Os democratas na Câmara dos EUA devem votar nesta quarta-feira o processo de impeachment contra Trump pela incitação à invasão no Capitólio
O presidente americano, Donald Trump, pode entrar hoje para a história: o republicano pode terminar o dia sendo o primeiro presidente americano a ter dois processos de impeachment abertos contra si e aprovados pela Câmara.
Os democratas tentam avançar nesta quarta-feira, 13, na votação de um processo de impeachment relâmpago contra Trump pela incitação à invasão no Capitólio na última semana.
Na noite de terça-feira, 12, os democratas já votaram na Câmara para pedir que o vice-presidente Mike Pence desencadeie a chamada Emenda 25 da Constituição. Pela regra, um presidente pode ser destituído por incapacidade.
Como Pence não deve pedir a destituição de Trump, os democratas na Câmara tendem a votar ainda nesta noite o processo de impeachment direto.
Em carta à presidente democrata da Câmara, Nancy Pelosi, Pence disse que “eu não acredito que tal curso de ação está no melhor interesse da nossa nação ou é consistente com nossa Constituição”, disse, sobre ativar a emenda 25.
Na votação para exigir que Pence avalie a emenda 25, a Câmara terminou com votação de 223 votos a favor e 205 contra. A expectativa no impeachment é que ao menos 217 deputados votem a favor do impeachment, o suficiente para o processo ser aprovado.
Na votação do impeachment hoje, os democratas esperam contar com alguma ajuda também dos republicanos. Ao menos cinco deputados do partido afirmaram que votariam a favor do impeachment.
O caso mais emblemático foi da deputada Liz Cheney, que faz parte da liderança republicana na Casa. “Nunca houve uma traição maior do presidente dos Estados Unidos de seu cargo e de seu juramento à Constituição”, disse, sobre a invasão no Capitólio em 6 de janeiro. Segundo ela, o presidente “convocou a multidão, organizou a multidão e acendeu a chama deste ataque”.
Liz Cheney é filha, inclusive, de um ex-vice-presidente republicano, Dick Cheney.
Também ontem, Trump fez sua primeira aparição pública desde a invasão do Capitólio. No discurso, no Texas, o presidente repetiu que a vitória do democrata Joe Biden na eleição é ilegítima e disse não ser culpado pela invasão no Congresso.
Os republicanos vão apoiar o impeachment?
Após o processo passar na Câmara hoje, contudo, não está claro qual será o próximo movimento no Congresso. Os democratas têm maioria na Câmara e, além disso, a Casa só exige maioria simples para o impeachment. No Senado, onde após a aprovação na Câmara acontece um julgamento das ações do presidente, serão precisos dois terços dos senadores.
Embora os democratas tenham ganhado uma pequena maioria com a vitória de dois senadores na Geórgia, a vantagem ainda será muito pequena. Seria preciso que ao menos 17 republicanos dos 100 senadores votem contra Trump.
Republicanos e democratas terão 50 senadores na nova legislatura, e, depois da posse de Biden, vota também a vice-presidente Kamala Harris, já que o cargo de vice é também de líder no Senado — o que garante vantagem de um voto aos democratas em votações de maioria simples, embora não suficiente no impeachment.
O impeachment também não deve terminar no Senado antes da posse de Biden, em 20 de janeiro. Assim, mais do que retirar o presidente Donald Trump do cargo, o impeachment deve funcionar como o real julgamento das ações e definição do futuro de Trump na vida pública. A depender de como o caso avance, Trump pode, por exemplo, ficar impedido de se candidatar de novo em 2024.
A grande dúvida é o quanto republicanos no Senado podem apoiar o impeachment. Ontem, o New York Times divulgou que o líder republicano na Casa, Mitch McConnell, estaria avaliando a ideia de apoiar em partes o processo para que Trump perca força internamente dentro do partido.
O primeiro processo de impeachment contra Trump, aprovado pela Câmara democrata na ocasião, foi no começo de 2020. O presidente era acusado de abuso de poder e obstrução do Congresso. Em janeiro daquele ano, o Senado, de maioria republicana, votou contra ambos os casos.