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sexta-feira, 8 de junho de 2018

O que Mário Centeno (não) diz sobre os méritos da retoma da economia

07 Junho 2018

Edgar Caetano

Nuno Vinha

Mário Centeno escreveu um artigo num site especializado a contestar a contribuição da troika para a retoma em Portugal. Um resumo do que o ministro das Finanças diz (com anotações sobre o que não diz)

O ministro das Finanças, Mário Centeno, escreveu um artigo de análise a contestar “a visão convencional” de que foi a troika que veio resolver os problemas estruturais da economia portuguesa. No texto, publicado esta quarta-feira no VOX, um portal especializado que disponibiliza análises de alguns dos mais importantes responsáveis e decisores políticos, bem como economistas, Centeno defende que a retoma atual é fruto sobretudo de reformas feitas “nas últimas duas décadas”, “suplementadas” pela receita do atual governo.

No artigo “A reviravolta da economia portuguesa: duas décadas de mudanças estruturais”, Centeno concede que “houve elementos do programa de ajustamento que desempenharam papéis importantes”. Contudo, o ministro das Finanças escolhe vários indicadores económicos para responder aos críticos e minimizar o impacto das medidas da troika na recuperação, argumentando que estas “não foram a causa única da viragem em Portugal”.

Os números apresentados pelo ministro das Finanças, que contou com a ajuda do economista-chefe do Ministério das Finanças, Miguel Castro Coelho, dão suporte à visão que Mário Centeno quer transmitir, mas, em alguns pontos-chave, a inclusão de outros dados de contexto, políticos e económicos, permite tirar conclusões diferentes sobre os méritos da recuperação da economia (que, ainda assim, para alguns, como António Horta Osório, não deveria ser motivo de grande satisfação).

Retoma em 2014 e 2015 revelou-se sol de pouca dura?

Os sinais preliminares de recuperação em 2014 e 2015 acabaram por ser frágeis e de pouca duração.

Estes são os números em questão: Portugal teve taxas de crescimento negativas até ao terceiro trimestre de 2013, voltando aos indicadores positivos no último trimestre esse ano. Em 2014 obtiveram-se taxas de crescimento homólogo, em base trimestral, a oscilar entre os 0,7% e os 1% na altura em que a troika estava a sair de Portugal (maio de 2014). No ano seguinte — 2015 — os três primeiros trimestres tiveram taxas de crescimento ainda maiores — de 1,9% — abrandando depois para 1,6% no último trimestre desse ano. A desaceleração continuaria a verificar-se sobretudo nos primeiros meses de 2016 (1,1% no primeiro trimestre e 0,9%), voltando à região dos 2% a partir de meados de 2016.

Esta evolução leva Mário Centeno a considerar que o abrandamento que se registou a partir da segunda metade de 2015 mostrou que a recuperação que estava a verificar-se até essa altura seria sempre sol de pouca dura, devido às fragilidades que existiam na economia. Ora, o que não merece uma referência no texto é que a segunda metade de 2015 ficou marcada pelas eleições legislativas, em outubro, um acontecimento que, de certo modo, parou o país a partir do momento em que as sondagens apontavam para a dificuldade que quer Passos Coelho quer António Costa teriam em formar um governo maioritário e estável.

O resultado das eleições acabou por ditar um período de grande incerteza em que, pelo país fora, vários investimentos foram congelados à espera de perceber se o país iria mudar de rumo. Os últimos meses foram marcados por avisos duros por parte das agências de rating. E, no início de 2016, o confronto público entre o governo e a Comissão Europeia levaram a agência de rating que era, na altura, decisiva para Portugal — a canadiana DBRS — a avisar que poderia cortar também a sua notação para Portugal para lixo. O que significaria que Portugal deixaria de ter pelo menos um rating positivo que permitisse aceder às compras de dívida pelo Banco Central Europeu e colocaria os bancos em situação ainda mais precária — um novo resgate poderia, provavelmente, seguir-se.

Até que houve entendimento com as autoridades europeias sobre os planos orçamentais, a incerteza que se viveu terá contribuído para o soluço que se viveu na retoma. Isto significa que a economia portuguesa teria continuado a crescer se não tivesse havido mudança de governo ou se o Partido Socialista tivesse obtido uma maioria absoluta com uma agenda claramente europeísta, sem precisar das “posições conjuntas” que assinou com os partidos à esquerda? É impossível responder a essa questão — mas pode salientar-se que a economia espanhola, por exemplo, nunca teve taxas de crescimento abaixo de 3% nesses anos, não sentindo qualquer “soluço” em 2016.

A contradição de Centeno: a política económica das últimas duas décadas

A recuperação firme, sólida, que se está a verificar na economia portuguesa está, com efeito, fundamentada nas reformas estruturais duradouras nas qualificações, investimento, orientação das exportações e no mercado laboral, ao longo das últimas duas décadas. (…) Na sequência da adoção do euro, foram canalizados fluxos abundantes de capitais para projetos relativamente improdutivos do setor não-transacionável. (…) O peso total das exportações no PIB aumentou 16 pontos percentuais, para 43%, entre 2005 e 2017“.

Em dois pontos do texto, Mário Centeno faz uma análise contraditória sobre a política económica das últimas duas décadas, basicamente o período em que a zona euro começou (a primeira década de 2000) e o período da troika (a partir de 2010, em traços gerais).

Uma das mensagens principais do texto é rebater a tese de que a política económica da primeira década de 2000 foi errada e a troika é que veio resolver os problemas que o país tinha com o seu programa de ajustamento económico. Ora, na primeira frase citada, Mário Centeno elogia as “reformas estruturais duradouras” que foram feitas ao longo das últimas duas décadas — incluindo, portanto, também os primeiros 10 anos da moeda única, antes do resgate. O ministro das Finanças fala, designadamente, de dois pontos: o investimento e as exportações.

Mas, depois, o texto faz duas análises negativas — e estruturantes — à política económica desse período, tanto num ponto como no outro. Em primeiro lugar, partilha o diagnóstico frequente que é feito à economia portuguesa de que houve uma aposta demasiado forte nos bens não-transacionáveis (exemplo mais mediático: as auto-estradas) e não houve uma orientação mais clara da política económica e do investimento na produção de bens transacionáveis nos mercados internacionais.

Relacionado com isso está a análise de Mário Centeno sobre as exportações. Se nessa primeira parte do texto o ministro das Finanças elogia as “reformas estruturais duradouras” designadamente no que diz respeito às exportações, feitas “ao longo das últimas duas décadas”, mais tarde o mesmo texto critica o facto de em 2005 as exportações serem pouco mais de 25% do PIB. Em 2017 já eram 43% do PIB.

É certo que as empresas não conquistam clientes internacionais de um dia para o outro, e as reformas demoram alguns anos a surtir efeito, mas não deixa de haver uma contradição entre o elogio de Centeno às políticas para a exportação (também) na primeira década de 2000 e o facto de só a partir de 2009 as exportações terem começado a ter um peso maior na economia (até porque a contribuição de tudo o resto, nomeadamente a procura interna, baixou e a recessão levou a que o denominador — o PIB — também descesse).

O investimento cresce 9% em 2017 (mas comparando com um mau 2016)

A crise teve o seu impacto sobre o investimento, mas existem sinais claros de que este está a recuperar bem. A formação bruta de capital fixo [vulgo, o investimento] aumentou 9% em termos reais em 2017. O investimento empresarial está, novamente, a crescer a um ritmo superior ao da média da União Europeia.

Mário Centeno não dá novidade alguma quando lembra que a crise que levou ao pedido de resgate “teve o seu impacto sobre o investimento”. Este chegou a cair quase 20% no pico da crise, entre finais de 2011 e 2012. Numa análise mais fina, contudo, o discurso de Mário Centeno e do economista-chefe do Ministério das Finanças têm uma fragilidade — que está relacionada com o primeiro ponto sobre a importância do pós-eleições de 2015 e a instabilidade de 2016.

Quando Mário Centeno escreve que o investimento aumentou 9% em 2017 está a omitir que esse é um indicador homólogo e que, portanto, compara com um ano de 2016 em que o desempenho da economia e o investimento foram penalizados por fatores que foram exclusivos de Portugal — designadamente a incerteza em torno da formação de Governo e das políticas que seriam seguidas por uma maioria parlamentar do Partido Socialista apoiada nos partidos à sua esquerda.

Em poucas palavras, quando existe um ano muito difícil a servir de comparável é mais fácil ter uma variação positiva mais expressiva. Não obstante essa observação, Mário Centeno tem razão ao afirmar que o investimento está a subir mais em Portugal do que na média europeia (4,7% contra 3%). Isso fica demonstrado no gráfico abaixo (um gráfico que também mostra como a descida do investimento em 2015 e início de 2016 não foi um reflexo do que se passava no resto da Europa).

[Clique no gráfico para ver a imagem ampliada]

Fonte: Banco de Portugal

Mercado de trabalho mais flexível. Mas por quanto tempo?

Múltiplas reformas visaram uma maior flexibilidade interna das empresas, tais como o ajustamento das horas de trabalho, do subsídio de desemprego, das restrições ao despedimento e a possibilidade de fazer contratos temporários, tornando o mercado laboral mais flexível e adaptável aos choques.

Mário Centeno está correto quando diz que as alterações à lei laboral nos últimos anos visaram uma maior flexibilidade interna nas empresas, referindo especificamente “o ajustamento nas horas de trabalho” e “a possibilidade de fazer contratos temporários”. O que o ministro das Finanças não refere é a última proposta de alteração ao Código Laboral – aprovada na Concertação Social no final de maio, mas fruto de um trabalho anterior do Executivo – que inclui medidas que potencialmente reduzem a flexibilidade, sobretudo a flexibilidade interna das empresas.

Entre as medidas propostas pelo Governo aos parceiros contam-se a eliminação a prazo do banco de horas individual — uma das modalidades de gestão do tempo de trabalho mais usadas pelas micro empresas, as que têm até nove trabalhadores e constituem o grosso do tecido empresarial português.

Para estas empresas, a modalidade do banco de horas individual é convertido em bancos de horas grupais, definidos por convenção coletiva (votação secreta dos trabalhadores, com supervisão da Autoridade para as Condições de Trabalho).

A proposta que saiu da concertação (e que mereceu o “chumbo” da central sindical CGTP) também penaliza as empresas que mais recorrem a contratos a termo, fazendo com que tenham de fazer contribuições adicionais para a Segurança Social. Também se propõe a limitação do prazo de contratação a termo e a eliminação de alguns motivos anteriormente aceites como fundamento para este tipo de contratos (até aqui, por exemplo, em caso de primeiro emprego e de desempregados de longa duração).

Todas estas são medidas que atalham o caminho que Portugal estava a fazer rumo à flexibilidade laboral e salarial elogiada por Centeno no artigo: “O mercado laboral português ostenta níveis de flexibilidade salarial similares a outras economias avançadas”.

A gestão da dívida pública. Poupanças/prudência ou cativações/BCE?

Portugal tem demonstrado uma grande resiliência na forma como se empenhou e perseverou no regresso ao equilíbrio das finanças públicas, através de reformas concebidas para promover uma consolidação orçamental estrutural”.

Mário Centeno escreve, antes da conclusão do texto, que “a crise provocou efeitos nas finanças públicas, que se juntaram aos problemas que se vinham acumulando desde os anos 2000” (mais uma vez, uma consideração que contrasta com os elogios que Centeno faz às políticas que foram promovidas nos anos “pós-euro pré-troika“). Ora, o ministro das Finanças argumenta que a estratégia do “governo atual”  “é apoiada numa gestão rigorosa e prudente das finanças públicas”.

Na argumentação do ministro das Finanças, refere-se que “o Governo tem estado a fazer uma análise aprofundada da despesa para ajudar os ministérios a gerar ganhos de eficiência genuínos e duradouros”. O primeiro aspeto que está ausente desta análise é a importância que as cativações têm tido para a execução orçamental nos últimos anos, o que se pode argumentar ser o tipo mais “genuíno” e “duradouro” de fazer poupanças orçamentais.

O segundo aspeto é a importância do fator “poupança com juros da dívida“, que é, antes de mais, um reflexo direto da política extraordinária de intervenção do Banco Central Europeu (BCE) nos mercados de dívida pública. Ainda recentemente a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) veio dizer que o esforço orçamental previsto pelo Governo para os últimos três dos quatros anos da atual legislatura (entre 2017 e 2019), deve-se totalmente à redução da despesa com juros. Os técnicos do Parlamento disseram que não está prevista nenhuma medida de consolidação orçamental de caráter permanente de dimensão significativa para os próximos anos.

Entre as brumas da memória


Dica (767)

Posted: 07 Jun 2018 12:11 PM PDT

Italy’s Crisis: Democracy And The Euro (Andrea Lorenzo Capussela)

«So, to state the obvious conclusion, the main roots of Italy’s malaise are domestic. The country may have met the Maastricht criteria for joining the euro but it failed to shift onto a fairer and more efficient equilibrium. Hence her need to see political alternatives better than the present ones arise.

These observations invite one last remark on those confident critiques, rapidly relayed across the web. Italy’s stability hangs on the delicate balance of powerful opposing forces. It can be compared to a china shop with too few customers, whose bankruptcy could ruin the whole neighbourhood. The elephants that entered it last Monday might, upon reflection, have spoken more advisedly.»

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Sporting

Posted: 07 Jun 2018 12:37 PM PDT

Mesmo que não se queira, o Sporting «invade-nos».
Parece que Mário Machado, (ex-líder da Frente Nacional e que está agora numa coisa chamada «Nova Ordem Social»), quer substituir alguém que dá pelo nome de Mustafá. Ainda bem que moro no outro extremo da segunda circular.

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China: quase um Portugal para entrar nas universidades

Posted: 07 Jun 2018 07:19 AM PDT

Mais de 9 milhões de alunos chineses participam do vestibular nacional.

Cerca de 9,75 milhões de estudantes devem participar do exame para se candidatarem às vagas nas universidades. Dentro de poucos anos, serão, pelo menos, dez vezes mais.

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O “bloco central da agonia"

Posted: 07 Jun 2018 03:09 AM PDT

Conjecturas sobre o nosso futuro próximo, com as quais apenas concordo parcialmente, mas que ajudam a pensar.

«1. Parece claro que o PS não sofreu o mesmo destino dos seus congéneres da Europa do Sul. Ao contrário do Pasok grego, do PSOE espanhol, do PSF francês e do centro-esquerda italiano, o PS continua de boa saúde e recomenda-se. As explicações dividem-se entre a tese do “pedro-nunismo” (deve-se à “gerigonça” de António Costa) e de Vital Moreira (foi a direita a aplicar o programa de ajustamento e o PS conseguiu descolar da bancarrota de 2011). Creio que ambos têm razão. Se tomarmos os 20% do PSOE nas últimas sondagens (antes dos acontecimentos da semana passada), podemos sugerir que a diferença entre esses 20% e os 32% das legislativas de 2015 é o “efeito austeridade” (em muito devido à estratégia de António José Seguro, que, muito provavelmente, salvou o PS do declínio e a quem o partido insiste em não agradecer) e dos 32% de 2015 aos cerca de 40% das sondagens atuais temos o “efeito geringonça” (tenho muitas dúvidas que o PS passe dos dois milhões de votos em 2019, se isso são 40% ou menos, depende da abstenção; pode até gerar uma maioria absoluta de mandatos, caso haja um enorme aumento da abstenção acompanhado de uma assinalável dispersão de votos em brancos, nulos e pequenos partidos sem representação parlamentar).

2. António Costa é o hábil estratego do "efeito geringonça”. Se o PS tivesse dado ouvidos a Assis, Sousa Pinto e outros, hoje seria uma muleta da direita e dificilmente estaria agora nos 40%. Muito provavelmente estaria mais perto dos 20% do PSOE. Evidentemente que a solução encontrada permitiu a Costa ser primeiro-ministro. Mas, para além do óbvio interesse pessoal, há um elemento estratégico fundamental. Como disse ao Expresso uns dias depois das eleições de 2015, “só engolido o BE, o PS pode ganhar eleições”. E acrescentava: “Há diversas formas de engolir: ou os 500 mil [votos] voltam para o PS, ou fazem uma coligação, ou este traz o BE para dentro, à semelhança do que o SPD fez na Alemanha com os Verdes.” E foi o que Costa fez.

3. Com a experiência da “geringonça”, e pela sua própria sobrevivência, o PS não pode dispensar o BE. Ou melhor: poder, pode. Mas arrisca-se a que o BE se torne um Syriza ou um Podemos, comendo uma enorme fatia do eleitorado socialista, que, por exemplo, não compra a nova campanha do ADN anticorrupção e da transparência. Uma (muito improvável) maioria absoluta do PS seria um horizonte de crescimento para o BE a prazo. E, sem maioria absoluta, o PS não pode trocar o BE pelo “bloco central dos interesses” sem arriscar uma “pasokização” quase imediata.

4. A relação entre o PS e o BE é agora, pois, absolutamente umbilical. Já a relação com o PCP não é. Primeiro, até ao momento, não há constância de grandes transferências de votos do PS para o PCP (a existirem, foram em sentido contrário, como parece ter sido o caso nas autárquicas). Segundo, o PCP não pode integrar um Governo, sob pena de se diluir e sofrer o destino dos eurocomunistas (não por acaso, o PCP não sofreu o destino dos comunistas espanhóis, franceses e italianos). Logo, a quebra da ligação entre o PS e o PCP é provável e até desejável do ponto de vista de ambos. A transformação do BE num Verdes alemão também facilita um Governo PS/BE sem o temor do PCP, como já vemos na autarquia de Lisboa.

5. Mas, se o PS não pode largar o BE, também não pode largar o PSD e Rui Rio. Porque, quando um cair, cai o outro. O PSOE afundou-se, mas o PP também. No novo sistema partidário espanhol, segundo as sondagens, ambos vão ser partidos secundários (por isso, fogem de eleições). O PSF desapareceu, mas o LR está a ponto de entrar em colapso. Ambos são agora atores muito pouco relevantes num novo sistema dominado pelo partido de Macron, FN e La France Insoumise. Na Itália, o centro-esquerda e o centro-direita estão a minguar para o M5S e Lega Nord, respetivamente. Mesmo na Grécia, onde a implosão do Pasok não contagiou (ainda) a Nova Democracia, temos de recordar dois aspetos cruciais. A reorganização do centro em curso (Kinima Allagis, ao qual se juntou o To Potami e os restos do Pasok) pode prejudicar seriamente a Nova Democracia nas próximas eleições. E a própria Nova Democracia, após crise interna do seu baronato profundamente corrupto, foi buscar Samaras em 2009, um personagem sempre pouco amado no partido e com um percurso muito curioso (fundou o seu próprio partido, Politiki Anixi, onde militou entre 1993 e 2004). Este trouxe consigo uma nova geração que, de alguma forma, refundou o partido.

PUB 6. A solução para esta geometria é complexa. O PS e o PSD não podem amarrar-se um ao outro, porque isso leva ao crescimento dos extremos, deixando o BE à solta (em muito menor medida, o CDS, pois, não acredito que consiga mobilizar abstencionistas). Mas o PS e o PSD dependem um do outro para manter o atual sistema partidário intacto, coisa única na Europa do Sul (quase mesmo em toda a Europa). Resta o “bloco central da agonia”: um PS que finge que governa enquanto faz a espargata entre o PSD e o BE. Veremos se aguenta toda a próxima legislatura assim.»

Nuno Garoupa

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Os plásticos

Novo artigo em Aventar


por j. manuel cordeiro

Talvez alguns de vós se recorde de uma iniciativa do Governo, por volta do ano 2000 (Guterres era Primeiro-Ministro), na qual se aprovou legislação para proibir o uso de garrafas de água de plástico nos restaurantes. Por outro lado, continuava-se a permitir água em garrafas de plástico, desde que fosse para consumo fora dos restaurantes. O argumento para justificar a prerrogativa foi que, de outra forma, haveria grave prejuízo para alguns sectores económicos. Como se constata ao pedir uma água em 99.9% dos restaurantes portugueses (sim, há uma ou outra excepção), a lei em causa serviu para nada.

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A nova esquerda é fofinha!

Luís ReisSeguir

18/5/2018, 7:03

Mário Nogueira, como sempre um precursor e um inovador, acaba de inaugurar uma nova esquerda. A esquerda do protesto fofinho, que não quer ser incómoda nem desagradável para o Governo.

Havia um sketch do Gato Fedorento, daqueles que deixaram saudades, em que uma claque de futebol explicava ao repórter, em pleno estádio, que ficava algo triste quando a equipa que apoiava estava em vantagem no jogo, pois isso deixava a equipa adversária aborrecida. Preocupavam-se – mais do que com a vitória da partida – com o bem-estar do árbitro e explicavam, compungidos: “a nossa claque não entra no campo do desagradável”. Ainda que se vissem forçados, de quando em vez, a entoar cânticos de protesto perante erros clamorosos do juiz da partida, e então entoavam em coro: “o árbitro foi extremamente incorrecto”!… “o árbitro foi extremamente incorrecto”!….

Ora, parece que está marcada para amanhã, Sábado, dia 19 de Maio, uma manifestação de professores contra o congelamento da contagem de tempo de serviço, destinada a obrigar o Governo a ponderar e a inflectir a sua posição acerca do assunto.

“Não vamos fazer num dia da semana, não vamos fazer um pré-aviso de greve, não vai afectar as escolas”, explicou Mário Nogueira. O que disse, por outras palavras, foi, sem tirar nem pôr, que a FENPROF não entrará no campo do desagradável – como seria, por ex., a inconcebível e peregrina ideia de fazer greve aos exames nacionais, prejudicando seriamente a vida de milhares de estudantes e suas famílias.

De resto, o líder sindical acrescentou um esclarecimento: “se ponderamos um novo protesto depois das avaliações? Claro. Se houver novas formas de luta com certeza que não serão em Agosto”, denunciando, com a sua ironia fina, as verdadeiras intenções da estrutura que dirige e o grau de compromisso que coloca nas iniciativas de “protesto” que convoca hoje em dia.

É louvável, na verdade, esta perspectiva de quem quer reivindicar sem afrontar nem agastar o interlocutor, de quem se reclama credor mas não concebe chamar caloteiro ao devedor, não vá ele sentir-se arreliado.

Mário Nogueira, como sempre um precursor e um inovador, acaba de inaugurar uma nova esquerda. A esquerda do protesto fofinho, que não quer ser incómoda nem desagradável para o Governo e apenas pedir-lhe, delicadamente e por favor, que pondere. Excelente!

Gostei tanto, aliás, desta maneira de ver as coisas que me atrevo a deixar algumas sugestões para manifestações, greves e protestos futuros, eivados de boas intenções e prenhes de respeitinho. São protestos fofinhos.

Para a FENPROF: protestar contra a mobilidade garantindo que nenhum professor deslocado usará a buzina enquanto palmilha os quilómetros necessários às deslocações para as escolas.

Para os médicos: reclamar melhores condições para os hospitais públicos fazendo greve de zelo ao transporte do estetoscópio – que passará exclusivamente a ser carregado no bolso da bata, jamais ao pescoço!

Para os enfermeiros: exigir salários mais dignos, através da ameaça de não voltarem a dizer “bom dia” aos porteiros dos estabelecimentos de saúde.

Para os hospedeiros de bordo: protestar contra as políticas laborais da RYANAIR deixando de ouvir toda e qualquer música composta por irlandeses (incluindo, note-se, para além dos U2 e de Enya, o próprio Van Morrison).

Para os metalúrgicos: clamar por condições de trabalho mais dignas por meio de palavras de ordem inscritas em cartazes exclusivamente de plástico.

Para os lesados do BES: gritar (não demasiado alto) exigências de justiça e de devolução dos seus investimentos ruinosos utilizando adjectivos dignos e compatíveis com a posição social do Dr. Ricardo Salgado (exemplos: “insensível”, “alheado” ou “descomprometido”), sempre com pronúncia típica da linha.

Finalmente, para o coelhinho da Páscoa: fazer, decidida e definitivamente, greve ao Natal.

E assim – ninguém duvide – Portugal será um lugar melhor para viver, numa nova era de protestos fofinhos, inaugurada pelo não menos fofinho Mário Nogueira e a que a esquerda pós moderna irá com certeza aderir. Todos nós agradecemos e o mapa cor-de-rosa que aí vem também.

Governo quer manter benefícios fiscais ao emprego até final de 2019. Parlamento tem de aprovar

6/6/2018, 16:29

Governo quer prolongar apoios fiscais ao emprego, entre outros, até final de 2019, enquanto aguarda relatório de grupo de trabalho para rever todos os benefícios fiscais. Parlamento tem de aprovar.


António Mendonça Mendes justifica o prolongamento da validade dos benefícios fiscais ao emprego com razões de prudência

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Autores
  • Agência Lusa
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O Governo quer prolongar os benefícios fiscais às empresas que criam emprego até ao final de 2019.  Isto porque o grupo de trabalho que está a trabalhar na revisão de todos os benefícios fiscais só entregará o relatório final em março de 2019. A proposta de lei apresentada ao Parlamento já está a ser discutida na especialidade, mas terá de ser aprovada em plenário ainda nesta sessão legislativa para evitar que os atuais benefícios caduquem — 1 de julho é o limite — antes de ser finalizada um novo quadro legal para estes incentivos.

O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, justificou esta quarta-feira na comissão de orçamento e finanças a proposta de lei apresentada pelo Governo em março para estender 15 benefícios fiscais às empresas até ao final de 2019. O essencial dos benefícios fiscais mantém-se, mas com algumas modulações que procuram responder a críticas, sobretudo vindas da esquerda, a estes instrumentos.

“Em vez de acabarem agora [aqueles 15 benefícios fiscais], e chegarmos à conclusão de que não deviam acabar, é melhor prorrogar”, defendeu junto dos deputados, explicando que o grupo de trabalho vai concluir a avaliação até 31 de março do próximo ano e que os restantes seis meses do ano servirão para uma avaliação dessas conclusões, a refletir apenas no orçamento do próximo ano. Isto significa que os contornos finais do novo pacote legislativo para os benefícios fiscais só será definido pelo próximo executivo. 2019 é ano de eleições legislativas e se se cumprir o calendário indicativo de setembro/outubro, a proposta de Orçamento do Estado para 2020 poderá derrapar para o início desse ano, como aconteceu aliás com o Orçamento de 2016 apresentado já pelo Executivo que saiu das eleições de 2015. O trabalho no entanto fica feito.

Durante a audição, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais deixou ainda o aviso aos beneficiários. Os incentivos fiscais têm uma natureza transitória. “Não podemos assumir que os benefícios fiscais são para sempre”.

Mais do que fazer as contas à despesa fiscal — o relatório já apresentado indica que o custo foi de 164 milhões de euros em 2015 — o objetivo é avaliar também o impacto qualitativo destes incentivos fiscais. Ou seja, pretende-se responder à pergunta. Estão a cumprir os objetivos para os objetivos para os quais foram criados?

E um dos incentivos que mais polémica tem gerado, sobretudo à esquerda, é o que premeia as empresas em sede de IRC pela criação de postos de trabalho. A deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, tem sido uma das principais vozes contra estes benefícios que beneficiam sobretudo as grandes empresas que, argumenta, são as que não precisam.

A deputada do Bloco já tinha revelado no passado a lista dos maiores beneficiários destes apoios, onde constam grandes empresas de distribuição como a Jerónimo Martins, mas também a TAP e até o Banco de Portugal. Em causa está uma despesa fiscal da ordem dos 40 milhões de euros por ano cuja eficácia na criação de emprego permanente é questionada pela própria Inspeção-Geral de Finanças, sublinhou Mariana Mortágua esta quarta-feira. A deputada manifestou por isso o descontentamento pela proposta do Governo de estender, pela terceira vez esta legislatura, o prazo de validade destes benefícios. Na proposta em discussão, o Executivo responde apenas em parte às preocupações manifestadas pelo Bloco, reduzindo para 120% a majoração dos benefícios em sede de IRC para as grandes empresas, mantendo os 150% para as pequenas e médias empresas (PME).

Outro benefício que esteve debaixo de fogo é o que abrange empréstimos e swaps concedidos por bancos estrangeiros à banca nacional e que, representou uma despesa fiscal em 2015 da ordem dos 40 milhões de euros. O Governo reintroduziu uma salvaguarda que impede a aplicação destes benefícios a offshores, mas não consegue deixar de fora os swaps ditos especulativos por razões de técnicas, explicou António Mendonça Mendes.

Apesar das críticas da esquerda, ainda não é claro qual será o sentido de voto dos partidos à direita do Governo que preferem esperar pelas propostas de alteração ao quadro apresentado pelo Executivo. Para o deputado do CDS, João Almeida, em vez de mexer na exceção — o benefício fiscal — o Governo devia aproveitar a conjuntura orçamental e económica para alterar a regra, neste caso baixar a carga fiscal. O secretário de Estado considera que o caminho escolhido pelo Governo pode dar o mesmo resultado, na medida em que a revisão dos benefícios fiscais pode originar margem orçamental para alterar a regra, neste caso baixar os impostos. Já o PSD prefere esperar pelas alterações antes de decidir o sentido de voto.

A revisão destes benefícios fiscais já estava prevista numa norma transitória no Orçamento do Estado para 2016 que previa a apresentação ao parlamento, até ao final da sessão legislativa, de uma avaliação a vários benefícios fiscais que caducavam a 1 de janeiro de 2017, com o objetivo de os cessar, alterar ou prolongar a vigência (prorrogação), acabando por ser decidida uma prorrogação por mais um ano dos incentivos, entre os quais os da criação de emprego ou da conta poupança-reformados.

Este ano, no Orçamento do Estado, estes mesmos 15 benefícios fiscais voltaram a ser prorrogados, mas desta vez com a condição de o Governo, no prazo de 90 dias, apresentar ao parlamento uma proposta de lei que incluísse as conclusões daquela análise qualitativa e quantitativa dos benefícios, e mesmo que, ao não entrar em vigor até 1 de julho deste ano, o novo regime conduzisse à caducidade daqueles benefícios.