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segunda-feira, 29 de junho de 2020

Uma cagada de R$ 273 milhões

Segunda-feira, 29 de junho de 2020

O governo de Jair Bolsonaro escancara diariamente como era bravata quando nos contavam sobre os militares serem preparados, moderados e imunes à corrupção.
Já nos acostumamos a ver os generais palacianos baixarem a cabeça para os delírios do presidente e silenciarem diante dos casos suspeitos de corrupção da primeira-família. O general que ocupa interinamente o Ministério da Saúde também demonstrou não ter vergonha de omitir dados com a finalidade de preservar a imagem do governo.
Em meio à pandemia, o Exército censurou o termo 'isolamento social' em suas comunicações, estimulou surto de coronavírus em abrigo de refugiados para 'imunizar a tropa' e, de moderado, passou a cúmplice do extremismo de Jair Bolsonaro.
Em mais um capítulo sobre como funciona a relação entre as Forças Armadas e a política, o Intercept mostra hoje com exclusividade como o TCU prepara a absolvição de oficiais do Exército que jogaram no lixo R$ 273 milhões do dinheiro público.
O escândalo envolve quatro militares que respondem a processo: os generais Fernando Sérgio Galvão, Sinclair James Mayer e Guilherme Theophilo e o tenente-coronel Ângelo José Penna Machado. São eles os responsáveis pelo que os técnicos do tribunal chamaram de “erros grosseiros” na condução de contrato de mais de R$ 5 bilhões para a compra de blindados.
É, no mínimo, uma sucessão de bobagens e erros que se arrasta há anos e envergonharia o Sargento Pincel, aquele dos Trapalhões. O TCU já definiu que o prejuízo não pode ser recuperado. Resta à sociedade cobrar para que os responsáveis sejam punidos. A depender das relações que os fardados mantêm em Brasília, esta é mais uma história que caminha para acabar em pizza. O repórter Rafael Neves descobriu e conta essa história.

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Rafael Moro Martins
Editor contribuinte sênior

domingo, 28 de junho de 2020

Not clean, not safe

por estatuadesal

(Clara Ferreira Alves, in Expresso, 27/06/2020)

Clara Ferreira Alves

Agora, os mesmos que disseram que éramos um destino de eleição para as férias inglesas, ou britânicas, dizem que somos pestíferos. Em vez do recorte da Praia da Rocha com água verde-esmeralda, vêm os números da peste.


Não somos o Estado pária, estamos logo abaixo do Estado pária. A Suécia. Os entusiasmados do costume, mais ou menos os mesmos que se comoveram com a vitória de Trump com o voto das massas, humedeceram os olhos com a “experiência sueca”. Sem tomarem medidas de confinamento ou proteção, sem fecharem a economia, os suecos guiados por um único epidemiologista e as suas teorias esdrúxulas sobre a imunidade de grupo, ou de manada, ordenaram a eugenia. Os velhos internados com 65 anos ou mais foram abandonados, ordens para não serem tratados ou assistidos, acabando por morrer na solidão e na agonia, visto que dois terços dos trabalhadores dos lares desertaram quando a epidemia atingiu o sector. Dois terços. A Suécia exibe agora um número de mortos muito superior ao dos civilizados vizinhos, a Noruega e a Dinamarca, e tem a entrada barrada em todos os países europeus. Se fossem os alemães a tentar a experiência, não faltariam os gritos e acusações de nazismo e ressuscitação de Goebbels. Sendo os suecos, bom, sendo os suecos, torna-se um sinal de uma superior civilização.

Em Portugal, somos grandes admiradores das civilizações superiores, praticamente todas as dos países mais ricos do que o nosso. Assim se explica a quantidade de notícias em jornais portugueses sobre jornais estrangeiros que publicam notícias sobre portugueses. O “Sunday Times” disse, o “Telegraph” disse, e inchamos o peito de orgulho com a distinção. Pode ser uma notícia com três parágrafos, nós nos encarregaremos de a dilatar. Pode ser uma notícia falsa, ou mal informada, nós nos encarregaremos de a reproduzir, porque estas breves contribuem para a chamada autoestima dos heróis do mar.

Agora, os mesmos que disseram que éramos um destino de eleição para as férias inglesas, ou britânicas, dizem que somos pestíferos. Em vez do recorte da Praia da Rocha com água verde-esmeralda, vêm os números da peste. Os novos surtos. Em compensação, a Espanha aparece como o eldorado, aberto a receber as hordas da cerveja e do peixe frito, do vinho reles e da salsicha. Vivam Benidorm e Torremolinos, abaixo a Quarteira e Albufeira. Como é que isto nos aconteceu? Simples, bastava termos mentido. Uma criança saberia como fazer.

Recapitulemos. Ainda não há muito tempo, a Espanha estava carregada de mortos, de infetados e de problemas. Tivemos de os defender dos holandeses. Os números eram tão superiores e as medidas tão desordenadas que as “autoridades espanholas”, uma coisa que ninguém sabe bem o que seja, decidiram fechar as fronteiras não as abrindo tão cedo. A fronteira com Portugal foi fechada de um dia para o outro e sem comemorações, cada país tratou de si como pôde. É o período do chamado “milagre português”, tão grande como o de Fátima e tão mitificado como este. A fé tem muita força.

O tempo foi passando, as autoridades portuguesas, que são muitas e várias, entrando em contradição, disseram que podíamos sair de casa. Numa praia onde num dia não podiam estar dez pessoas juntaram-se 180 mil, com a augusta presença do senhor primeiro-ministro. Sem transição e sem raciocínio logístico. Confina, desconfina, vamos festejar. Em Espanha, tudo continuava na mesma. Mal.

É possível que tenha sido uma invenção nossa, na sequela de corredores entre países com baixa taxa de infeção. Enquanto os outros abriam corredores seguros, éramos o único país do mundo a querer negociar e abrir um corredor com os inseguros ingleses. O primeiro e único. A Grécia disse que não abriria, para não borrar a pintura dos campeonatos de infeção e mortalidade, e a Espanha secundou. A decisão portuguesa parecia assim deslocada e imprudente. O “Telegraph” publicou uma notícia a dizer que Portugal era bestial. A seguir, veio a quarentena inglesa, que a gente do turismo e da aviação aguentou e vituperou. Orgulhosamente sós, perseverámos na negociação do corredor, e parece que estava a correr bem, o Boris aceitava, o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros rejubilava com este negócio estrangeiro. Criámos o selo Clean & Safe e prometemos desinfetarmo-nos bem para receber hóspedes de um país com uma taxa de mortos e infetados tão grande que era a primeira do espaço europeu. Pior que a Espanha e a Itália. Ia ficar tudo bem.

Entretanto, de Espanha chegaram mudanças repentinas nas datas de reabertura da fronteira com Portugal, sem comunicação prévia aos portugueses. Assentou-se o 1 de julho, e os portugueses ficaram todos contentes, a coisa ia meter chefe de Estado e primeiro-ministro. Do lado de lá, o rei, muito útil justamente para cerimónias destas. Ia ficar tudo bem.

Não ficou. Enquanto o desconfinamento acelerado nos trazia mais mortos e infetados, a Espanha aparecia com zero mortos. De um dia para o outro, zero mortos. Zero tudo, os números não atinavam. Enquanto exibia zero mortos, a Espanha ia negociando um corredor com os ingleses, prometendo a abertura de fronteiras. Numa clara operação de propaganda, a Espanha passou-nos a perna, como de costume, e anunciou que estava aberta para o turismo além-mancha, o alemão, o que se quisesse. O “The Guardian” noticiou a coisa, como um acontecimento grandioso, o “Telegraph” também. ABRIRAM. Ninguém falou mais de Portugal, que continuava aberto, nunca fechou, mas sem corredor, à espera da cerimónia fronteiriça. E até a Grécia, tão sóbria, tão fechada a infetados, resolveu abrir o corredorzinho com os ingleses e colocar Portugal na lista negra, numa operação de concorrência desleal que brada aos céus. Chama-se a isto, em bom português, esperteza saloia.

Entretanto, por aqui, negociando a final do Champions, com as autoridades aos saltinhos, deixámos a coisa descambar e a Europa virou-nos as costas. Estado pária, abaixo da Suécia. A Grécia e a Espanha tinham agora o verão desimpedido pela concorrência portuguesa. A Espanha passava por imaculada, mas a versão estava tão estragada como a Imaculada Concepção de Murillo desfigurada por um carniceiro armado em restaurador de arte antiga.

Ou seja, a Espanha mentiu. Mentiu sobre os mortos e infetados porque sonegou os números durante 12 dias, 12, camuflando a desonestidade com a desculpa de que estava a rever os “critérios de contagem”.

O “The Guardian” fez mais uma notícia dizendo que a direita espanhola atacava o Governo com isto, como se o argumento fosse uma invenção política. A Espanha reviu os números, e não eram bonitos. Continuavam as mortes. Por cá, tratando-se de um Governo amigo, socialista, de esquerda, optou-se por enterrar o assunto. E continuamos na lista negra, à espera da fotografia com o rei, em que, para a coisa ser devidamente oficializada no dia 1 de julho, se aconselha o uso de um barrete bem enfiado na cabeça dos nossos chefes de Estado. Para cúmulo, o britânico país mais infetado da Europa veio rever a sua apreciação de Portugal e disse que considerava pôr o nosso país na lista negra, arredando a hipótese de um corredor aéreo ou do turismozinho em Portugal.

Logo fazerem-nos isto a nós, os mais velhos aliados, que pusemos um enfermeiro português a oxigenar o Boris Johnson. E quando encomendámos tantos selos Clean & Safe.

Nota: Escrito na quarta-feira. Pode ser que no sábado nos tenham perdoado. Ele há milagres.

Elogio e louvor da noite de S. João no Porto

por estatuadesal

(José Pacheco Pereira, in Público, 28/06/2020)

Pacheco Pereira

Domar a noite de S. João, como aconteceu há dias, é obra. E domá-la pela responsabilidade é ainda maior obra.


O dia mais democrático de Portugal é uma noite, a noite de S. João no Porto. Nessa noite acontece uma coisa única na Europa, uma cidade inteira sai à rua. Há sítios preferenciais como as Fontainhas, como nos bairros populares no S. António em Lisboa, mas o que torna a noite diferente é um fluxo humano de dezenas de milhares de pessoas que se desloca como um rio pelas várias ruas de centro. O que fazem? Nada a não ser meterem-se uns com os outros, antes com os alhos porros, ou com ramos aromáticos, antes de aparecer essa coisa sinistra que são os martelinhos. Ninguém escapava e ninguém protestava.

Só houve uma noite de S. João fora da noite de S. João, o dia em que a cidade saiu à rua para esperar Humberto Delgado, naquilo que não foi uma manifestação mas uma sublevação. Aliás, a noite de S. João era antes do 25 de Abril, um momento ideal para distribuir panfletos clandestinos, muitas vezes no formato das quadras populares. Dito isto, domar a noite de S. João, como aconteceu há dias, é obra. E domá-la pela responsabilidade é ainda maior obra.

Seria uma coisa sem pés nem cabeça estar agora a fazer uma geografia da responsabilidade, dizendo que o Norte se porta bem nas restrições da pandemia e o Sul pelo contrário. Essas fracturas são de outra natureza, etárias, sociais, habitacionais, todas adensando-se em Lisboa, mas a verdade é que também existem no Porto. Seja como for, parabéns aos “tripeiros”, numa cidade tão pouco conhecida em Lisboa.

Pobre Lisboa

Posted: 27 Jun 2020 03:49 AM PDT

«Os incêndios de 2017 revelaram um país com grande parte do território abandonado, sem pessoas nem atividades económicas, envelhecido e deslaçado. Não foi o progresso e a desruralização que o esvaziou. Foi o imparável minguar das cidades médias, de que dependem os territórios que estão entre elas. As autoestradas que se fizeram e as linhas férreas que se destruíram são uma pequeníssima parte do debate, porque de pouco servem se não servirem economia nenhuma. Um país que perde indústria, agricultura e economia de proximidade está destinado a destruir a sustentabilidade do seu território.

O resultado disto foi um crescimento unipolar, concentrado em Lisboa. Em “Cuidar de Portugal” (Almedina), José Reis descreve o processo: entre 2001 e 2018, a população da Área Metropolitana de Lisboa cresceu 6,3%, enquanto o Norte teve uma queda demográfica de 1,3%, o Centro de 5,7% e o Alentejo de 9,1%. Até o Algarve, que costumava crescer, começou a perder população em 2011. Sete concelhos de Lisboa cresceram mais de 18%, 140 do resto do continente perderam entre 10% e 40% da população. Durante este período, a especulação imobiliária e o turismo também expulsaram os lisboetas da capital. Formou-se um ‘donut’, cada vez mais denso nas periferias e vazio no seu núcleo. É nessas periferias sobrelotadas que se encontram os que abandonaram o resto do país, os que foram expulsos do centro da cidade e os imigrantes. Mal servidas de transportes, de ordenamento e de habitação de qualidade, acumulam pobreza e exclusão. É por isso que a polémica em torno da redução dos preços dos passes sociais, tratada como mais uma benesse a Lisboa, foi tão imbecil. Os pobres das periferias da capital são a consequência do abandono do resto do país.

Acreditar que umas quantas festas ou o exemplo de políticos explica a concentração de surtos em freguesias da coroa norte da periferia da capital é conhecer mal a região onde se acumula quase um terço da população nacional. Enquanto os surtos iniciais no Norte foram em lares de idosos ou importados, graças à indústria exportadora, o padrão dos novos infetados de Lisboa são pobres, trabalhadores precários e população migrante, obrigados ao uso de transportes públicos desadequados e a viver em casas sobrelotadas. Sobretudo jovens adultos, o que explica a baixa letalidade. E com prevalência inicial em plataformas logísticas, com trabalho desqualificado. Este perfil é o de uma região que continua a ser tratada, no discurso público, como privilegiada. Não percebem que a riqueza de Lisboa esconde as maiores bolsas de desigualdade do país. O debate partidário vê as consequências dos incêndios de 2017 e do desconfinamento de 2020, muito mais grave as primeiras do que as segundas, como um sinal de incompetência do Estado. Mas é mais profundo do que isso. São dois retratos sociológicos da mesma realidade: um país que perdeu a sua capacidade produtiva na indústria e na agricultura e depende cada vez mais de serviços desqualificados. Por isso, expulsa gente do conjunto do território e concentra-a à volta de uma cidade inacessível. A esta tendência, que se agravou nas duas últimas décadas, chamamos de subdesenvolvimento.»

Daniel Oliveira

sábado, 27 de junho de 2020

JOHN BOLTON ESTÁ CONTANDO A VERDADE, MAS NÃO PODEMOS ESQUECER DA SUA CARREIRA TERRÍVEL E PERIGOSA

Jon Schwarz

22 de Junho de 2020, 17h42

O NOVO LIVRO de memórias de John Bolton sobre seus dias no governo Trump, “The Room Where It Happened” [A sala onde tudo aconteceu, sem edição brasileira], é um relato preciso do que ele viu na Casa Branca como consultor de segurança nacional? A resposta, quase certamente, é que sim, tornando-o um registro histórico valioso. Os jornalistas devem estar particularmente interessados em saber que Donald Trump disse que nós deveríamos “ser executados”.

Podemos acreditar no que Bolton diz não porque ele tenha um longo histórico de honestidade. Pelo contrário, ele é um dos indivíduos mais enganadores a ocupar altos cargos nos EUA. No entanto, Bolton também é extremamente inteligente para os padrões da direita, e tem um profundo senso de interesse próprio. Suas mentiras no passado sempre foram sobre pessoas e países mais fracos do que ele, que não podiam cobrar um preço por sua desonestidade. Por outro lado, quando Bolton ataca quem é mais poderoso que ele, como um presidente ainda no cargo, podemos ter certeza que ele tem o cuidado de contar com a realidade ao seu lado.

Mas, quaisquer que sejam os méritos do novo livro de Bolton, é importante lembrar que ele não é um herói da verdade. A seguir, uma breve lista de algumas das suas ações terríveis ao longo de uma duradoura e destrutiva carreira.

  • Bolton apoiou com veemência a Guerra do Vietnã, mas também se opôs com veemência à ideia de ter que combater nela. Antes de se formar em Yale, ele se alistou na Guarda Nacional de Maryland para garantir que evitaria o combate. Mais tarde, ele explicou: “eu não queria morrer em um arrozal do Sudeste Asiático”, sugerindo que estava oferecendo generosamente a oportunidade para quem efetivamente quisesse morrer dessa forma. Bolton logo deixaria a Guarda Nacional para estagiar no gabinete do então vice-presidente Spiro Agnew.
  • Talvez o impacto mais poderoso de Bolton na política norte-americana seja o mais antigo e menos conhecido de todos: seu papel como um iniciante advogado de direita destruindo as reformas no financiamento de campanha do pós-Watergate. Em suas memórias, Bolton escreve orgulhosamente sobre seus esforços no processo Buckley contra Valeo, que resultou em uma decisão da Suprema Corte de 1976 mais importante que a do caso Citizens United. A decisão estabeleceu limites para gastos com financiamento de campanha e autofinanciamento por candidatos super-ricos. Como Bolton explica: “todos sabiam que a decisão em Buckley contra Valeo poderia determinar (…) a forma futura da política americana”. Ele estava certo. Sem esse caso, Donald Trump nunca seria capaz de gastar dezenas de milhões de dólares do próprio bolso para ser eleito e, depois, contratar Bolton.
  • Bolton ocupou vários cargos diferentes no governo Reagan nos anos 1980. Uma obsessão do governo estava matando as regulamentações internacionais sobre o comércio de fórmulas para bebês em países sem água potável. Uma subordinada escreveu mais tarde que, quando se recusou a ajudar nesse projeto, Bolton “gritou que a Nestlé era uma empresa importante e que ele estava me dando uma ordem direta do presidente Reagan”. Ele então tentou demitir a funcionária e, quando não pôde fazer isso, fez com que ela fosse realocada para um escritório no porão.
  • Bolton ingressou no governo George W. Bush como subsecretário de estado para o controle de armas. Em 2002, ele declarou que Cuba tinha um programa ofensivo limitado de armas biológicas. Quando um analista do Departamento de Estado contestou o teor mais forte utilizado em um rascunho anterior do discurso, Bolton (como de hábito) tentou fazer com que o analista fosse demitido.
  • Nesse mesmo ano, Bolton conseguiu que o diplomata brasileiro José Bustani fosse removido de seu cargo de chefe da Organização para a Proibição de Armas Químicas, a OPAQ. “Nós sabemos onde seus filhos moram”, disse Bolton a Bustani quando tentou convencê-lo a sair. “Você tem dois filhos em Nova York”. O pecado de Bustani foi convencer o Iraque a assinar o tratado internacional de proibição de armas químicas. Isso, por sua vez, levaria a inspeções intrusivas da OPAQ, o que teria demonstrado que o Iraque não tinha arma alguma. Do ponto de vista de Bolton, esse seria o pior resultado possível, pois dificultaria um ataque dos EUA ao Iraque.
  • Em 2015, Bolton escreveu um artigo no New York Times com o título “Para parar a bomba do Irã, bombardeie o Irã”. Ele estava cheio das falsidades características de Bolton, tudo para defender uma guerra não provocada.
  • Pouco antes de Trump trazer Bolton para o seu governo em 2018, Bolton escreveu um artigo para o Wall Street Journal pedindo mais uma guerra não provocada, desta vez com a Coreia do Norte. Nele, Bolton argumentou que os presidentes agora deveriam poder ignorar a cláusula dos poderes de guerra da Constituição, que reserva ao Congresso o direito de declarar guerra, assim podendo atacar outros países sempre que desejarem.

E isso mal passa da ponta do iceberg da cruzada de extrema direita que Bolton promoveu durante toda a vida. Provavelmente levaremos anos até ter uma dimensão completa de suas ações como consultor de segurança nacional. Mas, em certo sentido, a expulsão de Bolton do governo Trump mostra quão bem sucedido ele tem sido. Como muitos revolucionários extremistas, ele triunfou e depois descobriu que as pessoas que finalmente tomaram o poder no caos não compartilharam seus objetivos e, finalmente, decidiram que ele próprio deveria ser expurgado.