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quarta-feira, 6 de junho de 2018

Como transformar as leis do Trabalho, no século 21

por estatuadesal

(Alain Supiot, in Outras Palavras, 30/05/2018)

180530-Mourin2Imagem: Charles Mourin, A Aurora do Trabalho (1891)

Velhas normas e lógicas da era fordista já não servem, mas o neoliberalismo propõe uma regressão feudal. É hora de buscar alternativa que combine autonomia, desalienação e dignidade.


Seria necessário ser cego para negar a necessidade fundamental de reforma das leis trabalhistas. No decorrer da história, os avanços tecnológicos sempre levaram à reestruturação das instituições. Foi o caso nas revoluções industriais do passado, que depois de derrubar a velha ordem – ao abrir as comportas para a proletarização, a colonização e a industrialização da guerra e do extermínio — resultaram na reconstrução de instituições internacionais e na invenção do Estado de bem-estar social. O período de paz e prosperidade desfrutado por países europeus no pós-II Guerra pode ser creditado a esse novo tipo de Estado e às fundações sobre as quais ele foi construído: serviços públicos integrados e eficientes, uma rede de segurança social cobrindo toda a população e leis trabalhistas que garantiam aos trabalhadores um nível mínimo de proteção.

Essas instituições, nascidas na segunda revolução industrial, foram agora colocadas em questão, minadas por políticas neoliberais que levam a uma corrida social, fiscal e ambiental de rebaixamento entre as nações; e pela revolução digital, que está tragando o mundo do trabalho – manual ou do conhecimento [1]. Não se espera que trabalhadores “conectados” sigam ordens como robôs mas que, ao contrario, respondam em tempo real à informação que recebem. Esses fatores políticos e tecnológicos trabalham juntos. Ainda assim, eles não poderiam ser associados, porque o neoliberalismo é uma escolha política reversível, enquanto a revolução digital é um fato irreversível que pode servir a diferentes fins políticos.

As mudanças tecnológicas que alimentam os atuais debates sobre automação, fim do trabalho e “uberização” têm duplo sentido. Podem tanto aprofundar a desumanização do trabalho engendrada pelo taylorismo quanto levar à adoção de “condições humanas de trabalho” estipuladas na Declaração de Filadélfia, o documento essencial da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Este texto propõe-se a assegurar empregos em que os trabalhadores tenham “a satisfação de dar a mais completa medida de sua habilidade e realização e façam sua maior contribuição ao bem-estar comum” [2]. Essa perspectiva seria um aprimoramento do modelo de trabalho assalariado, ao invés de um retorno à “mercantilização do trabalho”.

Emprego no século 21: um acordo em evolução

Até os anos 1970, o emprego envolvia uma barganha: obediência em troca de segurança. Os empregados renunciavam a qualquer tipo de autonomia sobre seu trabalho em troca de um número limitado de horas de trabalho, negociação coletiva e proteção contra a perda do emprego. Esse modelo, implementado de várias formas legais em todas as nações industrializadas, reduziu a justiça social aos termos quantitativos da troca de trabalho e segurança física no trabalho e liberdade aos sindicatos. Mas o trabalho em si – seu conteúdo e conduta – era excluído dessa barganha. Tanto na sociedade capitalista como nos países “comunistas”, o trabalho era considerado uma questão de “organização científica” – ou o chamado taylorismo. Não havia lugar para a autonomia, que existia somente para executivos sênior e autoempregados.

A revolução digital oferece uma chance a todos os trabalhadores de adquirir maior autonomia. Mas, ao mesmo tempo, ameaça sujeitar todo o mundo – incluindo os autoempregados, executivos e categorias profissionais – a formas agravadas de desumanização do trabalho. Essa revolução não é limitada à difusão das novas tecnologias. Ela está mudando o centro de gravidade do poder econômico, agora menos concentrado na propriedade material dos meios de produção do que na propriedade intelectual dos sistemas de informação. Hoje, esse poder não é exercido principalmente por meio de ordens a serem seguidas – mas de objetivos a serem alcançados.

Ao contrário de revoluções industriais anteriores, não são as habilidades físicas que as novas tecnologias poupam e superam – mas as ações mentais. Mais precisamente, as capacidades de memorização e cálculo, que podem ser usadas para a execução de qualquer tarefa programável. Estas tecnologias são incrivelmente poderosas, rápidas e obedientes mas também, como diz o cientista da computação Gérard Berry, totalmente estúpidas [3]. Elas possibilitariam aos humanos concentrar-se no lado “poético” do trabalho – aquele que requer imaginação, detalhe e criatividade, e portanto não é programável.

A revolução digital será também uma fonte de novos perigos se, ao invés de colocar computadores a serviço dos humanos, organizar o trabalho humano no modelo de trabalho dos computadores. Ao invés da subordinação dar lugar a maior autonomia, o trabalho tomaria a forma de subordinação a números. Equivaleria a estender à mente a garra que o taylorismo mantinha sobre o corpo.

Essa tentativa quixotesca de programar seres humanos aliena-os da experiência da realidade. Ela explica o crescimento de problemas de saúde mental e o aumento do mesmo tipo de fraude contábil já vista nas economias planejadas da União Soviética. Encarregado de atingir metas impossíveis, um trabalhador tem pouca escolha: ou se afunda em depressão, ou joga com o sistema para satisfazer indicadores de desempenho fora da realidade. A fantasia cibernética subjacente à governança por números adequa-se perfeitamente à promessa neoliberal de globalização. Mais precisamente à autorregulação de uma “grande sociedade aberta” pelas forças de um mercado que tudo abarca. Essa é a razão por que esse tipo de governo está se espalhando, em detrimento do que a Declaração Universão de Direitos Humanos define como Estado de Direito.

Não é, portanto, nas velhas fórmulas do neoliberalismo que podemos buscar as ferramentas legais para dominar a tecnologia de informação e civilizar seu uso de modo a libertar, ao invés de alienar, a mente humana. Essas fórmulas, administradas em doses maciças no decorrer dos últimos quarenta anos, ajudaram a formatar o mundo em que vivemos. Um mundo de uso abusivo dos recursos naturais e dominação da economia pelas finanças, gerando nitidamente o crescimento de desigualdades de todos os tipos, a migração em massa de pessoas que fogem da guerra e da pobreza, a volta da violência religiosa e do nacionalismo, o declínio da democracia e o crescimento do poder de homens fortes com ideias fracas. Diria o senso comum que, ao invés de insistir no erro, aplicando mecanicamente as “reformas estruturais” prescritas pelos responsáveis por esse desastre, deveríamos aprender com esses erros, particularmente no campo das leis.

O que é particular no neoliberalismo – e o diferencia do liberalismo clássico – é o modo como ele trata as leis em geral, e as leis trabalhistas em particular. Elas passam a ser vistas como um produto legislativo em competição num mercado internacional de regulações em que reina suprema a corrida para rebaixar os padrões sociais, fiscais e ambientais. O Estado de Direito é portanto substituído pelo “shopping” legal, subordinando a lei a cálculos econômicos ao invés do contrário.

Redesenhar as leis trabalhistas, olhando além do emprego

Como os governos não querem mais assumir nenhuma das principais alavancas macroeconômicas que afetam o emprego (controle de moeda e das fronteiras, taxa de câmbio, gasto público), eles empurram com mais força a última alavanca que restou: as leis trabalhistas, que são tidas como um obstáculo ao emprego. Isso embora nenhum estudo sério dê suporte a esse argumento.

Como os limites ao “direito” de demitir foram abolidos, as promessas extraordinárias que acompanham cada nova desregulação do mercado de trabalho nunca se materializaram. As taxas de desemprego continuam muito altas [4]. Mas não tem havido revisão das leis empresariais (elas permitem, por exemplo, recompra de ações que levam ao enriquecimento dos acionistas sem dar nada em troca, destruindo o capital e minando o investimento), das leis contábeis, ou das leis sobre finanças (tais como a existência de bancos privados que são “muito grandes para falir” e que portanto usufruem de uma inviolabilidade negada a Estados endividados) [5]. Os efeitos negativos de tais mudanças, nos investimentos e no emprego, estão provados. No noticiário atual, reduzir a indenização por demissão injusta é visto como “reforma corajosa”, enquanto limitar os ganhos de opções de ações que um executivo pode receber em razão de tais demissões é tido como “demagogia”.

Qualquer reforma séria das leis trabalhistas deveria ter como alvo mais democracia econômica – ou a própria democracia política continuará a se dissolver. Idealmente, reformas verdadeiras deveriam dar a todo mundo mais autonomia e controle sobre suas vidas profissionais, criando mais salvaguardas ativas, que permitam às pessoas tomar iniciativas, e complementar as salvaguardas passivas herdadas do modelo fordista. Mas isso não pode ser feito sem levar em conta as profundas mudanças na organização das empresas e do trabalho que vêm ocorrendo desde os anos 1980.

A primeira condição para tal reforma seria estender as leis do trabalho para além do emprego, de modo a que protejam todos os tipos de trabalho economicamente dependente. Hoje, a revolução digital e o modelo de start-up estão ressuscitando esperanças de empoderamento por meio do autoemprego e pequenas cooperativas. Mas na realidade as linhas entre autoemprego independente e autoemprego dependente estão sendo apagadas, com os trabalhadores presos por laços de fidelidade que reduzem sua autonomia em vários graus. Do mesmo modo, a ideia de que plataformas digitais que reúnem trabalhadores e usuários de seus serviços beneficiará o autoemprego não é confirmada pelos fatos, como demonstram as ações coletivas apresentadas por motoristas da Uber, com algum sucesso, para forçar a empresa a reconhecê-los como empregados.

Face a essa mudança, a dependência econômica deveria ser o critério essencial para um contrato de emprego, como recomendado por uma série de propostas provocadoras elaboradas por um grupo de acadêmicos franceses [6]. Adotar esse critério simplificaria as leis do trabalho, e ligaria o grau de proteção recebido pelos trabalhadores à sua dependência. A gestão de resultados tem sido acompanhada pelo retorno da velha estrutura legal da “propriedade feudal”, na qual um arrendatário garantiria lealdade ao dono da terra em troca do direito de trabalhar um lote de terra. O ressurgimento de tais laços tornou-se possível devido a ferramentas digitais que permitem aos proprietários controlar o trabalho de outros sem lhes dar ordens.

Esses laços de lealdade formam a estrutura legal da economia de rede e são encontrados, de diferentes modos, em todos os níveis de trabalho: dos chefes executivos sujeitos aos caprichos dos acionistas ou clientes até aos empregados assalariados, de quem é demandada flexibilidade – eles têm de estar disponíveis o tempo inteiro. Os debates sobre a uberização iluminam a necessidade de uma estrutura legal que possa manter as promessas (de autonomia) e mitigar os riscos (de exploração) inerentes a essas situações de lealdade.

Reformas visionárias

Neste novo contexto, qualquer reforma que coloque no centro das relações de trabalho as negociações diretas entre patrões e empregados é irrelevante. Este enfoque pode ter sido adequado nos Estados Unidos em 1935, quando a Lei Nacional de Relações de Trabalho foi adotada como parte do New Deal. Mas ele não resolve os problemas colocados pela organização atual do trabalho – interconectada e transnacional.

A primeira questão é: que mecanismos permitem aos trabalhadores recuperar algum grau de controle sobre o sentido e o conteúdo de seu trabalho? Na França, o direito dos asssalariados à expressão coletiva, consagrado nas Leis Auroy, de 1982, inauguraram este processo, que poderia ter prosseguido se a concepção e a organização do trabalho tivessem se transformado em ponto de negociação coletiva e consciência individual. Hoje, este tema é tratado apenas de modo negativo, quando o trabalho, sob a ordem atual, leva a suicídios ou distúrbios psicossociais. É preciso voltar a tratá-lo de modo propositivo.

É preciso que haja condições de conduzir negociações coletivas nos níveis corretos, não apenas no de cada indústria ou empresa. Dois destes níveis merecem atenção particular: o da cadeia produtiva e o do território. Tal tipo de negociação permitiria que aflorassem, por exemplo, os interesses específicos de empresas hoje dependentes. Elas poderiam articular-se os empregados, diante do poder das companhias de que todos dependem. Também permitiria envolver todas as parts interessadas no dinamismo de uma dada região. O cara-a-cara dinâmico entre empregador e empregado, numa empresa ou num ramo de produção, deixou de ser adequado. É preciso convocar a presença de outras partes, em torno da mesa de negociação.

Uma terceira ideia para uma reforma verdadeira tem a ver com a partilha de responsabilidades no interior das redes de empresas. Estas redes permitem que quem as controla exerça poder econômico intenso, mas exima-se de suas responsabilidades em relação a subordinados. Trata-se, portanto, de ligar a responsabilidade de cada membro da rede ao grau de autonomia de que de fato desfruta [7]. Tal reforma permitiria clarear as áreas cinzentas existentes em torno do conceito contemporâneo de “responsabilidade social” – que representa, para o neoliberalismo, o que o paternalismo foi para o liberalismo. Onde necessário, a mudança obrigaria a empresa dominante a responder conjuntamente por danos causado pelas organizações que ela cria e controla.

No plano internacional, deverámos assumir por inteiro a sentença inscrita na Carta de Filadélfia da OIT. “O fracasso de qualquer nação em assegurar condições humanas para o trabalho é um obstáculo no caminho de outras nações, que desejam melhorar as condições em seus próprios países”. E deveríamos levar em conta que a divisão internacional do trabalho e nosso impacto ambiental sobre o planeta são temas inseparáveis.

Padrões sociais e ambientais devem ter, portanto, a mesma força legal que as normas que regem o comércio internacional. Isso exigirá a criação de um órgão para disputas internacionais com poder de autorizar os países que asseguram trabalho digno e proteção do ambiente a fechar seus mercados para os que não os respeitam [8]. No plano regional, blocos como a União Europeia poderiam recuperar legitimidade política liderando tal reforma e renovando um compromisso adotado em seus tratados – em relação a “condições melhores de vida e trabalho, para tornar possível sua harmonização”, ao inveś de encorajar uma corrida social e fiscal rumo ao fundo do poço, como ocorre hoje

Uma reforma ambiciosa das leis trabalhistas deveria incluir também o trabalho hoje não pago – como o cuidado com as crianças e os parentes idosos, vital para a sociedade e hoje ignorado pelos indicadores econômicos. Desde que a luz artificial tornou possível o trabalho durante as 24 horas do dia, as leis trabalhistas ofereceram uma estrutura espacial e temporal compatível com nosso relógio biológico e o direito humano ao respeito pela vida privada e familiar. Esta estrutura é agora ameaçada pelo neoliberalismo e pela tecnologia da informação, que juntas estendem o trabalho assalariado para todos os lugares e todas as horas [9]. O preço, particularmente em termos de vida familiar, é exorbitante – mas nunca reconhecido por aqueles obcecados com o trabalho aos domingos e às noites. Exatamente o que está destruindo os últimos vestígios de tempo social que escaparam à mercantilização da vida humana.


Notas

[1] Michel Volle (2017). Anatomie de l’entreprise. Pathologies et diagnostic. In Pierre Musso (Ed.), L’Entreprise contre l’État?Manucius, Paris.

[2] Declaração de Filadélfia (1944).

[3] Gérard Berry (2008). Pourquoi et comment le monde devient numérique. Annuaire du Collège de France.

[4] A taxa oficial de desemprego é de 11,1% na Itália, 17,8% na Espanha e 21,8% na Grécia.

[5] Ao substituir um antigo princípio de contabilidade, este padrão indexa o valor dos ativos de uma empresa a seu preço de mercado estimado, destacando o que é riqueza puramente hipotética. Ver, de Jacques Richard (2005). “Une comptabilité sur mesure pour les actionnaires”. Le Monde diplomatique, Novembro de 2005.

[6] Emmanuel Dockès (2017). Proposition de code du travail. Dalloz, Paris.

[7] Alain Supiot e Mireille Delmas-Marty (2015). Prendre la responsabilité au sérieux. PUF, Paris.

[8] O uso de novas formas de ação coletiva, incluindo o boicote a certos produtos, também deveria ser reconhecisdo com ou direito inerente à liberdade de associação e ao direito de organização.

[9] Laurent Lesnard (2009). La famille désarticulée. Les nouvelles contraintes de l’emploi du temps. PUF, Paris.

Entre as brumas da memória


Dica (766)

Posted: 05 Jun 2018 02:20 PM PDT

Leis laborais: o PS onde sempre esteve. (Mariana Mortágua)

«António Costa abriu o Congresso a puxar pelos galões de Esquerda do PS e fechou-o jurando combater a precariedade. Dois dias depois era apresentado um acordo com os patrões que deixa quase tudo na mesma na legislação laboral. (…)

Para quem se governa? É esta escolha - e não os discursos identitários -, que define a latitude de um partido político no espectro ideológico. No seu discurso, António Costa respondeu também a quem se perguntava sobre o novo compromisso do PS com uma governação à Esquerda: "Estamos onde sempre estivemos e estaremos exatamente onde estamos". Que pena.»

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Portugal no mapa

Posted: 05 Jun 2018 08:33 AM PDT

Em muitos murais do Facebook, e até em noticiários de TV, vejo gente indignada com títulos como este, escolhido por vários jornais porque é bem bombástico. Decidi ir ler rapidamente alguns textos e cheguei às seguintes conclusões.

Na prova de aferição de História e Geografia, 2º ciclo, 2017, os resultados até foram muito bons. Mas verificou-se que «os pontos cardeais não são um conhecimento consolidado e 23% dos alunos trocaram oeste com este. Na mesma lógica, 16% trocaram sudoeste com sudeste e noroeste com nordeste.» (cfr. Observador). Ora o que era pedido aos alunos de 10/11 anos era que situassem Portugal em relação ao continente europeu utilizando os pontos colaterais da rosa-dos-ventos. Ou seja: não conseguiram localizar o país no sudoeste da Europa. Grave? Talvez, mas não é bem a mesma coisa, para uma criança, do que olhar para um mapa da Europa e não saber localizar Portugal.

Além disso: os meus netos (que têm mais ou menos estas idades, embora não tenham feito esta prova), sabem muito mais de geografia do que eu sabia com a idade deles (embora eu tenha aprendido estações e apeadeiros da linha do Norte de Portugal, na escola primária, em Moçambique, o que me foi utilíssimo, como se imagina...). E, para eles, que já nasceram na era do GPS, a Rosa dos Ventos tem tanta utilidade prática como para mim o ábaco (embora até tenha um e já tenha sabido manipulá-lo em tempos).

Se todos os problemas da educação fossem esses…

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100.000 lagostins???

Posted: 05 Jun 2018 07:43 AM PDT

China envia carregamento de 100,000 lagostins rumo a Moscou para servir às mesas durante Copa do Mundo.

«“Estes lagostins foram já previamente preparados para o consumo na China. Após chegados aos estabelecimentos de consumo, basta aquecer por 5 minutos para servir à mesa”, disse Cai Xin, presidente do China National Agricultural and Development Group, a empresa responsável pelo envio. Devido aos diferentes paladares em todo o mundo, Cai Xin, refere que os lagostins foram preparados com diversas quantidades de picante e de condimentos, de modo a satisfazer uma base alargada de consumidores.»

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Enfim, uma geringonça!

Posted: 05 Jun 2018 03:17 AM PDT

«Ao formarem governo, os socialistas espanhóis deram pretexto a uma comparação, agora bastante repetida entre nós: eis outra geringonça! Comparação errada, se é que se quis dizer que o PSOE conseguiu o mesmo que o PS português. Um partido governar não tendo maioria no Parlamento seria analogia melhor. Mas não é essa a que tem sido usada porque a simples circunstância - governar sem deputados suficientes para fazer sozinho maioria (o PSOE tem 84 eleitos, no total de 350 no Congresso dos Deputados) - já acontecera outras vezes, tanto em Espanha como em Portugal.

Porém, lançar a ideia de "geringonça à espanhola" pode vir a dar aos adversários do governo de António Costa uma vantagem: Pedro Sánchez tem fortes probabilidades de cair antes de acabar a legislatura portuguesa. E, então, lá se recordará daqui a pouco: a dos vizinhos já foi, agora só falta a nossa... Assim, a atual exportação do termo permitirá a chicana política que se pretendia que tivesse a invenção da "geringonça" por cá, mas nunca teve, ao ponto de os protagonistas dela, o PS, o PCP e o BE, a assumirem como uma alcunha simpática.

A palavra, lembro, foi inventada por um cronista, Vasco Pulido Valente, tão bom de frases límpidas quanto é desacertado em batizar políticas e políticos. Um dia, ele chamou a António Guterres "picareta falante". Ora, a imagem daquele que viria a ser secretário-geral da ONU indiciou sempre mais um político de falar cauteloso, aborrecido até, do que o violento e incisivo que a ideia de picareta fazia supor. Também foi de Vasco Pulido Valente o cunhar da "geringonça" para o governo PS, apoiado pelos comunistas e bloquistas. Ora, geringonça é aquilo que é mal-amanhado e precário. A imagem foi lançada logo a seguir a Costa ter chegado a São Bento e só aí poderia ter algum sentido, como previsão. O tempo tornou-a tola. Porque ela durou (provavelmente pela legislatura toda); e sobretudo pelo evidente benefício político que a geringonça trouxe ao país. Obrigou dois partidos, PCP e BE, que tinham sequestrado o voto de um terço dos portugueses, a responsabilizarem-se pelo governar e não só a dar bitates...

Outra coisa é o governo do PSOE, um remedeio, não mais, para Sánchez chegar ao poder. Ele foi só possível com o apoio de forças centrífugas e independentistas, do País Basco e da Catalunha, e vai ser curto. Em Espanha, sim, está a acontecer uma geringonça, coisa mal--amanhada e precária.»

Ferreira Fernandes

terça-feira, 5 de junho de 2018

Carta aberta a Miguel Sousa Tavares

Olá, Sr. Comentador Miguel Sousa Tavares,

Às vezes consigo ouvi-lo com atenção... hoje não foi um desses dias. Mas gostava de lhe falar um pouco da minha vida.
Tenho 42 anos, ainda sou casado, e tenho 1 filho de 10 anos. Sim, ainda sou casado, porque não é fácil manter uma família quando a minha entidade patronal (Ministério da Educação) resolve destruí-la.
Passo a explicar:
Dou aulas há 18 anos... andei boa parte deles a percorrer o país. Nos últimos 12 consegui ter o luxo de trabalhar a menos de 50km de casa. Como deve imaginar, fui estabilizando a minha vida... casando, comprando casa, aumentando os membros da família...
De repente, uma iluminada resolve atropelar a lei pensando que por 50€ por dia me pode usar da forma que mais lhe convier. Com esse atropelo fui colocado a dar aulas a 200km de casa, ganho 50€ por dia e gasto 40€ e pronto ainda estou pior que aquelas Senhoras da fábrica dos Açores que parece que ganham o mísero salário mínimo. Como já deve ter feito, as contas ganho 300€ por mês... já mudei 2 vezes de pneus e fiquei parado na estrada 2 vezes. Já devo no mecânico mais de 1000€.
Já sei o que está a pensar.... porque não fica a dormir lá no local onde foi colocado? Não fico porque ainda sou casado, porque ainda tenho um filho e porque tenho pais que precisam dos meus cuidados.
Mas gostei muito daquela parte em que o sr. lamentou o facto de as famílias dos alunos não saberem o que vai acontecer desta greve. Sabe que os professores também têm família e os filhos dos professores também sofrem muito, e todos os anos, sem saberem se em setembro vão mudar de casa, se vão mudar de escola, sem saberem se vão ter que deixar de praticar desporto, sem saberem se vão ter de abandonar as suas actividades extracurriculares... olhe, sem saberem o seu futuro. Pense lá um bocadinho como será a estabilidade emocional desses professores e dessas famílias.
Também gostei de saber que os professores querem progredir na carreira mais depressa que os restantes funcionários públicos... sou sincero, não sei nada sobre as outras carreiras profissionais... mas relativamente à minha, trabalho há 18 anos e nunca progredi na minha vida, estou tal e qual aquelas sras que são exploradas lá nos Açores.

Podia dizer mais coisas... mas não vale a pena.

Fonte: Aventar.eu

O gang que tem aterrorizado a província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique

HÁ 2 HORAS

O grupo que matou sete pessoas com catanas ou fogo e incendiou 164 casas no norte de Moçambique esta madrugada será o mesmo que fez 10 decapitações na semana passada

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Antonio Cotrim/LUSA

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  • Agência Lusa
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O grupo armado que na última noite matou sete pessoas em Naunde, norte de Moçambique, será o que resta de um bando maior, suspeito de ter decapitado dez pessoas há uma semana, anunciou esta terça-feira a polícia.

O balanço de vítimas foi feito em conferência de imprensa, em Maputo, e acrescenta mais um morto às primeiras informações, divulgadas ao amanhecer. “Este grupo pode fazer parte do que está sendo perseguido desde a ocorrência do dia 27”, junto a Olumbi, distrito de Palma, disse o porta-voz nacional da Polícia da República de Moçambique (PRM), Inácio Dina. No ataque desta madrugada, foram incendiadas 164 casas, acrescentou.

Fontes locais disseram à Lusa que pelo menos duas das vítimas mortais morreram queimadas, enquanto as restantes foram mortas com catanas enquanto fugiam. A aldeia é um local sem eletricidade e sem outras infraestruturas, onde as habitações são feitas de materiais tradicionais como blocos de adobe – um cenário comum a todos os confrontos deste outubro de 2017, com exceção do primeiro, na vila de Mocímboa da Praia.

Segundo o porta-voz da PRM, há uma nova ofensiva das autoridades no terreno desde o dia em que houve 10 decapitações e que pode ter provocado o movimento dos agressores para sul. Nove foram abatidos na sexta-feira, depois de resistirem às autoridades e à população durante uma operação noturna, no meio do mato, na zona de Olumbi. “Resistiram à ordem de se render, de se entregarem”, referiu Inácio Dina, suspeitando-se que outros seis tenham escapado e tenham sido responsáveis pelo ataque a Naunde. Segundo referiu, essas seis pessoas estão identificadas e são moçambicanos, daquela zona.

Da mesma forma, já tinham sido caracterizadas as restantes entretanto abatidas, graças à colaboração com a população, pelo que Inácio Dina acredita que não há risco de serem mortos inocentes.

A PRM fala de um movimento “bastante fragmentado” e que, em pequenos agrupamentos, vai demonstrando “alguma resistência”. “São malfeitores, criminosos”, refere o porta-voz, recusando-se a atribuir outras designações, numa altura em que vários órgãos de comunicação social moçambicanos os classificam de terroristas.

A porta-voz da PRM referiu esta terça-feira que as autoridades vão marcar presença “até o último malfeitor” ser neutralizado, referiu. “Estamos a contar com grande apoio da população, que está a perceber que, com a sua participação efetiva, estes grupos estarão fora de circulação”, concluiu.

A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, tem sido alvo de ataques de grupos armados desde outubro de 2017, causando um número indeterminado de mortes e deslocados. Um estudo divulgado em maio, em Maputo, aponta a existência de redes de comércio ilegal na região e a movimentação de grupos radicais islâmicos, oriundos de países a norte, como algumas das raízes da violência.

Diversos investimentos estão a avançar na província para exploração de gás natural dentro de cinco a seis anos, no mar e em terra, com o envolvimento de algumas das grandes petrolíferas mundiais.

PSD diz que “há dinheiro” para a natalidade, mas não diz onde

HÁ UMA HORA

PSD apresentou propostas para natalidade que custam muitos milhões. Como se paga? Através do OE. Há dinheiro? "Há", diz David Justino. Mas não diz onde: só quando for Governo. E admite plafonamento


MÁRIO CRUZ/LUSA

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Quem, no domingo, acusava Rui Rio de ser uma espécie de “muleta” ou “número dois” de António Costa por não ter “assumido uma única proposta diferente do Governo sobre matéria nenhuma”, como dizia Marques Mendes na SIC, chegou a segunda-feira e teve de engolir em seco. Nesse dia, Rui Rio e David Justino, na qualidade de presidente do Conselho Estratégico Nacional do PSD, apresentaram um autêntico programa para a promoção da natalidade, que prevê a criação de um novo tipo de abono de família, cerca de 10 mil euros por filho até aos 18 anos e creches gratuitas a partir dos seis meses de vida. Nas contas do PSD, o pacote deverá ser implementado de forma faseada em seis anos e pode custar, por ano, segundo Rui Rio, entre 400 a 500 milhões de euros. Como se financia, é a pergunta para… um milhão de euros.

“Financia-se pelo Orçamento do Estado, que tem níveis de ineficiência muito elevados”, começa por dizer ao Observador David Justino, ele que é presidente do Conselho Estratégico Nacional do PSD e também coordenador para a área da Educação. A ideia do PSD, segundo explica David Justino, é integrar as propostas saídas do Conselho Estratégico num próximo programa de Governo — pelo que só aí, quando e se for governo, é que o PSD irá detalhar onde pretende ir buscar receita para tamanho investimento. “Há onde ir buscar dinheiro, e nós sabemos onde é que o dinheiro está, mas não dizemos para já. Quando estivermos no Governo é que temos de dizer”, afirmou ao Observador o coordenador social-democrata responsável pelo programa “Uma política para a infância”.

Para David Justino, trata-se sobretudo de uma questão de “reestruturar e redefinir prioridades”, tanto no que diz respeito ao Ministério da Educação como à Segurança Social. “O dinheiro encontra-se numa melhor gestão ao nível da eficiência e numa melhor gestão ao nível das prioridades”, afirma, dando como exemplo os gastos que se fazem atualmente em iniciativas de “falsa formação”. Mas não vai mais longe do que isto. A ideia é, sobretudo, debater o tema, pôr o tema em discussão interna e externa, e vir depois, quando estiver consensualizado, a integrar o programa eleitoral do PSD. “A partir do momento em que isto fizer parte do nosso programa de Governo, vai fazer parte do património político do PSD e aí não o vamos largar”, nota ainda David Justino.

Descartada fica, para já, a ideia de traduzir este pacote de propostas em iniciativas legislativas ou em propostas de alteração ao próximo Orçamento do Estado. “Não, isto é um pacote para aplicarmos quando formos Governo, porque não pode ser aplicado de forma cirúrgica, só faz sentido se for aplicado em bloco, de forma integrada”, diz, sublinhando que é por isso que a proposta de aplicação do PSD é para 6 anos, o que transcende a duração de uma legislatura. É preciso consensos, admite, reconhecendo que não será fácil para já. Em todo o caso, o líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, fez uma tentativa esta terça-feira, durante o debate quinzenal, questionando António Costa sobre qual a sua abertura para analisar as propostas do PSD. A resposta do primeiro-ministro foi positiva, mas não conclusiva. “São bons contributos para o debate, vamos analisá-las com o maior interesse, e quando forem devidamente apresentadas, pronunciar-nos-emos sobre elas”, limitou-se a dizer, realçando que a política para a infância “é e tem sido uma prioridade do Governo”.

Na conferência de imprensa realizada esta segunda-feira, Rui Rio revelou que o pacote de medidas para a natalidade “custa por ano ao Orçamento do Estado entre 400 a 500 milhões de euros”. O documento, de quase 100 páginas, não explica, contudo, como é que o PSD pensa conseguir essa verba: “O financiamento deste projeto acontecerá por via de ganhos de eficiência no sistema de educação. De acordo com os diversos estudos as crianças que têm um bom início têm uma menor probabilidade de repetir o ano”, lê-se. Ao mesmo tempo, o PSD desvaloriza os custos: “Em vez de estarmos apenas focados nos custos de uma política de promoção da Natalidade, devemos estar, hoje, particularmente focados nos custos imensos dos não nascimentos, da não-renovação das gerações, da não sustentabilidade do país”.

Este investimento representa cerca de 3% do orçamento do Ministério da Educação, se comparado com a verba investida até dezembro de 2017 a salvaguardar o Sistema Financeiro Português (14,6 mil M€) este valor representa apenas 1,5%. Em relação ao orçamento total de Estado 119.107,1 mil M € representa 0,18%. Se considerarmos a despesa primária de 57.382€, trata-se de um investimento na ordem 0,4%”, lê-se no documento “Uma política para a infância”.

Certo é que, em declarações ao Observador, David Justino já admite algumas nuances face ao que aparece espelhado no extenso documento: uma das nuances é precisamente uma espécie de plafonamento do novo abono de família (onde as famílias com menores rendimentos e as famílias com maiores rendimentos não recebem exatamente a mesma quantia). “Estamos abertos a algum tipo de plafonamento, sobretudo na parte do subsídio que vai dos 6 aos 18 anos”, diz, lembrando que a ideia apresentada pelo PSD é a criação de um subsídio por filho — “que deve ser atribuído à criança e não à família, daí ser diferente do abono de família”.

Mas essa ideia de plafonamento não aparece espelhada no documento, onde prevalece a ideia de “universalidade” (atribuir a mesma quantia a todas as crianças, independentemente do rendimento dos pais).

Em causa, segundo o que foi apresentado esta segunda-feira, está a proposta de criação de um subsídio de 428,90 euros a todas as grávidas – através de um pagamento único ao 7.º mês de gravidez -, assim como um outro, de valor fixo, por criança, com valores que vão decrescendo até aos 18 anos de idade e que serviria como substituto do abono de família. Até aos 18 anos cada criança receberia um total de mais de 10 mil euros (10.722,50 euros), sendo que durante os primeiros seis anos de vida da criança o valor anual seria de 857,80 euros, sofrendo uma redução a partir dos seis anos, para 428,90 euros. O documento do Conselho Estratégico social-democrata detalha ainda os subsídios propostos para as famílias que tenham mais do que um filho, prevê a gratuitidade das creches e infantários públicos a partir dos seis meses de vida e propõe outras medidas de promoção da natalidade como o alargamento da licença de maternidade ou paternidade.