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terça-feira, 5 de maio de 2020

A minha casa é a língua portuguesa

Curto

João Silvestre

João Silvestre

Editor de Economia

05 MAIO 2020

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Bom dia,
Hoje é o dia 2 do início do regresso à normalidade possível. Lento, muito lento, e sem data marcada para que tudo volte a ser como dantes. É assim que teremos de viver “enquanto não houver vacina ou tratamento”, tem avisado António Costa. Este foi, para muita gente, uma espécie de primeiro dia do resto das suas vidas. O Expresso esteve na rua para lhe contar como foi. Na baixa de Lisboa, onde nem na guerra se fechou tanto tempo. No comércio de Campo de Ourique, na capital. No Porto, onde as lojas abriram, mas os clientes aderiram pouco. No metro, no cacilheiro, nos cabeleireiros.
Há uma lista de coisas que passou a poder fazer desde ontem. Veja aqui o guia que o Expresso preparou e que lhe vai ser útil nos próximos dias. Pelo menos até à próxima fase de desconfinamento que acontece dentro de 15 dias. Um dos exercícios mais difíceis nesta fase é conseguir equilibrar a necessidade de rentabilidade dos negócios com as restrições sanitárias inevitáveis. Nas companhias aéreas, por exemplo, limitar a lotação dos aviões a 2/3 pode ser um problema.
Segue a polémica sobre a celebração do 1º de maio. Presidente da República e Governo estavam ao corrente dos moldes evento, mesmo sem saber o número exacto de participantes, mas agora afastam responsabilidades.
Se está em lay-off e seu regresso à normalidade parece distante, tem de fazer contas antes de optar trabalhar para outra empresa enquanto está nessa situação. Lay-offs ou cortes salariais que, nesta fase, se estão a aplicar também em áreas como auditoria.
Siga aqui toda a informação em direto relacionada com a covid-19 que o Expresso mantém no ar desde que a pandemia começou. E os últimos números da doença em Portugal.

Medo de existir

Posted: 04 May 2020 02:44 AM PDT

«É um abuso recorrer ao título do ensaio de José Gil e transpô-lo para um momento de paralisação que nada tem a ver com a sua reflexão sobre as prováveis causas do medo de arriscar e de enfrentar dos portugueses.

Mas há, no processo de transição que hoje iniciamos, um ambiente de alarme e uma sensação de anormalidade que nos confronta com decisões que têm tanto de existencial como de crise sanitária.

Muitos portugueses passaram o último mês e meio isolados. Se alguns estão ansiosos por mexer-se, outros receiam deixar a redoma protegida que criaram. Não há respostas seguras nem certezas. Mas também não há razões, nem sequer médicas, para considerar que pôr um pé na rua é uma fatalidade. A absoluta prevenção é perfeitamente compatível com a confiança. Confio na minha esteticista, nos cabeleireiros, na minha ótica e lojas de roupa. Confio nos outros e na nossa capacidade de nos protegermos solidariamente. Voltarei a viajar e a estar em hotéis assim que tiver condições para isso.

Parecendo uma banal frase feita, viver é de facto mais do que estar vivo. Não tenho a existência por garantida, nem ambiciono opções desprovidas de riscos. Continuo a preferir um mundo aberto e amplo, ainda que com imprevistos e incerteza acrescida, à visão de pessoas ensimesmadas e territórios cheios de fronteiras. Não podemos ficar de tal forma paralisados pelo medo que deixemos de viver.

Não é altura de ficarmos infinitamente a olhar para nós mesmos, nem a procurar culpados. O que nos faz mover, coletivamente, é a procura de soluções para os problemas. E por isso acredito que rapidamente teremos medidas para mudar um dos mais graves que persiste, no meio deste calendário para a reabertura: o isolamento dos mais velhos e a sensação de abandono de tantos que estão em lares. É a resposta mais urgente em que as autoridades da Saúde, o Governo e as instituições têm de trabalhar.»

Inês Cardoso

CGTP, a correia de transmissão de um sinal errado

Curto

Vítor Matos

Vítor Matos

Editor de política

04 MAIO 2020

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Bom dia!
Era óbvio que a realização do comício do 1º de Maio na Alameda ia ter efeitos secundários. A CGTP, velha “correia de transmissão” do PCP, passou a correia de retransmissão de uma polémica desnecessária onde a maior responsabilidade é do Governo (e do Presidente da República) por ter autorizado uma exceção que passou o sinal errado à população. Só não terá sido uma correia de retransmissão do vírus pela organização exemplar da Intersindical, elogiada aqui pelo ministro Eduardo Cabrita. Alvo de críticas previsíveis, a Intersindical que não é ingénua e sabia que ia estar sob fogo, emitiu ontem um comunicado que só se pode justificar por cegueira ideológica: “Há setores da nossa sociedade que procuram no surto epidémico a justificação para o regresso ao passado, para a reintrodução do totalitarismo, de mordaças e do unanimismo como única forma de pensar e estar."
No contexto que estamos a viver, só por desonestidade intelectual se pode agitar o fantasma do fascismo por críticas legítimas numa democracia: discordar ou dizer à CGTP que não podia realizar o comício durante o excecionalíssimo estado de emergência por causa de uma pandemia que já matou mais de mil pessoas em Portugal, que devastou a Espanha (com o contributo de uma manifestação) e está a devastar o mundo, é voltar ao fascismo? Vamos excluir da equação as críticas da direita, ficamos só com as da esquerda. A UGT, que não foi para as ruas - Carlos SIlva fez críticas duras à CGTP no Expresso - e celebrou o 1º de Maio pelas redes sociais, quer reintroduzir o “totalitarismo”? A corrente do Bloco de Esquerda na própria CGTP que foi contra o comício na Alameda, é um grupo de saudosistas a defender uma “mordaça” na luta pelos direitos dos trabalhadores? E Catarina Martins, que num gesto político significativo, fez uma comunicação nas redes sociais e não foi à Alameda, ao contrário de Jerónimo de Sousa, quer instituir o “unanimismo”? As palavras têm peso mas a memória também: quem lutou pela “unicidade sindical” e o “unanimismo” foi PCP e a CGTP nos tempos do PREC, para ter o monopólio do mundo laboral.
Luís Marques Mendes resumiu bem o problema no comentário de ontem à noite na SIC: a autorização para as celebrações “mina a autoridade política” - e o Governo não se pode queixar se as pessoas começarem a prevaricar. Mais do que isso, passa a ideia de que o Executivo tem medo da CGTP porque se aproximam tempos difíceis, e a paz social será importante durante a crise económica.
Na verdade, a a posição da Inter - liderada agora pela militante comunista Isabel Camarinha - é filha dos argumentos do PCP, que tem apontado mais para o “medo” e o “alarmismo” do que para a necessidade de medidas excecionais (como o estado de emergência ou de calamidade) para conter os riscos da pandemia na saúde pública. Jorge Cordeiro, um dos principais dirigentes comunistas, escreveu um artigo no “Avante!” a semana passada que mostra como o PCP continua a olhar para o mundo por um funil, à luz de uma fé dogmática que distorce o mundo sempre no mesmo sentido. Fica esta passagem: “Em nome do necessário distanciamento e das medidas de prudência de cada um consigo próprio e para com os outros, o que aí está à escala de massas é a profusão a partir de agigantamento do medo, para lá do racional, da criação de um clima geral de intimidação social dirigido para e suportado na exacerbação do individual” - tudo aproveitado pelo capital monopolista para anular a luta coletiva. Aqui não há vida para além da luta de classes (outra coisa são os abusos das empresas que devem ser punidos).
Como era de esperar, a decisão do Governo gerou ondas de choque, sobretudo com a ajuda da própria ministra da Saúde que, na ânsia de justificar a aprovação dos comícios da CGTP, deu a entender este sábado, numa entrevista a Rodrigo Guedes de Carvalho, na SIC, que o 13 de Maio também se podia celebrar em Fátima,desde que fossem “respeitadas as regras sanitárias”. As declarações inesperadas de Marta Temido geraram surpresa no Santuário, mas a governante havia de esclarecer ontem, com a polémica já instalada, o que tinha ficado em dúvida: “O que o Ministério da Saúde pretendeu explicitar é que há uma diferença entre peregrinos e celebrantes” e que as peregrinações continuavam proibidas.
A própria igreja, que não quis comentar a homilia de um padre que fez críticas à 'geringonça' - "manda no país" - em plena missa, por causa do 1º de Maio, manteve a decisão de não levar gente para Fátima por ser “um perigo para a saúde pública”, afirmou o cardeal D. António Marto. O "Público" avança hoje que o primeiro-ministro falou com o bispo sobre a realização de cerimonias só com a presença de eclesiásticos e alguns fiéis.
O responsável pela Proteção Civil de Santarém foi mais longe e recomendou “juizinho” com o 13 de Maio.
No dia em que começa o lento desconfinamento no país, pode ver aqui o ponto da situação do surto em Portugal em gráficos e mapas: 25.282 infetados e 1043 mortos, a variação mais baixa desde o início do surto. E pode informar-se ainda sobre a situação no resto do mundo.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

O SNS e a motosserra do senhor Rodrigo G. de Carvalho

por estatuadesal

(Domingos Lopes, in Público, 04/05/2020)

É hoje forte o sentimento na nossa comunidade que o Serviço Nacional de Saúde foi até à data o serviço público que tratou e salvou os doentes covid-19, apesar de descapitalizado, atacado e desprezado pelos vários governos. Sem o SNS, a pandemia teria dizimado muitos milhares de portugueses.

Aliás, os países com um forte SNS responderam muito melhor à crise que os países onde os cidadãos que queiram ter acesso à saúde têm de a pagar. Na verdade, serviços públicos fortes, modernos, desburocratizados e ao serviço das populações são elementos chave de um Estado moderno, democrático e vocacionado para proteger.

Ora esta conclusão óbvia não se encaixa nas ideias dominantes de sobrevalorização do papel do indivíduo prevalecente sobre o da comunidade, que está em sintonia com a elevação da empresa a um novo paradigma de proteção estatal fundado num quase direito natural.

O que parece contar é a sorte das empresas, sobretudo as grandes. O Estado, a entidade “despesista e gastadora”, de repente tem de ir socorrê-las para a sua salvação. O tal Estado malfadado faz-lhes falta quando a iniciativa privada não está capaz de responder aos seus desafios próprio das sacrossantas leis do mercado. Vejamos de outro ângulo – quando há lucros fabulosos a ordem é arrecadar, quando há prejuízos a ordem é para lançar impostos e os cidadãos pagarem.

Há até quem candidamente defenda que o Estado garanta um empréstimo à TAP de 300 milhões de euros para salvá-la e depois entregá-la à sociedade Barraqueiro/Neelman… que grandes capitalistas…

Parece ser uma nova religião que preconiza que o Estado subvencione os mais poderosos e sobrecarregue os que vivem da força do seu trabalho, como se o salário fosse um peso e sempre imerecido. Felizmente que muitos são os patrões que não têm esta visão, mas esses não têm voz nos media.

A iniciativa privada é essencial numa sociedade moderna, mas de acordo com as regras do mercado e não baseada no critério de que na sua atividade o risco é do Estado e o lucro do capital.

Aliás, os lucros de algumas dessas empresas vão direitinhos para os “repugnantes” holandeses, enchendo-lhes os cofres e deixando o maldito Estado português à míngua, mas obrigado a socorrer os mesmos de sempre.

Quando chegar a hora de fazer contas vira o disco e toca o mesmo – austeridade. Não se pode tocar nos lucros, só nos rendimentos dos que trabalham e nesses pode ser à bruta porque aguentam, aguentam, como afirmou o célebre banqueiro...

Dinheiro já (não pode ser amanhã de manhã) a fundo perdido. E a vida das famílias, dos trabalhadores com menos um terço do vencimento? Alguém deu conta da necessidade de remunerar mais dignamente os enfermeiros, os médicos, os cientistas das várias áreas sem os quais as mortes eram aos milhares? Já foi feito o ato de contrição sobre o sair da zona de conforto que levou milhares de enfermeiros e médicos portugueses a sair do país? Um dos rostos desse período negro aparece confortavelmente e todo pimpão, com ares de cientista, pianinho, pianinho, a botar postas de pescada sobre o coronavírus. Refiro-me a sua excelência o “Paulinho das Feiras”, dos retornados, dos ex-combatentes, do irrevogável, do vice-primeiro-ministro que ultrapassou na corrida Maria Luís e todo lampeiro perora na TVI. Ele é que sabe e por isso estendem-lhe a passadeira… Depois de tudo o que foi, agora é virologista formado na Rua do Caldas.

Na SIC, em entrevista à ministra da Saúde, o sr. Rodrigo atirou-se como uma fera a propósito da comemoração do 1.º de Maio da CGTP e instou-a a esclarecer o que lá fazia Jerónimo de Sousa de cima dos seus setenta e três anos. Veja bem, sra. ministra, aquele velho desconfinado, um dirigente do PCP, nas comemorações do 1.º de Maio…

O Sr. Rodrigo estabeleceu uma linha fortificada que ia da Alameda até à Cova da Iria. Queria a todo o custo saber porque não autorizara a peregrinação e a missa no santuário, em contraste com o que se passara na Alameda.

Marta Temido explicou o conteúdo da decisão presidencial contida no estado de emergência sobre aquela data e referiu as conversações com a Igreja que não passaram pelo modelo da Alameda.

Porém, como o sr. Rodrigo se achava portador do inconfessável propósito da ministra, a entrevista tornou-se num interrogatório. Com toda a simplicidade do mundo, um sorriso e um olhar firme, teve de responder ao sr. Rodrigo que estava ali para esclarecer e para tanto esclareceria. Foi então que ele deu conta que se acabara a gasolina da motosserra. Ficou a imagem de Marta Temido feliz com a resposta do SNS.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Marcelo Rebelo de Sousa, o 1º de Maio e a direita trauliteira

04/05/2020 by João Mendes 4 Comments


MRS

Ainda sobre as comemorações do Dia do Trabalhador, aqui vai um excerto do decreto presidencial (Presidente da República = Marcelo Rebelo de Sousa) que renova o estado de emergência para a sua terceira e última fase. A renovação foi aprovada com os votos do PS, PSD, BE, CDS e PAN, as abstenções do PEV e do Chega, e os votos contra do PCP, IL e Joacine Katar Moreira.

O decreto, que não está sujeito a aprovação parlamentar, é da exclusiva responsabilidade de uma pessoa: Marcelo Rebelo de Sousa. Não vou transcrever o que está escrito na imagem, parece-me claro e o destaque é objectivo, mas vou dizer isto: resumir esta situação a uma cedência do governo ao PCP e à CGTP não é apenas um absurdo. É, apenas e só, mais um exercício de manipulação da direita trauliteira do costume, ancorada nos observadores e no Twitter.

Quer isto dizer que fui a favor da celebração que se realizou no passado dia 1 de Maio? Não, não fui. Seria a favor de uma celebração mais comedida, com menos figurantes e que não fosse usada como arma de arremesso ou demonstração infantil de poder. Acho até que a cerimónia, e todo o ruído que se gerou à volta dela, foi prejudicial aos interesses da minha área política, mas também aos interesses da esquerda conservadora e da própria CGTP. E os populistas da nova extrema-direita ficaram muito gratos por mais esta oportunidade de ouro de dar largas à demagogia, aldrabar mais alguns incautos e subir nas sondagens.