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terça-feira, 15 de setembro de 2020

Cimeira virtual UE-China ensombrada por tensão económica

De  Pedro Sacadura com AFP  •  Últimas notícias: 14/09/2020 - 12:48

Cimeira virtual UE-China ensombrada por tensão económica

Direitos de autor Etienne Ansotte/ EU

As relações entre a China e a União Europeia (UE) são postas à prova, esta segunda-feira, no arranque da cimeira extraordinária entre líderes europeus e o presidente chinês. O presidente Xi Jinping reúne-se, virtualmente, com a chanceler alemã, Angela Merkel, com o presidente francês e com os presidentes do Conselho Europeu, Charles Michel, e da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

As alterações climáticas, o comércio internacional, a economia e a pandemia de Covid-19, que fez azedar as relações bilaterais, são pratos fortes do encontro, que decorre por videoconferência.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, lembrou que "a China está a ficar mais poderosa e assertiva e que a ascensão é impressionante e desperta respeito, mas também perguntas e medos."

Já o líder da delegação do Parlamento Europeu para as relações com a China, Reinhard Bütikofer, foi mais além: "A Europa está a resistir com mais força por causa do comportamento agressivo por parte da China. Descreveria a situação dizendo que a Europa está a aprender a lição sobre como tornar-se menos ingénua e mais enérgica, defendendo os nossos valores e interesses."

A questão dos direitos humanos e do Estado de direito também estarão em cima da mesa. Sob a presidência rotativa da Alemanha pretende-se aclarar a deterioração da situação em Hong Kong e no mar do sul da China.

"Penso que em breve - esperamos ainda durante a presidência alemã - se finalizará o trabalho sobre o mecanismo global de sanções aos direitos humanos, que permitirá à Europa sancionar responsáveis pela violação de direitos humanos como o chefe da polícia em Hong Kong que está a incentivar os efetivos a ser o mais violentos possível", sublinhou Reinhard Bütikofer.

Para o final do ano está prevista a continuação do diálogo bilateral UE-China sobre os Direitos Humanos.

OMS alerta que mortalidade vai aumentar no outono

De  euronews  •  Últimas notícias: 14/09/2020 - 16:09

OMS alerta que mortalidade vai aumentar no outono

Direitos de autor AP Photo

O número de casos de Covid-19 na Europa aumenta de forma acentuada há várias semanas, sobretudo em Espanha e França. E a situação deve piorar com a chegada do outono, como avisa a Organização Mundial de Saúde (OMS).

"Vai ser mais difícil. Em outubro, novembro, haverá mais mortalidade. Estamos numa altura em que os países não querem ouvir estas más notícias e eu entendo. Mas também acho que é muito importante que isto vai terminar num momento ou noutro. Isto não é o fim do mundo", afirma o diretor da OMS Europa, Hans Kluge.

Em França, o número de novos casos ultrapassou a barreira dos 10 mil no sábado e os médicos temem o pior. "Acho que vamos poder comparar meados de outubro a meados de fevereiro ou março. O problema é que se os casos aumentarem tanto quanto na primeira vaga, o nosso sistema de saúde não conseguirá dar resposta e provavelmente teremos a mesma catástrofe que tivemos da primeira vez", diz Jonathan Peterchmitt, médico em França.

A OMS deita ainda por terra as esperanças de que uma vacina seja a solução para a pandemia. "Eu ouço a toda a hora que a vacina vai acabar com a pandemia. Claro que não! Nem sabemos se a vacina vai ajudar todos os grupos da população. Alguns sinais que obtemos agora é que vai ajudar uns grupos e não outros. E se tivermos que trabalhar com vacinas diferentes será um pesadelo logístico!", realça Hans Kluge.

Os 50 Estados-membros da Organização Mundial de Saúde Europa discutem, esta segunda e terça-feira, a resposta à pandemia do novo coronavírus e vão tentar acordar uma estratégia de cinco anos.

The intercept Brasil

Rio, 12 de setembro de 2020
Sem carne, sem leite, sem arroz

Esse mês não tem carne vermelha, nem arroz e nem leite na minha casa. Me recusei a pagar R$6 em um litro de leite. Desde o início da pandemia de coronavírus, o volume de compras no mercado foi diminuindo mês a mês. Tudo está mais caro.

Questionei nas minhas redes sociais o que as pessoas cortaram da lista de compras e as respostas se repetiram. A manteiga, o leite, o arroz, o feijão, o óleo de soja e a carne vermelha foram limados das nossas listas de compras mensais. Uma das pessoas que me respondeu disse que está fazendo como todo pobre: substituindo o arroz por macarrão. Inclusive, a orientação do presidente da Associação Brasileira de Supermercado, João Sanzovo Neto, é incentivar o consumo de massas.

O queijo também foi um produto bastante citado nas respostas. Ele sumiu da nossa mesa. Falo por mim e por alguns amigos, mas ter queijo em casa é simbólico. Quando a gente consegue melhorar um pouquinho de vida passa a ter queijo todo dia porque esse é um status que o pobre faz questão de ter. Mas agora ele voltou a faltar. O quilo da mussarela está passando dos R$40 – mesmo preço do pacote de 5kg de arroz em alguns lugares.

A essa altura você talvez já saiba os argumentos que justificam a alta dos alimentos. Estamos em entressafra. Com o dólar alto, a galera do agro está vendendo a produção para outros países para faturar mais. Supostamente, o auxílio emergencial fez o povo comprar mais comida. Além daqueles que correram para os mercados para fazer estoque de alimentos lá no início da pandemia. Com menos oferta e mais procura, os preços sobem. São as leis de um mercado que nunca foi justo. Quem tem grana se adapta e quem não tem deixa de comer. Mas é apenas isso? O governo não pode fazer nada? Ou o mercado regula tudo e se faltar comida, paciência? Sim, é exatamente o que pensa Jair Bolsonaro.

Não há esperança de um cenário melhor nos supermercados pelo menos até o final do ano. O fato é que com a taxa recorde de desemprego (menos 8,9 milhões de postos de trabalho) e a redução do auxílio emergencial pela metade, muitas famílias não terão como comprar comida. O pobre que já foi o mais afetado pelo coronavírus é o que não consegue fechar a conta no caixa – lembro também que essas pessoas têm cor e você não precisa nem clicar para adivinhar qual é. Dou só uma chance.

A covid evidenciou um cenário de precarização da vida e do racismo estrutural a que estamos submetidos. Agora, os altos preços dos alimentos e o desemprego servem de gasolina para esse ciclo sem fim da desigualdade social no Brasil.

Te pergunto o que você já deixou de comprar no supermercado com a alta dos preços nos últimos tempos. Porém, também deixo o alerta que, para além das substituições nas nossas listas de compras, temos algo maior para nos preocuparmos nesse cenário: a fome.

Isso aqui é de julho do ano passado: “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira”. Quem disse essa frase? Claro que vocês também já sabem.

Isso é de quinta-feira passada, sobre o arroz: "Eu não vou interferir no mercado, o que tem que valer é lei da oferta e da procura". Sim, ele de novo.

Faz parte de um projeto em andamento, um projeto eficiente de morte. Um projeto tocado por Bolsonaro e outros mais. Quem leu isso aqui não se surpreende.

Quem não leu, precisa ler.

PRECISA.

AGORA.

Juliana Gonçalves
Diretora de Redes Sociais/Repórter

“Pois Luís Filipe Vieira é homem honrado”

por estatuadesal

(Rui Tavares, in Público, 13/09/2020)

Calma, concidadãos. Não venho aqui dizer se Luís Filipe Vieira é homem honrado — ou se não o é. Nada direi do que não sei. Sei apenas que sobre ele impendem suspeitas de ter tentado interferir com o curso da justiça; que dele se diz ter sido um daqueles enormes devedores ao Banco Espírito Santo cujos incumprimentos estamos todos a pagar agora. São casos de que a justiça dirá, não eu.

Sei outra coisa: que quando escrevo, em título, que “Luís Filipe Vieira é homem honrado”, todos aqueles de entre os leitores que não se riram esbugalharam os olhos de espanto. E entre esses incluem-se muitos benfiquistas (como eu, aliás). O mesmo sucederia se eu escrevesse “pois Jorge Nuno Pinto da Costa é homem honrado” ou “pois o mundo do futebol é mundo de homens honrados” porque, a bem ou a mal, ninguém consegue esticar a sua credulidade a tal ponto. E no entanto, o nosso primeiro-ministro António Costa, como eu adepto do Benfica, ao aceitar integrar a Comissão de Honra de Luís Filipe Vieira à sua recandidatura a presidente do Benfica, está a dizer-nos isso mesmo: que Luís Filipe Vieira é, em seu entender, homem honrado. E está a dizê-lo quando a pergunta sobre a honradez de Luís Filipe Vieira está ainda — para ser generoso — em aberto e, se respondida na negativa, arrisca-se a arrastar consigo quem tenha atravessado a sua honra em nome da honradez de Luís Filipe Vieira. Ainda para mais quando se é primeiro-ministro, chefe do poder executivo, numa altura em que é ao poder judicial que compete saber o que se possa saber sobre este tema.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

Há uma peça de Shakespeare, Júlio César, que tenho estado a pilhar desavergonhadamente desde o início desta crónica, na qual um discurso famoso — por ironia commumente conhecido como o “Monólogo de António” — nos diz tudo o que há para saber sobre estas coisas. A Marco António — o António do monólogo — é dada a possibilidade de discursar no funeral de Júlio César, desde que não diga mal daqueles que o mataram. António decide então fazer o contrário: dizer bem deles. “Brutus”, diz ele, “é homem honrado”. Se Brutus justifica que foi preciso matar César, assim deve ser, diz António (o deles), “pois Brutus é homem honrado”. E se Cássio, e Casca, e todos os outros, estiveram com Brutus, António não tem nada a dizer, “pois Brutus é homem honrado, e assim são eles todos, todos eles homens honrados”. Tantas vezes repete António que eles são homens honrados que o seu discurso tem o efeito contrário, acabando por virar a multidão contra aqueles de quem ele veio falar bem.

Assim levam descaminho estas coisas. António (o nosso, o Costa, o da República Portuguesa) não monologou. Pelo contrário; foi mais lacónico que retórico, limitando-se a dizer que a opção de fazer parte da Comissão de Honra de Luís Filipe Vieira não tinha “rigorosamente nada que ver” com o cargo que ele ocupa, pressupondo-se que tenha apenas que ver com o facto de ele ser adepto do Benfica (como eu, como eu). O problema é que o nosso António se esqueceu daquilo que o António (da Roma republicana) veio salientar no seu monólogo.

Emprestai-me a vossa atenção. Uma das questões principais do Júlio César de Shakespeare está na tensão entre República e amizade, lealdade e liberdade, ética e política, racionalidade e sentimentos. A lição de Shakespeare em Júlio César não se aplica tal qual ao caso atual. Como tantas vezes quando comparamos Antigo com o Moderno há elementos que parecem inverter a sua polaridade. Mas, grosso modo, podemos dizer que de um lado deste debate estão aqueles que fazem uso do chavão “a ética republicana é a lei” — e nada mais. Se Luís Filipe Vieira é inocente até prova em contrário, se toda a gente tem direito a ser adepto de um clube, então sim, como diz António Costa, este assunto não tem nada a ver com política.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

Do outro lado estão aqueles que não conseguem mais tapar o sol com uma peneira. Que estão fartos das ligações entre política e futebol. Que não conseguem acreditar na honradez dos “homens de futebol” a não ser quando se lembram que uomini d’onore — homens honrados — era precisamente o que os mafiosos chamavam uns aos outros. Que estão cansados de pagar as dívidas do Bando Espírito Santo e do Novo Bando — ups, escapou-me a tecla, queria escrever Banco —, aquelas mesmas que Luís Filipe Vieira não pagou. E que esperavam que o primeiro-ministro em particular, pelo mal que todos esses assuntos têm feito à vida nacional, mantivesse uma saudável reserva e não se esquecesse que nem à mesa de café deixa de ser primeiro-ministro, como aliás aconselhou aos seus ministros.

Diz António, o dos romanos, falando de homens públicos: “o mal que fazem sobrevive-lhes; o bem é enterrado com eles”. A displicência de um Primeiro-ministro com temas destes pode deitar a perder todo o bem que tenha feito durante anos, ainda para mais quando uma das poucas qualidades que todos reconhecem no líder do maior partido da oposição é, enquanto político, nunca se ter metido em futebóis.

Por coincidência, os romanos trocavam de governantes nos Idos de Setembro. Que, por acaso, calhavam a 13 desse mês, exatamente o dia em que escrevo esta crónica. Cuidado, António Costa. Cuidado com os Idos de Setembro.

Historiador; fundador do Livre

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

A verdadeira pergunta

Posted: 13 Sep 2020 03:09 AM PDT

«O anterior primeiro-ministro australiano revoltou-se contra a "ditadura sanitária" da era covid pelas suas consequências económicas ("Guardian", 2 de Setembro). Sugeriu autorizar as famílias a pensar se não seria justificado deixar morrer os idosos infectados, "deixando a natureza seguir o seu curso". Mais informou que cada ano de vida extra para os mais velhos custa à Austrália cerca de 100 000 libras, verba superior às que o Governo paga por medicamentos que salvam vidas. E culpa o clima de medo em que vivemos, pois impede os governos de colocarem a questão - "quanto vale uma vida?".

Ora reparem - a responsabilidade da decisão seria das famílias que, de resto, ele afirma já o fazerem. Penso tratar-se de uma menção à hoje consensual recusa do encarniçamento terapêutico. E só das famílias com um idoso afectado pela covid? Bom, a verdade é que chama a atenção para um quadro mais vasto - prolongar a vida dos idosos sai mais caro do que financiar tratamentos que salvam vidas menos longas. Quanto à natureza seguir o seu curso, é um argumento que, no limite, levaria à proibição do exercício da medicina, desde sempre ocupadíssima a "fazer batota" e trocar as voltas à natureza.

Resta a pergunta que os governos têm medo de colocar, porque todas são "preciosas" e as mortes são "tristes" - "quanto vale uma vida?". (Talvez o verbo não seja o mais adequado, em todo o artigo ele parece mais preocupado com o custo do que com o valor!). Mas mesmo o argumento economicista é mais complexo do que o senhor pensa. Num artigo de Dezembro de 2015, publicado no "American Journal of Public Health", Aldridge e Kelley argumentam contra a obsessão com os custos verificados durante o último ano de vida, dizendo que respondem por apenas 13% da despesa geral da Saúde. Mais - só 11% dos doentes "mais caros" estariam no seu último ano de vida, o problema a resolver centra-se nas doenças crónicas.

(Se o homem tropeça no artigo ainda sugere que as famílias considerem a hipótese de, por exemplo, pararem as terapêuticas para a hipertensão ou a diabetes e deixarem a pobre da natureza tratar da saúde aos familiares... de meia-idade!).

Não é uma voz isolada na nostalgia de transformar os mais velhos em baixas previstas, recordo um epidemiologista sueco a perguntar a um colega finlandês se não valeria a pena o aumento de 10% no número de idosos infectados caso as escolas se mantivessem abertas.

Na canção "Trocando em miúdos", Chico Buarque põe na voz de quem abandona a relação um murmúrio de dúvida - "e a leve impressão de que já vou tarde". Estas vozes procuram fazer-nos sentir o mesmo em relação à morte. E, hipócritas, falseiam a verdadeira pergunta que as atormenta - "Quanto vale uma vida de velho?".»

Júlio Machado Vaz