagens e civilizados, mas apenas culturas diferentes”. E é o único a alinhar com António Costa ao discordar fortemente que “ninguém escolhe o país onde nasce, pelo que é disparatado ter-se orgulho no seu país”. Vincam mais a posição do que todos os outros socialistas que apenas discordam da afirmação.
Tiago Barbosa Ribeiro: nos antípodas do liberalismo económico
É o mais liberal em matéria de costumes. Já quanto ao outro liberalismo, o económico, Tiago Barbosa Ribeiro aparece praticamente nos antípodas, pertencendo ao grupo de socialistas que surge mais à esquerda. O deputado do PS opta por respostas mais extremadas quando o que está em causa são os valores socialistas, sobretudo no que diz respeito à economia.
Quanto mais livre o mercado, mais livres as pessoas? Tal como Duarte Cordeiro, também para Tiago Barbosa Ribeiro não foi suficiente dizer apenas que discorda. O socialista conotado com a ala esquerda do PS (na política até começou pelo Bloco de Esquerda) “discorda fortemente” desta ideia, bem como de outra que é emblemática para a esquerda: a desconfiança face às empresas. Se os outros socialistas questionados (à exceção de Ascenso Simões) discordam da ideia de que “o que é bom para as empresas mais bem sucedidas é, em última análise, bom para todos”, Tiago Barbosa Ribeiro surge ao lado de Sérgio Sousa Pinto discordando fortemente da mesma afirmação.
Esta mesma veia sobressai quando é confrontado com a ideia que “controlar a inflação é mais importante que controlar o desemprego”. “Discorda fortemente, sendo um dos dois únicos a vincar a posição desta forma. A outra é a campeã da esquerda no PS, Ana Gomes.
Veja nesta infografia todas as perguntas do teste e todas as respostas
grafismo de Maria Gralheiro.