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terça-feira, 30 de junho de 2020

“Cancel” contra as “Destemidas”

por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 29/06/2020)

Daniel Oliveira

A direita conservadora consegue ter, em simultâneo, dois discursos: o que ataca o "marxismo cultural”, uma mixórdia ignorante que tenta dar nome ao facto de a esquerda estar, como a direita, na disputa do espaço público e das instituições; e a revolta contra a "cancel culture", adaptação de um termo juvenil para o processo pelo qual o “politicamente correto” combaterá, por via da sociedade civil e geralmente nas redes sociais, valores que lhe desagradam.

Note-se que esta franja da direita ultraconservadora, cada vez mais hegemónica no seu espaço político, considera como valores da esquerda ou mesmo marxistas (têm um olhar benigno da história do movimento marxista) os valores da tolerância com modos de vida e orientações sexuais diferentes dos maioritários. Aqueles que estão, aliás, inscritos na nossa Constituição. Em resumo: os mesmos que querem afastar de todo o espaço gerido pelo Estado valores constitucionais, revoltam-se por cidadãos se mobilizarem contra uma mensagem que os repugna. Censura de Estado, excelente; censura social, claustrofóbica.

Na semana passada assistimos, no entanto, à mais descarada campanha de “cancel culture”. Foi contra a série de animação “Destemidas”, dirigida ao público infanto-juvenil. A produção da France Télévision e apoiada pela União Europeia, muito premiada e transmitida em várias televisões (sem que nunca a sua transmissão tenha sido suspensa, que eu saiba), está a passar na RTP 2. Conta a vida de várias mulheres que desafiaram as convenções ao longo da História. O que levou à polémica foi o episódio sobre Thérèse Clerc, uma feminista francesa homossexual que lutou pela legalização do aborto. Os indignados não se limitaram a criticar a série, exigiriam censura. O que é curioso é esta pressão, em parte bem sucedida, ter sido veiculada pelas mesmas pessoas que passaram o último mês a dizer que havia quem quisesse apagar a História.

Admitindo a possibilidade de se ter perdido, na dobragem, a adequação da linguagem ao público mais jovem, é importante deixar já clara uma coisa: os programas infantis e juvenis, mesmo na televisão pública, não têm de agradar a todos os pais nem de veicular valores em que todos eles se reconheçam. Isso tornaria impossível qualquer série. A maioria dos desenhos animados, mesmo os que parece banais aos olhos de muitos, transmitem valores sobre o papel do homem e da mulher que me desagradam. Se respeitarem a lei, não ando a pedir que sejam retirados. Só espero uma televisão plural onde também caibam os valores que quis transmitir à minha filha e quererei transmitir aos meus netos. E é isso mesmo que me querem recusar. Que o meu mundo, aquele que desejo para a minha filha, e que ainda por cima está totalmente sintonizado com os valores constitucionais, não tenha lugar na televisão pública.

Já quem diz que não aceita que pessoas com determinados valores formem os seus filhos por via da televisão vive num equívoco: os programadores de televisão não substituem os pais. São os pais que decidem o que os seus filhos veem, com que idade veem e se precisam de acompanhamento para verem. Ninguém obriga os seus filhos a ver aquela série. O que eles querem é proibir os meus de a verem. Eles podem limitar o que os seus filhos veem, mas desejam limitar o que os meus veem. A razão porque querem proibir aquele episódio não é a necessidade de proteger os seus filhos – basta mudarem de canal –, é retirar do espaço público um ponto de vista de que discordam.

Resolvida a questão das crianças e adolescentes, que só é questão para quem quer que a televisão substitua os pais, o que quer dizer que se preocupa pouco com a educação dos filhos, resta o facto de aquilo passar na televisão pública. A televisão pública é um espaço plural, não transmite um olhar único sobre a sociedade. Transmitia os programas de José Hermano Saraiva, com olhar ultrapassado do ponto de vista científico e académico sobre a História. Transmite todas as semanas uma missa católica, apesar de o Estado ser laico. Transmite imensas coisas de que discordo. E devo recordar que, como eles, também pago impostos e financio a RTP. A fronteira é, para mim, a Constituição. Esta série respeita-a integralmente.

Não gosto do conceito de “cancel", pelo menos como tem sido adaptado para o confronto político e cultural. Não gostar dele não o torna ilegítimo. As pessoas têm o direito à indignação organizada. Essa é a contrapartida de leis liberais no que toca à liberdade de expressão. O que não suporto é sonsos. E tenho memória. A “cancel culture” sempre existiu. Foi ela que se mobilizou para impedir a exibição de "Je Vou Salue, Marie", de Godard, na Cinemateca; para censurar “A Última Ceia”, de Herman José; contra a transmissão do “Império dos Sentidos”, no canal 2; contra o cartoon de António em que o Papa aparecia com um preservativo no nariz; contra a aparição de Rui Tavares na telescola, por ser um historiador de esquerda; ou contra este episódio das “Destemidas”. Foi ela que tentou e continua a tentar impedir a chegada de outros mundos ao espaço público. E apesar do discurso instalado contra um “politicamente correto” irrelevante em Portugal, são os sectores ultraconservadores que têm revelado uma permanente vontade de calar aqueles de que discordam. Incluindo a sua História.

Dito isto, quero que fique claro: os valores não valem todos o mesmo. A tolerância não vale o mesmo que o ódio, a igualdade não vale o mesmo que a supremacia, a liberdade não vale o mesmo que a opressão, a misoginia, o racismo e a homofobia não valem o mesmo que os valores inscritos na nossa Constituição. Pelo menos para o Estado, para as suas escolas e para a sua televisão. Não se chama marxismo cultural. Chama-se democracia. Aquela que, ao contrário do que disse Bolsonaro, não permite que a maioria esmague as minorias.

Cidadania digital sem Estado

Posted: 29 Jun 2020 03:40 AM PDT

«Amanhã é o Dia Mundial das Redes Sociais. Se no passado foi importante avaliar o perigo do excesso do seu uso, no presente faz sentido questionar se as democracias se ajustaram à cidadania digital.

Não são só os fenómenos Donald Trump ou as milícias digitais de Jair Bolsonaro que merecem reflexão. Os estados necessitam de reformar as suas práticas online, sob pena do fosso entre eleitos e eleitores aumentar. Em Portugal, 95% dos cidadãos fazem login numa rede social uma vez por dia e, naturalmente, ninguém ficou com dúvidas que as redes foram uma mais-valia durante o período de confinamento. Mais do que afastar quem está perto, como tantas vezes são acusadas, aproximaram quem está longe. Tornaram-se ainda mais transversais. Fizeram com que o isolamento fosse menos penoso para muitos idosos. Foram ainda fundamentais no networking, aliadas na "escola em casa" e, em muitos casos, a única oportunidade para os negócios e para as manifestações culturais. Se já eram ferramentas poderosas, tornaram-se engrenagens essenciais. Em resumo, permitiram manter o contacto com o Mundo e o Mundo em contacto e minimizaram o seu lado mais obscuro.

Mas será que os poderes, os decisores, os políticos em geral estão e querem compreender esta cidadania digital ou só lhes convém a maior visibilidade mediática que as plataformas lhes conferem?

E como é que as democracias vão lidar com fenómenos complexos quando já todos percebemos que os extremistas sabem tirar mais proveito das redes do que os seus opositores? E ficarão sempre dependentes da autorregulação dos gigantes tecnológicos e de umas cosméticas em prol da privacidade, da segurança e da liberdade de expressão das comunidades? Continuarão ainda com leis fiscais obsoletas e à mercê das artimanhas dos líderes do digital?

A presença e ação do Estado na rede é anacrónica, desajustada e tímida. Até mesmo na gestão de crises, não aproveitando as potencialidades óbvias. Recordemos os incêndios de 2017 e agora a pandemia. Basta contar quantas aplicações institucionais temos instaladas nos smartphones para o perceber ou enumerar quantas vezes vimos organizações do Estado no nosso feed.»

Manuel Molinos

Férias pouco felizes

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João Silvestre

João Silvestre

Editor de Economia

30 JUNHO 2020

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Bom dia,
Lembra-se da discussão quase interminável sobre a saturação do aeroporto de Lisboa e da urgência de encontrar rapidamente uma solução? Que Portugal perdia milhões de turistas por causa das limitações da Portela? É coisa do passado. Já não existe. O que se passa hoje é o oposto: os voos são escassos, os aeroportos estão quase às moscas e o turismo espera (e desespera) por clientes. Este é um verão diferente de todos os que conhecemos.
Ainda não foi ontem que conhecemos a lista negra dos países que não vão ter corredor com o Reino Unido. Portugal pode estar na lista, o que implica que, quem optar por visitar o nosso país, terá uma quarentena à espera no regresso a casa. A decisão foi adiada para o final da semana. Mas o setor do turismo já faz contas aos potenciais estragos. Os turistas britânicos valem 3,8 mil milhões de euros só nos meses de julho e agosto e, ao longo de um ano, representam quase um quinto das exportações de turismo (17,8%).
No Algarve, onde o mercado britânico é fundamental, espera-se uma crise dramática, como contava o Expresso na edição do último sábado. Os cancelamentos acumulam-se com os turistas dependentes de saber sobre a abertura das rotas aéreas. Portugal é um dos países europeus onde o turismo tem maior peso no PIB e isso torna-o mais exposto aos efeitos da covid-19 e ao congelamento do setor, como revelava recentemente um estudo do Banco Central Europeu.
Angola irá ficar fora da lista dos países a quem a Europa irá abrir as portas. Mas não está sozinha: há mais 150 países na mesma situação. Já os portugueses podem visitar Espanha a partir de 1 de julho mas, antes, devem ler esta reportagem do correspondente do Expresso em Madrid, para saberem o que os espera.
Também a TAP foi apanhada nesta crise e está praticamente parada, enquanto se aguarda por um acordo entre Estado e acionistas privados para uma injeção de dinheiro na empresa. A companhia perdeu 395 milhões de euros no primeiro trimestre, está já a reduzir a frota e a voa menos a partir de Lisboa do que algumas das concorrentes. Ficámos ontem a saber que David Neeeleman já aceitou praticamente todas as condições .
Em Lisboa, onde o turismo está igualmente congelado neste verão, Fernando Medina fez ontem duras críticas à forma como a covid-19 está a ser gerida e apontou aos responsáveis de saúde: “com más chefias e pouco exército não conseguimos ganhar esta guerra”. A zona da capital é responsável pela maioria das novas infeções detetadas em Portugal que, ainda assim, abrandaram ontem para a taxa mais baixa em 15 dias.
Confira aqui todos os números e siga o direto do Expresso sobre a pandemia em Portugal e no mundo.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Devíamos estar no mesmo barco

Posted: 28 Jun 2020 02:41 AM PDT

«Nos últimos dias, as notícias relativas à evolução da pandemia na região de Lisboa trouxeram-me à memória a extraordinária comédia de Ettore Scola "Feios, porcos e maus".

Por vezes é preciso fazer-se um retrato exagerado de uma realidade dura e persistentemente colocada na margem, para que as consciências dos acomodados despertem e o coletivo abandone a indiferença.

É confrangedor olhar para o mapa das freguesias da Área Metropolitana de Lisboa - um cordão infecioso em torno da capital que só exclui Oeiras e Cascais - onde está inscrita toda uma trajetória de segregação espacial de classe. De que é que estou a falar? De processos de décadas, recentemente muito acelerados pelo frenesim turístico e imobiliário, de expulsão das populações trabalhadoras e de imigrantes para as periferias de Lisboa. Essas populações estão sujeitas a penosas mobilidades diárias casa-trabalho-casa que acrescentam horas de incómodo aos horários de trabalho já de si longos, à vida em urbes degradadas onde não há condições para garantir os direitos fundamentais. Em muitos casos têm domicílios sem condições de higiene e habitabilidade.

Apanhadas no turbilhão da covid, parte significativa dessas populações teve de continuar a trabalhar. O seu trabalho não pode ser feito a partir de casa e sem ele todos os cidadãos teriam ficado privados de bens e serviços essenciais e impedidos de se confinarem. Encontraram, no seu vaivém diário, transportes servidos a meio gás, muitas vezes apinhados como dantes. Passaram os dias em espaços de trabalho sem a necessária higienização e adequadas medidas de proteção, espaços esses tão congestionados como as festas de aniversário de que o coronavírus gosta para proliferar.

Agora, na Grande Lisboa, há mais contaminados que em todas as outras regiões. No início da pandemia viveu-se essa situação nas periferias industriais da região do Porto. E são tão patéticas as afirmações que no início da pandemia insinuavam que a sua extensão no Norte era inerente a pressupostos défices culturais da população, como aquelas que hoje atribuem as culpas do alastramento na região de Lisboa aos descuidos dos cidadãos que aqui habitam.

Sem diminuir a condenação de todos os descuidos e desrespeitos, há que dizer: o problema central é nunca termos estado todos no mesmo barco. E o mais perverso é que nas entrelinhas do discurso público se vão encontrando alusões, por enquanto envergonhadas, a "bairros perigosos" e "classes perigosas" que devem ser confinados com todo o rigor.

O coronavírus é um vírus muito discriminatório: começa por preferir idosos e pessoas com saúde frágil, gosta de trabalhadores das periferias urbanas, delicia-se com imigrantes desprotegidos, com trabalhadores precários e temporários e, vai-se lá saber porquê, até distingue ramos de atividade - a indústria de processamento de carnes, a construção civil e, claro, os profissionais de saúde e de prestação de cuidados a idosos.

Uma resposta decente e porventura eficaz à covid e às suas consequências será tudo fazer para nos metermos todos no mesmo barco. Isso aconselha a que se abandonem respostas discriminatórias baseadas na identificação de alvos de confinamento cada vez mais finos, que se proteja a sério trabalhadores e populações mais carenciadas e se trabalhe, com visão estratégica, uma sociedade mais igual e coesa.»

Carvalho da Silva

A pior semana desde abril (e será que tudo aquilo que não nos consegue destruir acaba mesmo transformado em alegria?)

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Germano Oliveira

Germano Oliveira

Editor online

29 JUNHO 2020

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A paranoia é a “designação dada a diversas perturbações psíquicas, geralmente associadas a desconfianças patológicas e erros de interpretação da realidade”, fui vítima desses erros: a polícia expulsou-me gente de casa no fim de semana porque uma queixa anónima desinformada é capaz de provocar danos em gente identificada bem formada, foi o meu caso, tive de resolver com a ajuda de um polícia bom o problema que estava a acontecer com um polícia mau - o bom tinha olhos azuis fortes, cabelo de revista e corpo de modelo, acho que não queria cansar a beleza dele com desentendimentos desnecessários - e acabei depois num restaurante em que um polícia apareceu também, “podem estar aqui dentro até às 00h, lá fora podem beber nas mesas até às 23h mas só se estiverem a comer”, basta pedir um pão e já podemos beber sentados no exterior, as leis estão a ficar esquisitas, este não era um polícia bom nem mau mas um polícia informativo, fez rondas nos restaurantes que ficavam antes do meu e continuou pelos seguintes, entretanto passou outro carro da polícia que ficou a contar quantos éramos na rua, demorou-se mas estávamos dentro da lei e eles seguiram entretanto para ir fazer contas de somar noutros sítios de Lisboa, a cidade está tensa porque os números são intensos - há mais 457 novos casos de covid-19 em Portugal, é o maior aumento diário desde o início de maio, a região de Lisboa e Vale do Tejo tem 86% da subida, por isso há mais 86% de necessidade de perceber e resolver estas cadeias de transmissão da pandemia mas também mais 86% de probabilidade de desconfianças e erros de interpretação da realidade (“todo o ser humano, não importa o quão forte ou poderoso é, é frágil quando se trata de morte - penso nisso em termos gerais, não de forma pessoal”, é do profeta-Nobel Bob Dylan, está AQUI no Expresso, tem reflexões de covid mas é tão mais que isso).
Outros números: a semana que passou foi a pior em novos casos desde 26 de abril, é portanto a pior semana do desconfinamento neste critério, “mas se a evolução for analisada em termos percentuais verifica-se que a situação é de estabilidade (...): o aumento tem oscilado entre 0,8% e um máximo de 1,1%, (...) é constante mas baixo e um dos fatores que têm levado as autoridades de saúde a considerar a situação controlada”, ainda assim “a falta de explicações para os surtos em Lisboa dificulta decisões sobre medidas a tomar e somam-se as críticas à coerência do discurso [político]”, escreve-se noutro artigo do Expresso sob o título “Governo com problemas no diagnóstico do surto e coerência na mensagem”: “A semana não foi fácil para quem gere a resposta à pandemia... e para quem tem de responder por ela. Se é certo que o relaxamento das restrições levaria sempre a um aumento de casos, a situação em Lisboa agravou-se de tal forma que levou à tomada de medidas adicionais. Medidas difíceis de decidir e aplicar, uma vez que não se conhece a causa exata do problema”.
Os dados dizem ainda que aumentou o número de doentes com covid internados nos hospitais (458 no domingo, mais 16 que no dia anterior mas “muito longe do pico de abril, quando superava os 1.300”), também há mais internados nas últimas horas nos cuidados intensivos (subiram de 70 para 75), as vítimas mortais são no total 1564 (entre sábado e domingo foram mais três), vamos em 41.646 infetados e 27.066 recuperados - o surto no país, em gráficos e mapas, está explicado AQUI pela saudável e excelente equipa de infografia do Expresso, enquanto outras formas de paranoia estão anotadas ALI (exemplos: “‘O coronavírus foi introduzido de propósito pelo poder corrupto’, ‘Bill Gates está por detrás disto tudo para vender vacinas’ e ‘o mundo é controlado por uma elite de esquerda que esconde uma rede de pedofilia’. Eis apenas parte das teorias da conspiração que circulam na Alemanha, onde já nasceu um movimento de protesto contra as medidas de prevenção sanitária. A extrema-direita alimenta-se da desinformação”).
Bom mesmo é ingerir os ingredientes da informação, “Dados melhoram resposta à pandemia”, titula o Expresso, e o texto conta que “retratar a mobilidade num determinado concelho para adaptar a oferta de transportes ou monitorizar os resíduos para agilizar o sistema de recolha são apenas duas análises que os dados permitem fazer a nível local. Na atual pandemia, as autarquias com maior nível de ‘inteligência urbana’, ou seja, melhor planeamento e gestão de dados municipais, conseguiram dar melhor resposta às necessidades da população, concluiu o Urban Analytics Lab, um centro de investigação da NOVA Information Management School (IMS)” - ter informação e saber usá-la é portanto uma boa técnica de antiparanoia e até de futurismo, porque este mesmo artigo do Expresso tem algo de “Minority Report”, aquele filme com um polícia também com cabelo de revista e corpo de modelo, o Tom Cruise, em que há gente que é detida antes de cometer o crime que um algoritmo prevê (no caso das melhores autarquias no combate à covid elas também podem antecipar o futuro): “Em algumas situações, a governação local conseguiu perceber em tempo real as alterações dos hábitos de mobilidade nestes meses e assim saber em que pontos tinha de agir para responder às necessidades. No caso de Viseu, por exemplo, o facto de a autarquia ter um levantamento de todos os locais com lares e unidades de cuidados continuados foi útil, pois a Segurança Social conhecia apenas os que faziam parte da sua rede. Essa gestão de dados permite compreender o que aconteceu no passado e identificar padrões, mas não só. ‘Passa a ser possível usar esse conhecimento para prever o que vai acontecer’”.
O que ainda não se sabe exatamente é o que vai suceder a quem viajar entre Portugal e o Reino Unido e vice versa - temos ou não de cumprir quarentena à chegada?, os britânicos vão poder ou não viajar para cá? A lista de países bons e maus escolhidos pelo Governo de Boris Johnson é conhecida em breve, hoje mesmo porventura, a BBC diz que Portugal está entre os rejeitados mas o espanhol “El País” tem um relato melhor: “Portugal está entre os países que terão direito a uma ‘luz amarela’ no semáforo britânico, ou seja, que não verão os seus cidadãos obrigados a cumprir quarentena em solo britânico”, lê-se nesta notícia do Expresso, cujo site tem outro artigo com fonte espanhola, o “La Vanguardia”, jornal ao qual António Costa deu uma entrevista em que o seu otimismo irritante está circunstancialmente transformado em otimismo expectante: “Mesmo numa situação controlada há sempre o risco de novos surtos, que podem alterar a realidade estatística, como vimos esta semana”.