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sexta-feira, 26 de junho de 2020

COVID-19 progride em diversos países europeus

De  Euronews  •  Últimas notícias: 19/06/2020

COVID-19 progride em diversos países europeus

Direitos de autor Matt Dunham/Copyright 2020 The Associated Press. All rights reserved

Novos focos de infeção na Alemanha; aumento de número de casos em Portugal; aumento do número de mortos em Itália, assim vai a evolução da Covid-19 na Europa.

Na Islândia foram testadas, nas últimas 24 horas, 927 das 1100 pessoas chegadas à ilha. Cinco novos casos foram detetados e dois cidadãos romenos foram detidos por estarem infetados e romperem a quarentena. Uma agente da polícia terá sido infetada no momento da detenção dos cidadãos romenos.

Na Roménia os níveis de contágio continuam bastante altos e vários hospitais atingiram o ponto de saturação e deixaram de receber pacientes. O presidente, Klaus Iohannis, adverte que a situação é preocupante e apela ao cumprimento das regras de higiene e distância social.

Nas últimas 24 horas surgiram 320 novos casos e morreram 22 pessoas.

Em Portugal, o número de infeções tem subido numa média de mais de 300 por dia, com uma subida acentuada na quinta-feira, com mais 417 casos. A maior concentração de novos casos continua a ser na área metropolitana de Lisboa, mas há novos focos também no Algarve.

O aumento dos casos de infeção em Portugal levou cerca de uma dezena de países europeus a proibirem ou imporem restrições à entrada de cidadãos portugueses. O governo português protesta contra esta a decisão - tomada à revelia das decisões da União Europeia - e admite impor também restrições à entrada de cidadãos desses países, utilizando o princípio da reciprocidade.

Pandemia, catástrofe e desigualdade

por estatuadesal

(Alexandre Abreu, in Expresso Diário, 25/06/2020)

Alexandre Abreu

Walter Scheidel, historiador austríaco baseado na Universidade de Stanford, publicou em 2017 um livro intitulado The Great Leveler(qualquer coisa como “o grande nivelador” – o livro não está ainda disponível em português) que desenvolve um argumento bastante trágico: que ao longo da história da humanidade, os episódios mais eficazes de redução generalizada dos níveis de desigualdade envolveram a ação de acontecimentos catastróficos. O argumento é trágico porque conduz à conclusão que um objetivo que a maioria de nós considera meritório (mais igualdade e mais justiça social) dificilmente pode ser alcançado de forma eficaz sem a intervenção de um dos quatro “cavaleiros do apocalipse”: guerra, revolução (em geral violenta), colapso do Estado ou epidemia.

Os mecanismos descritos, como se imagina, não são simpáticos. A redução da desigualdade é alcançada ou através da eliminação física dos grupos anteriormente dominantes, ou através do colapso das instituições existentes e desenvolvimento de novas instituições, ou da redução da disponibilidade de mão-de-obra e alteração da sua relação quantitativa com os meios de produção existentes. Vale a pena sublinhar que o argumento é analítico e factual, não é normativo – trata-se de argumentar como é que as coisas em geral aconteceram ao longo da História, não se trata de argumentar que os fins justificam esses meios. E trata-se de uma argumento que pode ser disputado, claro: podemos por exemplo chamar a atenção para a limitação da desigualdade nas economias avançadas na segunda metade do século XX e atribuí-la essencialmente a mecanismos reformistas, democráticos e não calamitosos no contexto do contrato social keynesiano-fordista – se bem que será um erro minimizar o efeito que a guerra (de ’39-’45) e a revolução (russa, através da ameaça política que constituía) tiveram também nesse contexto.

Como seria de esperar, o argumento de Scheidel foi imediatamente recuperado a propósito da atual pandemia. Seria possível que deste acontecimento catastrófico, com toda a destruição e todas as vítimas que lamentavelmente tem vindo a provocar, pudesse resultar algo que, pelo menos a um certo nível, tivesse algo de ‘nivelador’? Este argumento, ou expectativa, foi desenvolvido entre outros por Peter Radford no blogue Real-World Economics Review logo no final de março: a epidemia de coronavírus poderia ser “o nosso momento Scheidel”, com o potencial para pôr em causa o poder das elites e a ideologia dominante ao ponto de permitir superar o neoliberalismo e os níveis elevadíssimos de desigualdade que este produziu.

Ao longo dos meses seguintes, a realidade tem-se mostrado exatamente contrária: pelo mundo fora, em todas as sociedades incluindo a nossa, os efeitos diretos e indiretos da epidemia de coronavírus, do confinamento e da crise económica e social resultante afetaram desproporcionalmente os mais pobres e desprotegidos, expondo as desigualdades existentes e criando novos eixos de desigualdade (por exemplo, na exposição ao risco médico-sanitário) que intersetam e aprofundam as desigualdades preexistentes. Isso mesmo tem sido mostrado por estudo após estudo, mas também pela experiência diária de cada um de nós.

Pareceria por isso que o argumento de Scheidel estaria definitivamente posto de lado, pelo menos na sua aplicabilidade ao contexto presente. Porém, repare-se que o argumento nunca foi que os efeitos da epidemia e da crise económica incidiriam desde logo principalmente sobre os mais ricos. O argumento é antes que esta crise poderá abalar de tal forma os fundamentos da nossa organização social, tanto no plano material como ideológico, que imponha ou pelo menos propicie mudanças num sentido promotor de mais igualdade. Tem a palavra o próprio Scheidel, em entrevista ao "Guardian"há algumas semanas: “Depende de quão profunda for esta crise, de quanto tempo vai durar e de até que ponto afetar as cadeias de abastecimento globais. (....) Se, em resultado do Covid-19, tivermos pela frente uma depressão duradoura, julgo que estará em cima da mesa a possibilidade de políticas mais radicais do que sucedeu em muito tempo”.

E é aqui que o argumento materialista de Scheidel, por muitos visto como trágico e pessimista, pode ser recuperado para uma leitura mais otimista: em última instância, todos estes processos materiais são mediados pela política, o que significa que deixamos a esfera das inevitabilidades e introduzimos variabilidade e indeterminação histórica em função da capacidade de mobilização, organização e persuasão.

Combater as desigualdades mais iníquas no mundo contemporâneo implica limitar a esfera do mercado, proporcionar saúde, educação, habitação e trabalho a todos e financiar tudo isto através de impostos progressivos. Não há nenhuma lei de ferro que nos impeça de avançar coletivamente neste sentido – de preferência, ao mesmo tempo que limitamos a pandemia.

Mas que doença é esta, afinal?

Posted: 25 Jun 2020 03:48 AM PDT

«Assinalou-se no último sábado, dia 20 de junho, o Dia Mundial do Refugiado. O dia dos mais de 26 milhões de refugiados em todo o mundo. 26 milhões. Este número é, para muita gente, isso mesmo, só um número, mas deixa de o ser quando conhecemos as pessoas que ele representa, as suas vidas, as suas histórias e os seus sonhos. Deixa de o ser quando conhecemos o Ahmad que veio dos Camarões porque foi obrigado a alistar-se a uma milícia terrorista e, como ritual de iniciação, teria que matar a sua própria mãe. Deixa de o ser quando conhecemos o John, do Congo, que fugiu do seu país porque mataram toda a sua família. Deixa de o ser quando nos contam que só querem poder recomeçar e reconstruir-se. Não deveria ter de haver um dia mundial do refugiado para nos lembrarmos deles, não deveria ter que existir um dia 20 de junho para pensarmos neles. O dia mundial do refugiado são todos os dias, porque todos os dias, a cada dois segundos há uma pessoa que é forçada a abandonar a sua casa devido a conflitos armados ou perseguição étnico-racial. Dois segundos.

Hoje talvez seja mais importante do que nunca falar sobre vocês, porque, a cada ano que passa, o problema agrava-se e este ano, no contexto em que vivemos, são vocês, como sempre, que mais sofrem. Uma crise como esta é sempre tremendamente desigual, não há crises que afetem todos da mesma forma e isso é hoje flagrante: são os mais pobres os mais afetados e com menos possibilidades de combater a pandemia, são os bairros mais precários que têm um maior número de casos e propagação da covid-19, e esta crise, como todas as outras, irá agravar o enorme fosso entre classes sociais.

Imaginemos agora, que viveríamos num campo de refugiados, com capacidade para 3000 pessoas e que alberga 20.000. Imaginemos agora que, não bastando as condições desumanas em que esses milhares de pessoas vivem, com famílias inteiras a viver durante dois anos numa tenda de 5 metros quadrados, fecham o campo de refugiados, não deixam ninguém entrar ou sair, para impedir a propagação do vírus. Imaginemos que exigem a essas 20.000 pessoas que mantenham a distância social e que lavem as mãos com frequência. Que distância social se mantém num contentor com 30 pessoas a dormir no chão? Que lavagem das mãos é possível com uma torneira para cada 500 pessoas? Que vida lhes resta quando os poucos bens ou ajudas que já tinham, escasseiam pela impossibilidade das ONG trabalharem, sendo obrigados a comer comida crua depois de 3h numa fila à espera? E tudo isto, sob a desculpa das políticas sanitárias no contexto da pandemia. Mas que doença é esta que nos faz esquecer a humanidade, que não nos deixa dar a mão ao outro quando se está a afogar às portas da Europa? Que doença é esta que criminaliza a ajuda humanitária e exige o impossível a quem não tem tecto, água e as mínimas de higiene? Não, não se chama covid-19. Esta é a degradante doença da desumanidade, do oportunismo político e da cegueira.

Esta é a doença que já corre na Europa há muitos anos e que foi exponenciada pela pandemia. É a doença que deixa em terra dois barcos de resgate no mediterrâneo de migrantes e refugiados durante dois meses, incapacitados de fazer o seu trabalho, pelo “risco de contágio associado a esta prática”, mas que já existia quando não havia coronavírus, ao obrigar embarcações com centenas de migrantes a ficar semanas ao largo de Itália pela impossibilidade atracar. É a doença que deixa uma embarcação três dias ao largo da ilha de Lesbos, na Grécia, sob o olhar da Guarda Costeira Grega, com mais de 30 pessoas vindas da Turquia, com uma grávida doente que acabou por parir na embarcação e teve uma grave hemorragia pós parto. Mas é a mesma doença que impediu os migrantes recém-chegados à Grécia de requerer asilo, que fez dezenas de pushbacks ilegais ao longo das fronteiras no início deste ano. É a mesma doença que o ano passado fez o Parlamento Europeu chumbar as resoluções que apoiavam o resgate e salvamento de vidas no mediterrâneo. É a doença que corrói a Europa, que faz com que o tão apregoado continente charneira dos Direitos Humanos, seja o mesmo que se descarta de salvar vidas, que financia milícias terroristas na Líbia e que ergue fortalezas e muros. Esta é a mesma doença que é filmada quando há fogo mas esquecida quando as cinzas quentes se espalham, esta é a doença que tem a nossa atenção quando a ferida jorra sangue, mas que que é renegada depois, enquanto o músculo apodrece e morre. E infectados por esta doença, lembramo-nos vagamente que em 2017 750 mil rohingyas fugiram do Myanmar para o Bangladesh, mas ignoramos que passados três anos tudo está na mesma. Recordamos as imagens dos milhares de pessoas a fugir da Venezuela há três anos e não sabemos, ou não queremos saber, que hoje em dia milhares de venezuelanos ainda passam a fronteira para fugir da miséria, e que insistimos em chamar “crise de refugiados” ao influxo de pessoas na chegada à Europa em 2014, ignorando que 2019 foi o ano em que mais gente chegou ao continente dos últimos cinco.

Esta é a doença crónica mais grave dos nossos tempos, que transformou o mediterrâneo na fronteira mais mortífera do mundo, onde jazem mais de 10 mil pessoas que vinham em busca de uma nova vida. É a doença que deixa um milhão de rohingyas no Bangladesh, sem acesso à Internet, sem possibilidade de aceder a serviços públicos, confinados no maior campo de refugiados do mundo, sem perspectivas nenhumas de poderem regressar à sua casa ou de poderem reerguer uma nova.

Esta é a mesma doença que trouxe ao Parlamento português, o discurso xenofóbico, racista e autoritário pela primeira vez na história da democracia portuguesa. Hoje, há um deputado a sugerir a criação de autênticos guetos para ciganos e a prometer a prisão e punição para quem diga mal ou insulte as forças de segurança. Hoje, mais do que nunca, temos que falar de vocês e de humanidade, por ser cada vez mais urgente, e porque calar é consentir.

Qual a cura para esta doença, perguntar-se-ão muitos dos leitores. É difícil e morosa, e implicaria outro infindo texto sobre políticas migratórias e de asilo.

A solução ideal passaria, obviamente pela resolução do problema a montante e pela salvaguarda de condições de paz e segurança que permitissem a estas pessoas regressar à sua nação. Ao contrário do que muitos pensam, os refugiados fogem da sua casa por causa da guerra ou perseguições étnico-raciais incomportáveis, e fazem-no com uma dor e uma amargura inimagináveis. Gostavam de nunca ter saído e abandonado o seu país, mas não tiveram alternativa, e queriam um dia poder regressar. Mas como se regressa à Venezuela, à Síria, ao Myanmar ou ao Congo? É impossível. Basta olhar para os números: o tempo médio que um refugiado fica em exílio, impossibilitado de regressar a casa, são 17 anos. 17 anos é uma infância inteira.

Assumindo esta inevitabilidade, pelo menos a curto prazo, há aceitar que os refugiados continuarão a existir e a tendência é que o número seja cada vez maior. O problema então coloca-se: como receber estas pessoas? Muitas delas ficam condenadas a passar anos sem fim em campos de refugiados e este é talvez o maior dos problemas: estes campos têm que se lugares de passagem, não podem ser sítios onde se ficam 3,4 ou mais anos, sem possibilidade de produzir, de ter rendimentos, ou de construir planos de vida. Conheci crianças em Lesbos que estavam num campo de refugiados há três anos à espera da resposta ao pedido de asilo. Três anos sem escola, sem conhecer mundo além daquelas cercas, sempre dependentes de ajuda e sem um plano ou uma ideia de futuro. O processo de pedido de asilo é extraordinariamente demorado, e a espera e a incerteza são um fardo insuportável para muitos deles. Assumindo que, infelizmente, a morosidade da resolução dos pedidos de asilo é difícil de resolver, pelos recursos humanos escassos ou, pela maior parte das vezes, por uma tremenda falta de vontade política, que sejam dadas condições dignas às pessoas enquanto esperam. Basta olhar para os campos da Jordânia, com pré-fabricados, espaço, organização e condições de higiene ou para os campos de Moria ou de Samos, com condições deploráveis e inimagináveis em que ninguém deveria ser obrigado a viver, ainda para mais na Europa. Há exemplos extraordinários por esse mundo fora de como é possível mudar este paradigma dos campos de refugiados, desde projectos de reflorestação que foram terreno fértil para a paz entre comunidades, a campos em África em que cada família de refugiado tem direito a um pedaço de terreno que pode cultivar, cuidar ou construir. Mas a mais eficaz de todas estas soluções, principalmente na Europa é uma e só uma: a abertura de fronteiras e o fim do tratado entre a Turquia e União Europeia.

Também aqui, em Portugal, são visíveis bons e maus exemplos da integração. No mesmo mês em que o Governo concedeu cidadania temporária a todos os requerentes de asilo para poderem aceder livre e gratuitamente a todos os serviços públicos, vieram a lume as condições precárias em que muitos migrantes vivem na cidade de Lisboa, encafuados em hostels sem a mínima capacidade de resposta, o que acabou por correr muito mal, como sabemos. E é nos países de acolhimento que o desafio é especialmente difícil: desmistificar a ideia da subsídio-dependência dos refugiados e de aproveitamento de recursos dos países que os recebem. Vários estudos indicam que o investimento inicialmente feito é rapidamente reposto após 2 anos, com retorno para a economia e diminuição das taxas de desemprego graças ao acolhimento e às políticas de integração.

Os tratamentos para esta doença são vários mas a primeira terapêutica é simples: aceitar que uma vida é sempre para salvar, aceitar que qualquer pessoa, seja cigana, branca, preta, muçulmana ou homossexual deverá ter as mesmas oportunidades que todas as outras, e aceitar que todas merecem uma vida: que a Julia poderá um dia ter trabalho e ser mãe, mesmo tendo fugido da sua casa a arder no Congo, que o Abdullah poderá um dia ser advogado para fazer justiça aos que foram tremendamente injustos com ele, e para que a cada dois segundos não haja uma nova Julia, um novo Abdullah neste mundo, cujos sonhos são destruídos por uma Europa inerte e por um mundo que vê num vírus uma desculpa para deixar de cuidar e olhar pelo outro e não uma alavanca para a igualdade e dignidade de todas as vidas.

Nos três minutos que demorou a ler este texto, cerca 90 pessoas foram obrigadas a fugir de casa, só com uma mochila às costas. Lembremo-nos delas hoje, para que possam crescer além do seu passado e recomeçar de novo, com dignidade e humanidade, em Portugal, na Europa ou em qualquer outra parte do mundo. Porque enquanto houver vontade, união e esperança, haverá sempre um porto seguro para vocês.»

Sebastião Castanheira Martins

Portugal não é Lisboa. O melhor é a paisagem

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Filipe Garcia

Filipe Garcia

26 JUNHO 2020

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O país continua em Alerta, Lisboa em Contingência, mas em 19 das suas freguesias o estado ainda é de Calamidade. Lá de fora, o coro de elogios tornou-se num nem sempre discreto sussurro, afinal o milagre português ainda está longe de poder ser celebrado. “O Covid não desapareceu. Não vai desaparecer enquanto não houver um remédio ou estarmos todos vacinados”, avisou o primeiro-ministro, também num tom bem diferente do usado em tempos de confinamento. Agora os elogios ao civismo dos portugueses ficaram para segundo plano, agora a mensagem a passar é outra – ou a original. A ordem volta a ser para “ficar em casa sempre que possível”, disse António Costa, negando no entanto que os dias sejam de arranque da temida segunda vaga. Mas as regras vão mesmo mudar.

Entre Lisboa, em particular nas 19 mais desafortunadas freguesias, o controlo será mais apertado a partir do dia 1 de julho. Justiça cósmica, depois de ter entrado em confinamento com números bem melhores que os registados a Norte? Sinal da baixa densidade populacional do país que vive distante das suas duas maiores cidades? Ou um bom indicador da falta de condições de habitação, transportes públicos e condições de trabalho em que vive grande parte da população de Lisboa?

Enquanto dirigentes políticos procuram acertar discurso e passo, tanto o político como o do desconfinamento, enquanto a ciência procura a cura, pelas ruas, empresas e pelos sofás transformados em gabinetes todos procuram novas formas de funcionar. Pequenos prazeres, escapes, que permitam controlar os estragos de uma pandemia cujo fim ainda ninguém arriscar prever. No Expresso, contamos-lhe tudo. Porque em Lisboa a situação é “manifestamente distinta” do resto do país. Só não se sabe porquê, assim como todas as diferentes regras que estarão em vigor no país. Também lhe contamos a dimensão de As mazelas da Covid - Há pessoas que mal conseguem falar, têm exaustão extrema, desequilíbrio e apenas recordações vagas do que aconteceu”. Descanse que logo lhe contaremos com que custos e como se ultrapassou a pandemia. Para já desfazemos o velho ditado alfacinha. Se alguém ainda duvidava, Portugal não é mesmo Lisboa e a verdade é que, como nunca, quanto mais rodeado pela paisagem melhor.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

UE põe fim aos entraves à acessibilidade

De  Efi Koutsokosta  & Euronews  •  Últimas notícias: 24/06/2020 - 19:26

Em parceria comThe European Commission

UE põe fim aos entraves à acessibilidade

Direitos de autor euronews

Atualmente existem 120 milhões de europeus com algum tipo de deficiência, em parte devido ao aumento da percentagem de população idosa. Após dez anos de negociações, a União Europeia (UE) adotou o primeiro quadro jurídico para os requisitos comuns de acessibilidade, a chamada Lei de Acessibilidade da União Europeia. A diretiva comunitária terá de ser integrada na legislação nacional de todos os Estados-membros até 2022.

A acessibilidade é uma condição fundamental para beneficiar de direitos essenciais, como o acesso ao local de trabalho, à educação, a serviços públicos, à livre circulação, ou ao lazer.

Os Estados-membros da UE costumavam ter apenas as suas próprias leis e regras internas em matéria de acessibilidade e ainda hoje pessoas com deficiência continuam a enfrentar obstáculos no acesso a serviços fundamentais.

Com a nova diretiva comunitária, a União Europeia quer que os Estados-membros tornem os produtos e serviços mais acessíveis no mercado comum, eliminando ao mesmo tempo as dificuldades decorrentes da existência de diferentes regras nacionais.

Varsóvia, a cidade inclusiva

As organizações para os direitos das pessoas com deficiência descreveram a adoção da Lei de Acessibilidade da União Europeia como um passo histórico.

No entanto, foi um processo moroso e os portadores de deficiência alertam para um longo caminho que ainda há a percorrer para que haja igualdade de acesso e de oportunidades.

Varsóvia, a oitava maior cidade da Europa, foi reconstruída após a 2.ª Guerra Mundial sem pensar na acessibilidade para todos. Mas a realidade tem mudado nas últimas décadas, nesta cidade em rápido crescimento.

Konrad Rychlewski vive na capital polaca, é programador digital e deficiente visual. Apesar de algumas barreiras que ainda persistem, anda facilmente nos transportes públicos.

"Há o metro, o novo eléctrico, algumas paragens dos elétricos e de metro foram reformuladas. A segurança é o primeiro benefício. A expansão do número de semáforos com sinal auditivo, a possibilidade de circular de forma independente, equipara a minha qualidade de vida à qualidade de vida de um cidadão comum".

Konrad gostaria, contudo, que a cidade fosse pensada para todos os peões, com melhores pavimentos e menos carros. Mas com a ajuda de tecnologia, como os leitores de ecrã, Konrad pode trabalhar, fazer compras e gerir sozinho a própria vida financeira e administrativa.

Também Katarzyna Bierzanowska, intérprete por conta própria, defende que acessibilidade significa um estilo de vida integrado e ativo.

"Para mim é realmente mais fácil aceitar alguns trabalhos quando os eventos são mais acessíveis. Também posso ser mais participativa como ativista, formadora, ou simplesmente como pessoa, porque posso encontrar-me os meus amigos em ambientes diferentes", conta.

A acessibilidade é a área onde as despesas da cidade são mais elevadas, representando milhões de zlotys por ano em transportes públicos adaptados, um espaço público e espaços culturais sem barreiras e instalações especiais.

Este ano, Varsóvia ganhou o prémio "Access City Award", em reconhecimento aos esforços da cidade para se tornar mais inclusiva.

O vice-presidente da autarquia, Pawel Rabiej, afirma que "tudo isto é graças a três décadas de trabalho árduo". De acordo com o autarca, "tudo o que for construído de novo em Varsóvia tem de cumprir as normas de forma a já não apresentar obstáculos" aos cidadãos.

"Queremos que Varsóvia seja uma cidade para todos, E isso também se aplica às pessoas com deficiência. Queremos que elas possam tirar pleno partido do potencial que Varsóvia cria", defende.

Infraestruturas, obstáculos por vencer

Em Bruxelas, a capital da tomada de decisões da União Europeia, Nadia Hadad, é membro do Conselho Executivo do Fórum Europeu das Pessoas com Deficiência, uma organização que trabalha em prol dos direitos dos deficientes.

Engenheira de profissão, Nadia é triplégica e apesar de reconhecer os benefícios trazidos pela nova lei, aponta as fragilidades que ainda existem para a sua aplicação.

"A Lei de Acessibilidade da União Europeia, criada agora tem feito muito pelo mercado digital, pelos serviços digitais, mas, infelizmente, ainda falta cumprir requisitos em infraestruturas, nos transportes públicos, de espaços públicos, máquinas de multibanco. Não se sente muito progresso porque a infraestrutura ainda não é acessível, ainda não consigo apanhar o metro como quero. Em Bruxelas, preciso de duas pessoas para colocar uma rampa à minha frente para que tenha acesso ao metro; elas viajam comigo até à estação e depois, de novo, colocam a rampa para me deixarem sair".

Acesso ao mercado de trabalho

Katrin Langensiepen é a primeira e única mulher com algum tipo de deficiência visível a ser eleita para o Parlamento Europeu.

De acordo com a eurodeputada do grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia, "quase não existem oportunidades de emprego para as pessoas com deficiência, [sendo] frequente as empresas gostarem de pagar a taxa de indemnização, em vez de pagarem uma multa, em vez de formarem ou contratarem alguém com deficiência".

A legislação e as resoluções da União Europeia existem, mas as decisões acabam sempre por ser tomadas pelos governos nacionais.

Katrin Langensiepen acha "muito embaraçoso para um país industrializado e tão rico como a Alemanha", ter "falta de trabalhadores qualificados", sem pensar "como é a situação do mercado de trabalho para as pessoas com deficiência, especialmente quando se trata de mulheres".

Katarzyna, Konrad, Nadia e Katrin lutam por uma vida mais acessível, um caminho pela igualdade, onde - todos concordam - os preconceitos, a segregação e a falta de visibilidade constituem os principais obstáculos.