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segunda-feira, 9 de julho de 2018

O habeas corpus de Lula e a morte do direito

O caráter político da condenação e prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva torna-se cada vez mais evidente. Isso fica cada vez mais pela ação de alguns membros do Judiciário, que intervêm e atropelam a ordem hierárquica entre os juízes, levando a justiça brasileira a uma desmoralização muito forte.

A divulgação, na manhã deste domingo (8) da decisão do desembargador Rogério Favreto, do TRF-4, de mandar soltar o ex-presidente, causou perplexidade entre notórios propagandistas do ponto de vista da direita, que passaram a pressionar pela revisão daquela decisão de soltura. A suspensão da soltura de Lula não demorou, ilustrando o caos jurídico em torno da questão, com evidentes repercussões eleitorais.

A ordem de soltura foi revogada por outro desembargador, num frenético vai e vem que demonstra a situação de inusitada insegurança jurídica que o Brasil vive desde que setores importantes do Judiciário passaram a perfilar as forças golpistas que tomaram o poder em 2016. O desembargador Favreto ainda emitiu novo despacho determinado a imediata soltura do ex-presidente, mas sua decisão também foi tornada sem efeito pelo presidente do TRF-4, sem que tivesse prerrogativas para tal.

O absurdo jurídico criado no esforço conservador de reverter a decisão pela liberdade de Lula provocou a manifestação veemente da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia que, em nota, se manifestou publicamente. Mais de 125 juristas de todo o Brasil posicionaram-se pela concessão do habeas corpus, acusando a tentativa do juiz Sérgio Moro e do desembargador João Pedro Gebran Neto, que fora relator da Ação Penal no TRF-4, de revogar a decisão pela soltura do ex-presidente, de infração da lei (prevaricação, acusa a nota) pela qual podem responder criminalmente por desacatar a uma ordem judicial. A nota chega a comparar a atitude de Gebran, de avocar para si o processo contra Lula (“que não lhe foram ainda submetidos mediante distribuição regular”) de “inadmissível” pois era prática comum sob a ditadura militar, banida em qualquer ordem jurídica democrática, acusa a nota.

Acusa-os também de “indisfarçável interesse na causa”, sendo suspeitos para “continuarem a exercer jurisdição em qualquer ação relativa ao ex-presidente”.

Onde está a segurança jurídica? O Estado de Direito? Decisão judicial é para ser cumprida – e se necessário, recorre-se contra ela. Mas deve ser cumprida. Quando um juiz de 1ª instância contesta a decisão de um desembargador, de uma instância hierarquicamente superior a ele, há uma inversão hierárquica. A ordem, baseada na hierarquia consciente entre seus membros, se desmancha. E tudo pode surgir dessa situação de desagregação, onde a vontade de alguns se sobrepõe ao império da lei.

Um juiz de 1ª instância não pode se insurgir contra decisão que apenas o colegiado do TRF 4ª Região (de Porto Alegre) poderia contrariar – a ordem de habeas corpus deferida pelo desembargador.

A situação criada no Brasil contraria a vigência da lei; é o reino do vale-tudo onde os poderosos dispõem, de maneira discricionária, da lei e da estrutura jurídica. Como diz o governador Flávio Dino, que foi juiz federal, esta situação poder levar à morte do Direito. “Baixa credibilidade nas instituições; quebra da legitimidade do poder do Estado; esvaziamento das eleições; acirramento dos conflitos sociais. Basta ler as pesquisas de opinião para constatar”, são as consequências previstas por Dino. O risco dessa situação se configurar, exige uma ação amplas das forças democráticas e progressistas em defesa do Estado Democrático de Direito.

Texto em português do Brasil

Foto: Lula Marques

Ladrões de Bicicletas


Os “especialistas” em ovos de ouro

Posted: 09 Jul 2018 01:47 AM PDT

No passado dia 5 de Julho, o Negócios consultou dois “especialistas na área do direito imobiliário” para se pronunciarem sobre a nova Lei de Bases da Habitação que está em fase de consulta pública. São advogados e sócios de duas grandes sociedades de advogados e “têm visão crítica do projecto para a nova Lei de Bases”.
Quando se apresenta a opinião de “especialistas” está a sugerir-se que a sua apreciação é fundamentada num conhecimento técnico e relativamente isento do ponto dos interesses em confronto, que sempre os há quando se propõe uma alteração legislativa que mexe com direitos e obrigações no acesso a um bem essencial. A posição dos especialistas até parece ponderada. Afinal de contas, também há alguns “pontos positivos” na proposta de lei.
Contudo, as medidas que os especialistas criticam são as que beneficiam inquilinos e as que saúdam são as que concedem ainda mais benefícios fiscais aos proprietários. Ao vaticinarem que o governo poderá estar a “matar as galinhas dos ovos de ouro” quando propõem “novas leis para regular um mercado que está a funcionar em pleno”, como seja a regulação do Alojamento Local e a Lei das Rendas, falam como se não houvesse outros interesses a considerar numa lei. Ou seja, os especialistas/sócios de sociedades de advogados tomam os interesses dos proprietários dos ovos como os únicos legítimos.
Só os interesses dos proprietários parecem merecer protecção do Estado. Mas as galinhas estão a rebentar à custa daqueles que nunca terão acesso aos ovos: certas empresas e muitas famílias, que são despejadas e que canalizam parte cada vez maior dos seus rendimentos para a aquisição de imobiliário a preços especulativos (as que podem) ou para o pagamento de rendas excessivas (as que vão podendo). Entretanto, sobejam cada vez menos recursos para investir em sectores não-rentistas e economicamente produtivos.
O Governo do PS tem a obrigação de não cair na chantagem do sector do imobiliário, incluindo a exercida por especialistas de certas sociedade de advogados, e proteger a parte mais fraca, que é, de resto, a sua obrigação.

Leituras jacobinas

Posted: 09 Jul 2018 01:34 AM PDT

Vale a pena ler os artigos de Catarina Príncipe – O mito português – e de Nuno Teles – A ilusão portuguesa – na já indispensável Jacobin. Cada um à sua maneira, contrariam uma certa narrativa internacional em torno da limitada solução governativa nacional, no que tem sido uma espécie de equivalente político de um certo olhar turístico sobre um país de sol, praia, boa comida e gente simpática. De facto, a Jacobin não é o The Guardian.
Entretanto, e graças a uma série de escolhas, este governo parece-se cada vez mais com “um governo minoritário do PS”. Estamos assim cada vez mais perante um governo na esteira dos de Guterres e de Sócrates, mas inserindo-se numa forma de economia política ainda mais periférica e dependente, simplesmente porque já levamos mais anos no plano inclinado de um mercado e de uma moeda desenhados para destruir a social-democracia.

Um retrato realista da advocacia em Portugal

  por estatuadesal

(Nuno Godinho de Matos, 08/07/2018)

nunogodinho

As férias judiciais chegam na próxima Semana. A nossa actividade, em termos de encontro com os tribunais, fica suspensa até Setembro de 2018.

Em Outubro deste ano, começarão a sentir-se os impulsos inerentes às eleições para os cargos da Ordem, que irão decorrer, no final do ano 2019.

Pensando no que vai ser esse combate e nos temas que vão ser debatidos, atrevo-me a, na despedida para férias, voltar a pensar no papel e no regime dos associados, nas grandes empresas comerciais, nacionais, multinacionais e estrangeiras de venda de serviços jurídicos.

O país é composto por uma população activa, entre os 25 e os 64 anos de: 5 672 187 habitantes.
Em 2015 os municípios com mais de 100 000 habitantes, contando com crianças e reformados eram:

Lisboa, 504 471;
Sintra 382 521;
Vila Nova de Gaia 301 172;
Porto 214 579;
Cascais 210 361;
Loures 205 570;
Braga 181 502;
Matozinhos 173 451;
Amadora 176 644;
Oeiras 173 339;
Almada 169 689;
Gondomar – 166 338;
Seixal – 164 625;
Guimarães – 154 920;
Odivelas – 154 462;
Coimbra – 134 578;
Santa Maria da Feira 139 478;
Vila Franca de Xira 140 614;
Maia 135 678;
Vila Nova de Famalicão 133 028;
Leiria – 126 721;
Setúbal 117 780;
Barcelos 118 605;
Funchal 105 562;

Desta lista, de 24 municípios, são engolidos por Lisboa, em termos de prestação de serviços jurídicos: Sintra – Cascais - Loures - Amadora - Oeiras - Almada – Seixal – Odivelas – Vila Franca de Xira.

Do mesmo modo são engolidos pelo Porto: Vila Nova de Gaia – Matozinhos – Gondomar - Santa Maria da Feira e Maia
Permanecem, como centros económicos autónomos: Braga - Guimarães – Coimbra – Vila Nova de Famalicão - Leiria – Setúbal - Barcelos e Funchal.

Com menos de 100 000 habitantes, mas mais de 50 000 habitantes, incluindo crianças e reformados, surgem os seguintes municípios: não áreas urbanas, dado que não sei, como essa realidade se delimita: Viseu – Valongo – Viana do Castelo – Paredes – Vila do Conde – Torres Vedras – Barreiro – Aveiro – Mafra – Penafiel – Santo Tirso – Loulé – Ponta Delgada – Oliveira de Azemeis – Moita – Faro – Póvoa do Varzim – Palmela - Santarém – Figueira da Foz – Felgueiras – Alcobaça – Évora – Paços de Ferreira – Amarante – Castelo Branco – Portimão – Ovar – Pombal – Marco de Canavezes e Vila Real com 51 850 habitantes.

Depois restam os municípios ou cidades com menos de 50 000 habitantes.

Este é o país, onde 31.326 mulheres e homens, trabalham, como advogados, segundo a Prodata, com dados de 31 de Dezembro de 2017.

Procedendo-se à mais simples de todas as operações, dividir a população activa (dado que os menores e os reformados dificilmente procuram um advogado) pelo número de advogados, encontra-se: 5 672 187: 31.326 = um resultado teórico de 181 possíveis clientes por advogado!

Este rácio evidencia que não existe trabalho para todos aqueles que, na Ordem, estão inscritos como advogados. 181 cidadãs, ou cidadãos, por profissional é uma anedota. Não existe. Não há mercado. Não vale a pena pensar nisso.

Além disso, no interior, existem diferentes realidades, no que diz respeito ao mercado: uma coisa é a área urbana de Lisboa, outra a do Porto, e depois as cidades com mais de cem mil habitantes, as que ficam entre os 100 e os cinquenta mil e, finalmente, as outras.

Em Lisboa, o mercado da advocacia dos negócios e empresarial é completamente dominado pelas empresas estrangeiras e nacionais, como a PLMJ, a Galvão Telles, a Garrigues, a Abreu e muitas outras.

No Porto, o panorama só não é idêntico por que, nessa cidade, existiu uma burguesia comercial, cujas empresas eram dirigidas por pessoas singulares e não por “nomenclaturas”, as quais mantiveram, até meados dos anos 90, o hábito de escolher o “seu advogado”.

Porém, actualmente, o Porto, freneticamente, corre para ficar igual a Lisboa, até por que tem sido canibalizado por essas grandes empresas comerciais.

Em Lisboa, existem cinco tipos de titulares da cédula
profissional.

1.º) Os donos e patrões das empresas comerciais de venda de serviços jurídicos estrangeiras e nacionais, os ditos “partners” com os seus “Chief Executive Officers” ;

2.º) Os empregados subordinados destas empresas, sempre, contratados a recibo verde, mais precários que uma empregada doméstica, com horário de entrada e sem horário de saída;

3.º) Os donos e sócios das sociedades tradicionais de advogados, que se reúnem para partilhar despesas de instalação, e que, com frequência, não têm advogados empregados subordinados, pois não têm volume de trabalho que o justifique;

4.º) Os advogados em prática individual. E entre estes, uma distinção, os que trabalham há vários anos, pessoas com 40 anos ou mais com escritório e clientes próprios e os novos, alguns dos quais têm de fazer o escritório no café, pois trabalham em casa;

5.º) Os advogados de empresa, igualmente empregados subordinados das suas entidades patronais, só que, neste caso, sujeitos ao regime laboral do contrato individual de trabalho, auferindo 14 meses de salário por ano; tendo direito a processo disciplinar, para serem despedidos e horário de trabalho.

O Porto é idêntico, embora em menor escala.

Quanto ao resto do país, a realidade divide-se entre: Os advogados com mais de 40 anos, implantados no mercado, com clientes fidelizados e com uma prática da profissão consolidada. E os mais novos, que entram na profissão, todos os anos, ou com menos de dez anos de exercício, os quais não têm clientes e, para terem algum trabalho, inscrevem-se no apoio judiciário.

Os 31.000 profissionais inscritos como se dividem por todas estas classes?

Não é possível fornecer uma resposta rigorosa, dado que a Ordem, embora detenha um conjunto de dados que permitiria apresentar resultados, não os divulga, guardando-os para si, com muita prudência. Comportamento no qual se irmanaram todos os bastonários até ao momento.

Admita-se, porém, que, nas grandes empresas nacionais e estrangeiras, sejam sócios e patrões 1.000 titulares de cédula profissional. O que constitui um exagero. Mas prefiro pecar por excesso, contra o meu pensamento.

Admita-se, que, nas mesmas grandes empresas, sejam empregados subordinados, a recibo verde, 2.500 trabalhadores.

Que em Lisboa, existam uns 2.000 advogados tradicionais, com a sua situação económica consolidada e segura. Bem como em igualdade de condições uns 1.000 no Porto.
Se estes números não constituírem um absurdo, mencionam-se 6.500 pessoas, desde os empregados subordinados a recibo verde, até aos detentores da faculdade de exigirem aos primeiros o cumprimento das suas ordens, por que, se não as cumprirem: “out, you are fired”!

Então, dos 31.000 – 6 500 = 24 500

Isto é, existe um número que rondará os 24 000 advogados, no quais se encontram os advogados à antiga, consolidados no século passado, e os novos, dependentes do SAD.

O que significa que, seguramente, sem a mínima sombra de dúvida, existe um conjunto de cerca de 23.000 advogados que vivem com uma mão atrás e outra à frente, sobrevivendo graças ao SAD.

Isto ocorreu pelo efeito conjunto de duas razões:

1-º) surgiram imensas faculdades a vender cursos de direito, dado que os mesmos não exigiam qualquer investimento, para lá da remuneração dos professores e da existência de uma biblioteca;

2-º) Tendo o regime democrático (e muito bem) limitado o filtro social de acesso ao ensino superior, passaram a existir toneladas de licenciados em direito que pedem a inscrição na Ordem e, depois, não têm trabalho, pela simples razão que não há mercado para eles.

Como consequência desta evolução, os bastonários deixaram de ser grandes advogados, em fim de vida (cujo último exemplo foi o Senhor Bastonário Pires de Lima) para passarem a ser advogados, normais, em busca da representatividade e visibilidade que o cargo lhes fornece.

Após a eleição daquele Grande Advogado, ocorreu um acto voluntarista, do Exmo. Sr. Dr. Miguel Júdice e, a seguir, só foram eleitos candidatos que o eleitorado admitiu poderem gerar a mudança, no estatuto profissional e de vida dos advogados.

Foram: Rogério Alves, em 2005; Marinho e Pinto, em 2008; Elina Fraga em 2014.

Rogério Alves nada mudou, mas teve o grande mérito de ser manter sem alianças difíceis de entender.

Marinho e Pinto nada mudou. Apresentou um discurso que sugeria a possibilidade da concretização da mudança e, do mesmo modo, manteve-se sem alianças difíceis de entender.

Elina Fraga, candidata criada e apontada por Marinho e Pinto, apesar de eleita por um imenso desejo reformista, não alterou o que quer que fosse e manteve uma política própria de alianças.

O actual Senhor Bastonário foi eleito pelo desejo de retorno ao modelo representativo dos advogados tradicionais, só que, padece de falta de substância, história profissional e diferenciação. E isto é assim por que, desde meados dos anos 90, deixaram de existir Grandes Advogados, tendo sido substituídos por “marcas”.

Já não existem grandes advogados. Talvez o último, no Porto, seja o Senhor Bastonário Lopes Cardoso e em Lisboa, Daniel Proença de Carvalho, o qual compreendeu que tinha de se diluir numa grande empresa comercial, para deixar uma parte da sua profissão aos seus herdeiros.

Assim, a realidade é: existe um universo de cerca de 23.000 advogados, pauperizados, que se esforça por sobreviver, graças ao SAD.

Depois, existem 6 000, consolidados no exercício da profissão e financeiramente autónomos, entre os quais se contam os patrões, donos das empresas comerciais, os quais são poderosos, têm muitas relações sociais, imensas conexões em Portugal e no exterior, o que os torna interessantes, apetecíveis, investidos na deliciosa volúpia da sedução e tudo o mais que a proximidade com os ricos gera.

Assim e por isso, as pessoas que exercem cargos de direcção em organizações representativas de classes profissionais procuram: burilar arestas, evitar clivagens, gerar ligações, consensos, amenizar tudo e todos. Isto é: unir a água e o fogo e fugir de rupturas, dado que, quanto mais o fizerem, maior será a sua capacidade de influência, de acção e o seu poder. Mas sempre, numa perspectiva pessoal, que nada tem que ver com a razão pela qual foram eleitos.

Pode-se, então, escrever que existem cerca de 23.000 advogados que vivem em condições de dependência do SAD; nada se podendo fazer contra essa realidade, dado que, a criação do “numeros clausus”, para a inscrição na Ordem, estaria, infectada por uma grosseira e putrefacta inconstitucionalidade.

Assim sendo, a única realidade que se pode tentar alterar é a das empresas comerciais vendedoras de serviços jurídicos, combatendo a precaridade do estatuto dos seus empregados subordinados, contratados a recibo verde e, para tanto, basta:

1.º) Iniciar a luta para que os associados das sociedades, com mais de dez inscritos na Ordem, incluindo os sócios, passem a estar sujeitos ao regime do contrato individual de trabalho. Tal como sucede, desde sempre, com os advogados de empresa, sem que jamais qualquer virgem sacerdotisa se tenha atrevido a gritar pela salvaguarda da pureza da deontologia;

2.º) Desencadear a luta para que as empresas comerciais vendedoras de serviços jurídicos, onde esses advogados trabalham, como empregados subordinados, sujeitos à maior das precaridades e arbitrariedades, passem a suportar 23% do seu salário, como desconto legal, para a CPAS.

Estas duas medidas, se forem concretizadas, contribuirão mais do que dez anos inteiros de discursos, a 24 horas por dia, para acabar com a hipocrisia do dito pensamento, segundo o qual:

“Os Advogados não têm sabido retirar da diferença e do pluralismo que ressaltam das diferentes formas de estar na profissão, os devidos benefícios para si e para os cidadãos que representam. Aquilo que deveria enriquecer a vivência e a capacidade de intervenção na vida judiciária e na sociedade civil, derivou em intolerância entre pares.”

E farão com que, quando se olha para Ordem não se veja a mesma dividida:

“em perpétua convulsão. As mais das vezes, contudo, a pugna é artificial, dado que se constrói sempre sobre o pano de fundo de uma, quiçá mirífica, luta de classes… Há sempre: “nós” e “eles”; “pobres” e “ricos”; “acesso ao direito” e “fora do acesso ao direito”; “maus” e “bons”.”

Resta saber se aparecerá algum candidato que as subscreva?

O que, seguramente, não irá ocorrer, dado que, tal como sucedia em Roma, os cargos são procurados, não para servir, mas para os seus titulares beneficiarem do prestígio e representatividade que lhes é inerente.  Desculpem a extensão.

Boas férias, para aqueles que as possam ter.

domingo, 8 de julho de 2018

Absurdos

  por estatuadesal

(José Pacheco Pereira, in Sábado, 08/07/2018)

JPP

Pacheco Pereira

É preciso controlar o fluxo de imigração para a Europa? É. É preciso distinguir entre imigrantes e refugiados? É. É necessário controlar fronteiras e ter medidas para integrar os imigrantes e os refugiados que já entraram nos últimos anos na Europa? É. É necessário estar atento às questões de segurança e criminalidade que um fluxo destes comporta? É. É necessário garantir os direitos das mulheres e das crianças que muitos refugiados e imigrantes não respeitam lá na sua origem e que pensam que podem desrespeitar cá? É. É preciso não esquecer os conflitos culturais, religiosos, de modo de vida, que a alteridade das culturas e religiões provocam sempre? É. É necessário fazer valer o primado dos direitos humanos para todos, e não instalar guetos de impunidade por razões religiosas? É.

Podia continuar a escrever estas coisas triviais, que, no entanto, são mais fáceis de enunciar do que de fazer.

Mas pensar que para responder à extrema-direita crescente na Europa a solução é fazer uma espécie de campos de concentração no Norte de África para manter lá os refugiados e os imigrantes indesejados, é um absurdo. Admitindo que tal possa ser possível – estamos a falar de países soberanos e que eu saiba a Europa já não tem protectorados na Argélia, em Marrocos, na Tunísia, no Egipto (na Líbia não sei), duvido muito que queiram gerir campos de concentração com centenas de milhares de pessoas nas suas costas, que, como se sabe, irão tornar-se eternos.

E presumo que as Nações Unidas já estão nos seus limites, com o caso recente dos refugiados rohingya. Brevemente estes campos, a existirem, vão ser problemas tão graves como a entrada descontrolada.

A homenagem à chuva

Há muita fita na política portuguesa. Mas sem querer ser ingénuo pareceu-me que todos, Marcelo, Costa, Ferro, estavam genuinamente a participar na homenagem ao Zé Pedro dos Xutos, contentes de lá estar debaixo da monumental carga de água a cantar e a dançar. Mérito de quem os uniu e de todos eles.

Ó homem, faça lá o novo partido de uma vez

Nem sequer vale a pena olhar com ironia para mais um remake da mesma coisa – Santana zangado com o PSD, que não o merece, bate com a porta e diz que vai fazer um novo partido, pela enésima vez – e lembrar-me das explicações esfarrapadas e falsas com que pretendeu negar o que eu tinha dito sobre uma tentativa anterior. Nunca tive dúvidas sobre em quem é que as pessoas acreditavam e por isso nem sequer me dei ao trabalho de rebater.

Ilustração Susana Villar

Ilustração Susana Villar

Agora pelos vistos há mais uma cena e eu espero sinceramente que desta vez tenha consequências e que Santana faça lá um novo PSL. É bom para o PSD, é bom para Rui Rio, e é residualmente bom para Santana Lopes. Na verdade, basta olhar para os números necessários para eleger um deputado em Lisboa e verificar que ele tem muitas probabilidades de ser eleito, como aconteceu com o Manuel Sérgio. Penso aliás que é esse o principal objectivo, visto que Santana Lopes sabe muito bem que enquanto os opositores de Rio tiverem a esperança de o derrubar antes das legislativas e de controlarem a composição das listas de deputados, ninguém deixa um grande partido para ir atrás de um micro.
Uma das coisas em que Trump acredita...

…é no seu poderoso magnetismo pessoal. Ele pensa que se lhe colocarem um homem a frente, seja que homem for, ele se renderá à sua fabulosa capacidade de persuasão. Há uma excepção: ele tem medo dos clérigos iranianos, que são demasiado severos para lhe permitir intimidades. Mas o resto, é só trazê-los à mesa e Trump atira-lhes ondas e ondas de toda a radiação possível do seu fabuloso ego.

Foi a pensar assim que se foi encontrar com Kim e veio de lá deslumbrado com as virtudes pessoais do dito e, pelos vistos, mesmo do mérito da governação na Coreia do Norte. Ele lá muito no fundo acha que Kim é uma coisa exótica, atirou -lhe com um vídeo infantil e péssimo, mas tê-lo à frente é para Trump todo o caminho andado. Ele precisa de espelhos para a sua vaidade. O mesmo acontecerá com Putin, mas aqui já se pode prever menos surpresa e mais subserviência. Ele sabe que Putin não é Kim, onde Kim é uma curiosidade, Putin mete respeito e tem muita coisa que Trump gostaria de ter.

Trump adora Putin, aqueles dourados do Kremlin, aquela longa passadeira vermelha, aquelas portas de bronze, aquela multidão de sicofantas alinhados a bater palmas, e ainda por cima ser um dos grandes do mundo, que tem bombas nucleares, aviões, porta-aviões, submarinos e muitos, muitos tanques. Mas acima de tudo adora a autoridade sem peias, de um homem que pode matar os seus opositores, a começar pelos jornalistas incómodos, metê-los na cadeia e genericamente pô-los na ordem. Com Kim quis seduzir o oriental estranho, com Putin quer aquilo que este nunca lhe dará: respeito e reconhecimento. E se com Kim ele é o mestre -de -cerimónias, com Putin sente-se inseguro, muito inseguro.

Tribunal de Porto Alegre manda libertar de imediato Lula da Silva. Juiz Sérgio Moro diz que não tem poderes

HÁ UMA HORA

O tribunal de Porto Alegre aceitou o pedido de habeas corpus para libertação do ex-presidente do Brasil. O juiz Sergio Moro diz que não tem poderes.

Sebastiao Moreira/EPA

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O tribunal de Porto Alegre aceitou o pedido de habeas corpus para libertação imediata, ainda este domingo, do ex-presidente do Brasil que está detido por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro para cumprir uma pena de 12 anos. Mas o juiz Sergio Moro, da 13.ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, afirmou que Favreto, o desembargador federal do TRF-4, não pode mandar soltar Lula da Silva.

O Desembargador Federal plantonista, com todo respeito, é autoridade absolutamente incompetente para sobrepor-se à decisão do Colegiado da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) e ainda do Plenário do Supremo Tribunal Federal”, disse Moro, citado pelo G1.

Numa decisão divulgada esta tarde, o desembargador federal Rogério Favreto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), com sede em Porto Alegre, decidiu mandar libertar de forma imediata o ex-presidente, que está detido deste 7 de abril, em Curitiba. Lula foi condenado na Operação Lava Jato por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O despacho do desembargador federal Rogério Favreto, citado pelos vários jornais brasileiros, determina a suspensão da execução provisória da pena e a liberdade de Lula.

Cumpra-se em regime de URGÊNCIA nesta data mediante apresentação do Alvará de Soltura ou desta ordem a qualquer autoridade policial presente na sede da carceragem da Superintendência da Policia Federal em Curitiba, onde se encontra recluso o paciente”, diz uma das passagens da decisão.

Lula está preso desde 7 de abril, após ser condenado em segunda instância na sequência da Operação Lava Jato. O ex-presidente brasileiro foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente foi acusado de receber como pagamento um triplex no litoral de São Paulo para favorecer uma empresa em contratos com a Petrobras. O ex-presidente negou sempre as acusações e afirmou sempre ser inocente.

Lula foi condenado por Sergio Moro em  primeira instância e a condenação foi confirmada na segunda instância pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4). A defesa tentou evitar a prisão de Lula com um habeas corpus preventivo no Supremo Tribunal Federal, mas o pedido foi negado pelos ministros, por 6 votos a 5.