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sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Jovens cabo-verdianos reciclam vidro em areia

De  Euronews com Lusa  •  Últimas notícias: 09/10/2020 - 15:44

Cabo Verde

Cabo Verde   -   Direitos de autor LUSA

A população de Rincão, no norte da ilha cabo-verdiana de Santiago, estava habituada a deitar todo o lixo na natureza, mas agora passa os dias a recolher garrafas de vidro para transformar em areia, numa fábrica instalada na aldeia.

A fábrica de reciclagem de vidro faz parte do projeto denominado ‘Raiz Azul’, financiado pela The Darwin Initiative, do Reino Unido, e foi instalada em Rincão, aldeia piscatória situada no litoral oeste do concelho de Santa Catarina de Santiago.

O objetivo é reduzir o impacto do lixo em outras três comunidades piscatórias da ilha de Santiago, nomeadamente Porto Mosquito, Gouveia e São Francisco, explicou à Lusa Roberta Baduvini, da Associação Cabo-verdiana de Ecoturismo (ECOCV), que desenvolve o projeto em colaboração com a Universidade de Cabo Verde e outros parceiros.

Segundo a responsável pela área social e de turismo da ECOC, o projeto começou desde o ano passado, com o conhecimento e explicações à comunidade e com o estudo do lixo nessas quatro localidades costeiras, para ver qual era a maioria dos resíduos presentes.

“E em Rincão constatámos que o vidro estava em maior percentagem. Por isso, resolvemos instalar esta máquina para trituração de vidro”, afirmou a também coordenadora substituta do projeto Raiz Azul, indicando que a fábrica foi montada em junho último.

Mas antes uma equipa de seis jovens da localidade, três homens e três mulheres, recebeu formação e foram instalados contentores em vários pontos para recolha de todo o tipo de vidro em Rincão, localidade com pouco mais de 1.000 habitantes e que vive essencialmente da pesca e agricultura.

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A quarter of UK children think penguins and tigers live on farms

Children are becoming more out of touch with how their food is produced.

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Roberta Baduvini, de nacionalidade italiana e residente em Cabo Verde há dois anos, disse que as pessoas já estão a responder bem, apesar de ainda não entenderam completamente a ideia, mas garantiu que aos poucos isso vai acontecer.

“É difícil explicar a todos qual o impacto e a visão, mas o facto de ter a máquina ativa, funcional, já serve como exemplo. Senão fica difícil a pessoa entender porque não pode colocar o lixo na ribeira, porque fazer esforço de recolher vidro para aqui, se não veem um efeito prático fica difícil. Com a máquina instalada aqui, já há um efeito prático, que é a produção de areia, ou seja, o vidro foi transformado em outra coisa diferente”, afirmou.

Segundo informações disponíveis na fábrica, 25 garrafas de cerveja, por exemplo, dão para produzir 5 quilos de areia, e neste momento os jovens produzem areia fina e grossa, na fábrica instalada na sede da Associação dos Pescadores de Rincão.

A areia produzida ainda está em fase de testes e análises em empresas de construção civil locais, antes de ser utilizada. “Se o resultado for positivo, a produção poderá aumentar, dependendo dos pedidos”, garantiu a responsável, nesta que é a primeira experiência no país a nível comunitário.

“Em Cabo Verde há muita garrafa de vidro. Matéria-prima não vai ser um problema”, prosseguiu a representante da ECOCV, esperando no futuro levar a ideia a mais comunidades.

“Espero que o nosso exemplo seja o início de algo maior, também para reduzir um pouco o impacto da apanha de areia, que é outro grande problema. Espero que seja um exemplo para iniciar um movimento novo”, perspetivou Baduvini, que é também educadora social.

A representante a ECOCV, organização criada há cinco anos e com trabalho sobretudo na aérea ambiental, social, comunitária e de ecoturismo, disse que o projeto envolve praticamente toda a comunidade de Rincão, desde famílias, pescadores, os jovens e o comércio.

“O objetivo é criar uma consciência diferente no que diz respeito ao uso de recursos naturais, para promover uma vida mais saudável e sustentável na comunidade”, referiu.

Depois de várias formações, dois dos voluntários e trabalhadores do Ecocentro são Érica Fidalgo, 22 anos, e Wilson Dias, 26 anos, que nasceram e cresceram em Rincão e sempre fizeram e viram outras pessoas deitar o lixo em qualquer sítio, testemunhando que os próprios já sofreram ferimentos nos vidros, alguns que continuam espalhados pela praia e pelas ruas locais.

Wilson Dias estudou até ao 7.º ano, trabalha na pesca, na agricultura e na criação de gado, e disse à Lusa que agora tem uma visão diferente em relação ao lixo e ao vidro, e é dos primeiros a fazer a recolha de todo o tipo de garrafas para levar para a fábrica.

“Há muita convivência aqui, somos humildes com os visitantes, também somos boas pessoas. Há algumas discotecas, bares, restaurantes, quiosques, por isso consome-se muitas garrafas”, disse Wilson Dias, para explicar a grande quantidade encontrada.

Terminado o 12.º ano, Érica Fidalgo está à espera de resposta para prosseguir os estudos em Portugal, e não hesita em garantir que a área ambiental poderá ser uma das suas opções.

“Já tive um pequeno conhecimento aqui, talvez eu possa desenvolvê-lo ainda mais e contribuirei para a minha zona, trazendo mais conhecimento para compartilhar aqui”, perspetivou a jovem estudante, para quem as pessoas estão mais conscientes.

Em cerca de três meses de experiência, Érica disse que já foram recolhidos cerca de 500 quilos de garrafas de vidro, que triturados deu para produzir a mesma quantidade de areia, que poderá servir para produzir blocos, pavês, entre outros materiais de construção civil.

Prémio Nobel da Paz para o Programa Alimentar Mundial

De  Euronews  •  Últimas notícias: 09/10/2020 - 19:49

Programa Alimentar Mundial no Zimbabué

Programa Alimentar Mundial no Zimbabué   -   Direitos de autor Tsvangirayi Mukwazhi/Copyright 2020 The Associated Press. All rights reserved.

O Programa Alimentar Mundial venceu o Nobel da Paz de 2020. A escolha foi anunciada, esta sexta-feira, e teve como critério os esforços da agência das Nações Unidas no combate à fome.

"Face à pandemia, o Programa Alimentar Mundial tem demonstrado uma impressionante capacidade de intensificar a sua operação. Como a própria organização reconheceu, até ao dia em que tivermos uma vacina, a comida é a melhor vacina contra o caos. O mundo corre o risco de sofrer uma crise de fome de proporções inconcebíveis se o Programa Alimentar Mundial e outras organizações de assistência alimentar não receberem o apoio financeiro que pediram", declarou a presidente do Comité do Nobel da Paz, Berit Reiss-Andersen.

Em 2019, de acordo com o Programa Alimentar Mundial, a organização humanitária prestou assistência a 97 milhões de pessoas em 88 países

Numa reação por vídeo à distinção, o porta-voz do Programa Alimentar Mundial, Tomson Phiri, afirmou que o prémio "não é apenas para o Programa Alimentar Mundial. É para o Programa Mundial, sim, [mas também] todas as outras organizações das Nações Unidas com quem trabalhamos, as ONG parceiras, todos os doadores que nos apoiaram durante todo este tempo e o povo, os governos com quem trabalhamos em todos esses muitos países em que estamos. Isto é de facto para todos".

Devido à pandemia de covid-19. o Programa Alimentar Mundial estima que, daqui a um ano, 256 milhões de pessoas estejam a passar fome. E a fome, afirmou a presidente do comité do Nobel da Paz "é uma das armas mais antigas de conflito no mundo".

O comité do prémio Nobel da Paz escolheu o vencedor a partir de uma lista de candidatos com 211 pessoas e 107 organizações. No total, havia 318 candidatos ao prémio e na lista constavam nomes como os de Alexei Navalny, Greta Thunberg, ou mesmo Donald Trump.

O laureado vai receber o prémio de dez milhões de coroas suecas (cerda de 950 mil euros), além de um diploma e uma medalha.

A cerimónia de entrega do prémio acontecerá em 10 de dezembro, em Oslo, na Noruega, e contará com a presença de apenas cerca de 100 convidados, devido às restrições impostas pela covid-19.

"Conspiração" contra governadora do Michigan

De  Euronews  •  Últimas notícias: 09/10/2020 - 08:33

"Conspiração" contra governadora do Michigan

Direitos de autor AP/AP

As autoridades federais norte-americanas anunciaram ter desmantelado uma rede criminosa que teria como objetivo raptar a governadora democrata do Estado do Michigan, Gretchen Whitmer. Os seis homens, alegados membros do grupo "Wolverine Watchmen", foram acusados de conspiração para sequestro pelo que dizem ser o "poder sem controlo" da governadora. Num caso separado, sete pessoas foram acusadas de planearem um assalto ao capitólio do Michigan e preparar uma "guerra civil".

O candidato democrata Joe Biden aproveitou para fazer campanha.

"As palavras de um presidente têm impacto. Já me ouvir falar isto. Elas podem fazer com que os mercados de uma nação subam ou desçam, desencadear guerra ou trazer paz. Mas também podem dar oxigénio a aqueles que estão repletos de ódio e perigo. E eu acho que isto tem que parar. O presidente tem que perceber as suas palavras tem importância".

Caso considerado culpado, o primeiro grupo poder ser condenado a prisão perpétua, o outro enfrenta numa pena máxima de 20 anos atrás das grades.

A governadora Gretchen Whitmer obteve elogios pela resposta ao coronavírus, nas também foi bastante criticada por republicanos e conservadores estaduais. O capitólio do Michigan foi palco de inúmeras manifestações a pedir demissão de Whitmer.

Na lista de "procurados" da Rússia

De  euronews  •  Últimas notícias: 09/10/2020 - 08:57

Na lista de "procurados" da Rússia

Direitos de autor Kay Nietfeld/(c) Copyright 2020, dpa (www.dpa.de). Alle Rechte vorbehalten

A Rússia incluiu, na quinta-feira, o nome de Svetlana Tikhanovskaya na lista de procurados por acusações criminais.

A líder da oposição da Bielorrússia, que pediu asilo na Lituânia, poderá ser presa e extraditada para o seu país caso resolva viajar até à Rússia.

Entrevistada por Isabelle Kumar, para o programa Global Conversation, da euronews, Tikhanovskaya reagiu à medida de Moscovo.

"A questão não está na Rússia. A questão está na Bielorrússia, estamos a falar da Bielorrússia e temos prestado atenção à Bielorrússia, não à Rússia. Temos a responsabilidade de resolver esta crise política dentro da Bielorrússia. É uma pena que alguns países, alguns líderes não apoiem estas pessoas na luta pelos seus direitos pelo direito decidirem o futuro da Bielorrússia. Temos de lidar com isto, mas não temos de prestar muita atenção a todos esses fatores".

Com o marido, Serguei, preso desde maio, após ter avançado com a sua candidatura presidencial contra Alexander Lukashenko, Svetlana tenta gerir a vida familiar.

"Para a minha filha mais nova, ela tem cinco anos e não compreende que o pai esteja na prisão, a situação é pior, porque ela sente muito a falta do pai. Todas as noites ela pergunta quando é que o pai volta para casa. Tenho de explicar isso. Digo que está numa viagem de negócios e que regressará muito em breve. Já o meu filho mais velho compreende como o pai está, mas não me faz muitas perguntas porque é suficientemente adulto para compreender que é doloroso. Por isso, de alguma forma, vamos lidando com isso".

OE: cuidado com promessas assinadas em papel molhado

por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 09/10/2020)

Daniel Oliveira

Para o BE, é incomportável estar associado a mais dinheiro para o poço sem fundo do Novo Banco. Se os bancos não aumentam a sua contribuição e o NB continua a receber dinheiro do Fundo de Resolução, será o contribuinte a pagar. Não basta o Orçamento não falar do Novo Banco, é preciso um compromisso que não faça da omissão um truque. É preciso amarrar o Governo a uma escolha - à esquerda ou de bloco central - que ponha fim ao pântano em que estamos, com a ausência de uma maioria política clara e um governo que surfa em alianças circunstanciais. A chantagem só é estratégia de aliança quando se quer ter um governo a prazo.


O leilão do Orçamento do Estado do ano passado teve um preço. António Costa, que sendo muito hábil sofre do pecado da soberba, garantiu a aprovação inicial. Depois, para não ter de ceder em nada de substancial, fez um leilão com todos na especialidade, tornando aquele documento numa coisa só sua. O PCP, que não podia salvar o Governo sozinho, pôs-se de fora na votação final. Mas o BE, com medo de uma crise política, acabou por viabilizar sem ter conseguido alguma coisa. Foi um erro que lhe retirou poder negocial para este ano. Um erro que as últimas notícias dão a entender que não quer repetir. Veremos até onde aguenta a pressão.

Perante este historial e o risco de novos episódios como a crise dos professores, é natural que o BE não viabilize o OE sem um documento escrito de compromisso para 2021. E parece-me evidente que terá de votar contra um Orçamento em que nem isso Costa esteja disposto a dar. Nenhum partido pode ficar refém de chantagem e dramatização durante quatro anos. Ficar nessa situação corresponderia a um desrespeito pelos seus eleitores. Se eles quisessem o PS com maioria absoluta sem ter de ceder a ninguém teriam votado no PS. É claro que, se for verdade que o PCP garante uma abstenção inicial, parte da pressão é aliviada. Isso não diz nada do voto final – mudou-o no Orçamento de 2020 – e não chega. Falta o PAN, que geralmente sai barato.

Com o Bloco de Esquerda, a dias de se conhecer a proposta de OE, pouco ou nada avançou. A moratória à caducidade das convenções coletivas é o mínimo dos mínimos e estou convencido que o Governo avançaria com ela mesmo sem acordo. Vieira da Silva chegou a impor uma. Costa pretende fazer este ano o que fez no ano passado: pega em medidas que já tem planeado e atribui a sua autoria a outro, dando-lhe um prémio de propaganda. O prémio mais forte, este ano, até seria a nova prestação social de emergência. Também já estava decidida e até anunciada. Isto não é negociar, é conter os danos no aliado circunstancial.

Não está em causa apenas o Orçamento do Estado. Os custos políticos de ficar amarrado ao Governo num momento de incerteza exigem mais. Por isso, também está em cima da mesa o aumento do salário mínimo nacional – é absurdo andar a apoiar empresas para permitir que a recuperação se volte a fazer com base em salários baixos – e algumas mudanças na lei laboral, como o recuo no período experimental que só serviu para aumentar a precariedade. E há o aumento da indemnização por despedimento.

O mais complicado e mais relevante é mesmo o Novo Banco. Mais relevante porque, para o Bloco de Esquerda, é politicamente incomportável estar associado a mais um cêntimo que seja atirado para aquele poço sem fundo. O Governo parece estar disponível a comprometer-se a não transferir mais dinheiro para o Fundo de Resolução. Mas diz que não pode impedir o Fundo de fazer transferências para o Novo Banco. E aqui, meus amigos, é pura matemática: se os bancos não aumentam a sua contribuição e o Novo Banco continua a receber dinheiro, será, agora ou depois, o contribuinte a pagar.

Não basta o Orçamento não falar do Novo Banco, é preciso um compromisso que não faça dessa omissão um truque. O Fundo de Resolução é gerido pelo Estado e no fim, todos sabemos, é o Estado que vai pagar. Não travar a sangria ali é brincar com as palavras. E é cada vez mais evidente que a administração do Novo Banco percebeu a disponibilidade sem fim do Estado e pretende extorquir tudo o que conseguir enquanto esvazia o banco por dentro. O risco é andar a pagar e ficar com uma carcaça que alguém terá de voltar a salvar. Pode um partido com o discurso do BE ter o seu nome associado a isto? Do meu ponto de vista, seria um suicídio.

Ou o PS faz um acordo de bloco central, tendo como argumento a situação extraordinária que vivemos, ou opta por uma governação com opções distintivas. O Orçamento não pode ser igual nas duas circunstâncias. Não é só o BE que precisa de um contrato escrito para viabilizar o OE. É o país. É preciso amarrar o Governo a uma escolha que ponha fim ao pântano em que estamos desde as últimas eleições, com a ausência de uma maioria política clara e um governo que surfa em alianças circunstanciais. Isto impede um rumo claro para um país que se prepara para um período difícil. Ou à esquerda, ou em bloco central. A escolha é de António Costa e terá sempre custos. A chantagem só é estratégia quando se quer ter um governo a prazo.